SOBRE VENTOS E TEMPESTADES

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Victor Gabriel Maranhão Cerveira
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1 SOBRE VENTOS E TEMPESTADES

2 sobre ventos e tempestades

3 ESSÊNCIA Prefiro ser veleiro, que no vento descobre seu caminho e saboreia os embalos das marés. Prefiro ser vira-lata, que percorre lixos doutros mundos e enfrenta a liberdade desafiadora. Prefiro ser puta fácil, que tem na boca os vários sorrisos e no corpo os vários carinhos. Prefiro ser a brisa leve, que seca as lágrimas da saudade e espalha o cheiro das moças. Prefiro é sorrir abertamente, viver apenas do que eu sinto e ser feliz desse jeito que eu quero. 3

4 ALUMBRAMENTO Quando os meus olhos contemplaram a intensidade... O sol, o rio e as pedras correndo pelo vento das tardes. Seu sorriso claro iluminando a dia e calor de uma rosa vermelha em teus lábios, como todas as tempestades do mundo caindo sobre meu peito. É o lampejo de vida que acende ao te ver! Saiba que meu coração é um pico onde os ventos pulsam em todos os caminhos, suspirando nas brisas temperadas da manhã. Você sobrevoando minha mente como um canto onírico de um pássaro! Levando-me aos vales mais ocultos, onde escondem as lavas da eternidade. Sinto seu cheiro no calor dos meus sonhos vaporosos, sua silhueta como miragens entre pedras. Sinto o toque das pétalas da sua pele... Deito-me sorridente entre as flores do encanto, nos campos iluminados das sensações inomináveis... 4

5 DO QUE SOU Sou eu também no vento flutuante dos montes, também na cor do sol sumindo espumante no cordão da tarde, no arbusto lágrima torcido na sombra desaparecida dos meus pés. Sou eu no constante gemido hipnotizante das águas. Sou a brisa que contempla cada centímetro quadrado de minha pele, coito respirante, solitário, completo, intenso e vasto junto ao céu. Sequência de brilhos e trevas, cores e odores massageando os sentidos. Vou-me longe... e sumo no gatilho da lua. 5

6 MILHO VERDE / MG Coisas de mar no coração das Gerais. Águas claras, espumas soltas no sol. De frente para os olhos, montes calados na luz da paisagem. No gosto dos sentidos, riachos corridos no fundo dos ouvidos. Na praça verde, uma taça e uma fumaça de palha. Não há concreto, nem bancos. Deixe-se ser como veio e invente seu corpo. Bolo de fubá e café dão forma ao vento entardecido. Agregam-se mentes e passos; alegria de criança nua, cachorro que vence a corrente, grilo que cai sem querer, carro que não passa, sirene que não toca. Só as estrelas do dia desabando. Se a noite acontecer e eu estiver por aqui, apago todas as luzes e deixo o céu brilhar! 6

7 RISCO DE VIDA É Como ter pedras estreladas nos pés, como ter fome de ar respirando, que eu tenho a vida; Essa arte rompendo as alturas da visão, o mesmo nexo em cada sorriso, a mesma imagem em cada fundo do poço. Como todas as mãos percorrendo meu corpo, o gosto explodindo na língua, o sono noturno nos delírios, os espasmos nos céus desenfreados. É como ter nas mãos o meu obstáculo feroz, molhar em cada esquina de desejo! Como pulo rebento num deserto de fome, afogado no caos da orgia insaciável! É como tragar no ar a breve loucura, ser um outro eu que me pensa, ter as vozes colorindo os dias, os olhos cobertos de luz, os serpentes gritando no peito e sonhar como o próprio veneno. Voar dia a dia, vento em vento... A pele coberta das mordidas do tempo, como calos de chutes no escuro. 7

8 PORQUE DORMES? Mil motivos para ser triste nos seus dias de obrigações. Outros tantos de ansiedade, nas ilusões da matéria. Não se mate por querer viver de demais, na ambição pelo que não é vida. Não torture a si mesmo, carregando o ódio espetado na carne. Quantos sorrisos falsos você terá que abrir até a felicidade genuína tocar-lhe peito? Quantos beijos sem sentidos você ainda vai dar até recuperar a consciência? Em quantos muros você vai bater a cabeça até sentir o choque da realidade? E você vai caindo... caindo... caindo... Em sono inconsciente. Vê, mas não entende as várias mãos que te aparam. Se abrir os olhos: Verá tanto encanto na lua, no sol, na manhã, na noite... Tanta beleza nesses montes e rios entrecortados, nesse infinito azul das arrebentações litorâneas. Tanto gosto na brisa leve e aconchegante de uma sombra, nas águas claras e gratuitas que escorrem pelas pedras iluminadas. Tanto amor Nesses olhos mareados de emoção, nesses abraços sinceros que tamponam feridas. 8

9 Levante, inspire o dia e veja: Há uma imensidão de sensações tão melhor apreciadas quando se está acordado! E tu, Porque dormes? 9

10 ANDARILHO Maus presságios num copo de cerveja e na cachaça que arde a língua em plena segunda-feira. Pensamentos obtusos ao te ver de olheira, descalça e cabelos desalinhados. Mas tão tragicamente linda! Mais uma tarde de andarilho, ainda sem o banho do dia e com roupas descabidas. Não tenho que me preocupar com as rugas do sol. Sem cartas para apostar, todo vento é lucro, todo tentar me atenta. Meu ouro são meus sentidos vivos nesse momento. Se me der um abraço eu aceito! O riso está pronto... _Prazer! 10

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