ECOLOGIA TRÓFICA DA TRAIRA Hoplias malabaricus (BLOCH, 1794) INTRODUZIDA NO RESERVATÓRIO DE CACHOEIRA DOURADA GO/MG

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Victor Gabriel Sabala Prado
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1 184 ECOLOGIA TRÓFICA DA TRAIRA Hoplias malabaricus (BLOCH, 1794) INTRODUZIDA NO RESERVATÓRIO DE CACHOEIRA DOURADA GO/MG Tatiane F. Luiz 1*, Marcela R. Velludo 1, Daniela Fernandes 1, Elisa M. de Oliveira 1, Alberto C. Peret 1 1 UFSCar, DHB, Laboratório de Dinâmica de Populações. * tatianeferrazluiz@hotmail.com RESUMO Neste estudo foi investigada a estrutura trófica da espécie, Hoplias malabaricus, Bloch, 1794, empregando métodos habituais de análise da dieta. Para atender esse objetivo foram feitas coletas de peixes no reservatório de Cachoeira Dourada GO/MG de fevereiro de 2007 a fevereiro de O conteúdo estomacal foi analisado obtendo-se a freqüência de ocorrência e o método gravimétrico dos diferentes itens, os quais foram utilizados para o cálculo do índice alimentar. A espécie apresentou hábito alimentar predominantemente carnívoro, observando peixes da família Cichlidae e da ordem Siluriformes, e insetos representados pelas ordens Odonata e Hymenoptera, e pela família Belostomatidae. A espécie não apresentou preferência na escolha das presas. É possível concluir que esta espécie alimenta-se das várias ofertas disponíveis no ambiente, mostrando sua adaptação a diversos habitats. ABSTRACT In this study the trophic structure of the species Hoplias malabaricus Bloch, 1794 was investigated, with usual methods of diet analysis. In order to fulfill this objective collections of fish in the Cachoeira Dourada - GO/MG reservoir had been made February of 2007 through February of The stomach content was analyzed establishing the occurrence frequency and the gravimetrical method of the different items, which had been used to calculate the alimentary index. The species presented predominantly a carnivorous alimentary habit, with individuals of the familie Cichlidae and Siluriformes orders. Insects had contributed with the diet, being represented for the Odonata and Hymenoptera orders, and for the Belostomatidae family. The species did not present preference in the choice of the prey. It could be inferred that this species feeds of available resources in the environment, showing adaptation to diverse habitats. INTRODUÇÃO A traíra, Hoplias malabaricus (Bloch, 1794), é um peixe neotropical pertencente à família Erythrinidae (Nelson, 1994). Apresenta ampla distribuição ocorrendo desde a Costa Rica até a Argentina (Buckup, 1999). Habita principalmente em ambientes lênticos

2 185 (Moraes & Barbola, 1995) bentônicos, rasos e próximo à vegetação submersa ou marginal (Bistoni et al., 1995; Resende et al., 1996; Sabino & Zuanon, 1998). A análise da complexidade da rede trófica e, conseqüentemente, do modo como as espécies utilizam os recursos alimentares disponíveis são de vital importância na elaboração de estratégias futuras de manejo de populações naturais (Hahn et al., 1997a). O presente estudo pretende contribuir para o conhecimento do espectro alimentar da traira, no Reservatório de Cachoeira Dourada, tendo como objetivo identificar a composição de presas de sua dieta. MATERIAL E MÈTODOS Área de estudo O reservatório de Cachoeira Dourada localiza-se na divisa dos estados de Goiás e Minas Gerais (Figura 1), delimitada pelas coordenadas UTMs a m e a m da Folha Topográfica de Uberlândia na escala 1: O reservatório localiza-se no limite inferior do Médio Paranaíba, que se estende do km 370 até a barragem (Cabral et al., 2005). GO MG Figura 1 Localização do Reservatório de Cachoeira Dourada na fronteira dos estados de Minas Gerais e Goiás, onde serão realizadas as coletas. Os exemplares foram amostrados de fevereiro de 2007 a fevereiro de 2008 em três pontos distribuídos ao longo do reservatório por meio do uso de 02 baterias de redes de espera com malhas de 2,0 a 6,5 cm entre nós adjacentes cada, durante 24 horas com vistorias de 12 em 12 horas aproximadamente. No laboratório, os peixes foram submetidos à medida biométrica (em mm), e ao peso total (em g). Para o estudo da alimentação os estômagos foram pesados e fixados em formol 4%. Os conteúdos dos estômagos foram examinados, e,pelo método de freqüência de ocorrência (Fi) os itens alimentares forma registrados. O método gravimétrico (Vi) foi utilizados para se registrar o volume de cada item da dieta permitindo a composição do índice alimentar (Kawakami e Vazzoler, 1980).

186 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram coletados 43 espécimes de H. malabaricus nas redes de espera, dos quais 32 eram adultos e 11eram indivíduos imaturos. O peso dos indivíduos variou de 63.05 a 505.

3 186 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram coletados 43 espécimes de H. malabaricus nas redes de espera, dos quais 32 eram adultos e 11eram indivíduos imaturos. O peso dos indivíduos variou de a g, o comprimento padrão de 17.0 a 28 mm e o comprimento total de a 34.3 mm. A análise do conteúdo estomacal revelou que 49% de estômagos vazios. As altas freqüências de estômagos vazios confirmam o que é documentado para H. malabaricus (Paiva, 1974; Bistoni et al., 1995; Loureiro & Hanh, 1996), no que se refere a resistência a longos períodos de jejum (Paiva, 1974). A espécie apresentou hábito alimentar predominantemente com IAi = 74,40%, dos quais a família Cichlidae e a ordem Siluriformes eram os principais constituintes, com índices alimentares de IAi = 25.46% e IAi= 2.55%, respectivamente. Em alguns estômagos foram encontrados escamas de Cichlidae (IAi = 0,20%) além de outros ítens sem possibilidades de identificação, IAi= 32.59% (Figura 2). Os insetos (IAi = 25,60%), com sua maior parte sendo representada pela ordem Odonata com IAi = 18,33%, seguidos pela família Belostomatidae (IAi = 20,37%) e pela ordem Hymenoptera (IAi = 0,51%), respectivamente (Figura 2). Hahn et al. (1997), pesquisando H. malabaricus, observaram uma dieta quase que exclusiva de peixes. Nikolsky (1963) sugeriu que há maior aproveitamento do alimento quando este é constituído por peixes. Figura 2. Índice Alimentar para os grupos alimentares de Hoplias malabaricus. CONCLUSÃO O estudo da dieta alimentar da espécie Hoplias malabaricus na Represa de Cachoeira Dourada revelou um hábito alimentar carnívoro, não oferecendo preferência na escolha das espécies de presas. É possível concluir que esta espécie apresenta uma plasticidade trófica se adaptando a diversos habitats.

4 187 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BISTONI, MARÍA DE LO ÁNGELES, HARO, JOSÉ GUSTAVO, GUTIÉRREZ, MERCEDES. Feeding of Hoplias malabaricus in the wetlands of Dulce river (Córdoba, Argentina). Hydrobiologia, 1995, vol. 316, pp BUCKUP, PAULO ANDREAS. Sistemática e biogeografia de peixes de riachos. Pp In: Caramaschi, E. P.; Mazzoni, R. & Peres- Neto, P. R. (eds.). Ecologia de Peixes de Riachos. Série Oecologia Brasiliensis. PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil, 1999, vol. VI. CABRAL, JOÃO BATISTA PEREIRA, BECEGATO, VALTER ANTONIO, SCOPEL, IRACI, et al. Uso de técnicas de geoprocessamento para mapear o potencial natural de erosão da chuva na Bacia Hidrográfica do Reservatório de Cachoeira Dourada GO/MG. RA E GA, O espaço Geográfico em Análise, 2005, vol. 10, pp HAHN, NORMA SEGATTI, FUGI, ROSEMARA, ALMEIDA, VERA LÚCIA LESCANO DE, et al. Dieta e atividade alimentar de peixes do Reservatório de Segredo. In Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. (Eds), Reservatório de Segredo Bases ecológicas para o manejo. Maringá, Eduem, 1997, pp KAWAKAMI, EMIKO, VAZZOLER, GELSO. Método gráfico e estimativa de índice alimentar aplicado no estudo de alimentação de peixes. Bol. Inst. Oceanogr., São Paulo, 1980, vol. 29 (2), pp LOUREIRO, VALDIRENE ESGARBOSA, HAHN, NORMA SEGATTI. Dieta e atividade alimentar da traíra, Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) (Osteichthyes, Erythrinidae), nos primeiros anos de formação do Reservatório de Segredo - PR. Acta limnol. bras, 1996, vol.8, pp MORAES, MARCOS FLÁVIO PÁDUA GÓES DE, BARBOLA, IVAN DE FREITAS. Hábito alimentar e morfologia do tubo digestivo de Hoplias malabaricus (Osteichthyes, Erythrinidae) da Lagoa Dourada, Ponta Grossa, Paraná, Brazil. Acta Biol. Par, 1995, vol. 24(1,2,3,4), pp NELSON, JOSEPH S. Fishes of the world. John Wiley & Sons, New York. 1994, 3. ed 600p. NIKOLSKY, G.V. The ecology of fishes. Londres, Academic Press. 1963, 352p. RESENDE, EMIKO KAWAKAMI, PEREIRA ROSANA APARECIDA CANDIDO, ALMEIDA VERA LÚCIA LESCANO DE. et al. Alimentação de peixes carnívoros da planície inundável do rio Miranda, Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil. Corumbá, MS: Embrapa-CPAP. (EMBRAPA-CPAP, Boletim de Pesquisa, 03). 1996, 36 p.

5 188 SABINO, JOSE, ZUANON, JANSEN. A stream fish assemblage in central Amazonia: distribution, activity patterns and feeding behavior. Ichthyol. Explor. Freshwaters, 1998, vol. 8, pp ZAVALA-CAMIN, LUIS ALBERTO. Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes. Maringá, EDUEM. 1996, 129p.

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