AJUSTES PROPOSTOS PELO GOVERNO FEDERAL SOBRE SERVIDORES

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1 AJUSTES PROPOSTOS PELO GOVERNO FEDERAL SOBRE SERVIDORES Apresentadas no dia 15 de agosto, as propostas do governo federal para reestruturação das carreiras, planos e cargos da Administração Pública Federal no Poder Executivo, em especial, merecem algumas observações. - Adiamento por um ano das parcelas de 2018 e 2019 dos reajustes já aprovados em lei para diversas carreiras (a Medida Provisória já estaria sendo finalizada no Palácio do Planalto). As carreiras cujas parcelas estão previstas para janeiro de 2018 e janeiro de 2019 seriam adiadas para janeiro de 2019 e janeiro de 2020; As carreiras cujas parcelas estão previstas para agosto de 2018 e agosto de 2019 seriam adiadas para agosto de 2019 e agosto de 2020; A economia anunciada de R$ 5,1 Bi/ano, irrisória perto do gasto pelo governo na compra de votos de parlamentares, consta da Lei Orçamentária Anual como verba de pessoal, aprovada pelo Congresso Nacional, só podendo ser utilizada em outras despesas após a aprovação pelo Congresso Nacional de redefinição do previsto em lei para a LOA/2018. Ressalta-se a ampliação da perda inflacionária imposta ao conjunto dos servidores, ativos, aposentados e pensionistas. - Aumento da contribuição previdenciária para 14% sobre o montante da remuneração que exceder o teto do RGPS (R$ 5.531,31). Considerando que na regra atual a contribuição previdenciária do servidor que excede o teto do RGPS é destinada ao FUNPRESP Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo e que cabe à União a contribuição em igual valor como contrapartida patronal, o efeito na proposta economia de R$ 1,9 Bi/ano, anunciada com redução do déficit do RPPS, torna-se inócuo. - Implantação efetiva do teto remuneratório ao conjunto dos servidores públicos. O teto remuneratório, previsto no artigo 37, XI da Constituição Federal, para o conjunto dos servidores e empregados públicos dos três Poderes e das três esferas de governo,

2 para os detentores de mandato eletivo e demais agentes públicos, considera a percepção de verbas de caráter remuneratório, incluídas as vantagens de qualquer natureza. A proposta do atual governo de incluir no limite do teto outros tipos de verbas que não remuneratórias, como de caráter indenizatório, por exemplo, necessitaria de uma emenda constitucional, lembrando que a ADI nº 4900 confirmou e clarificou as regras de aplicação dessa determinação constitucional para todo os detentores de cargo público nas três esferas de governo. - Redução de gastos com ajuda de custo para servidores do Poder Executivo Federal. Aqui cabe a lembrança do caráter da ajuda de custo de cobertura de gastos eventuais como os de deslocamento e alocação de servidores em domicílio diferente daquele de origem, na grande maioria das vezes para atender necessidades institucionais. A proposta governamental com certeza tornará mais difícil o deslocamento de servidores para atender à necessidades do Estado, tornando nada atrativa a movimentação de servidores, atingindo fortemente a execução de atividades de diversas instituições públicas, em especial em localidades de difícil provimento. - Redução e gastos com auxílio-moradia par servidores do Poder Executivo Federal. Assim como na proposta anterior, essa medida dificultaria a permanência de servidores e ocupantes de cargos comissionados, muitos de alta qualificação, onde são necessários para o atendimento das necessidades da alta administração, em especial na cidade de Brasília, onde funciona a maioria das direções das instituições do Poder Executivo federal. Isso, além de proporcionar uma economia insignificante nas despesas de custeio da máquina pública. - Extinção de 60 mil cargos vagos no Poder Executivo federal. Essa é mais uma medida com objetivos muito mais midiáticos do que de economia efetiva. Isso, porque a simples existência de cargos efetivos não ocupados não significa, como alega o governo, inutilidade desses cargos por falta de correspondência com a realidade do trabalho contemporâneo. Da mesma forma, a extinção não evita aumento

3 de despesa futura, nem muito menos gera qualquer tipo de economia. Todo cargo vago pode ser transformado em outro que atenda às necessidades da Administração Pública, evitando o envio de projetos de lei ao Congresso Nacional, o que pode acarretar alterações na proposta original, entre outros problemas. Muito mais eficiente seria a efetiva racionalização de cargos dentro das carreiras que necessitem de atualização em seus quadros antes da simples extinção de cargos vagos. - Reestruturação das carreiras do Poder Executivo Federal. A medida, noticiada, de reestruturação de carreiras do Executivo Federal, na verdade se trata muito mais de intenção do que de uma proposta concreta. Os objetivos do governo para esse tema carecem desde o seu nascedouro de um mínimo de estudos e de base técnica, o que demonstra total desconhecimento da realidade dos cargos, planos e carreiras da Administração Pública Federal. Alegando discrepância entre as remunerações dos cargos públicos e os salários de profissionais da iniciativa privada, o governo propõe a redução do piso remuneratório (remuneração de entrada) dos diversos cargos do Poder Executivo Federal. Aqui está claro o desconhecimento das competências, atribuições e responsabilidades de um servidor público. Não é possível a simples comparação pela formação acadêmica. As atribuições de profissionais do setor privado, como economistas, administradores e contadores, citados na apresentação governamental, em nada têm a ver com as de um servidor, ainda que com essas mesmas formações acadêmicas como exigência para participação em concurso público, ocupante de um cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, ou de Auditor-Fiscal da Receita Federal, por exemplo. Ou ainda um bacharel em direito que não pode ser simplesmente comparado a um Advogado da União, ou outro cargo da área jurídica pública. Na apresentação feita pelo Ministro do Planejamento podemos observar algumas questões, a saber: - a proposta de remuneração de entrada seria de R$ 5.000,00 para qualquer cargo de nível superior e de R$ 2.800,00 para cargos de nível intermediário, sem considerar que o nível de escolaridade não é o que determina a remuneração, mas, como preceitua o artigo 39 da Constituição Federal, a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira. Assim, tentar simplesmente igualar a remuneração de todos os servidores simplesmente pela formação acadêmica,

4 ou a remuneração de um servidor público ao salário de um profissional da iniciativa privada seria, no mínimo, desrespeitar o preceito constitucional, além de mais uma vez demonstrar desconhecimento da administração pública. - Ampliação para trinta padrões da estrutura de tabela remuneratória, composta de sete classes, para todos os cargos do Executivo federal é mais uma aberração, principalmente por não considerar as peculiaridades e atribuições de cada cargo dos diversos segmentos da administração pública. Essa proposta, feita sem qualquer base de estudo técnico, também coloca o servidor em condição de, na maioria das vezes, não conseguir atingir o topo da tabela remuneratória antes de se aposentar. Um estudo mínimo sobre progressão e promoção de cargos públicos mostra a inviabilidade dessa intenção. Dentro do proposto estaria totalmente inviabilizada a carreira docente universitária, por exemplo. - Possibilidade de unificação de todos os cargos de perfil administrativo dos diversos planos e carreiras em uma única estrutura, desconsiderando as peculiaridades de cada cargo, suas atribuições e competências. Essa proposta, absurda, não considera as diferenças de tratamento nas atividades de logística e de licitações na Secretaria da Receita Federal do Brasil em comparação com as mesmas atividades no Departamento Penitenciário Federal, por exemplo. Durante o estágio probatório (três anos): - Congelamento salarial, impedindo a correta avaliação progressiva e o estímulo ao desenvolvimento do servidor durante o período inicial de sua carreira. - Possibilidade de somatório de vencimento básico com gratificações na definição da remuneração de ingresso (R$ 5.000,00/NS e R$ 2.800,00/NI), além da possibilidade de não consideração de títulos (mestrado e doutorado, por exemplo) durante esse período. Essas propostas desestimulam o ingresso em cargos da administração pública (talvez um dos objetivos da proposta). Algumas outras considerações: - Uma provável economia alegada na apresentação não tem base de cálculo referenciada na folha de pagamento efetivamente paga, o que mostra uma total falácia.

5 - A proposta demonstra total desconhecimento das mais de 800 (oitocentas) tabelas remuneratórias do Executivo federal, incluindo a administração direta, suas autarquias e fundações, com suas peculiaridades, competências e atribuições. - A possibilidade de que cada novo servidor custaria até 70% menos (acreditamos que em comparação com um servidor atual) é mais uma informação fictícia, uma vez não ter nenhuma base de cálculo lastreada na realidade econômica e financeira do quadro funcional do Executivo federal. Assim como as hipóteses de economia anual entre os anos de 2019 e 2039, que não têm nenhum lastro técnico.