I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida;

Transcrição

1 Rio de Janeiro, 11 de março de Sirvo-me da presente manifestação para, cumprimentando-a, atender à solicitação de sugestões de medidas cabíveis para melhor atender ao interesse da Sra. Marcele Silva de Souza, que procurou o Núcleo de Primeiro Atendimento Cível e do Consumidor de Campo Grande para solicitar ofício de gratuidade dos emolumentos devidos pelo registro do contrato de compra e venda de imóvel, com pacto acessório de alienação fiduciária em favor da Caixa Econômica Federal, gratuidade esta recusada pelo Oficial do Cartório do 12 Registro de Imóveis da Capital, pelos argumentos lançados no documento anexado à mensagem eletrônica enviada pela servidora do órgão à Coordenadoria Cível. A exigência formulada pelo Oficial do 12 Registro de Imóveis é infundada e, por tal razão, há que se suscitar DÚVIDA, procedimento este que, após comunicação ao Cartório, será remetido ao juízo com competência para a matéria de registros públicos, o qual dirimirá ao final a questão. Ressalte-se que o procedimento de dúvida está previsto nos artigos 198 e seguintes, da Lei de Registro Públicos (Lei n 6.015/73), que preveem o seguinte: Art Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para dirimi-la, obedecendo-se ao seguinte: I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida; Il - após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o oficial todas as suas folhas; III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias; IV - certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeterse-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título. Art Se o interessado não impugnar a dúvida no prazo referido no item III do artigo anterior, será ela, ainda assim, julgada por sentença. Art Impugnada a dúvida, o Juiz proferirá a sentença no prazo de cinco (5) dias, com os elementos constantes dos autos. Parágrafo único. Da sentença poderão interpor recurso de apelação, com ambos os efeitos o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado. Art Impugnada a dúvida com os documentos que o interessado apresentar, será ouvido o Ministério Público, no prazo de dez dias.

2 Art Se não forem requeridas diligências, o juiz proferirá decisão no prazo de quinze dias, com base nos elementos constantes dos autos. Art Da sentença, poderão interpor apelação, com os efeitos devolutivo e suspensivo, o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado. Art O documento que for objeto de dúvida, decidida esta, será restituído ao interessado, independentemente de traslado. Art Julgada improcedente a dúvida, o interessado apresentará de novo os seus documentos, com o respectivo mandado, e o oficial, procederá, desde logo, ao registro, declarando, na coluna de anotações do protocolo, que a dúvida foi julgada improcedente, arquivando-se o mandado ou a cópia da sentença. Se julgada procedente, expedir-se-á mandado ao oficial que cancelará a prenotação. Art Transitada em julgado a decisão da dúvida, proceder-se-á do seguinte modo: I - se for julgada procedente, os documentos serão restituídos à parte, independentemente de translado, dando-se ciência da decisão ao oficial, para que a consigne no Protocolo e cancele a prenotação; II - se for julgada improcedente, o interessado apresentará, de novo, os seus documentos, com o respectivo mandado, ou certidão da sentença, que ficarão arquivados, para que, desde logo, se proceda ao registro, declarando o oficial o fato na coluna de anotações do Protocolo. Art A decisão da dúvida tem natureza administrativa e não impede o uso do processo contencioso competente. Por seu turno, a Lei Estadual n 3.350/99 disciplina a suscitação de dúvida para a hipótese de recusa do Oficial do Cartório na prática gratuita do ato, prevendo o prazo de 72 (setenta e duas) horas para a apresentação do requerimento: Art Nos serviços notariais e de registros privatizados nos termos da Lei Federal nº 8.935/94, os emolumentos serão pagos diretamente ao notário ou registrador, no momento da lavratura do ato ou da apresentação do documento ou requerimento. 1º - Nos casos de solicitação de gratuidade, excetuando-se os registros de nascimento e óbito, o notário ou registrador, em petição fundamentada, em 72 (setenta e duas) horas da apresentação do requerimento, poderá suscitar dúvida quanto ao referido benefício ao Juízo competente, a qual será dirimida também em igual prazo. 2 - Os emolumentos devidos pelo registro de penhora e de outros gravames decorrentes de ordem judicial, nas execuções fiscais e trabalhistas, serão pagos ao final pela parte interessada, observados os valores vigentes à época do pagamento.. O artigo 3, do Ato Normativo Conjunto TJ n 27/2013, também disciplina que a dúvida do Oficial do Cartório quanto à gratuidade requerida deverá ser suscitada por este, no prazo de 72 (setenta e duas) horas, remetendo-a ao juízo competente. Como se observa, o prazo de 72 (setenta e duas) horas é para que o Oficial do Cartório suscite a dúvida ao juízo competente, tanto

3 que na parte inicial e na final do formulário apresentado à assistida há a orientação para que ela retorne ao cartório nesse prazo para, se não concordar com a exigência, ficar ciente da suscitação da dúvida: Há dúvida quanto ao requerimento de gratuidade, sendo necessário recolher custas ou assinar termo de ciência da suscitação de dúvida perante o juiz competente. Solicita-se que a parte compareça ao cartório para assinar termo de ciência de que a dúvida será suscitada ao Juízo competente, no prazo legal. Uma vez instaurado o procedimento de dúvida por provocação do Oficial do Cartório do Registro de Imóveis, a assistida será intimada para se manifestar em defesa perante o juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias, com prevê o artigo 198, inciso III, da LRP (acima transcrito). Para melhor salvaguardar os interesses da assistida, caso a Nobre Colega entenda mais prudente encaminhá-la ao Cartório para ela própria suscitar a dúvida, sugiro a elaboração de petição escrita, dirigia ao Oficial do 12 Registro de Imóveis da Capital, contendo nome e qualificação da assistida, assim como os fundamentos para refutar a exigência, sugerindo os argumentos que passarão a ser expendidos: O inciso LXXIV do artigo 5 da Constituição da República prevê que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, ao passo que o artigo 134 atribui à Defensoria Pública a função de prestar essa assistência aos necessitados. Mesmo antes da Constituição de 1988, a Lei n 1.060/50 já disciplinava a gratuidade de justiça e previa em seu artigo 3, inciso III, a gratuidade de emolumentos devidos a serventuários da justiça, gratuidade esta que, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, é disciplinada pela Lei Estadual n 3.350/99. A gratuidade de emolumentos dos serviços extrajudiciais estava prevista no artigo 43, inciso IV, da Lei Estadual n 3.350/99, norma esta declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça, o qual, no entanto, editou o Ato Normativo 17/2009 e, posteriormente, o Ato Normativo Conjunto 27/2013 e a Portaria CGJ n 17/13, disciplinando a gratuidade dos emolumentos devidos aos cartórios extrajudiciais, determinando a demonstração da hipossuficiência do interessado. Art. 13. São gratuitos: Eis o teor do artigo 13, da Portaria CGJ n 17/13: Observar o disposto no Ato Normativo TJ nº. 17/2009, publicado no DJERJ de 28 de agosto de 2009, consolidado pelo Ato Normativo TJ n 12/2011, publicado no DJERJ de 21 de julho de 2011; Observar o disposto no Aviso TJ nº. 68/2010, publicado no DJERJ de 09 de agosto de 2010, fls. 02.

4 o registro de nascimento e o assento de óbito, bem como a primeira certidão respectiva nos termos da lei, sendo obrigatória a afixação, em local visível nos cartórios, desta determinação; os atos dos Ofícios de Interdições e Tutelas e do Registro Civil das Pessoas Naturais determinados pela Autoridade judiciária relativamente à criança e ao adolescente em situação irregular; quaisquer atos notariais e/ou registrais em benefício do juridicamente necessitado quando assistido pela Defensoria Pública ou entidades assistenciais assim reconhecidas por lei, desde que justificado; certidões, requisições, atos registrais e autenticações requisitados pela União Federal, pelos Estados e pelos Municípios, por intermédio dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, inclusive o Ministério Público e Procuradorias Gerais, bem como pelas Autarquias, Fundações e CEHAB - RJ - Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro, integrantes da Administração Indireta do Estado do Rio de Janeiro; os atos de retificação, restauração ou repetição por erro funcional; os atos de extração de certidão, quando destinada ao alistamento militar, para fins eleitorais ou previdenciários, ou para outras finalidades, cuja gratuidade esteja prevista em lei, delas devendo constar nota relativa ao seu destino; os atos notariais e/ou registrais que tenham por finalidade efetivar doações em favor do Estado do Rio de Janeiro e/ou dos seus Municípios; os atos notariais e/ou registrais efetivados em favor de maiores de 60 anos, que recebam até 10 salários mínimos; os atos notariais e/ou registrais efetivados em primeira aquisição de imóveis financiados pelo Instituto Nacional do Seguro Social, localizados em conjuntos habitacionais de baixa renda, conforme Lei Estadual nº de 25 de setembro de 2006, publicado no Diário Oficial do Poder Executivo do dia 26 de setembro de 2006; os atos notariais e registrais praticados no âmbito do "Programa Minha Casa, Minha Vida", do "Programa de Arrendamento Residencial - PAR" e de regularização fundiária dos imóveis de assentamentos de famílias de baixa renda, instituídos pelas Leis nº /2009 e nº /2001, respectivamente, serão isentos de emolumentos; os atos notariais e registrais, praticados no âmbito do "Programa Minha Casa, Minha Vida" e do "Programa de Arrendamento Residencial - PAR", quando forem requeridos pelos órgãos da Administração Pública Federal ou Estadual ou Municipal, ou em favor de pessoas hipossuficientes. Não se adentrará na questão da hipossuficiência da Sra. Marcele Silva de Souza, dada a falta de elementos para tanto, presumindose que, ao buscar o serviço da Defensoria Pública, é, de fato, pessoa necessitada. Sugere-se, apenas, que a hipossuficiência da Sra. Marcele seja demonstrada em juízo, não se limitando apenas à mera declaração, já que houve a aquisição de imóvel com aporte de recursos próprios no valor de R$ 28,700,00, ficando o restante do preço para pagamento através de financiamento pela CEF.

5 Feita a demonstração da hipossuficiência da Sra. Marcele, os argumentos do Oficial do 12 Registro de Imóveis não se sustentam. Ao contrário do que alega o Oficial, não é de praxe que o próprio imóvel pode financiar a sua aquisição, não procedendo a exigência de que o contrato deva ser aditado para incluir as custas na Cláusula B6. O imóvel foi adquirido mediante financiamento da Caixa Econômica Federal, o que significa dizer que a compradora não dispunha dos recursos para pagamento do preço à vista, dependendo do financiamento imobiliário. Se a compradora é pessoa hipossuficiente e os hipossuficientes também têm o direito de adquirir imóvel próprio, cada qual dentro de sua faixa de renda faz ela jus à gratuidade dos emolumentos, como prevê a lei, não sendo lícito incluir este custo no financiamento imobiliário. Apesar da Caixa Econômica Federal figurar como credora fiduciária, compete à compradora a obrigação de custear as despesas para o registro do contrato de compra e venda do imóvel, com pacto acessório de alienação fiduciária em garantia, e, por tal razão, como a compradora é hipossuficiente, não há que se discutir a capacidade financeira da credora fiduciária. Se a Caixa Econômica Federal cobrou da assistida hipossuficiente pela confecção do contrato, incumbe a esta discutir a legalidade dessa cobrança, todavia, não se trata de questão correlacionada à cobrança dos emolumentos, visto que o destinatário destes é o Cartório e não a instituição bancária. A assistida faz jus à gratuidade dos emolumentos e o Cartório não pode cobrar pelo registro do contrato. Pertinente também avaliar se se trata de primeira aquisição de imóvel através do Sistema Financeiro de Habitação, pois, nesse caso há a incidência do artigo 290, da Lei n 6.015/73.