Danielle Kely Gomes. Coorientador: para análise acústica no PE: Prof. Dr. João Antônio Moraes. Dr. Amália Teresa da Costa Andrade

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Danielle Kely Gomes. Coorientador: para análise acústica no PE: Prof. Dr. João Antônio Moraes. Dr. Amália Teresa da Costa Andrade"

Transcrição

1 SÍNCOPE EM PROPAROXÍTONAS: UM ESTUDO CONTRASTIVO ENTRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO E O PORTUGUÊS EUROPEU Danielle Kely Gomes Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Área de concentração: Língua Portuguesa) Orientadora: Prof. Dr. Silvia Figueiredo Brandão Coorientador para a análise acústica no PB: Prof. Dr. João Antônio Moraes Coorientador: para análise acústica no PE: Dr. Amália Teresa da Costa Andrade UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM LETRAS VERNÁCULAS RIO DE JANEIRO, 1º SEMESTRE DE 2012

2 Síncope em proparoxítonas: um estudo contrastivo entre o português brasileiro e o português europeu Danielle Kely Gomes Orientadora: Profa. Dra. Silvia Figueiredo Brandão Coorientador para a análise acústica do PB: Prof. Dr. João Antônio Moraes Coorientadora para a análise acústica do PE: Dra. Amália Teresa da Costa Andrade Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutora em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: Presidente, Professora Doutora Silvia Figueiredo Brandão Orientadora Professor Doutor João Antônio de Moraes Coorientador (UFRJ) Professora Doutora Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva (UFRJ) Professor Doutor Dermeval da Hora de Oliveira (UFPB) Professor Doutor Manuel Mourivaldo Santiago de Ameida (USP) Professor Doutor Alexsandro Rodrigues Meireles (UFES) Professora Doutora Christina Abreu Gomes (UFRJ) suplente Professor Doutor César Augusto da Conceição Reis (UFMG) suplente Rio de Janeiro 1º semestre de 2012

3 GOMES, Danielle Kely Síncope em proparoxítonas: um estudo contrastivo entre o português brasileiro e o português europeu / Danielle Kely Gomes. Rio de Janeiro: UFRJ/CLA/FL, xxi, 273f. il:, 31 cm Orientador: Silvia Figueiredo Brandão Tese (Doutorado) UFRJ/ Faculdade de Letras / Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas, Referências Bibliográficas: f Português Brasileiro. 2. Português Europeu. 3. Fonologia. 4. Sociolinguística. 5. Fonética Acústica. 6. Vocalismo Postônico Não Final. 7. Síncope. I. Brandão, Silvia Figueiredo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas. III. Título

4 "A ciência? Ao fim e ao cabo, o que é ela senão uma longa e sistemática curiosidade?" André Maurois

5 SINOPSE Estudo do apagamento das vogais postônicas nãofinais nas variedades brasileira e europeia, com base nos princípios da Sociolinguística Variacionista e da Fonética Acústica. Análise de corpora de natureza sócio e geolinguística. Observação da duração das vogais.

6 RESUMO SÍNCOPE EM PROPAROXÍTONAS: UM ESTUDO CONTRASTIVO ENTRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO E O PORTUGUÊS EUROPEU Danielle Kely Gomes Orientadora: Profa. Dra. Sílvia Figueiredo Brandão Coorientador para a análise acústica do PB: Prof. Dr. João Antônio de Moraes Coorientadora para a análise acústica do PE: Dra. Amália Teresa da Costa Andrade Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). As proparoxítonas constituem, em português, o padrão acentual marcado, o menos frequente. Por essa razão, vocábulos proparoxítonos apresentam um comportamento bastante particular, diretamente associado ao processo de síncope, que consiste no enfraquecimento e, posterior cancelamento de segmentos no interior da palavra. A síncope acarreta o apagamento da vogal postônica medial ou a própria supressão da sílaba em que ela está inserida, podendo, ainda, afetar a estrutura das sílabas adjacentes, tanto a da tônica, que pode receber coda, quanto a da átona final, no que se refere ao onset. O processo é frequente nas diversas variedades do Português e culmina na regularização das palavras proparoxítonas em paroxítonas. Com fundamento em duas linhas de investigação, este trabalho busca observar a sistematicidade do fenômeno nas variedades brasileira e europeia do português. Com o suporte da Sociolinguística Variacionista, investiga se a produtividade desse processo e os fatores linguísticos e sociais que condicionam o fenômeno nas referidas variedades. Com apoio no instrumental metodológico da Fonética Acústica e partindo se da hipótese de que pressões rítmicas entram em jogo na regularização das proparoxítonas em paroxítonas, observa se, por meio de uma análise experimental, de que forma a constituição métrica do enunciado afeta o contexto átono não final.

7 ABSTRACT SYNCOPE IN ANTEPENULTIMATE STRESS WORDS: A CONTRASTIVE STUDY BETWEEN BRAZILIAN PORTUGUESE AND EUROPEAN PORTUGUESE Danielle Kely Gomes Supervisor: Profa. Dra. Sílvia Figueiredo Brandão Supervisor to BP acoustic analysis: Prof. Dr. João Antônio de Moraes Supervisor to EP acoustic analysis: Dra. Amália Teresa da Costa Andrade Abstract of the PhD Dissertation submitted to Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, as part of requirements for obtaining the title of Doctor in Vernacular Letters (Portuguese Language). The proparoxytones are, in Portuguese, the less frequent stress pattern. For this reason, the antepenultimate stress words have a very particular behavior, directly involved in the process of syncope, which is the weakening and subsequent cancellation of segments within the word. Syncope causes the deletion of posttonic medial vowel or the own suppression of the syllable in which it is inserted, and may also affect the structure of adjacent syllables, both from the tonic, which can receive coda, as the final unstressed in as regards the onset. The process is common in several varieties of Portuguese and culminates in the regularization of the proparoxytones words in paroxytones Based on two lines of research, this study aims to observe the systematic nature of the phenomenon in Brazilian and European varieties of Portuguese. With the support of Sociolinguistic Theory, this research investigates the productivity of this process and the linguistic and social factors that influence the phenomenon in these varieties. With support from the methodological tools of Acoustic Phonetics and based up in the hypothesis that rhythmic pressures come into play in the settlement of the antepenultimate stress words in penultimate stress words, it is observed by means of an experimental analysis, how the constitution of the metric statement affect the unstressed non final syllable.

8 RÉSUMÉE SYNCOPE DANS PROPAROXYTONES: UNE ÉTUDE CONTRASTIVE ENTRE LE PORTUGAIS BRÉSILIENNE ET LE PORTUGAIS EUROPÉENNE Danielle Kely Gomes Superviseur : Profa. Dra. Silvia Figueiredo Brandão Superviseur pour l'analyse acoustique des PB: Prof. Dr. João Antônio de Moraes Superviseur pour l'analyse acoustique des PE : Dra. Amália Teresa da Costa Andrade Résumé de Thèse de Doctorat présentée au Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, dans le cadre des exigences pour l'obtention du titre de Docteur en Lettres Vernaculaire (Langue Portugaise) En portugais, les mots proparoxytones sont le modèle d accent le moins fréquent. Pour cette raison, ils present un comportement assez particulier, due á un processus de syncope des segments phonétiques qui suivent la syllabe tonique. Cette syncope provoque la suppression de la voyelle post tonique ou la suppression de toute la syllabe ou cette voyelle est inserée. Ce processus pent affecter les syllabes adjacentes soit par l ajont d une coda à la syllabe tonique précédente, soii par la modification de l ataque de la syllabe finalle. Present dans plusieurs variétés du portugais, ce processus aboutit à la régularisation des mots proparoxytones comme paroxytones. Baseé sur deux approaches théoriques, cette étude cherche à degager la systematicité sonsjacente à ce phénomene variable dans les variétés brésilienne et européenne du portugais. En suivant le modéle de la Sociolinguistique Variationniste, nous mettons en lumière la productivité de ce processus et les facteurs linguistiques et sociaux qui lui sont associés. Avec l aide des outils de la Phonétique Acustique, nous cherchons à verifier l hypothèse selon laquelle la regularisation des mots proparoxytones subit des pressions rithmiques. Par une analyse experimentale, nous observons la façon dont la constituition métrique de l énoucé influence la syllabe atone non finale.

9 À Marlene de Oliveira Kely Gomes Minha mãe ; minha maior companheira.

10 AGRADECIMENTOS Tão complicado quanto escrever uma Tese é fazer justiça às pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do trabalho e homenageá las. Aqueles aos quais presto os meus agradecimentos são personagens principais de uma novela que se arrasta por cinco anos, com muitas peripécias, aventuras de tirar o fôlego, reviravoltas mirabolantes, alguns tropeços da protagonista (e quedas espetaculares também! Enfim...). Mas quero acreditar nisso estamos próximos a um final feliz. Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por ter me dado calma, paciência e serenidade para suportar todas as situações tensas pelas quais passei ao longo deste trabalho. Nada em nossa vida acontece por acaso : há sempre um propósito por trás dos desígnios d Ele, e acredito que todas as coisas que me ocorreram ao longo desta jornada trouxeram, ao final, uma contribuição. E também agradeço a Ele por ter me dado a possibilidade de durante a realização desta Tese conhecer o mundo. A meus pais, José e Marlene, por tudo o que fizeram por mim e por meus irmãos, para que pudéssemos estudar e nos tornássemos pessoas de bem. A minha mãe, em especial, agradeço por ser meu porto seguro, aquela com quem primeiro compartilho as minhas alegrias, aquela que recolhe os meus cacos quando as coisas saem da ordem, enfim... aquela que me permite ser o que sou. A Afrânio Barbosa, Aparecida Lino, Celia Lopes, Cláudia Cunha, Dinah Callou, Eliete Batista, Leonor Werneck, Márcia Machado, Maria Eugênia Duarte, Regina Gomes, Violeta Rodrigues, meus professores na Graduação e na Pós Graduação, que contribuíram aos longo de 12 anos para a minha formação. Agradecimento especial dedico à Sílvia Rodrigues. Para além da contribuição acadêmica, Sílvia por muitas vezes me ajudou a sair do Fundão rumo à Zona Oeste, sempre com um sorriso no rosto e com uma conversa bacana. A Mônica Orsini, que despertou em mim a paixão pela língua portuguesa, quando foi minha professora durante os três anos do Ensino Médio, no Colégio Técnico da Universidade Rural. Também agradeço a Elenice Assis (in memoriam), minha professora por um curto período do Ensino Médio, mas que se tornou, depois

11 que concluí a Graduação, uma grande companheira, sempre interessada em meus progressos profissionais e acadêmicos. A Conceição Paiva, por ter me iniciado no maravilhoso (e tortuoso) mundo da pesquisa linguística ; por ter aceito o convite de me coorientar durante o Mestrado ; por ter feito parte da banca do meu Exame de Qualificação ; por compor a banca de avaliação desta Tese e por estar sempre disposta a ajudar, contribuindo com suas opiniões sempre honestas para o meu crescimento científico. A Maria Antónia Mota, por ter providenciado a documentação para que eu pudesse realizar o estágio científico no CLUL, e também por ter auxiliado na busca por um lugar para que me instalasse durante a permanência em Lisboa. Agradeço, ainda, pela preocupação com o meu bem estar durante o período em que lá estive. Às direções das escolas pelas quais passei ao longo dos últimos 8 anos, por terem compreendido a necessidade de me ausentar do trabalho para participar de eventos científicos. Aos colegas de Doutorado, sobretudo a Luana Machado, Marisandra Rodrigues, Juliana Segadas, Juliana Marins e Leonardo Marcotulio. A Leonardo, em particular, por ter se disposto a fazer as gravações dos informantes portugueses, enquanto estava em Lisboa realizando a sua pesquisa. Peço lhe, mais uma vez, desculpas pelo inconveniente, e agradeço muitíssimo pelo auxílio. A Paulo, responsável pelo Laboratório de Fonética, pela realização das gravações e pela prosa agradável. À grande família da sala F 310. Aos que por lá passaram e aos que ainda estão por ali. Entretanto, há alguns nomes que merecem uma menção à parte : Cris, por ser a aglutinadora dessa família. A pessoa que sempre se mobilizou para que todos nós nos uníssemos ; a companheira com quem desabafo os meus estresses acadêmicos (sobretudo nos últimos tempos) ; uma grande psicóloga, que tem as palavras certas para os meus momentos de crise ; uma pesquisadora com quem travo debates interessantes. Enfim... uma amiga com

12 a qual sei que posso contar (eu nunca vou me perdoar por ter te acordado às 7hs da manhã para que me ensinasse a usar o programa R) ; Olívia, parceira não só da pesquisa, como também das viagens. Um ombro amigo, sempre disponível para conversar, com opiniões sinceras não só sobre a pesquisa, mas também sobre as coisas do dia a dia. Agradeço também pela ajuda na gravação dos testes usados na análise acústica Anna Carolina, aquisição recente do meu quadro de amizades. Tão nova, mas com uma experiência de vida tão grande, sempre com palavras positivas. Vinícius, companheiro de pesquisa e de Magistério. Muito obrigada pela disposição em realizar os meus testes e pelas ideias, sempre construtivas. A Alessandra de Paula Santos, minha companheira de pesquisa mais próxima. Nos últimos cinco anos, desenvolvemos uma parceria que ultrapassa as barreiras da Universidade. Chamo a de irmã, não só por sermos filhas dos mesmos pais acadêmicos (sendo eu a filha feia, evidentemente...), mas porque construímos laços que são inquebrantáveis, tão fortes e sólidos. Agradeço muito por tê la em minha vida. A Deisiane Rodrigues, Rafael Nogueira e Tiago Cavalcante, pessoas que passaram a fazer parte da minha trajetória quando atuei como professora substituta desta Universidade. Aos três agradeço pela companhia agradável, pela troca de ideias, pelas conversas ligadas não só à nossa prática docente, mas também às coisas da vida. A Welington Cruz, por motivos os quais ainda não entendo... Aos colegas que fiz ao longo destes oito anos de atuação no Magistério, nos lugares mais estranhos deste vasto Rio de Janeiro. Em especial a Alessandra Santos Silva, Iara Cajueiro Cunha, Juliana Rezende e Paula Vedoveli. A Amália Andrade, por ter me recebido nos dois primeiros meses de 2011 no Laboratório de Fonética do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa ; por ter disponibilizado a consulta a materiais bibliográficos indisponíveis aqui no Brasil e pelas sugestões e contribuições, incorporadas nesta pesquisa. A João Moraes, coorientador deste trabalho, que me ensinou a transitar pelas vias da Prosódia. Tenho consciência de que fui uma aprendiz relapsa, mas agradeço

13 pelo esforço, pela leitura atenta aos meus textos, pelas ideias para o progresso deste trabalho. Enquanto escrevia os agradecimentos aos demais personagens desta história, estava a pensar o que dizer a Silvia Brandão... Antes de agradecer, peço desculpas. Este trabalho está, sem dúvida, aquém de toda orientação oferecida por ela ao longo desses anos. Desde que me aceitou como orientanda, Silvia traçou as melhores metas para meu trabalho, e sinto que não as cumpri satisfatoriamente. Agradeço pela orientação competente e segura, que ultrapassa limites. Agradeço pelas sugestões referentes não só à pesquisa, como também à minha atuação como professora. Agradeço por abrir as portas para que eu conhecesse o mundo. Agradeço pela preocupação comigo, principalmente quando estava só, do outro lado do Atlântico. Enfim... se eu for enumerar todos os motivos pelos quais lhe devo agradecer, esta seção ficará do tamanho da Tese. Então, para resumir, muito obrigada! Por tudo!

14 Este trabalho foi parcialmente financiado pela CAPES (03/2011 a 02/2012).

15 SUMÁRIO Índice de quadros, figuras, gráficos, tabelas e símbolos 1 Introdução 22 2 As proparoxítonas em português 2.1 Caracterização 2.2 O apagamento da vogal postônica não final Estudos diacrônicos Estudos sincrônicos 2.3 Objetivos 2.4 Justificativa O vocalismo em português 3.1 O Português Brasileiro 3.2 O Português Europeu 3.3 O quadro postônico não final: evidências diacrônicas A sílaba em português: questões teóricas 54 5 O acento em português 5.1 Perspectiva diacrônica 5.2 Perspectiva sincrônica (a) Mateus (1974, 1983) (b) Bisol (1992) (c) Lee (1995) Enfoque variacionista 6.1 Fundamentos Teóricos 6.2 Metodologia 6.3 Análise dos dados Resultados Gerais O Português Brasileiro Condicionamentos Linguísticos Modo de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Postônica Nãofinal Ponto de Articulação da Vogal Postônica Não final Ponto de Articulação da Consoante Precedente à Vogal Postônica Não final Modo de Articulação da Consoante Precedente à Vogal Postônica

16 Ponto de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Postônica Dimensão do Vocábulo Condicionamentos Sociais Faixa Etária Gênero/Sexo do Informante Escolaridade Perspectiva Geolinguística O Português Europeu Discussões preliminares Condicionamentos Selecionados Modo de Articulação da Consoante Precedente à Vogal Modo de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Dimensão do vocábulo Reflexões sobre os resultados Enfoque Acústico 7.1 Fundamentação Teórica 7.2 Metodologia 7.3 Análise dos dados Etapa I Duração média das vogais: contexto fônico neutro Etapa II Confronto entre logátomos e palavras reais 7.4 Síntese dos resultados Conclusões Bibliografia Anexos I. Informantes fala urbana PB II. Informantes fala rural PB III. Informantes PE IV. Cartas do MicroAFERJ V. Cartas AFeBG

17 ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS, GRÁFICOS, TABELAS E SÍMBOLOS QUADROS Quadro 1: O vocalismo latino: contraste entre as variedades clássica e vulgar 30 Quadro 2 : Neutralização da vogal pretônica (palavra fonológica) 43 Quadro 3: Neutralização da vogal postônica final (fronteira vocabular) 43 Quadro 4: Neutralização da postônica não final (pé) 43 Quadro 5: Sistema Vocálico Pleno (Bisol e Magalhães, 2004) 46 Quadro 6: Sistema Átono Subespecificado contexto pretônico (Bisol e 46 Magalhães, 2004) Quadro 7: Sistema Átono Subespecificado contexto postônico (Bisol e 46 Magalhães, 2004) Quadro 8: O sistema vocálico do Português Europeu (Mateus et.at., 2003) 49 Quadro 9: Duração (em milissegundos) dos segmentos vocálicos: experimento 160 com dados do PB (Moraes, 1999, 72) Quadro 10: Duração (em milissegundos) dos segmentos vocálicos: 161 experimento com dados do PE (Delgado Martins, 1975, 5) Quadro 11: Palavras que compõem o corpus 163 FIGURAS Figura 1: A estrutura da sílaba (Selkirk, 1982) 55 Figura 2: Vocábulo pétala contexto 1 : [a pétala] ɸ [soltou se]ɸ 186 Informante brasileira 1 leitura 1 Figura 3: Vocábulo pétala contexto 2: [ a pétala rosa]ɸ [soltou se] ɸ 187 Informante brasileira 1 Leitura 1 Figura 4 : Vocábulo pétala contexto 3 : [a pétala rosa da tulipa]ɸ[ soltouse]ɸ Informante brasileira 1 Leitura Figura 5: Vocábulo pétala contexto 1 : [ a pétala]ɸ [soltou se]ɸ 190 Informante portuguesa 1 Leitura 1 Figura 6: Vocábulo pétala contexto 2 : [a pétala rosa] ɸ [soltou se]ɸ 191 Informante portuguesa 1 Leitura 1 Figura 7: Vocábulo pétala contexto 3: [a pétala rosa da tulipa]ɸ [soltouse]ɸ Informante portuguesa 1 Leitura Figura 8: Vocábulo página contexto 1 : [a página] ɸ[ foi rasgada]ɸ 195 Informante brasileiro 1 velocidade normal Figura 9: Vocábulo página contexto 1 : [a página]ɸ[ foi rasgada]ɸ 196 Informante brasileiro 1 Leitura 2 Figura 10: Vocábulo crítica contexto 1 : [a crítica]ɸ[se ouviu]ɸ 198 Informante brasileiro 2 Leitura 1. Figura 11: Vocábulo crítica : contexto 1 : [a crítica]ɸ [se ouviu]ɸ 199 Informante brasileiro 2 Leitura 2. Figura 12: Vocábulo crítica contexto 1 : [a crítica]ɸ [ se ouviu]ɸ 201 Informante português 2 Leitura 1.

18 Figura 13: Vocábulo crítica contexto 1 : [a crítica]ɸ [ se ouviu]ɸ Informante português 2 Leitura 2 Figura 14: Vocábulo círculo contexto 1 : [o círculo]ɸ [ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Figura 15: Vocábulo círculo contexto 2 : [o círculo perto]ɸ[ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Figura 16: Vocábulo círculo contexto 3: [o círculo perto da esquina]ɸ[ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Figura 17: Vocábulo círculo contexto 1: [ o círculo] ɸ [ fechou]ɸ Informante português 2 Leitura 1. Figura 18: Vocábulo círculo contexto 2: [ o círculo preto]ɸ[ fechou]ɸ Informante português 2 Leitura 1 Figura 19: Vocábulo círculo contexto 3: [o círculo perto da esquina]ɸ[fechou]ɸ). Informante português 2 Leitura GRÁFICOS Gráfico 1: Modo de articulação da consoante precedente: comparação entre 137 as amostras Gráfico 2: Ponto de articulação da consoante precedente: comparação entre 138 as amostras Gráfico 3 : Modo de Articulação da consoante seguinte: comparação entre as 139 amostras Gráfico 4: Ponto de articulação da consoante seguinte: comparação entre as 140 amostras Gráfico 5: Duração média das vogais (em milissegundos) logátomos PB 169 Gráfico 6: Duração média das vogais dos logátomos PE 172 Gráfico 7: Duração média da vogal postônica não final (em milissegundos) 174 logátomos PB Gráfico 8: Duração média da vogal postônica não final (em milissegundos) 177 logátomos PE Gráfico 9 : Duração média vogal postônica final (em milissegundos) 179 logátomos PB Gráfico 10 : Duração média da vogal postônica final (em milissegundos) 182 logátomos PE Gráfico 11: Duração do /a/ postônico não final: comparação entre logátomos 184 e palavras reais (PB) Gráfico 12: Duração do /a/ postônico não final: comparação entre logátomos 189 e palavras reais (PE) Gráfico 13: Duração do /i/ postônico não final: comparação entre logátomos 203 e palavras reais (PB) Gráfico 14: Duração do /i/ postônico não final: comparação entre logátomos 205 e palavras reais (PE)

19 TABELAS Tabela 1 Distribuição das proparoxítonas considerando a natureza da vogal 28 postônica não final (Araújo et. al., 2007, 58) Tabela 2 Distribuição das proparoxítonas considerando a possibilidade de 29 apagamento da vogal postônica não final (Araújo et. al., 2007, 58) Tabela 3: Os moldes silábicos em português (Collischonn, 2005) 55 Tabela 4: Grupos de ataque complexo em português (Collischonn, 2005) 56 Tabela 5: Variáveis investigadas 98 Tabela 6: Distribuição dos dados por amostra 100 Tabela 7: Variáveis Atuantes no Apagamento da Vogal Postônica Não final: 101 Português Brasileiro Tabela 8: Efeito da Atuação do Modo de Articulação da Consoante Seguinte 102 para o Apagamento da Vogal Postônica Não final Tabela 9: Efeito do Ponto de Articulação para o Cancelamento da Vogal 104 Postônica Não final Tabela 10: Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Vogal 105 Postônica Não final (nível 1): corpus NURC Tabela 11: Efeito do Ponto de Articulação da Consoante Precedente para o 106 Cancelamento da Vogal Postônica Não final Tabela 12: Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante 107 Precedente para o Cancelamento da Vogal (nível 1): corpus NURC Tabela 13: Efeito do Modo de Articulação da Consoante Precedente para o 108 Cancelamento da Vogal Tabela 14: Índices Referentes à Variável Modo de Articulação da Consoante 109 Precedente (nível 1): corpus NURC Tabela 15: Atuação do Ponto de Articulação da Consoante Seguinte para o 110 Apagamento da Vogal Tabela 16: Cruzamento do ponto de articulação alveolar da consoante 111 precedente com o ponto de articulação da consoante seguinte corpus PEUL Tabela 17: Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante 111 Seguinte (nível 1): corpus NURC Tabela 18: Cruzamento do ponto de articulação da consoante precedente com 112 o ponto de articulação da consoante seguinte alveolar corpus NURC Tabela 19: Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante 112 Seguinte no Cancelamento da Vogal Postônica Não Final (nível 1): corpus APERJ Tabela 20: Cruzamento do ponto de articulação da consoante precedente com 113 o ponto de articulação alveolar da consoante seguinte corpus APERJ Tabela 21: Efeito da Atuação da Dimensão do Vocábulo no Apagamento da 114 Vogal Postônica Não final: corpus PEUL Tabela 22: Índices Relativos à Variável Dimensão do vocábulo no Apagamento 115 da Vogal (nível 1): corpus NURC Tabela 23: Índices Relativos à Variável Dimensão do vocábulo no Apagamento 115 da Vogal (nível 1): corpus APERJ Tabela 24: Efeito da Atuação da Faixa Etária no Apagamento da Vogal 116

20 Postônica Não final Tabela 25: Índices Referentes à Variável Faixa Etária (nível 1): corpus APERJ 118 Tabela 26: Efeito do Gênero/Sexo do Informante no Cancelamento da Vogal 118 Postônica Não Final corpus PEUL Tabela 27: Índices Relativos à Variável Gênero/Sexo do Informante (nível 1): 119 corpus NURC Tabela 28: Efeito da Atuação do Condicionamento Escolaridade (corpus 120 APERJ) Tabela 29: Índices gerais de apagamento da vogal postônica não final nos 122 corpora AFeBG e MicroAFERJ Tabela 30: Índices de apagamento da vogal postônica não final referentes às 123 dezoito palavras dos corpora geolinguísticos Tabela 31: Resultado do apagamento da vogal 124 Tabela 32: Variáveis Atuantes para o Apagamento da Vogal Postônica Não 127 Final: Português Europeu Tabela 33: Efeito do Modo de Articulação da Consoante Precedente 128 Tabela 34: Índices Relativos à Variável Ponto de articulação da Consoante 129 Precedente (nível 1) Tabela 35: Cruzamento Modo x Ponto de Articulação da Consoante 130 precedente Tabela 36: Efeito do Modo de Articulação da Consoante Seguinte 131 Tabela 37: Índices Relativos à Variável Ponto de Articulação da Consoante 132 Seguinte (nível 1) Tabela 38: Cruzamento Ponto e Modo de Articulação da Consoante Seguinte 132 Tabela 39: Cruzamento: Modo de Articulação da Consoante Precedente x 133 Modo de Articulação da Consoante Seguinte Tabela 40: Efeito da Dimensão do Vocábulo Proparoxítono 134 Tabela 41: Distribuição das vogais analisadas por contexto 168 Tabela 42: Duração média das vogais dos logátomos (em milissegundos) PB 168 Tabela 43: Significância das diferenças entre a duração das vogais PB 170 Tabela 44: Duração média das vogais dos logátomos (em milissegundos) PE 171 Tabela 45: Significância das diferenças entre a duração das vogais PE 172 Tabela 46: Duração média das vogais postônicas não finais por contexto PB 173 Tabela 47: Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais 175 postônicas não finais PB Tabela 48: Duração média das vogais postônicas não finais por contexto PE 176 Tabela 49: Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais 177 postônicas não finais PE Tabela 50: Duração média das vogais postônicas finais por contexto PB 178 Tabela 51: Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais 180 postônicas finais PB Tabela 52: Duração média das vogais postônicas finais por contexto PE 181 Tabela 53: Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais 182 postônicas finais PE Tabela 54 : Realização do /i/ postônico não final PE 204

21 SÍMBOLOS Φ Sintagma Fonológico σn Desvio Padrão

22 22 1. INTRODUÇÃO A flutuação na realização das vogais átonas há muito vem despertando o interesse dos estudiosos de fenômenos fonético fonológicos do português, especialmente em virtude da complexidade que envolve a caracterização tanto do contexto pretônico quanto do contexto do postônico. No que tange à caracterização das vogais átonas pretônicas, um leque amplo de trabalhos recobre as mais diversas variedades do português, como a brasileira e a europeia. Todavia, em relação ao vocalismo átono postônico, o quadro é diametralmente inverso. Além de escassos, os estudos estão baseados em corpora constituídos especificamente para os fins do trabalho, o que traz para a pesquisa vantagens e desvantagens. Por um lado, pesquisas que constituem corpora para a verificação das hipóteses são bem sucedidas por contemplarem um conjunto maior de possibilidades de realizações e contextos favorecedores e desfavorecedores para a ocorrência do fenômeno. Por outro, tal procedimento pode mascarar a real produtividade dos processos investigados, uma vez que, sob a vigilância do pesquisador, perde se a naturalidade do registro. O trabalho que aqui se apresenta não está isento desse entrave metodológico. Focaliza se, nesta pesquisa, o apagamento da vogal postônica não final, processo que resulta na regularização das palavras com acento na antepenúltima sílaba em palavras paroxítonas (árvore >arvre, óculos>oclos, sábado >sabo). O contexto fonético em foco se concretiza em um grupo de itens lexicais de natureza bastante peculiar: a penúltima sílaba átona de um vocábulo proparoxítono.

23 23 Nesta pesquisa, aliam se os princípios teórico metodológicos da Teoria da Variação e Mudança (Weireinch, Labov e Herzog, 1968; Labov, 1972, 1994) aos métodos da análise acústica para a interpretação do processo de apagamento da vogal postônica não final no PB e no PE. Do ponto de vista sociolinguístico, toma se por hipótese que a regra de apagamento da vogal postônica não final é um fenômeno estável, isto é, um fenômeno variável que não apresenta indícios de mudança. Ainda na perspectiva variacionista, com base na análise de corpora orais representativos das normas culta e popular das falas fluminense e lisboeta, defende se que a aplicação da regra está associada a condicionantes sociais. Espera se que o apagamento da vogal postônica não final seja mais produtivo não só na variedade popular do PB representativa dos indivíduos com menor grau de escolaridade, mas também na variedade europeia como um todo, por esta se caracterizar por um vocalismo átono mais sensível ao apagamento do que a variedade brasileira. No âmbito dos condicionamentos linguísticos, toma se por hipótese que restrições fonotáticas atuam de maneira diferenciada em cada uma das variedades consideradas. No PB, o apagamento da vogal postônica não final seria condicionado pelo contexto fonético adjacente a esse segmento desde que houvesse a possibilidade de ressilabificação na sílaba à esquerda ou à direita do segmento flutuante após a queda da vogal. No PE, todavia, a hipótese seria que as restrições fonotáticas não se fizessem tão atuantes, por conta da maior instabilidade dos segmentos vocálicos átonos nessa variedade. Do ponto de vista da atuação dos condicionamentos sociais, espera se constatar que o apagamento é um fenômeno que tem valor sociolinguístico no âmbito

24 24 da variedade brasileira, isto é, as restrições sociais atuam de maneira a favorecer ou restringir a aplicação da regra; já no âmbito da variedade europeia, condicionamentos sociais já não se fazem atuantes, uma vez que o cancelamento de vogais átonas é um fenômeno bastante produtivo nessa variedade. O que poderia justificar tal diferença entre as variedades seria a configuração do sistema vocálico átono de cada uma delas; enquanto no português brasileiro ainda se observa variação na realização entre as vogais médias e altas, no português europeu o processo de neutralização entre essas posições já está concluído, sendo o apagamento das vogais nesses contextos a próxima etapa nas alterações do vocalismo da variedade europeia. De forma a complementar a compreensão acerca do comportamento dos vocábulos proparoxítonos em português e também observar de que forma os dados produzidos em laboratório confirmam ou não as tendências delineadas na análise variacionista, este trabalho empreende uma investigação, no âmbito da Fonética Acústica, com o intuito de verificar de que forma pressões rítmicas afetam o comportamento da vogal postônica não final. Assim, a partir da análise do parâmetro acústico da duração, busca se verificar se o ritmo está diretamente relacionado ao enfraquecimento e, consequentemente, ao apagamento de segmentos tão instáveis quanto os postônicos não finais. Parte se do princípio de que quanto maior o número de segmentos adjacentes à direita do vocábulo proparoxítono, maior a compressão temporal da vogal postônica não final, e maiores são as possibilidades de cancelamento desse segmento. Destaca se que a investigação acústica relativa ao Português Europeu foi iniciada durante estágio orientado pela Doutora Amália Andrade, no Centro de

25 25 Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), entre janeiro e fevereiro de Durante a permanência no CLUL, obteve se acesso ao referencial teórico que fundamentou não só a análise acústica, mas também as observações sobre as noções de sílaba e acento, discutiram se as hipóteses que nortearam a investigação experimental e a metodologia a ser utilizada. Vale enfatizar ainda que os testes aplicados a informantes brasileiros e portugueses foram elaborados com base em questões sugeridas pela investigadora portuguesa. O trabalho que por hora se apresenta é constituído dos seguintes capítulos, além da Introdução. No capítulo dois, apresenta se uma descrição dos vocábulos proparoxítonos no que concerne a seu comportamento idiossincrático. São, ainda, apresentados estudos diacrônicos e sincrônicos que tomam as vogais postônicas não finais como objeto de análise. No capítulo três, expõem se as principais características do sistema vocálico das variedades brasileira e europeia, o que é imprescindível para entender as motivações para a instabilidade do contexto postônico não final. Os capítulos quatro e cinco trazem reflexões teóricas sobre a sílaba e o acento em português. No quarto capítulo, são apresentadas as principais propriedades da sílaba no âmbito fonológico e de que forma as variedades brasileira e portuguesa se diferenciam no plano fonético; no quinto, levantam se considerações diacrônicas e sincrônicas sobre os padrões de acentuação em português.

26 26 No capítulo seis, empreende se a análise variacionista do fenômeno sob investigação. Em 6.1., apresentam se os fundamentos teóricos da Teoria da Variação e Mudança; em 6.2., delineia se a metodologia empregada: caracterizam se os corpora que fundamentam a análise e descrevem se as variáveis postuladas; em 6.3, discutemse os resultados, por variedade. O capítulo sete é dedicado à análise acústica. Em 7.1, indica se o referencial teórico da Fonética Acústica no que tange à caracterização de acento e ritmo; na seção 7.2., discute se a metodologia adotada para a análise; em 7.3., analisam se os dados; e, por fim (7.4), apresentam se as conclusões sobre o experimento. No capítulo oito, sintetizam se os resultados, destacando se as principais conclusões das análises realizadas neste trabalho.

27 27 2. AS PROPAROXÍTONAS EM PORTUGUÊS 2.1. Caracterização Os estudos tradicionais reconhecem, em relação ao acento tônico, que as palavras da língua portuguesa podem ser divididas em três grupos, segundo a posição em que ele incide: na última sílaba, as oxítonas (café, urubu, etc.); na penúltima sílaba, as paroxítonas (ônix, sorte, etc), estas em maior número; na antepenúltima sílaba, as proparoxítonas (psicólogo, horóscopo, âncora, etc.). As gramáticas da língua portuguesa só fazem menção ao fato de todas as proparoxítonas serem acentuadas graficamente. Não há referências ao fato de, na modalidade oral, elas poderem passar a paroxítonas. Somente Mateus et. al (2003, 1051), em nota, reconhecem essa possibilidade. De acordo com as autoras: A normalização destas formas, levando a acentuação da última vogal do radical, manifesta se em certos registos da língua, com a alteração de algumas palavras excepcionais que passam a regulares (exs: árvores [áɾvuɾɨʃ] / arves [áɾvɨʃ]; quilómetro [kilõmɨtɾu] / quilontro [kilõntɾu]) e com a hesitação na pronúncia de outras (exs. rúbrica [Rúbɾikə] / ru brica [Rubɾíkə]; Oceania [osiə niə] /ocea nia [osiəníə]). Uma justificativa para o fenômeno da síncope em proparoxítonas não ser investigado por estudos gramaticais tradicionais deve se à correlação muito comum feita entre o fenômeno da supressão e sua produtividade em dialetos populares, isto é, toma se a síncope com um fator de diferenciação diastrática que separa, por um lado, as variedades de prestígio, não propensas à realização da supressão da vogal postônica não final, e de outro, as variedades populares, que regularizam o padrão acentual por força do acesso restrito aos meios escolares. Todavia, o estudo sociolinguístico aqui levado em consideração mostra que o processo também se faz

28 28 presente na fala dos indivíduos mais escolarizados, tanto quanto na dos com escolarização variável. Outra questão que afeta os estudos acerca das proparoxítonas está ligada à produtividade lexical dos itens que se enquadram nesse perfil. As proparoxítonas constituem o conjunto que apresenta o padrão menos usual da língua (desconsiderando se as palavras biesdrúxulas 1, consideradas não prototípicas,). Somese a isso o fato de a maior parte delas se restringir a termos técnicos e pouco produtivos, sendo bastante reduzido o número dos que persistem no vocabulário usual dos falantes. Araújo et al. (2007, 37 38) realizaram um levantamento do vocabulário do português contabilizando todos os verbetes do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Os autores chegaram a um total de palavras, das quais são proparoxítonas, o que equivale a somente 12% do total 2. A tabela a seguir aponta o percentual de vocábulos para cada vogal postônica não final. Tabela 1 Distribuição das proparoxítonas considerando a natureza da vogal postônica não final (Araújo et. al., 2007, 58) /i/ /e/ /a/ /o/ /u/ 65,5% 9,7% 10,9% 10,5% 3,6% Os autores ainda indicam as probabilidades de apagamento das vogais postônicas não finais em função do contexto fonético, como aponta a tabela 2. 1 Alguns estudos linguísticos denominam as palavras biesdrúxulas de anteproparoxítonas, por apresentarem o acento na sílaba anterior à antepenútima. Temos exemplos de biesdrúxulos em português no âmbito do vocábulo fonológico, como em falávamos te. 2 As paroxítonas, padrão acentual canônico do português, representam 63% desse conjunto e as oxítonas, 25%.

29 29 Tabela 2 Distribuição das proparoxítonas considerando a possibilidade de apagamento da vogal postônica não final (Araújo et. al., 2007, 58) /i/ /e/ /a/ /o/ /u/ 28% 70% 49% 38% 81% Pela tabela acima, observa se que, apesar de as proparoxítonas com vogal postônica medial /i/ constituírem o maior número de itens lexicais com esse parâmetro acentual, somente em 28% deles a queda da vogal não contraria a estrutura silábica padrão do português. Através dessa pequena amostragem, observa se o comportamento idiossincrático das palavras com acento na antepenúltima sílaba e justifica se a investigação desse parâmetro acentual, como uma contribuição para a descrição fonológica da língua portuguesa. Entretanto, é necessário uma retomada dos aspectos históricos do processo de apagamento de segmentos átonos, fenômeno produtivo nas variedades vulgares do latim e que sobreviveu na evolução das línguas românicas O apagamento da vogal postônica não final Estudos Diacrônicos Uma observação mais acurada do processo de apagamento da vogal postônica não final implica, necessariamente, uma retomada dos condicionantes históricos do fenômeno, isto é, uma revisão de aspectos do sistema vocálico do latim.

30 30 O sistema vocálico tônico do latim clássico caracterizava se pelo timbre e pela duração das vogais, que redundava na oposição entre longas e breves. Todavia, as variedades vulgares promoveram uma reorganização do sistema vocálico tônico, devida, em grande parte, à perda da propriedade de duração. Com a perda da duração, o vocalismo tônico do latim reestruturou se: as vogais baixas, tanto a breve quanto a longa, amalgamaram se em um único a. As altas i, e u longas mantiveram suas propriedades originais. As médias breves e, o evoluíram para o timbre aberto [ɛ, ɔ]. O quadro a seguir proposto por Castro (1991, 94) dá conta das diferenças entre os quadros vocálicos tônicos das variedades clássica e vulgar do latim. Quadro 1 O vocalismo latino: contraste entre as variedades clássica e vulgar LATIM CLÁSSICO LATIM VULGAR ī, ū /i/, /u/ ŭ, ō /o/ ŏ /ɔ/ ē, ĭ, oe /e/ ĕ, ae /ɛ/ ă, ā /a/ Para a compreensão da relação entre a quantidade vocálica e a regularização das proparoxítonas em paroxítonas, é importante salientar que, no latim, a acentuação dos itens lexicais com mais de duas sílabas era condicionada pela quantidade vocálica da penúltima sílaba da palavra: se a penúltima sílaba fosse longa, o acento sobre ela recairia; se fosse breve, o acento recuaria para a antepenúltima sílaba, criando o acento proparoxítono.

31 31 As diferenças entre o quadro vocálico das variedades clássica e vulgares proporcionaram alterações consideráveis na forma como alguns itens lexicais passaram para as línguas românicas. As palavras que sobreviveram sofreram sensíveis mudanças nas sílabas átonas, por conta das alterações ocorridas no quadro vocálico. Vocábulos de quatro e de cinco sílabas chegaram a reduzir se a duas. Nos vocábulos polissilábicos, no latim clássico, sempre que a vogal se encontrava em positio debilis, ou seja, antes de um grupo formado por uma consoante oclusiva e outra líquida, recebia ou não o acento; no latim vulgar, todavia, em tais contextos, acentuava se a vogal, mantendo lhe a antiga quantidade (álacre VS alécre, ténebras VS tenébras). Nunes (1945, 56) tece considerações importantes sobre o contraste entre o vocalismo tônico e o átono do latim, e indica como ele sobrevive nas línguas românicas: Em consequência de sobre elas incidir o acento predominante ou tônico, as vogais que por este facto tem tal nome conservam se invariàvelmente, como vimos, enquanto as restantes da palavra estão sujeitas a vários acidentes, que vão desde o seu enfraquecimento até sua elisão; aquelas não só persistem sempre, mas devido ao esforço com que são proferidas, chegam a atrair a que se lhes segue na sílaba imediata. As vogais átonas partilham da sorte das sílabas do mesmo nome; como estas, alteram se e por vezes até desaparecem, mas quando persistem, tomam um som fraco e por vezes tão sumido que mal se faz sentir. Desta circunstância resulta, segundo já observamos, que tanto o é como o ó se confundem com ê e ô, não se fazendo distinção entre essas vogais, senão quando a palavra é proferida com ênfase: daqui nasce serem as vogais átonas apenas cinco; a, e, i, o, u, número que se reduz ainda a três: a, e, o, quando finais, pois neste caso o e e i, como o o e u, confundem se, dando em geral um som único, e na escrita i e u não se usam, sendo substituídos por e e o. Das vogais átonas é o a a mais resistente. A sorte das vogais átonas depende do lugar que ocupam na palavra e da sua posição relativamente ao acento tônico, sendo as iniciais e as finais as que mais resistências possuem; as médias atenuam se por forma tal que desaparecem frequentemente. (grifos nossos).

32 32 Relevante notar, a partir das considerações de Nunes (op.cit), o quão intrínsecas são as relações entre conservação da vogal átona e sua posição em relação à vogal tônica: o autor deixa claro que as vogais átonas mediais são as que mais frequentemente desaparecem. Tal tendência ao enfraquecimento e, posteriormente ao desaparecimento é resquício de um fenômeno há muito presente na evolução da língua, e principalmente, há muito condenável do ponto de vista das variantes de prestígio. Williams (1961, 64) chama a atenção para o fato de o apagamento da vogal postônica não final ser fortemente influenciado pelo ambiente fonético adjacente à vogal, sendo que a presença das consoantes l, m, n e r favorecia sua queda. Coutinho (1976: ) aponta ainda como contexto favorecedor do seu apagamento ela estar entre uma consoante oclusiva e uma lateral ou vibrante (oculus > oclus; socerus > socrus). Tais considerações mostram que, além da posição da vogal átona em relação ao acento tônico, são importantes também condicionamentos como a natureza dos segmentos consonantais adjacentes a ela. No português arcaico (do século XII ao XIV), raras eram as palavras proparoxítonas, à exceção de vocábulos semi eruditos pertencentes à liturgia, ao direito e à medicina. O movimento renascentista foi responsável pela re introdução de alguns vocábulos proparoxítonos na língua portuguesa, sendo a maior parte deles empréstimos diretos do latim clássico e do vocabulário grego adaptados ao latim. No português contemporâneo, os vocábulos eruditos ainda constituem a maioria dos proparoxítonos. Em vocábulos de uso comum, como árvore, óculos e

33 33 ônibus, observa se a queda de segmentos que resultam em formas paroxítonas como arvre (arve), oclos e ombos, o padrão acentual mais produtivo da língua portuguesa Estudos Sincrônicos Apesar de o apagamento da vogal postônica não final ser um fenômeno amplamente reconhecido por linguistas brasileiros, a verificação da sistematicidade do processo foi e ainda é pouco investigada. O primeiro trabalho, correlacionando a síncope a variáveis linguísticas e sociais, foi o de Head (1986), que verifica o comportamento das proparoxítonas em cartas do Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB). Caixeta (1989), a partir da recolha de palavras proparoxítonas em diversos corpora orais, propõe uma descrição do comportamento desses vocábulos. Aguilera (1996) investiga em cartas do Atlas Linguístico do Paraná (ALPR) e Aragão (1999), na fala de Fortaleza. Mais recentemente, Cardoso (2007) procura postular uma tipologia para o fenômeno, a partir da análise dos vocábulos proparoxítonos catalogados nos atlas linguísticos brasileiros já publicados. comentam. Em termos de trabalhos monográficos, encontram se os que a seguir se Caixeta (op.cit.) trata o fenômeno segundo o quadro teórico da Teoria Gerativa Clássica, considerando a constituição silábica e as propriedades dos segmentos consonantais na formulação de regras que descrevem o apagamento de segmentos, em nível de palavra. A análise do processo é feita com base em um corpus que

34 34 compreende falantes mineiros e cariocas, com escolaridade que varia do grau zero ao superior. Um dado importante observado pela autora é a estratégia de esquiva das proparoxítonas usada pelos falantes de menor grau de escolaridade, que substituem as palavras proparoxítonas por outras expressões, uma evidência forte para a hipótese de que esses vocábulos não pertencem ao léxico ativo dos indivíduos. Como fatores condicionantes do processo de redução das proparoxítonas, a autora apresenta os padrões fonéticos e as restrições distribucionais que regem a estruturação silábica dos vocábulos com acento na antepenúltima sílaba; e considera também a velocidade de fala como um dos condicionamentos que favorecem a redução, independentemente do nível de instrução dos indivíduos. Com isso e outros fatores, o estudo determina que o fenômeno é um processo natural, observável não só na fala de pessoas analfabetas ou de pouca escolaridade, mas também no registro informal de pessoas com curso superior, por ser uma característica herdada do latim. Amaral (2000), com base na metodologia variacionista, investiga a produtividade do processo na fala da zona rural de São Jose do Norte (RS). A autora aponta, no conjunto de dados por ela analisado, a importância de condicionamentos fonéticos como os contextos fonológicos adjacentes, o ponto de articulação da vogal apagada e a correlação dos aspectos linguísticos aos sociais, já que os condicionamentos sociais clássicos investigados segundo a Teoria da Variação também se mostraram pertinentes. Silva (2006), emprega a mesma metodologia utilizada por Amaral (op.cit), e realiza um estudo variacionista, com o propósito de observar a relação entre aspectos linguísticos e socais na aplicação da regra de apagamento da vogal postônica não final

35 35 no município de Sapé (Paraíba). Os resultados observados também trazem reflexões sobre questões fonotáticas, a natureza da vogal apagada, a tonicidade entre as sílabas envolvidas no processo e a influência das variáveis sociais. O autor, todavia, explicita que seus resultados refletem apenas os aspectos da variação sociolinguística, deixando, para um trabalho posterior, em nível de doutoramento, a união desta com os dados do VALPB para análise em nível fonético fonológico [ ] (SILVA, 2006, 8). Fonseca (2007) descreve a vitalidade do processo em palavras proparoxítonas extraídas do Esboço do Atlas Linguístico de Minas Gerais. A partir do aporte teóricometodológico oferecido pela Teoria da Variação e Mudança, o objetivo da autora foi investigar a hierarquia de contextos fonéticos que favoreçam o apagamento de um ou mais segmentos e indicar os elementos extralinguísticos capazes de serem ou não favoráveis a essa mudança (p. 5). Mostram se relevantes para a ocorrência do apagamento da vogal átona não final condicionamentos linguísticos como as consoantes adjacentes à vogal postônica não final, a extensão da palavra, o ponto de articulação da vogal postônica não final; como condicionamento social, foi estatisticamente relevante a escolarização. Lima (2008) alia os pressupostos da Teoria da Variação e da Mudança Linguística aos da Fonologia Métrica, com o propósito de observar os processos fonológicos resultantes da síncope em palavras proparoxítonas, em dados do sudoeste de Goiás. Suas hipóteses estão de acordo com as linhas interpretativas estabelecidas nos trabalhos anteriormente citados: verificar se há uma tendência geral na língua em regularizar os itens lexicais proparoxítonos em paroxítonos, e consoante com os princípios teórico metodológicos da Teoria da Variação e Mudança observar a

36 36 correlação entre os condicionantes linguísticos e sociais para a ocorrência do fenômeno. Ramos (2009), com base no corpus IBORUNA 3, descreve a produtividade do fenômeno na comunidade de São José do Rio Preto, no noroeste de São Paulo. Os dados, observados, também sob a ótica variacionista e métrica, refletem uma tendência verificada nos trabalhos aqui citados, e também observável pelo menos nos dados da fala fluminense aqui sob investigação: uma baixa produtividade do processo, a importância dos contextos fonológicos adjacentes à vogal postônica como decisivos para a queda da vogal postônica não final e a estabilidade do fenômeno, do ponto de vista da atuação dos parâmetros sociais. Em síntese: desde os estudos históricos até as investigações mais recentes, com base nos mais heterogêneos aparatos teóricos, o apagamento da vogal postônica nãofinal vem sendo apontado como um fenômeno produtivo nas mais diversas variedades da língua. Importante salientar, também, que os estudos aqui apresentados mostram certa uniformidade quanto aos condicionamentos linguísticos que interferem na aplicação da regra de apagamento da postônica não final: são de vital importância elementos como o contexto fonético adjacente, a natureza da vogal átona apagada e a extensão do vocábulo. Todavia, por mais que haja uma convergência entre os resultados, também merece destaque o fato de que ainda falta um volume maior de descrições de variedades do português, para que se possam estabelecer generalizações explicativas acerca do fenômeno em foco. Assim, este trabalho fornece mais evidências para a compreensão do processo, uma vez que o investiga não só em 3 O corpus IBORUNA é um banco de dados produzido no âmbito do projeto O Português falado na região de São José do Rio Preto: constituição de um banco de dados anotado para seu estudo, sediado no IBILCE/UNESP.

37 37 termos de uma análise contrastiva entre as variedades brasileira e europeia, mas também procura tratá lo de forma mais abrangente, por aliar o aparato sociolinguístico a uma análise com base na Fonética Acústica Objetivos A partir das considerações expostas anteriormente, este trabalho traça como objetivos gerais: (a) contribuir para o conhecimento das variedades brasileira e europeia da língua portuguesa, no que diz respeito a um fenômeno fonológico; (b) ampliar o espectro de análises de cunho variacionista das variedades do português. intuito de: Em termos específicos, observa se o processo de apagamento da vogal no (a) analisar os processos fonológicos no âmbito das sílabas postônicas não finais; (b) detectar os padrões de reestruturação silábica resultantes do processo de supressão de segmentos; (c) identificar os condicionamentos linguísticos e sociais que concorrem para a síncope nos vocábulos proparoxítonos; (d) verificar se tais processos se devem a atuação de parâmetros acústicos.

38 Justificativa Desde a constituição da Linguística como ciência autônoma, a fonologia tem um lugar de destaque. No que concerne à Sociolinguística, tal destaque se deve a diversos motivos, entre os quais, a manutenção da premissa básica da teoria: formas alternantes com o mesmo valor de verdade; a facilidade quanto não só à obtenção de dados mas também a correlação entre fatores relativos à pronúncia a aspectos sócioculturais. A supressão de segmentos está entre os temas bastante investigados em fonologia sob a ótica sociolinguística. O trabalho de Labov (1966) configura um caso clássico de supressão, o do /r/ em palavras como farm e fair, correlacionando variáveis linguísticas a variáveis sociais e estilísticas. Com relação a estudos sobre o português brasileiro, podem se citar os trabalhos de Paiva (1996, 2003), que investigam a supressão da semivogal em ditongos decrescentes, entre outros fenômenos de supressão. Apesar de a síncope em proparoxítonas constituir um estudo de cunho fonético fonológico que se enquadra no perfil clássico das primeiras pesquisas variacionistas, a análise do fenômeno sofre as restrições inerentes ao tipo de produtividade das formas em questão: para a obtenção de uma amostra minimamente significativa, é necessário recorrer a variados corpora. O levantamento feito por Araújo et. al. (2007) mostra que as proparoxítonas constituem a menor classe acentual da língua. Sendo assim, poucas são as palavras proparoxítonas encontradas com frequência no vernáculo.

39 39 A dificuldade de encontrar proparoxítonas na fala coloquial 4 obrigou os autores dos poucos trabalhos sobre o tema a recorrerem a materiais bastante específicos: os trabalhos de Head (1986) e de Aguilera (1996) basearam se em cartas de atlas linguísticos, cuja metodologia prevê, além de elocuções livres, perguntas e respostas diretas. Caixeta (1989), dada a dificuldade na obtenção de dados por meio de um único corpus, selecionou dados do corpus NURC, do Atlas Prévios dos Falares Baianos, de amostras de alunos da segunda série do nível fundamental, de um banco de entrevistas constituído para o trabalho e de amostras do projeto Mobral, o que pode ter comprometido os resultados, dada a heterogeneidade do material analisado. Os trabalhos de Aragão (1999) e Amaral (2000) utilizaram entrevistas sociolinguísticas, o que acarretou um número pequeno de ocorrências, se comparado ao volume de dados com o qual os pesquisadores de outros fenômenos fonético fonológicos trabalham. Todavia, números nada dizem, pois, como bem alerta Naro (2003: 25): o progresso da ciência não está nos números em si, mas no que a análise dos números pode trazer para o nosso entendimento das línguas humanas. Nas linhas anteriores foi abordada a questão de que o fenômeno da síncope em proparoxítonas, bastante reconhecido desde estudos dialectológicos clássicos sobre algumas variedades do português brasileiro como os de Amaral (1920) sobre o dialeto caipira no Estado de São Paulo; Nascentes (1922), sobre o linguajar carioca; e Marroquim (1934), sobre as variedades faladas em Alagoas e Pernambuco ainda é pouco investigado, dadas as características próprias do objeto de estudo. Assim, o trabalho que por ora se apresenta avança não só por propor uma análise contrastiva 4 Ainda que o coloquial seja impossível de ser registrado em uma entrevista sociolinguística.

40 40 entre PB e PE, mas também por fazê lo aliando pressupostos da sociolinguística variacionista e da fonética acústica.

41 41 3. O VOCALISMO EM PORTUGUÊS 3.1. O Português Brasileiro O sistema vocálico do português é composto por sete elementos: /a/, /ɛ/, /e/, /i/, /ᴐ/, /o/ e /u/, que se opõem na posição tônica. Nas posições átonas, observam se reduções, com a atuação de subsistemas definidos em função da pauta acentual. Essas configurações estão associadas à redução da força expiratória nas posições não acentuadas. O enfraquecimento articulatório favorece o processo de alteamento, e, por consequência, a perda do contraste entre as vogais médias e as vogais altas. No âmbito da posição pretônica, perde se a distinção entre as vogais médias /ɛ/ e /e/ e /ᴐ/ e /o/, processo denominado neutralização e que acarreta, respectivamente, na perspectiva de Camara Jr., os arquifonemas /E/ e /O/. Assim, o quadro de sete vogais se reduz a cinco elementos nesse contexto. Na posição postônica final, a redução é ainda mais drástica, uma vez que, tanto na série anterior quanto na série posterior, são anulados os contrastes entre as vogais médias e as altas, com a realização fonética ocorrendo em favor das vogais altas, o que poderia ser explicado, segundo alguns autores, pelo fato de o contexto apresentar o grau máximo de atonicidade. Entretanto, tal consideração não é consenso para os estudiosos da área. Camara Jr. (1970) defende que a sílabas postônicas, seja a medial, seja a final, são igualmente fracas do ponto de vista articulatório; Leite (1974), por outro lado, defende que as postônicas mediais são mais débeis do que as finais. Outras controvérsias verificam se no âmbito das vogais postônicas não finais. Camara Jr. (1970) postula que há uma assimetria na implementação da neutralização

42 42 entre as médias e as altas nesse contexto: haveria a perda da oposição entre as vogais média e alta na série posterior, o que acarretaria o arquifonema /U/, mas não se verificaria uma anulação do contraste entre as médias e a alta na série anterior. Posição semelhante é a adotada por Wetzels (1992), mas apoiada em correntes teóricas mais recentes. Wetzels (1992), com base na proposta de Clements, postula regras para a descrição do vocalismo átono do português brasileiro. Para o autor, o processo de neutralização é resultado do desligamento de um traço da árvore, o traço de abertura. O autor afirma ainda que [labial] é um dos traços fonológicos das vogais posteriores do português, estando assim previsto na composição fonológica das postônicas não finais. Nesse contexto, somente o traço [labial] é desligado, reafirmando assim a posição mattosiana de que a neutralização só ocorre no âmbito da série posterior, não sendo aplicável às vogais anteriores. Os esquemas a seguir dão conta da interpretação de Wetzels para o vocalismo átono do português brasileiro.

43 43 A neutralização das átonas, segundo Wetzels (1992) Quadro 2 Neutralização da vogal pretônica (palavra fonológica) [ acento 1] X [+ vocóide] [+ aberto 3] Quadro 3 Neutralização da vogal postônica final (fronteira vocabular) X ) w [+ vocóide] [+ aberto 2] Quadro 4 Neutralização da postônica não final (pé) X [+ vocóide] [+ aberto 2] [labial]

44 44 Outros trabalhos, entretanto, defendem que a configuração do quadro postônico não final é flutuante, podendo, a depender da variedade, apresentar uma configuração semelhante à verificada na pauta pretônica ou no contexto átono final. Bisol (2003) também adota o modelo de Clements (1990) baseado na Teoria Autossegmental e na Geometria de Traços e defende que esse quadro representa com exatidão a complexidade do sistema vocálico do português brasileiro. Para Clements, o sistema vocálico é constituído de camadas (tiers) organizadas de forma hierárquica, cada uma delas representando graus de abertura ([aberto 1], [aberto 2] e [aberto 3]), marcados como positivos ou negativos de acordo com as classes naturais vocálicas (vogais altas, médias abertas, médias fechadas e baixas). A neutralização ocorre quando há a anulação de uma ou mais camadas. Para esse modelo fonológico, as línguas românicas apresentam uma série de três registros: o primário, composto por três vogais; o secundário, composto por cinco vogais; e o terciário, composto por sete vogais, sendo os registros primário e secundário resultantes do processo de neutralização dos traços [aberto 3] e/ou [aberto 2], conforme ilustra o esquema a seguir. abertura i/u e/o ɛ/ᴐ a aberto 1 + aberto aberto Bisol destaca que o quadro postônico não final proposto por Camara Jr., marcado pela assimetria no processo de neutralização das vogais médias, dificilmente

45 45 se sustentaria como contexto de regra no PB e também não encontra suporte no modelo teórico proposto por Clements. Em síntese, Bisol afirma que o português brasileiro conta com duas regras de neutralização e não três como se vinha postulando. [...]. O sistema de cinco vogais tem sua plenitude na pretônica e o sistema de três vogais na átona final. Na postônica não final, flutuam os dois sistemas átonos, o de cinco e o de três vogais. (Bisol, 2003, 275). Bisol e Magalhães (2004) analisam o processo de redução vocálica nas variedades do Sul do país sob a ótica da Teoria da Otimalidade, a partir dos princípios de fidelidade posicional e de marcação. A descrição dos autores toma como ponto de partida o sistema de traços proposto por Chomsky e Halle (1968) e a atuação do traço ATR (Advanced Tongue Root), discutido por Archangelli e Pulleyblank (1989, 1994, apud Bisol e Magalhães, 2004). ATR é um traço relacionado ao movimento de avanço, recuo e ao levantamento do corpo da língua. De acordo com Bisol e Magalhães, as vogais altas são marcadas com o traço [+ATR], enquanto as baixas são [ ATR]. A desativação do traço ATR desencadeia neutralizações: em português, a neutralização ocorre em favor de [+ATR], o traço que serve, em uma primeira etapa, para a perda do contraste entre as vogais médias no contexto pretônico e, posteriormente, para o desaparecimento das médias nos contextos postônicos. Os quadros a seguir resumem a proposta dos autores.

46 46 Quadro 5 Sistema Vocálico Pleno (Bisol e Magalhães, 2004) i u e o ɛ ᴐ a alto + + baixo ATR post arredon Quadro 6 Sistema Átono Subespecificado contexto pretônico (Bisol e Magalhães, 2004) i e a o u alto + + baixo + Quadro 7 Sistema Átono Subespecificado contexto postônico (Bisol e Magalhães, 2004) i a u alto + + baixo + Bisol e Magalhães postulam que em todas as sílabas pós acentuadas são perdidos os contrastes entre as médias e as altas, por conta da inexistência de palavras que contrastem pela troca entre e/i ou entre o/u. Eles apresentam como evidência as formas fôlego/fôligu, cômodo/cômudo, leque/lequi, bolo/bolu, afirmando que tais variações não alteram o sentido das palavras.

47 47 Santos (2010), ao descrever o quadro postônico não final na fala fluminense, constata a grande instabilidade do contexto e seus resultados sugerem a coexistência de dois subsistemas para as vogais átonas não finais, condicionados por fatores de ordem social: na fala popular, o processo de alteamento estaria praticamente concluído nas séries tanto posterior quanto anterior, sendo o quadro postônico nãofinal semelhante ao final. Na fala culta, por outro lado, o processo ainda não estaria plenamente implementado no âmbito da vogal anterior, refletindo o quadro assimétrico proposto por Camara Jr. (1970) e Wetzels (1992). Em síntese, o sistema vocálico do PB apresenta a seguinte configuração (com as três possibilidades para o contexto postônico não final). Quadro Pretônico Quadro Tônico /i/ /u/ /i/ /u/ /E/ /O/ /e/ /o/ /a/ /ɛ/ /ᴐ/ /a/ Quadro Postônico Não Final Quadro Postônico Final /i/ /u/ /I/ /U/ /I/ /U/ /I/ /U/ /E/ /O/ ou /E/ ou /a/ /a/ /a/ /a/

48 O Português Europeu As variedades do português brasileiro e do português europeu são convergentes no tocante ao sistema vocálico na posição tônica, já que ambas apresentam um sistema com sete elementos que se opõem nesse contexto. Todavia, diferenças muito salientes são observadas nos contextos átonos. Mateus et. al. (2003) destacam que, no português europeu, as vogais pré e póstônicas são em número menor do que as vogais verificadas no contexto tônico. Foneticamente, somente quatro elementos são verificados nas posições átonas: [i, ɨ, a, u]. Mateus e d Andrade (2000, 20) mostram que, nos contextos átonos não finais, são verificados somente dois graus de abertura, ao contrário dos três observados no contexto tônico: três vogais altas ([i], [ɨ], [u]) e a vogal central ([ ]). Na posição postônica final, há duas vogais altas ([ɨ] e [u]) e a vogal central. Ambos os trabalhos destacam a tendência de, no PE, serem elididas as vogais átonas nas posições pósacentuadas, mas não fazem um levantamento dos contextos que podem favorecer ou restringir a ocorrência do processo. Mateus et. al (op. cit) destacam ainda que o vocalismo átono do português europeu passou por dois processos fonológicos que explicam a redução de elementos nos contextos átonos: elevação e recuo. Entretanto, as considerações aventadas pelas autoras tomam como ponto de observação o contexto átono como um todo, não apontando distinções entre as vogais átonas pretônicas e postônicas.

49 49 A elevação se justifica porque as vogais sobem um ou dois graus de altura quando em posições não acentuadas; o recuo é observado já que as vogais /e/ e /ɛ/, marcadas fonologicamente pelo traço [ recuado] tem como realização [ɨ], marcada positivamente para o traço. O mesmo fenômeno se verifica para /i/ em alguns contextos. O quadro a seguir, apresentado por Mateus et. al. (2003, 1013) mostra a configuração do sistema vocálico do PE e as transformações ocorridas por conta das regras fonológicas. Quadro 8 O sistema vocálico do Português Europeu (Mateus et.al, 2003) +alta i ɨ u alta e baixa ə + baixa ɛ ᴐ o recuada + recuada a 3.3. O quadro postônico não final: evidências diacrônicas Para melhor apreciar a variação das vogais no contexto postônico não final, é importante estabelecer uma espécie de linha do tempo, que permita verificar as origens do processo que acarreta o comportamento peculiar das vogais médias nesse contexto, o que pode fornecer indícios para a compreensão do processo de redução e, consequentemente, apagamento da vogal postônica não final.

50 50 Todavia, o trabalho histórico de observação de fatos fonéticos do passado não está isento de problemas, sendo óbvia a necessidade de recorrer a documentos escritos. Outro problema, como no caso deste trabalho, se deve ao tipo de item lexical observado: os proparoxítonos constituem uma classe pouco representada no uso cotidiano. Autores como Teyssier (1966) e Carvalho (1969), a partir da análise das primeiras gramáticas do português, afirmam que o quadro postônico não final apresentava, no século XVI, a mesma configuração do quadro pretônico, com a manutenção do contraste entre as médias e as altas. Carvalho defende que os quadros vocálicos tônico e átono do século XVI são provavelmente idênticos aos do português do século XVIII. O autor chega a essa conclusão com base nos testemunhos de Fernão de Oliveira (1536) e de João de Barros (1540), em relação ao século XVI, e de D. Luis Caetano de Lima e Luis António Verney no que se refere ao quadro setecentista. Fernão de Oliveira postula um sistema vocálico tônico formado por oito vogais: o a grande e o a pequeno, o e grande e o e pequeno, o o grande e o o pequeno, o i e o u. A distinção entre grande e pequeno equivale à atual diferença entre aberto e fechado, respectivamente. Oliveira não tece considerações sobre o quadro postônico não final. Então, para resolver o problema, Carvalho aplica a descrição de Luis Caetano de Lima para o sistema vocálico do século XVIII aos dados do século XVI. Caetano de Lima categoriza as vogais como iniciais, mediais e finais. Em relação à tonicidade, nomeia como longas e breves as vogais tônicas e átonas.

51 51 Quanto ao contexto postônico não final, Carvalho mostra que o /e/ era realizado fechado em palavras como áspero e íngreme e em vocábulos que apresentassem hiatos, como gávea e códea. O /o/ também era realizado fechado em proparoxítonas como árvore e âncora e nos hiatos como légoa e égoa. Para comprovar a observação, Carvalho retoma, em nota, as palavras de Caetano de Lima sobre a realização do /o/ em sílabas átonas não finais. Com base nessas informações, Carvalho afirma que há a manutenção das médias no contexto postônico não final. O autor constrói o quadro para a primeira sílaba átona dos proparoxítonos nos séculos XVII e XVIII da seguinte maneira: três séries de localização (anterior, central e posterior) e dois graus de abertura: /A/, realizado como [ə ] bárbaro, âmago, côncavo; /E/, realizado foneticamente como [e] áspero, íngreme, sôfrego; /O/, realizado como [o] em vocábulos como âncora, árvore; /i/ e /u/, realizados foneticamente como [i] e [u] pânico, pálido, capítulo, ângulo. A representação a seguir, organizada de forma quadrangular, dá conta da proposta de Carvalho para a caracterização do sistema vocálico postônico não final. E A O I U Teyssier (1966) restringe suas observações ao século XVI, retomando também os trabalhos de Fernão de Oliveira e João de Barros. Para Teyssier, o quadro postônico não final era semelhante ao quadro pretônico com a manutenção das vogais médias. A proposta de Teyssier prevê, no contexto postônico não final, a configuração

52 52 representada a seguir, em que se verificam três graus de abertura e três séries de localização. A E I O U Dentre as considerações históricas sobre o sistema vocálico do português, o trabalho que mais contribuições traz para justificar a assimetria do contexto postônico não final é o de Naro (1971). Ao observar as vogais médias no período anterior ao século XVI e no século XVI propriamente, o autor verifica que, antes do século XVI, as médias postônicas apresentavam um leve levantamento diante de pausa [I, U] que não resultava, contudo, em alteamento. Naro justifica esse alteamento como fruto da atuação de uma redução da energia articulatória. O autor afirma, ainda, que as vogais /E/ e /O/, até o século XVI, só não eram realizadas foneticamente como [e] e [o] no contexto átono final, em que se verificava uma passagem de [o] > [u], mas não de [e] > [i]. Com base na análise de três variedades do português a brasileira, a portuguesa e a do Ceilão depois do século XVI (o período ápice do processo de expansão marítima e quando a língua portuguesa foi implementada no Brasil e no Ceilão), Naro argumenta que os fatos constituem um caso clássico de deriva Sapiriana. De um marco zero, o português europeu do século XVI, as variedades do português brasileiro, do português europeu e de Ceilão seguiram derivas próprias.

53 53 O marco inicial seria aquele em que o sistema vocálico átono previa cinco elementos nas posições pretônica e postônica medial. Desse ponto inicial, observa se que o português brasileiro implementou mais uma regra de neutralização: perdem se os traços que diferenciam as médias e a alta da série posterior o /o/ é realizado como [u] na posição átona medial. Não se observa, contudo, o mesmo processo na série anterior o /E/ não é realizado como [i]. Uma evidência para esse fato é o alteamento quase categórico do /o/ no contexto postônico não final em dados sincrônicos do PB, mas a forte resistência ao processo na série anterior. Daí deriva a assimetria na posição átona não final. O português europeu dá mais um passo na regra de neutralização entre as médias e alta posteriores: /o/ é realizado foneticamente como [u] tanto na posição pré quanto pós acentuada. Naro aponta que é impossível estabelecer quando ocorreu a implementação dessa regra de alteamento no PE, mas provisoriamente a localiza entre meados do século XVIII e início do século XIX, com a ressalva de que essa localização temporal só é válida para as variedades não standard. A variedade do português do Ceilão implementou mais um estágio no processo de neutralização entre as vogais médias e altas nas posições átonas. Nessa variedade, /E/ e /O/ são realizados como [i] e [u] nos contextos átonos de uma forma geral. Os trabalhos diacrônicos elencados nesta seção são importantes por mostrarem um panorama amplo do vocalismo átono no contexto postônico não final. Apesar de não citarem especificamente o processo de apagamento da vogal nessa posição, as considerações de caráter diacrônico são válidas por indicarem possíveis motivações para a instabilidade das vogais átonas não finais.

54 54 4. A SÍLABA EM PORTUGUÊS: QUESTÕES TEÓRICAS A noção de sílaba não é nova em estudos de fonética e fonologia. Entretanto, ainda há muita controvérsia no que diz respeito à sua organização interna. Segundo a perspectiva teórica estruturalista, Camara Jr (1977, 218) entende a sílaba, estrutural e articulatoriamente, como a emissão vocal assinalada por um ápice de abrimento articulatório e tensão muscular, que corresponde ao fonema silábico, e pode ser precedido de fonemas assilábicos de abrimento e tensão crescente e seguido de outros de abrimento e tensão decrescente. (...). Em princípio, o [fonema] silábico é uma vogal, e na língua portuguesa o é sempre. (...). A sílaba é simples, quando apenas constituída pelo silábico (há, a) e composta, quando tem a mais uma parte crescente ou decrescente como consoante ou semivogal. O ápice, como núcleo silábico, seria uma posição ocupada exclusivamente por vogais. No aclive e no declive se posicionariam as consoantes, sendo que, na língua portuguesa, somente desempenhariam o papel de declive as consoantes /S/, /R/, /l/, /N/ e as semivogais /i/ e /u/. Modernamente, todavia, há outros modelos de estruturação silábica, entre os quais o que considera a sílaba como um constituinte composto por ataque (A) e rima (R) que, por sua vez, é constituída por núcleo (Nu) e coda (Co). A representação a seguir, proposta por Selkirk (1982), dá conta da representação da sílaba como um constituinte organizado em termos de hierarquia.

55 55 Figura 1 A estrutura da sílaba (Selkirk, 1982) Independentemente da quantidade de elementos que formam a sílaba, eles estão dispostos em um nível autônomo na estrutura e relacionam se por dependências. Qualquer categoria, exceto (Nu) pode ser vazia. Os modelos silábicos possíveis de uma língua são definidos a partir do preenchimento ou não do ataque e da coda. Em português, são possíveis os seguintes moldes silábicos, conforme o destacado em negrito na tabela a seguir. Tabela 3 Os moldes silábicos em português (Collischonn, 2005) MOLDE SILÁBICO EXEMPLO V é VC ás VCC ins.pi.ra.do CV lá CVC bar.ban.te CVCC de.mons.tra.ção CCV pra.to CCVC in.glês CCVCC trans.tor.no VV au.to.má.ti.co CVV pei.xe CCVV plau.sí.vel CCVVC claus.tro.fo.bia De acordo com as estruturas acima, o menor padrão silábico é o constituído apenas pelo núcleo, V, e o maior, CCVVC. Desta forma, estão definidos o número

56 56 mínimo e o máximo de segmentos sonoros em uma sílaba. Contudo, a boa formação da sílaba também depende do ajuste dos sons a um princípio definido como condições de boa formação. Em português, o ataque pode ser simples, composto apenas por uma consoante (pe.da.ço), ou complexo, quando apresenta dois constituintes, sendo o primeiro uma oclusiva ou fricativa labial, e o segundo, uma consoante líquida (pra.to, flo.co). Dessa condição, surge a sequência Obstruinte + Líquida (OL), podendo ser a consoante líquida um tepe ou uma lateral. Collischonn (op. cit, 110) apresenta um quadro com os possíveis ataques complexos em português, reproduzido a seguir. Tabela 4 Grupos de ataque complexo em português (Collischonn, 2005) GRUPOS DE ATAQUE Obstruintes + /l/ Obstruintes + /r/ Exemplos Labiais pl, bl, fl, (vl) pr, br, fr, vr, planta, blusa, flor, Vladimir, prato, braço, franco, livro Alveolares tl, *dl, *sl, *zl tr, dr, *sr, *zr atleta, trabalho, drama Velares kl, gl kr, gr claro, glote, cravo, grave Observações: 1. O grupo /vl/ ocorre somente em empréstimos, como o exemplo citado; 2. O grupo /vr/ não ocorre em início de palavra. As sequências expostas acima estão de acordo com o Princípio de Sequenciamento de Soância (PSS), proposto por Clements (1990). O princípio é uma proposta de generalização para os fundamentos que governam a ordem dos constituintes sonoros na sílaba. O princípio de sequenciamento prevê que os segmentos com posição mais alta na escala de soância ocupam a posição nuclear da sílaba, os segmentos com posição mais baixa ocupam as margens. Desta forma, os

57 57 sons obstruintes são os menos soantes, e as vogais, os mais soantes. A escala de soância proposta por Clements (1990) segue a seguinte configuração: OBSTRUINTES > NASAIS > LÍQUIDAS > GLIDES > VOGAIS Sendo assim, o princípio de soância prevê que são possíveis estruturas como br e fl, por exemplo, por crescerem em direção ao núcleo. Já *rb e *lf não seriam possíveis, visto que violariam o princípio de sequenciamento de soância o segundo elemento decresce em relação ao núcleo. As considerações tecidas acima são importantes para a compreensão do fenômeno da síncope em vocábulos proparoxítonos. A partir do Princípio de Sequenciamento de Soância é possível explicar o motivo de, por exemplo, não termos como resultado da síncope da vogal postônica não final de relâmpago a forma *relampgo, mas sim relampo: a queda da vogal postônica produziu uma estrutura que fere o princípio de soância (*pg), por apresentar dois constituintes com o mesmo valor (grau 1, grau 1). Por essa razão, ocorre mais um processo de síncope, para dar origem a uma sílaba (.po) que segue o princípio de soância, com dois constituintes cujos valores estão em um crescente (grau 1, grau 4). As duas consoantes em ataque silábico, além de obedecerem ao Princípio de Sonoridade, devem respeitar também a Condição de Dissimilaridade, que impõe um distanciamento na escala de sonoridade entre os dois elementos que constituem o ataque complexo. Em português, a distância entre os dois elementos deve ser a

58 58 máxima possível. Assim, um ataque complexo formado por uma oclusiva e uma líquida é aceitável, mas um ataque formado por oclusiva e fricativa ou oclusiva e nasal não é permitido. A condição de dissimilaridade condiciona também a produtividade dos ataques complexos em português: ataques formados por oclusivas e líquidas são mais frequentes do que os formados por fricativas e líquidas, já que a distância entre fricativas e líquidas na escala de sonoridade é menor do que a distância entre estas e as oclusivas. Se as generalizações acima são perfeitamente verificáveis no PB, no PE tais considerações devem ser relativizadas, conforme apontam, por exemplo, Mateus e d Andrade (1998). O PE, no nível fonético, apresenta uma série de sequências de consoantes que não respeitam nenhum dos princípios acima mencionados. Sequências formadas por duas consoantes oclusivas (ca[pt]ar, o[bt]er, a[bd]ômen, a[dk]irir, pa[kt]o), oclusivas e fricativas (a[bs]urdo, ó[bv]io, a[bʒ]eto, a[dv]ertir, a[ks]ioma), oclusivas e nasais ([pn]eu, é[tn]ico, ri[tm]o, a[dn]ominal, esti[gm]a) são produtivas no âmbito fonético da variedade europeia, enquanto na variedade brasileira tais sequências são desfeitas por conta da inserção de uma vogal (frequentemente o [i]) entre as consoantes que não estão licenciadas para ocuparem a posição de ataque complexo. De acordo com Mateus et. al. (2003, 1042), as violações fonotáticas no PE são exclusivamente fonéticas: fonologicamente, há um núcleo vazio entre as duas consoantes, isto é, um núcleo que não possui concretização. Tal hipótese é baseada em uma série de evidências:

59 59 (i) dificuldades na translineação (divisão gráfica) das sequências consonantais violadoras: o falante tem dificuldades em distribuir as duas consoantes pelas sílabas a que pertencem; (ii) durante a aquisição da linguagem, é muito comum as crianças inserirem vogais nas sequências consonanatais não admissíveis [pɨnew], [afɨtə]; (iii) o comportamento do PB diante dessas sequências violadoras é um forte indício de que há um núcleo entre as duas consoantes, preenchido foneticamente através da epêntese de uma vogal (normalmente [i]). A vogal epentética nunca ocorre entre as consoantes que formam um ataque complexo licenciado pelo Princípio de Sequenciamento de Soância: é possível [bɾ]aço, mas não [bɨɾa]ço, [fl]or, mas não [fɨlo]r. Ainda, o PE permite, no nível fonético, mais sequências que violam o princípio de sonoridade: casos em que há a supressão da vogal átona [ɨ], fenômeno muito produtivo na fala coloquial: (i) em posição inicial, seguida de [ʃ] ou [ʒ]: estar [ʃtaɾ], esdrúxula [ʒdɾuʃulə], esmagar [ʒməgəɾ]; (ii) entre duas consoantes: pequeno [pkenu], decifrar [dsifɾaɾ], soterrar [sutɾaɾ]; (iii) em grupos de mais de duas consoantes: telefone [tlfᴐn], despegar [dʃpgaɾ], desprestigiar [dʃpɾʃtiʒiaɾ]. Nos dados acima, observam se, no nível fonético, sequências de dois, três, quatro e até cinco consoantes no onset da sílaba. Tal particularidade da variedade europeia é um dos aspectos mais salientes nas diferenças rítmicas entre o PB e o PE.

60 60 Compreender os processos gerais de estruturação da sílaba em português é útil para algumas observações acerca da constituição silábica dos vocábulos proparoxítonos. Sabe se que a sílaba postônica não final das palavras proparoxítonas é leve, isto é, só pode apresentar como molde as estruturas CV ou CCV 1, desprovidas de coda, como exemplificam os vocábulos a seguir. plás. ti. co es. tá. bu. lo xí. ca. ra fá. bri. ca ex. cên. tri. co CV CV CV CCV CCV Além disso, a sílaba postônica não final dos proparoxítonos deve obedecer às seguintes condições, postuladas em Amaral (2000): 1. O ataque pode ser simples ou complexo. Qualquer consoante pode representar o ataque simples (cá.ga.do, grá.vi.da). 2. O ataque complexo necessariamente tem que atender às condições de ataque: como C1, uma consoante [ cont] ou [+cont, +lab]; C2 deve obrigatoriamente ser uma consoante líquida (fá.bri.ca, lá.gri.ma). 3. A sílaba não pode ser travada (*lá.grir.ma). As questões teóricas ligadas à constituição da sílaba em português são cruciais para a compreensão do fenômeno do apagamento da vogal postônica não final, uma vez que a hipótese central que norteia o trabalho dá conta de que a possibilidade de ressilabificação da consoante que antecede a vogal condiciona a ocorrência do processo. 1 Os únicos vocábulos que não seguem esse princípio são récorde e pênalti, palavras introduzidas na língua portuguesa por empréstimo.

61 61 5. O ACENTO EM PORTUGUÊS A compreensão acerca da manifestação do acento em português é de vital importância para uma visão mais abrangente acerca do processo de apagamento da vogal postônica não final. A correlação entre os graus de acento e a manifestação de processos fonético fonológicos é uma preocupação há muito destacada nas descrições do português. Para demonstrar a vitalidade da discussão, nesta seção, focaliza se o acento nas perspectivas histórica, com apoio nas descrições feitas nas primeiras gramáticas, e sincrônica, com base nos debates mais recentes sobre o tema. Prosodicamente, o latim clássico caracterizava se pela sensibilidade ao peso das vogais, já que se encontrava a distinção entre vogais longas e vogais breves. Dessa forma, os padrões acentuais respeitavam a distinção entre sílabas pesadas e sílabas leves: os monossílabos só recebiam acento se fossem pesados silabicamente; em palavras trissílabas, o acento recaía na penúltima sílaba se esta fosse pesada; na antepenúltima, se a penúltima fosse leve. O latim vulgar evidencia, conforme Magalhães (2004, 165), um processo de inexistência de proparoxítonas. Tal tendência encontra justificativas no fato de que, nessas palavra, a vogal postônica não final sofria o processo de síncope. Coutinho (1976, 107) demonstra que a queda da átona não final está condicionada pelo contexto adjacente a esse segmento. Para o autor, a regularização do vocábulo proparoxítono em paroxítono ocorria se a vogal estivesse:

62 62 (i) (ii) (iii) (iv) depois de uma consoante oclusiva e diante de uma consoante lateral ou vibrante: oc[u]lus > oclus; masc[u]lus > masclus; alt[e]ra>altra; entre uma labial e outra consoante: dom[i]nus > domnus; lamina > lamna; entre uma vibrante ou lateral e outra consoante: vir[i]dis > virdis; cal[i]dus> caldus; depois de s e antes de outra consoante: pos[i]tus > postus. No português arcaico, as raras palavras proparoxítonas, em geral empréstimos diretos do grego no latim clássico, se tornavam paroxítonas no uso. Para Quednau (2002), as poucas palavras proparoxítonas que eram conservadas ainda se mantinham por conta da complexidade na reestruturação silábica, se porventura ocorresse o apagamento da vogal postônica medial. O apagamento da vogal postônica não final levaria a uma reestruturação na sílaba não permitida pela estrutura fonotática da língua. A autora afirma (2002, 91) que Nas poucas proparoxítonas encontradas nas prosas arcaicas, como hospedádago, eirádega, montádega, a vogal postônica se conservou, ao contrário da tendência da língua, provavelmente devido à combinação indesejável que resultaria das consoantes d e g no caso de queda da vogal. No português brasileiro, conforme atestam Araújo et. al. (2007), as proparoxítonas constituem a classe acentual com o menor número de itens lexicais. Com relação a esse comportamento, Collischonn (2005, 143) considera que O grupo das proparoxítonas é o menor em português. Este grupo é constituído principalmente por empréstimos do latim e do grego, os quais entram na língua portuguesa a partir da Renascença, com o ressurgimento do interesse, por parte dos escritores, artistas e estudiosos em geral, pelo período clássico. A autora conclui que, por serem minoria, as proparoxítonas são exceções e constituiriam o padrão marcado, já que a tendência geral de acentuação do português

63 63 brasileiro aponta a predominância do acento paroxítono. Entretanto, não há um consenso com relação a este aspecto. Para Araújo et. al. (2007: 58) as proparoxítonas não podem ser consideradas exceções. Os autores buscam comprovar, ao contrário de alguns estudos acerca do tema, que as proparoxítonas são tão legítimas quanto as paroxítonas e oxítonas, com base nos seguintes argumentos: (a) Palavras proparoxítonas sempre existiram no português; (b) As reduções (proparoxítonas > paroxítonas) ocorrem em determinados contextos, embora haja também oxítonas que se transformam em paroxítonas e paroxítonas que se transformam em proparoxítonas; (c) Não há evidências que sustentem que os falantes evitam o uso das proparoxítonas ou que haja um direcionamento para uma mudança de posição de acento; (d) Palavras oxítonas e proparoxítonas, cujos padrões acentuais não são o canônico, são encontradas em todas as épocas e são criadas com frequências proporcionais à sua representatividade no corpus; (e) Empréstimos recentes sugerem que o princípio de conservação do acento ainda está ativo. Por mais que suas observações estejam apoiadas em índices estatísticos, não se pode desconsiderar que a ocorrência do processo de apagamento das vogais postônicas não finais é uma realidade, ainda que condicionada fonotaticamente. Assim, por mais que o processo não atinja os itens lexicais proparoxítonos em sua totalidade, a regularização das palavras proparoxítonas em paroxítonas deve ser considerada em virtude da pouca frequência, e, consequentemente, não naturalidade das proparoxítonas no léxico do português.

64 Perspectiva Diacrônica Questões ligadas á definição do acento desde sempre têm preocupado os estudiosos da língua portuguesa e são reveladas, com maior ou menor destaque, já nas primeiras descrições disponíveis sobre a língua. A primeira obra de cunho descritivo sobre a língua portuguesa a Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira aborda questões acentuais e destaca a importância do fenômeno para a descrição linguística, o que transparece em declarações como esta forma das dicções a que chamamos acento, sem a qual se mal conhecem uns vocábulos dos outros 1. Oliveira define o acento como principal voz, ou tom da dição, o que deixa já transparecer a associação entre acento e proeminência. Vale destacar também que o autor, explicitamente, recusa a possibilidade de uma palavra portar mais de um acento, não admitindo a existência do acento secundário. Seu argumento se baseia nos padrões acentuais possíveis em nossa língua, pois defende que o acento só pode recair sobre uma das três últimas sílabas da palavra daqui para tras o nosso espírito nem orelhas não consentem aver acento. Em seguida, Oliveira dedica uma seção de sua obra a explicitar que contextos correspondem a cada um dos padrões acentuais oxítono, paroxítono e proparoxítono. Um traço insólito de suas considerações está na afirmação de que o acento na última sílaba é o mais regular em língua portuguesa, como deixa claramente expresso 1 A edição consultada é a primeira (1536), disponibilizada digitalmente pelo sitio da Biblioteca Nacional de Portugal, através do site e acessada em 20/01/2011.

65 65 no fragmento he tam proprio a nos darmos o acento na ultima (sílaba) q muitasvezes corrompemos a melodia das linguas estrãgeiras que aprendemos querendo as conformar co a nossa. Em sua obra, indica os diferentes comportamentos acentuais dos nomes e dos verbos. Os princípios que estabelece são válidos para os nomes no singular e para as formas verbais no infinitivo e na 1ª pessoa do presente do indicativo. Nos verbos, destaca que nas partes de suas conjugações, como tempos e pessoas, não guardam essa regra [atribuir acento à última sílaba fechada por s], mas vão por outro caminho. Todavia, Oliveira não detalha essa particularidade dos verbos, marcando a como uma exceção. A gramática de João de Barros 2 não demonstra a mesma preocupação em pormenorizar as questões acentuais da língua, tanto que o autor não separa uma seção para apresentar as particularidades acentuais da língua portuguesa, preferindo atrelá las à noção de sílaba (o acento é tratado na seção Da syllaba e seus acidentes ). Apresenta o autor a sílaba como uma das três partes que corresponde à Prosódia, que quer dizer acento e canto. Continua sua explanação afirmando que toda sílaba possui três acidentes: número de letras, espaço de tempo, e, o que está em foco, acento alto ou baixo. Para exemplificar o conceito de espaço de tempo, o autor recorre a um vocábulo proparoxítono. Observe se: Espaço de tĕpo, por q hũas sam curtas e outras lŏgas, como nesta dicçã. Bárbora, q aprimeira ę lŏga. E as duas sã breves. Por que tãto tĕpo se gásta na primeira, como nas duas seguintes, à semelhança dos músicos, os quáes tanto se detĕ no ponto desta primeira figura bar, como nas derradeiras, bo, ra. 2 BARROS, João de. Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Luis Rodrigues, 1540.

66 66 Quanto ao acento alto ou baixo, o autor de certa forma o relega a segundo plano, pois, para ele, uma boa exemplificação das regras de acento e quantidade requer o uso de trovas, e porque o tĕpo em que se as trovas faziã e os hómĕes não perdiã sua autoridáde por isso ę degredádo destes nóssos reynos, ficará ȩsta matéria pera quando o uso ô requerer. A preocupação de Duarte Nunes de Leão, em sua Ortografia da Língua Portuguesa 3, é apontar as regularidades gráficas do acento. Leão entende o como o sõ ou tõ que nas palavras se sente é a pronunciaçã de cada silaba. Logo em seguida, o autor faz referência a três tipos de acento: o agudo, o grave e o circunflexo. Todavia, como salienta Pereira (1999, 61) essa distinção constitui uma imitação de modelos gregos, e confunde aspectos gráficos e realidade fonética, sendo pouco útil às descrições dos padrões acentuais em português. Jerónimo Soares Barbosa, na Gramática philosophica da língua portuguesa (1822) 4, deixa claro que cada palavra é portadora de um acento, afirmando que (p.42) toda palavra, para ser huma, deve reunir todas as suas Syllabas em hum ponto commum de apoio, e este he a Aguda, para cuja elevação preparam as que precedem, e da mesma maneira descem as que seguem. Huma oração, composta de vocábulos monótonos, seria mais uma fiada de Syllabas, do que um tecido de palavras. Barbosa define três tipos de acento: dois simples o agudo e o grave; e um composto o circunflexo. Tais definições são apoiadas nas descrições da prosódia grega: o acento agudo é aquele em que há o levantamento do tom de voz de uma 3 A edição consultada é a primeira, de 1576, disponibilizada eletronicamente pela Biblioteca Nacional de Portugal. Acesso em 20/01/ BARBOSA, Jerónimo Soares. Gramática philosophica da língua portuguesa ou principios de grammatica geral applicados à nossa linguagem. Lisboa: Na Typographia da Academia das Sciencias, Edição digital disponibilizada pela Biblioteca Nacional de Portugal ( Acesso em 20/01/2011.

67 67 determinada sílaba; o acento grave é aquele em que há um abaixamento do tom de voz sobre uma ou mais sílabas, depois do levantamento; o circunflexo manifesta se através do levantamento e do abaixamento sucessivo, em diferentes tempos, do tom de voz em uma mesma sílaba. Tais parâmetros são muito mais característicos de sistemas acentuais melódicos, não sendo adequados para o português, em que a sílaba mais proeminente de um vocábulo não é marcada por alterações no tom, mas por outros parâmetros fonéticos. A despeito da terminologia inadequada, percebe se que Barbosa tenta adaptar os preceitos extraídos das descrições clássicas aos padrões acentuais da língua portuguesa. Dessa forma, percebe se que o acento agudo corresponde ao acento da sílaba tônica; o grave só pode corresponder ao acento das sílabas átonas postônicas, já que depois de levantar o tom da voz, o abaixamos em huma, ou mais Syllabas, pronunciando as com menos força e intensidade 5. O acento circunflexo, caracterizado por um levantamento e um abaixamento em uma mesma sílaba, só afeta estruturas que contenham ditongo, uma vez que esse é o único contexto em que a voz pode se elevar e baixar. A descrição apresentada por Barbosa inclui ainda um conjunto de princípios gerais, que visam a caracterizar os padrões acentuais em português. Por exemplo, o autor destaca a obrigatoriedade de um acento por palavra, o impedimento do posicionamento do acento para além das três últimas sílabas do vocábulo, a relação entre sílabas agudas e sílabas graves, as relações entre acento e quantidade, o comportamento das formas enclíticas, os contextos para o posicionamento do acento 5 BARBOSA, J. S. op.cit, p.40.

68 68 na última, na penúltima e na antepenúltima sílaba. A descrição levantada por Barbosa permite depreender, ainda, que o padrão paroxítono é o mais produtivo na língua portuguesa. Os estudos do filólogo Gonçalves Viana são os mais abrangentes, dentro da corrente clássica das descrições linguísticas do português, no tratamento das questões fonéticas e fonológicas, inclusive por levantar subsídios para a discussão sobre o acento secundário. Sobre o acento primário, o objetivo de Gonçalves Viana é apresentar os padrões de localização da sílaba tônica, e apontar a relação entre sílaba tônica e quantidade das duas últimas sílabas da palavra. O autor destaca também a predominância do acento paroxítono, lembrando que muitas palavras latinas datílicas (proparoxítonas) foram sacrificadas na passagem do latim para o português, pois se conformaram ao padrão paroxítono através da supressão de segmentos mediais e finais (1973, 142): O acento na penúltima sílaba domina a língua: para chegar a esse resultado, as palavras foram encurtadas, como em francês; em geral, é a penúltima sílaba que é sacrificada dos datílicos latinos, ex: combro, de cumulum, linde, de limitem; muitas vezes também a última sílaba (era sacrificada), ex: caco, de calculum (cast. cacho), margem, de marginem 6. Viana não deixa também de tecer considerações sobre a natureza fonética do acento, pois o define (1892, 84) como a entoação especial de uma sílaba, em geral, 6 l accent de l avant dernière syllabe domine la langue: pour arriver à ce résultat, les mots se sont raccourcis comme em français, et en général, c est l avant dernière qui a été sacrifiée dans les vocables latins dactyliques, ex. combro de cumulum, linde de limitem; bien souvent aussi la dernière, ex. caco de calculum (cast. cacho), margem (ancien et encore aujourd hui marge), de marginem.

69 69 em cada vocábulo, que a destaca das demais que o constituem. Prossegue ainda a caracterização física do acento ao destacar que esta entoação é perceptível na vogal única ou na principal dessa sílaba, e em português normal consiste particularmente na elevação da voz e energia maior de sua emissão, deixando explicito que o correlato do acento em português é a intensidade Perspectiva sincrônica A descrição do acento nas línguas naturais encontrou teorias mais coerentes a partir do desenvolvimento dos modelos fonológicos não lineares, sobretudo da Fonologia Métrica, proposta por Liberman e Prince em Se antes, muito por conta da teoria dos traços distintivos, o acento era encarado como um traço que marcava exclusivamente as vogais, nos modelos posteriores a noção de acento está atrelada a um nível hierárquico superior ao segmento. Para a Fonologia Métrica, por exemplo, o acento é uma propriedade que atinge a sílaba: é uma proeminência marcada pela relação entre os constituintes prosódicos (a sílaba, o pé e a palavra fonológica) e está vinculado ao estabelecimento do ritmo. A relação entre os constituintes prosódicos pode ser representada a partir de um objeto formal a árvore métrica. As relações de proeminência são frutos da maneira como os elementos se agrupam em constituintes na árvore ramificações binárias em que são estabelecidas as marcas forte/fraco. O esquema a seguir dá conta da forma como os constituintes prosódicos se organizam na árvore métrica, integrando as noções de proeminência. (cf. Matzenauer, 2005, 70):

70 70 palavra ω pé + pé Σ sílaba forte + sílaba fraca σ Para a caracterização do padrão acentual de uma língua, é necessário explicitar como se dá a organização das sílabas em pés e qual é a posição do elemento dominante a sílaba forte. No entanto, há questões ligadas ao acento que não são contempladas pela representação arbórea acima proposta, como, por exemplo, o caso dos monossílabos, itens que não podem ter o acento marcado pelo contraste forte fraco. Na proposta original, os monossílabos teriam o acento determinado pelo contraste [+ / acentuado], solução que cria um problema para a teoria. A proposta da formalização em árvore tem como objetivo incluir na representação todos os contextos de marcação de proeminência. Uma série de formas de representação da proeminência acentual foram surgindo dentro da teoria métrica, formas essas não isentas de problemas, já que mesclavam tipos diferenciados de modelos de representação. Todavia, a grande contribuição da teoria foi mostrar que acento e ritmo são duas manifestações interdependentes, e estão vinculados à organização dos segmentos em unidades linguísticas superiores ao nível segmental.

71 71 As origens da teoria métrica assentam se no trabalho de Liberman e Prince (1977). Como precursores do modelo que entende o acento como fruto da relação entre proeminências dentro de uma unidade hierarquicamente organizada, os autores postularam, para representar a relação entre os constituintes prosódicos, um diagrama em forma de árvore e também uma grade métrica. A árvore é configurada a partir de sílabas que formam os pés, necessariamente binários, rotulados em forte (<s> strong) e fraco (<w> weak). Embora o foco fosse explicitar a dinâmica do acento secundário e do primário em inglês, a proposta dos autores permite também a compreensão da estrutura interna da palavra fonológica, entendida em dois níveis. 1)As sílabas são agrupadas em constituintes binários, cujo elemento à esquerda é o mais forte: ca fe tei ra s w s w 2) os constituintes são hierarquizados em uma árvore com cabeça à direita: ω w s ca fe tei ra s w s w

72 72 Em cafeteira, o acento primário é atribuído à sílaba tei por ser a única estrutura dominada por dois nós fortes. A proposta conta, além da representação em árvore, com a representação através de uma grade métrica, em que são marcadas as relações rítmicas entre os constituintes. A hierarquia métrica é calculada através de uma regra a Regra de Projeção de Proeminência Relativa (RPPR) expressa nos seguintes termos (Liberman e Prince, 1977, 316): Em qualquer constituinte cuja relação forte/fraco esteja definida, o elemento designado terminal do subconstituinte forte é metricamente mais forte do que o elemento terminal do subsconstituinte fraco. 7. Na representação via grade métrica, são atribuídas diversas linhas (ou níveis). Na primeira linha, cada núcleo silábico recebe um número, sempre da esquerda para a direita; na segunda, são marcados os núcleos proeminentes; na terceira, somente o núcleo mais forte recebe marcação. O exemplo a seguir ilustra a representação rítmica através da grade. ca fe tei ra Nível Nível Nivel 3 7 Por meio da representação em colunas, tornam se transparentes a relação entre os constituintes e a força relativa desses elementos. A extensão da coluna indica o grau de proeminência do constituinte: quanto maior a coluna, maior a força do 7 In any constituent on which the strong weak relation is defined, the designated terminal element of its strong subconstituent is metrically stronger than the designated terminal element of its weak subconstituent.

73 73 constituinte. Por refletir o ritmo de uma sequência de elementos prosódicos, a grade métrica também é útil para resolver os choques de acento (stress clashes), quando são acentuadas duas sílabas adjacentes. As línguas tendem a evitar tais choques, através de alterações rítmicas. Em síntese, Liberman e Prince formularam uma teoria que investiga as questões acentuais e rítmicas utilizando dois aparatos de formalização: a árvore métrica e a grade métrica. A árvore indica a relação de proeminência entre os constituintes prosódicos, mas não aponta qual é o mais proeminente de toda uma sequência; a grade, por sua vez, indica qual o elemento mais proeminente da sequência, mas não os analisa em termos de constituintes. Há uma espécie de redundância, já que a grade reflete parte das informações já contidas na representação arbórea. Esse é ponto central das críticas feitas em relação à proposta de Liberman e Prince. Posteriormente, surgiram modelos que procuraram favorecer uma ou outra forma de representação da proeminência. Como já se observou, em português, o acento pode recair sobre uma das três últimas sílabas da palavra. Essa é uma propriedade que dá conta da distribuição do acento em português. Entretanto, as regras de atribuição de acento variam de língua para língua. Collischonn (2005, 143) cita os exemplos do checo e do turco, línguas em que o acento cai sempre sobre a mesma sílaba, a primeira e a última, respectivamente. A língua portuguesa apresenta outra particularidade a respeito do acento: a maioria das palavras da língua tem acento na penúltima sílaba, sendo o padrão acentual paroxítono o mais comum. O processo de regularização das palavras

74 74 proparoxítonas em vocábulos paroxítonos objeto de estudo deste trabalho é uma evidência adicional que reforça o grupo acentual paroxítono como o mais comum. O acento proparoxítono, menos usual, contraria a tendência geral de acentuar a penúltima sílaba e, por essa razão, é o mais propenso a regras de regularização ao padrão mais comum. Collischonn (op.cit, 145) assim sintetiza as regularidades do acento em português: a) o acento só pode cair em uma das três últimas sílabas do vocábulo; b) a posição do acento na penúltima sílaba é a preferida, quando a palavra é terminada por vogal; c) a posição do acento sobre a última sílaba é a preferida, quando a palavra for terminada em consoante A investigação do acento no âmbito da palavra tem sido uma das preocupações das mais diversas análises fonológicas que se fizeram e se fazem nas variedades do português. Nesses estudos, é possível identificar, de acordo com Ferreira Neto (2007, 22), três linhas gerais: (i) hipótese do acento livre: o acento na língua portuguesa é previamente marcado no léxico, não sendo possível o estabelecimento de regras para a sua atribuição. (cf. Câmara Jr., 1970; Barbosa, 1994); (ii) hipótese do molde trocaico: o acento está vinculado à estrutura silábica da palavra. O peso silábico, medido a partir da ramificação da rima, seria o fator condicionante para a atribuição do acento lexical: sílabas pesadas localizadas nas três últimas posições da palavra atrairiam o acento. Caso não ocorressem sílabas pesadas no vocábulo, o acento recairia na

75 75 penúltima sílaba. (Michaelis de Vasconcelos; 1911; Bisol, 1992; Wetzels, 1992; d Andrade 1994); (iii) hipótese do acento morfológico: o acento está vinculado à estrutura morfológica da palavra. Resguardando se a restrição relativa às três últimas sílabas, o acento recairia na última vogal do radical, desconsiderando se a vogal temática. Postulam se ainda diferenças nas regras de atribuição de acento dos itens nominais (substantivos e adjetivos) e dos itens verbais. (Lee, 1995; Mateus, 2000 [1983]; Mateus e d Andrade, 2000). Mesmo com a formulação de diferentes hipóteses alinhadas às mais diversas correntes teóricas, o acento proparoxítono continua a ser considerado uma tendência de certa forma não natural da língua portuguesa. O acento proparoxítono recai na penúltima sílaba do radical, sem considerar a vogal temática. O acento proparoxítono fica sem explicação em todas as hipóteses consideradas, o que confirma sua excepcionalidade 8. A seguir, um breve sumário das principais propostas de interpretação do acento em português. (a) Mateus (1974, 1983) Mateus apresenta duas propostas vinculadas ao modelo gerativo clássico. Na proposta de 1975, o objetivo é atrelar a atribuição do acento à constituição fonológica 8 Mateus (2000 [1983], 242) aponta que esses itens lexicais que não se enquadram na regra de acentuação devem ser marcados como itens excepcionais.

76 76 da palavra; já na de 1983, a abordagem vincula o acento à composição morfológica do vocábulo, apontando regras distintas para a acentuação dos nomes e dos verbos. maneira: Na primeira proposta, a regra geral de acentuação é formalizada da seguinte V [+acento] / (G)Co V Co # Leia se: é acentuada a penúltima vogal da palavra. Entre a penúltima e a última vogal podem ocorrer uma consoante (casa, faca); duas consoantes (festa, termo, pedra). Pode haver também um glide (meio, maia) ou glide e mais uma consoante (ouro, jaula). A regra acima dá conta do padrão acentual default. Para dar conta do padrão oxítono, uma outra regra foi postulada: / [ ]Co # Leia se: é acentuada, nas palavras agudas (oxítonas), a última vogal da palavra: (cajá, mané, aqui, bocó, tatu). Entre a última vogal e a pausa, pode haver uma consoante (oral, mulher, funil, calor, azul). Para dar conta dos proparoxítonos, mais uma regra foi postulada: / [ ]Co V Co V Co # Leia se: é acentuada a antepenúltima vogal da palavra. Todavia, o desenvolvimento das teorias fonológicas não lineares mostrou que o acento não é uma propriedade que caracteriza a vogal exclusivamente: é um suprasegmento, atualizado foneticamente através do contraste entre sílabas fortes e sílabas

77 77 fracas. As regras formuladas por Mateus (1975) estavam vinculadas ao modelo gerativo clássico apresentado por Chomsky e Halle em Sound Patterns of English, que entendia o acento como um traço, que marcava um segmento apenas, a vogal. A segunda proposta da autora, de 1983, tomou como base a constituição morfológica do vocábulo para as regras de atribuição do acento. Assim, são postulados princípios diferenciados para nomes e verbos. Para os nomes, a autora aponta que é acentuada a última vogal do radical, excluindo se a vogal temática. Essa regra explica, por exemplo, a acentuação paroxítona em nomes como casa (cas+a), verde (verd+e) e prego (preg+o) e a oxítona em calor, covil, porém, café, avó, vocábulos que não possuem vogal temática. Nos verbos, é acentuada a vogal temática, como mostram os exemplos a seguir: falar, falava, falássemos bater, batera, batêssemos dormir, dormira, dormíramos O fato de o acento recair, nos verbos, na vogal temática explica a mudança do padrão acentual dos verbos, como apontam os exemplos acima: o acento vai sempre marcar a vogal temática, independentemente dos morfemas que a seguirem. (b) Bisol (1992) De um ponto de vista métrico, Bisol entende que as regras de atribuição de acento em português são as mesmas para os verbos e os nomes. O que diferencia as

78 78 duas categorias morfológicas é o domínio de aplicação da regra: para os nomes, o acento recai na palavra derivacional, formada pelo radical e o tema, e é aplicada ciclicamente ou seja, quando a palavra passa por um processo de derivação sufixal, a regra de acento é novamente aplicada; para os verbos, o acento se aplica somente quando a palavra está completamente pronta. O ponto de vista adotado por Bisol é métrico porque a autora se vale dos conceitos de peso silábico, pé métrico e extrametricidade, parâmetros postulados dentro desse quadro teórico, para dar conta da atribuição do acento (p.34): Regra do acento primário Domínio: palavra lexical i. Atribua um asterisco (*) à sílaba pesada final, isto é, sílaba de rima ramificada. ii. Nos demais casos, forme um constituinte binário (não iterativamente) com proeminência à esquerda, do tipo (*.), junto à borda direita da palavra. Nota se que a regra de acento marca uma sensibilidade ao peso da sílaba final, o que explica o acento das oxítonas terminadas por consoante ou ditongo (jantar, pincel, mausoléu). Em (ii), que está diretamente associada à noção de pé, a regra determina que o acento estará sempre na segunda sílaba, a contar da direita para a esquerda, desde que a última sílaba não seja pesada. Assim, explica se o acento em paroxítonas como jogo, caneta, camiseta. O conceito de extrametricidade permite que um elemento esteja invisível para a regra de atribuição de acento, possibilitando um recuo do acento para a sílaba mais à

79 79 direita da posição teoricamente esperada. A extrametricidade é marcada de forma diferenciada para nomes e verbos, conforme a posição da autora. Nos nomes, a extrametricidade atua sobre exceções, marcada sobre a forma subjacente da palavra; nos verbos, a extrametricidade atua ao longo do processo de anexação das desinências. Em substantivos e adjetivos, a extrametricidade atua sobre as palavras proparoxítonas e em paroxítonas terminadas em sílabas pesadas. Nas proparoxítonas, fica invisível para a regra de atribuição de acento a última sílaba (córre<go>, dívi<da>, círcu<lo>); nas paroxítonas terminadas em sílabas pesadas, é extramétrica a coda silábica. Nos proparoxítonos, a regra de atribuição de acento considera a borda direita da palavra a partir da segunda sílaba, podendo assim o acento recair na antepenúltima sílaba, conforme mostra o exemplo Derivação de círculo Forma sujacente círcu<lo> Regra de atribuição de acento (item ii) (*.) Forma de superfície [ sih.ku.lu] Nos verbos, a extrametricidade incide sobre as formas verbais paroxítonas que possuem a última sílaba (cantem, falas) e as formas de primeira pessoa do plural do imperfeito (cantássemos, falávamos). Desse modo, ficariam invisíveis as consoantes com status flexional, resultando em formas como cante<m> e fala<s>, permitindo a atribuição do acento de acordo com o item (ii) da regra, e ficariam invisíveis também as desinências pessoais de primeira pessoa do plural das formas do imperfeito, dando origem a formas como cantasse<mos> e falava<mos>. Nota se que o conceito de

80 80 extrametricidade é fundamental dentro da proposta, por unificar a regra de atribuição de acento para nomes e verbos. (c) Lee (1995) Lee (1995) retoma a distinção entre verbos e não verbos na atribuição do acento primário em português, com base nas seguintes evidências: (a) o acento distingue o verbo do não verbo (por exemplo, duvida/dúvida, formula/fórmula, numero/número); (b) o não verbo está condicionado às regras de abaixamento datílico e abaixamento espondeu (fon[o]logo, ab[o]bora;,m[o]vel, d[o]lar), o verbo não está sujeito a tais regras; (c) os sufixos flexionais não verbais não afetam a atribuição do acento, enquanto os sufixos flexionais verbais afetam a atribuição do acento (casa/casas,ama/amamos); (d) a sílaba pesada final do verbo não atrai o acento, diferentemente da sílaba pesada final do não verbo (falas/cantam); (e) a unificação da regra de acento para os verbos e não verbos resulta de um uso demasiado do recurso da extrametricidade, o que traz implicações para a teoria. Lee (1995, 153) defende que tanto os verbos quanto os não verbos são insensíveis ao peso silábico, e retoma a postura defendida em Mateus (1983), que prevê o acento na última vogal do radical nos não verbos. A regra para os não verbos pode ser formalizada a partir dos seguintes critérios e operacionalizada da forma a seguir:

81 81 Domínio: radical derivacional a. Constituintes binário b. Não iterativo c. Cabeça à direita [mané] [almoç]o] (. *) (. *) Nos verbos, o acento recai sobre a penúltima vogal da palavra (tema + desinências), conforme mostram os critérios, aplicáveis sobre os exemplos a seguir: Domínio: palavra a. Constituinte binário b. Cabeça à esquerda c. Não iterativo. d. Direta para esquerda [fal]o] [entende]mos] [vener]a] (*.) (*.) (*.) Entretanto, há contra exemplos, tanto para os não verbos quanto para os verbos. Entre os não verbos, as paroxítonas terminadas em consoantes e as proparoxítonas não se enquadram na regra. Para esses casos, Lee (op.cit: 154) postula a seguinte regra: Domínio: radical derivacional a. Constituinte binário b. Cabeça à esquerda c. direita para esquerda d. Não iterativo túnel jovem número abóbora (*.) (*.) (*.) ( *.) (* ) (* ) (* ) ( * ) O acento das formas verbais proparoxítonas (formas de primeira pessoa do plural do imperfeito indicativo e subjuntivo, do mais que perfeito e do futuro do pretérito) se justifica pela extrametricidade do morfema número pessoal ( mos). Ao

82 82 considerar invisível o morfema número pessoal, as formas verbais proparoxítonas se enquadram na regra geral de acento dos verbos. Já o acento das formas verbais oxítonas (como, por exemplo, bater, bati, baterá) é explicado pela seguinte regra (Lee, 1995, 162), podendo ser exemplificado pelos dados logo em seguida: Domínio: palavra a. Constituinte binário b. Cabeça à direita c. Não iterativo. d. Direta para esquerda bater bati baterá (. *) (. *) (. *) ( *) A proposta de Lee tem a vantagem de reduzir o uso do conceito de extrametricidade, recurso recorrente na proposta de Bisol (1992). No entanto, o fato de não se valer frequentemente do conceito de extrametricidade faz com que a proposta de Lee seja baseada em um número elevado de regras. Neste capítulo, foram apresentadas as considerações históricas sobre a acentuação em português, além das correntes teóricas mais recentes para a interpretação do fenômeno. Tais observações são pertinentes para a investigação aqui realizada, já que retratam as especificidades do acento proparoxítono, demonstram os motivos pelos quais as palavras proparoxítonas são consideradas exceções, que necessitam de uma descrição que leve em conta não apenas o caráter fonéticofonológico, mas também a correlação com outros fatores sobretudo os ligados à pressões contextuais.

83 83 6. ENFOQUE VARIACIONISTA 6.1. Fundamentos Teóricos Para a investigação do processo de apagamento da vogal postônica não final em corpora que registram a heterogeneidade da fala brasileira e da fala portuguesa, este trabalho tem como suporte teórico os pressupostos que fundamentam a corrente de estudo da linguagem denominada Sociolinguística Variacionista ou Teoria da Variação e Mudança, tal como proposta por Weinreich, Labov e Herzog (1968), refinada posteriormente pelos trabalhos de Labov a partir da década de 70. Para a Teoria da Variação e Mudança ou Sociolinguística Variacionista, todos os sistemas linguísticos são caracterizados por uma heterogeneidade inerente, ordenada e sistemática. Uma das contribuições fundamentais do modelo foi o desenvolvimento de métodos rigorosos para a análise da diversidade linguística, métodos que possibilitaram a identificação de fenômenos variáveis, a depreensão dos padrões de variação em uma comunidade de fala e a relação direta entre os padrões variáveis e parâmetros sociais que caracterizam as comunidades linguísticas. Em Weinreich, Labov e Herzog (1968), são propostos os fundamentos teóricos da Teoria da Variação e Mudança: a língua é uma entidade essencialmente heterogênea 1 e a maior de suas contribuições não se pode entender a mudança linguística sem se considerar a evidência histórica disponível no processo de mudança no interior de uma comunidade de fala 2. Os autores propõem um modelo teórico no qual a variação e a mudança são resultados da influência de fatores linguísticos e 1 it will be necessary to learn to see language whether from a diacronic or a synchronic vantage as an object possessing orderly heterogeneity ( Weireinch, Labov e Herzog. 1968, 100) 2 without regard for the historical evidence available on the process of change within the speech community (op. cit, 147)

84 84 extralinguísticos. Sendo assim, abre se um caminho para a compreensão da interrelação entre língua e a comunidade que a utiliza. De acordo com os autores: Fatores linguísticos e sociais estão intimamente relacionados no desenvolvimento da mudança linguística. Explicações que estão confinadas a um ou outro aspecto, não importa quão bem construídas estejam, irão falhar ao tentar justificar o rico corpo de regularidades que podem ser observados nos estudos empíricos do comportamento de uma língua 3. (op. cit, 188) A Sociolinguística Variacionista postula ainda que, ao mesmo tempo em que a língua muda, de forma gradual, há porções desse mesmo sistema que permanecem estáveis por largos períodos de tempo. A variação observada na fala dos indivíduos pode ser representativa de uma mudança em progresso ou pode ser um padrão que se repete por gerações de indivíduos, sem mudanças no sistema. A observação de tal fenômeno levou Weinreich, Labov e Herzog (op. cit, 188) a afirmarem que nem toda variação e heterogeneidade na estrutura da língua envolve mudança, mas toda mudança envolve variação e heterogeneidade 4. Ao reconhecer que toda mudança implica variação, a Sociolinguística procurou desenvolver métodos que permitissem explicar questões a ela relacionadas, isto é, sua origem, seus condicionamentos, suas formas de propagação, suas restrições sociais e estruturais e sua avaliação pela comunidade de fala. Tais questões, discutidas por Weinreich, Labov e Herzog (op.cit, 185 7), constituem as bases empíricas para a teoria da mudança linguística. Ao pressupor que toda mudança implica variabilidade, admite se também que a variação sincrônica pode ser representativa da coexistência de diferentes estágios de 3 Linguistics and social factors are closely interrelated in the development of language change. Explanations which are confined to one or other aspect, no matter how well constructed, will fail to account for the rich body of regularities that can be observed in empirical studies of language behavior. 4 Not all variability and heterogeneity in language structure involves change; but all change involves variability and heterogeneity.

85 85 uma língua. Diferenças etárias significativas seriam reflexos de desenvolvimentos diacrônicos, desde que outros fatores se mantivessem constantes. O comportamento linguístico de cada geração estaria refletindo um estado de língua: os grupos mais jovens introduziriam no sistema formas linguísticas que, progressivamente, substituiriam as formas utilizadas pelos grupos de falantes mais velhos, cuja fala seria representativa de estados de língua anteriores. Tal forma de estudo, denominada de construto de tempo aparente, evidentemente, não pode ser tomada como conclusiva. Um primeiro problema é a própria relação entre o construto do tempo aparente e a hipótese da aquisição: essa relação baseia se na previsão de que a fixação do sistema linguístico pelo indivíduo se encerra no início da puberdade, não havendo, a partir daí, mudanças significativas: a diferenciação etária seria um reflexo das alterações do comportamento do indivíduo ao longo de sua vida. Como já fora exposto anteriormente, outros fatores de natureza social e condicionamentos impostos pelo grau de formalidade do contexto influem no processo de variação e mudança. As dificuldades que surgem nos estudos de tempo aparente podem ser contornadas pela associação de estudos de tempo aparente e de tempo real, que recobre o fenômeno variável por fatias de tempo. A conjugação dos dois modelos a análise em tempo aparente e a análise em tempo real sem dúvida configura um método seguro e confiável para a depreensão dos padrões linguísticos de um grupo, propiciando uma análise mais abrangente sobre os processos de mudança da língua. Entretanto, por mais que a conjugação entre as análises nos tempos aparente e real responda de forma mais segura às questões ligadas à mudança linguística e seus condicionantes, a investigação em tempo real é problemática sobretudo se

86 86 tomarmos em consideração o estudo de fases muito distantes do estágio atual da língua. O problema reside tanto na qualidade dos registros conservados ao longo do tempo quanto na falta de informações sobre as características das comunidades em que ocorreram os processos de mudança linguística. Como bem alerta Labov (2008[1972], 317) registros históricos têm pouca chance de produzir as explanações sistemáticas de que precisamos. Um recurso teórico lançado pela Teoria da Variação e Mudança para relativizar os problemas ligados à insuficiência de respostas sobre os estados de língua muito distantes do atual é o princípio do uniformitarismo 5. Conceito tomado da Geologia, o princípio do uniformitarismo postula que as forças que operam no presente para produzir a mudança linguística são as mesmas que operaram no passado (op. cit). O princípio do uniformitarismo não descarta a atuação de outros fatores no processo de mudança. Todavia, é notório que o surgimento de novos condicionamentos ao longo da história representa um grau de intervenção menor na estrutura das línguas. Se for possível provar que os efeitos da interação entre o componente social e a estrutura gramatical são constantes, o princípio do uniformitarismo reforça a tese de que os fatores condicionadores da mudança no presente são os mesmos que atuaram no passado. E de que maneira o princípio do uniformitarismo se aplica ao fenômeno investigado nesta Tese? Uma das principais hipóteses levantadas neste trabalho é que os contextos adjacentes à vogal postônica não final são decisivos para a ocorrência do apagamento da vogal e, consequentemente, para a regularização das palavras 5 Ou, acordo com a edição de 2008, princípio da uniformidade.

87 87 proparoxítonas em paroxítonas. São mais frequententemente elididas as vogais cujas consoantes que as acompanham possam ser ressilabificadas seja na coda da sílaba tônica, seja no ataque da sílaba átona final. A tendência ao cancelamento de segmentos vocálicos átonos em proparoxítonos que sejam acompanhados de consoantes ressilabificáveis não é uma inovação do português. Alguns autores já citados neste trabalho apontam que a queda da vogal postônica não final já é um fenômeno produtivo desde o latim vulgar, condicionado pela natureza do contexto fonético adjacente à vogal postônica não final (Cf. as considerações de Coutinho, 1976, apresentadas anteriormente). A comprovação desta hipótese remete à uniformidade na atuação dos condicionamentos ao longo do tempo, uma vez que é possível observar que as mesmas pressões do sistema linguístico atuam de forma decisiva em momentos diferentes da história da língua. A pesquisa sociolinguística baseia se em um aparato metodológico para o levantamento e o tratamento dos dados das amostras de fala. Entretanto, apesar de muito bem fundamentada em termos de método de investigação, algumas questões relacionadas à complexa relação entre usos linguísticos e aspectos sociais ainda se fazem presentes quando são trazidos à luz trabalhos que se pautam na Teoria da Variação, tal como proposta por Labov (1972). A principal das questões está ligada ao que Labov (op.cit) chama de paradoxo do observador. O paradoxo referido é um problema real das análises variacionistas uma vez que cabe à investigação sociolinguística a observação dos usos linguísticos em contextos reais. Entretanto, o levantamento de dados depende de controle sistemático e é realizado, fundamentalmente, a partir da observação da fala em

88 88 entrevistas e/ou questionários previamente determinados. O autor destaca que tais dificuldades não são inerentes só à pesquisa linguística, mas perpassam toda ciência que se propõe observar fenômenos sociais. Para neutralizar tais dificuldades, o pesquisador deve estar atento aos cinco axiomas metodológicos que surgem na elicitação de dados linguísticos: (i) (ii) (iii) (iv) (v) a alternância de estilo, a partir da mudança do contexto de fala ou do assunto; o monitoramento do discurso, que pode ser amenizado durante a realização da entrevista; a busca pelo vernáculo, situação discursiva em que o falante está pouco atento à sua fala; a formalidade do discurso, que, seja em maior ou menor grau, nunca está completamente neutralizado na entrevista sociolinguística; e a busca por bons dados em quantidade suficiente, através de entrevistas gravadas, o principal meio de observação sistemática. Labov alerta, ainda, para o fato de que a variação estilística não tem sido controlada o suficiente para que seja possível determinar a regularidade existente entre índices de frequência de variantes estilisticamente marcadas e os contextos linguísticos condicionadores dos mais diversos fenômenos variáveis. Para ele, a sobreposição de condicionamentos estilísticos a outras influências tem apontado um panorama a priori irregular, semelhante ao que antigamente se pensava estar atuando nos processos de variação e mudança linguística. Com o intuito de controlar os estilos em que são produzidos os dados de fala para a pesquisa sociolinguística, o autor desenvolveu uma nomenclatura para caracterizar todos os níveis de formalidade encontrados nas entrevistas. Labov apresenta, a principio, uma distinção entre fala casual (casual speech) e fala monitorada (careful speech). A fala monitorada é o contexto discursivo da

89 89 entrevista formal e se refere à situação em que o informante está consciente de sua produção discursiva. A fala casual, dificilmente encontrada pelo linguista nas entrevistas, ocorre em contextos normais de uso, quando a preocupação com a realização das formas linguísticas é reduzida. O contexto B (estilo B) corresponde à fala monitorada, e é verificável na situação das entrevistas. Para Labov, tal contexto corresponde à situação discursiva em que o falante está respondendo às questões que reconhece como pertencentes à entrevista. Seria menos formal que um discurso público, ou uma entrevista de emprego, mas sem sombra de dúvidas mais formal do que a fala utilizada em contextos familiares e naturais. Para o autor, o grau de espontaneidade e entusiasmo na fala monitorada pode variar muito, o que impede de considerar a situação de elocução como casual. Labov enfatiza, ainda, recursos que podem atingir níveis de formalidade maiores do que a situação discursiva verificada em respostas ao documentador. No por ele denominado como contexto discursivo C (estilo C), o pesquisador pode solicitar ao informante a leitura de textos padronizados, nos quais se verificam os fenômenos em variação que se pretende investigar. Para ele, tais textos devem ser redigidos em linguagem coloquial para a produção de uma elocução ao máximo fluente com o propósito de promover um envolvimento do leitor com a história lida e a utilização de um ritmo de leitura razoavelmente rápido. Labov sugere a construção de uma seção zero, o primeiro parágrafo do texto, que não deve apresentar dados do fenômeno variável em foco. Tais procedimentos são vitais para que o falante se afaste ao máximo de outros estilos de leitura marcados por uma face mais formal: as listas de palavras (contexto D)

90 90 e os pares mínimos (contexto D ). Segundo o autor, um passo a mais na direção de um contexto mais formal é considerar a pronúncia de palavras isoladas (p. 108). Uma lista de palavras (estilo D) pode ser constituída por expressões de domínio de qualquer usuário da língua (como os dias da semana e os meses do calendário), ou até mesmo uma seleção de itens lexicais em que as variantes sob análise apareçam intercaladas entre si ou combinadas a outros vocábulos de caráter neutro. A leitura de pares mínimos (estilo D ) apresenta, necessariamente, uma reflexão ainda maior sobre a produção discursiva por parte do falante, já que, enquanto nas listas de palavras a intercalação de vocábulos mascara o fenômeno linguístico em questão, a leitura de pares mínimos realça o em virtude da diferença mínima entre um e outro vocábulo. No par mínimo dock/dark, verificado por Labov (1972), por exemplo, a única diferença fonética entre os itens é a presença da variável (r), o fenômeno que ele pretendia observar. Mesmo que não esteja presente na situação discursiva produzida pelas perguntas da entrevista, a fala casual, denominada por Labov de contexto A, pode ser encontrada algumas vezes, durante o período em que o pesquisador estiver próximo do entrevistado, manifestando se, por exemplo, quando o informante se dirige a um familiar, atende ao telefone ou toma um café com o entrevistador. Outra forma de buscar dados de fala cotidiana é observar a interação natural de pessoas na rua. O pesquisador pode, por exemplo, gravar situações de interação em grupo, como jogos e brincadeiras. Também incluídos no âmbito do estilo A estão os momentos de entrevista em que o falante se encontra tão envolvido emocionalmente com o conteúdo de sua narrativa que dedica uma atenção mínima ao modo como está produzindo seu discurso: a fala espontânea. Como destaca o autor, a fala espontânea

91 91 se refere ao padrão usado na fala excitada, carregada de emoção, quando os constrangimentos de uma situação informal são abandonados (p. 111). Assim sendo, o contexto formal apresenta dois estilos diferentes o monitorado e o espontâneo, enquanto o informal apresenta sempre o estilo casual. Para Labov, a fala espontânea está frequentemente presente no decorrer da entrevista e pode ser considerada um correlato da fala usual em contextos formais. Para o autor, os dados de fala espontânea podem, inclusive, ser analisados conjuntamente com os dados de fala casual. Trechos de fala usual e espontânea podem ser muitos úteis para a verificação, por comparação, da qualidade dos dados de fala monitorada, principalmente em termos do mesmo informante. O pesquisador deve, portanto, incentivar o aparecimento desses estilos e também verificar se um determinado fragmento de fala é realmente espontâneo, procurando um método de controlar a concretização desses estilos discursivos. Labov destaca que o estilo A pode ser definido por situações contextuais diálogo com uma terceira pessoa (estilo casual), relato de uma situação emocionante, perigosa, íntima ou muito triste (estilo espontâneo) e outros marcadores da situação interativa, como uma variação no ritmo de fala, o riso, um aumento na intensidade da respiração, altura etc. Uma análise estatística deve basear se na premissa de que a amostra recolhida representa toda a comunidade estudada, e não somente um conjunto de indivíduos. Caso a constituição do grupo de informantes seja feita com base em critérios bem delimitados, os resultados poderão ser generalizados para um determinado recorte social. Em qualquer pesquisa sociolinguística, a seleção dos informantes deve passar pelo controle social proposto por Labov: escolha aleatória, mas organizada em células que conjugam variáveis sociais, o que define uma amostra aleatória estratificada.

92 92 Um pesquisador que pretende controlar, por exemplo, o gênero do informante em três faixas etárias diferentes (faixa 1, 2 e 3), deve preencher 6 células: homem faixa 1; homem faixa 2; homem faixa 3; mulher faixa 1; mulher faixa 2 mulher faixa 3. Labov destaca que cinco é o número ideal de informantes para preencher cada célula social; no entanto, esse número costuma variar. Obviamente, quanto mais informantes apresentar uma amostra, mais fidedigna será; entretanto, deve se lembrar que esse número depende essencialmente do perfil da comunidade estudada, do fenômeno sob análise e da ferramenta à disposição para a análise estatística. A par das questões expostas acima, toda pesquisa variacionista também está sujeita a outras dificuldades de caráter mais geral, como a limitações temporais, espaciais e orçamentárias, ou mesmo a dificuldade de encontrar informantes que respondam às exigências metodológicas do estudo. A análise estatística dos dados de uma pesquisa variacionista conta com o auxilio do pacote de programas VARBRUL (e suas versões mais atuais, o Goldvarb 2001 e o Goldvarb X), que fornece o controle estatístico de dados de fala e realiza a correlação matemática entre as variáveis intra e extrassistêmicas. A ferramenta estatística calcula a importância das variáveis independentes em relação à aplicação da regra investigada, ao gerar rodadas com o cruzamento de grupos de fatores (incluindo rodadas em que as variáveis são apresentadas uma a uma) e, depois, selecionando as mais significativas. Durante o processo, são determinados índices de significância para cada rodada e, em cada uma delas, atribuídos pesos relativos para os fatores das variáveis investigadas. Se os fatores de uma determinada variável têm peso relativo alto, são considerados relevantes para a

93 93 aplicação da regra; por outro lado, quanto mais esse índice estiver próximo de 0.00, mais desfavorecedores se mostram os fatores para a sua implementação. Destaca se que os pesos relativos de um grupo apresentam relação entre si: o peso da atuação de um é calculado em relação aos dos outros. Assim, quanto maior a diferença entre os pesos relativos de uma rodada, melhor será sua significância para o fenômeno em estudo. As rodadas mais importantes, selecionadas pelo programa, devem apresentar índice de significância o mais próximo de O programa de análises estatísticas estabelece ainda o input de seleção da regra variável, o que corresponde à aplicação geral do fator de aplicação nesta Tese, o apagamento da vogal postônica não final Metodologia Neste trabalho, a análise foi feita com base em corpora diversificados, tendo em vista a dificuldade inerente à investigação do fenômeno em foco. Os dados foram recolhidos de entrevistas do tipo DID (diálogos entre informante e documentador) selecionadas de bancos de dados organizados sociolinguisticamente e de respostas aos questionários usados na composição de dois atlas linguísticos que dão conta da realidade do falar fluminense. Os dados dos atlas linguísticos são analisados com base apenas em índices percentuais. Já os oriundos de entrevistas do tipo DID são analisados segundo a perspectiva variacionista, com base nas variáveis expostas ao final deste item e, com o apoio do instrumental estatístico oferecido pelo pacote de programas GOLDVARB 2001.

94 94 As análises foram realizadas em caráter binário: manutenção X apagamento da vogal átona não final, em separado, para cada uma das amostras utilizadas, por conta do recorte social efetuado em cada banco de dados selecionado para a investigação. Todavia, foram controladas as mesmas variáveis linguísticas em todas as etapas; no tocante às variáveis sociais, há diferenças por conta de características específicas de cada corpus, características essas apresentadas em seguida. (a) Entrevistas A análise variacionista tem como base 138 entrevistas do tipo DID (diálogo entre informante e documentador). Neste tipo de registro, o documentador dirige o diálogo, propondo ao informante assuntos de seu interesse ou de seu cotidiano, incentivando o sempre a se envolver com o tema, de modo que a elocução seja a mais espontânea possível e que o já discutido paradoxo do observador seja relativizado. As entrevistas foram selecionadas dos acervos dos projetos NURC RJ (Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), PEUL (Programa de Estudos sobre o Uso da Língua), APERJ (Atlas Etnolinguístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro) e do Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias do Português (para os dados do Português Europeu ). Todas as amostras têm em comum o fato de seus informantes terem sido selecionados segundo a metodologia sociolinguística e de constituírem importantes referências para os estudos linguísticos, uma vez que neles estão representadas, respectivamente, as falas culta e popular do Rio de Janeiro e a de Lisboa. A seguir, uma breve síntese sobre cada banco de dados utilizado na pesquisa.

95 95 O corpus NURC RJ é uma amostra construída com o objetivo de observar a fala culta da capital do Rio de Janeiro: todos os informantes são cariocas, com nível superior completo de escolaridade e estão distribuídos por três faixas etárias: de 25 a 35 anos; de 36 a 55 anos e 56 anos ou mais. O acervo conta ainda, além das entrevistas do tipo DID, com 71 elocuções formais (EF) e diálogos entre dois informantes (D2) gravados durante a década de 70. O Projeto conta também com um conjunto de entrevistas realizadas na década de 90, com registros de 11 informantes da primeira amostra que foram recontactados. A amostra de 90 apresenta ainda 16 inquéritos realizados com novos falantes. Nesta Tese, foram analisadas do corpus NURC RJ 18 entrevistas do tipo DID, da década de 70. No conjunto, foi observada uma distribuição regular de 02 informantes por célula social: faixa etária X sexo. Dessa forma, foram estudados 09 informantes do sexo masculino e 09 do sexo feminino (03 homens e 03 mulheres de cada faixa etária) O Projeto Atlas Etnolinguístico do Estado do Rio de Janeiro APERJ, com início em 1985 e já finalizado, tinha como objetivo descrever não só a fala de pescadores do Estado Rio de Janeiro, mas também aspectos culturais das comunidades pesqueiras fluminenses. O corpus APERJ constitui se de entrevistas não só decorrentes de aplicação de questionários para levantamento de dados visando à elaboração de cartas fonéticas e lexicais, mas também de elocuções livres, sendo considerado um banco de dados de cunho geossociolinguístico, por conjugar preceitos da sociolinguística e da geografia linguística. O corpus APERJ só conta com informantes do sexo masculino, analfabetos ou escolarizados até a 4ª série do Ensino Fundamental, distribuídos por três faixas etárias (18 35 anos, anos e 56 anos em diante). Para esta investigação, foram

96 96 consideradas entrevistas do tipo DID realizadas com 78 pescadores, todos naturais de 13 comunidades do Norte e do Noroeste do Estado Foram selecionados 06 informantes por comunidade, 02 de cada faixa etária. O Projeto conhecido como PEUL teve início em 1980, com o Projeto Censo da Variação Linguística do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, foram gravados registros da fala de 64 informantes cariocas de vários bairros da cidade do Rio de Janeiro. Os informantes são distribuídos por três faixas etárias (de 15 a 25 anos, de 26 a 49 e acima de 50 anos), três níveis de escolaridade (1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental e Ensino Médio) e por sexo (masculino e feminino). Duas décadas depois foi constituída a amostra Censo 2000, que conta com 16 entrevistas de informantes recontactados e 32 de novos informantes. Hoje o PEUL dispõe de vários outros corpora, inclusive de dados de fala infantil e de escrita, esta composta por textos jornalísticos. Nesta tese foram analisadas 24 entrevistas do corpus Censo 80, referentes a 11 informantes do sexo masculino e 13 do sexo feminino, distribuídos pelos 3 níveis de escolaridade. O corpus do projeto relativo ao estudo da Concordância, constituído em âmbito binacional a partir de um convênio entre o Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, é pioneiro na construção de um banco de dados sociolinguístico da variedade europeia do Português. No âmbito do português europeu, a amostra é composta por 36 gravações, 18 da área de Lisboa/Oeiras e 18 de Cacém, cidade vizinha de Lisboa, integrada a sua região metropolitana. A contraparte relativa à variedade brasileira é composta por 36 inquéritos: 18 gravações realizadas na área de Copacabana e adjacências (Zona Sul do Rio de Janeiro) e 18 inquéritos recolhidos em Nova Iguaçu, um município da região metropolitana da capital do Estado. O banco de dados foi

97 97 elaborado com base nos critérios extralinguísticos: faixa etária, nível de instrução e sexo do informante. Nesta Tese, foram analisadas somente as 18 entrevistas relativas a Lisboa/Oeiras. Levantaram se e codificaram se 3316 ocorrências de palavras proparoxítonas, analisadas a partir de uma variável dependente que considerava três possibilidades: (i) perda da vogal postônica não final: circlu, arvri, pétla, (ii) perda da vogal postônica e da consoante seguinte: velocipi, sabu, figu (iii) vocábulo em que não ocorre o apagamento: fábricas, pérola. Todavia, dado o pouco número de ocorrências de vocábulos que apresentassem dois processos de síncope optou se por amalgamar em um só fator da variável dependente as duas formas de apagamento de segmentos consideradas exemplificadas em (i) e (ii). Com o apoio do instrumental teórico metodológico oferecido pela Sociolinguística Variacionista (Weireinch, Labov, Herzog, 1968; Labov, 1972, 1994, 2000), e já explicitado anteriormente, os dados extraídos das quatro amostras consideradas foram submetidos a um tratamento estatístico com base na ferramenta GOLDVARB2001 com o propósito de observar a atuação de condicionamentos linguísticos e sociais no apagamento da vogal postônica não final. Foram estabelecidas oito variáveis linguísticas e três extralinguísticas para o controle do apagamento, conforme mostra a tabela a seguir.

98 98 ponto de articulação da vogal tônica; Tabela 5 Variáveis investigadas Variáveis Linguísticas ponto de articulação da consoante precedente à vogal postônica não final; modo de articulação da consoante precedente à vogal postônica não final; ponto de articulação da consoante seguinte à vogal postônica nãofinal; modo de articulação da consoante seguinte à vogal postônica nãofinal; natureza da sílaba tônica; extensão do vocábulo; classe gramatical do vocábulo ponto de articulação da vogal postônica não final. Variáveis Sociais NURC faixa etária; gênero. PEUL faixa etária; gênero; escolaridade. APERJ faixa etária; escolaridade. CONCORDÂNCIA faixa etária; gênero; escolaridade. (b) Questionários geolinguísticos Com o propósito de ampliar o conjunto de dados deste trabalho, foram considerados também corpora de caráter geolinguístico, referentes ao MicroAFERJ (MicroAtlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro), de Almeida (2008), e ao AFeBG (Atlas Fonético do Entorno da Baía de Guanabara), de Lima (2006). Os Projetos AFeBG e MicroAFERJ foram organizados segundo critérios metodológicos comuns: foi aplicado o mesmo questionário, selecionados 06 informantes por ponto de inquérito, distribuídos pelos dois gêneros e três faixas etárias (18 35 anos, anos e de 56 anos em diante), todos eles analfabetos ou semi alfabetizados (até quatro anos de escolaridade).

99 99 As cartas fonéticas de ambos os atlas foram compostas com base em respostas a um questionário fonético fonológico de 279 perguntas. No MicroAFERJ, ele foi aplicado a 72 informantes, 6 em cada uma das 12 localidades situadas em diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro e que constituem sua rede de pontos de inquérito. No AFeBG, foi aplicado a 24 informantes de 04 municípios da Região Metropolitana da capital do Estado. Os questionários apresentam 18 perguntas cujas respostas são palavras proparoxítonas e que, em cada atlas, resultaram em 18 cartas fonéticas, com base nas quais se empreendeu a análise geolinguística Análise dos dados Índices gerais O conjunto de 138 entrevistas do tipo DID utilizadas na análise variacionista resultou em um total de 3316 dados, conforme se expõe na tabela a seguir, em que são indicadas, por amostra, as ocorrências de proparoxítonas e o índice geral de aplicação da regra de apagamento da vogal.

100 100 Tabela 6 Distribuição dos dados por amostra Variedade Amostra APL/T NURC 95/816 = 11% (fala urbana culta ) PB PEUL 192/1317 = 14% (fala urbana popular) APERJ 130/855 = 15% (fala rural popular) PE Concordância (fala urbana culta e popular) 167/328 = 49% O Português Brasileiro Os resultados referentes ao português do Brasil serão apresentados de forma comparativa, isto é, confrontando as amostras. Como já se observou, o fato de cada uma delas ter um perfil sociolinguístico particular não tornou viável considerá las em conjunto, isto é, reunir todos os dados em um só arquivo para a análise quantitativa. Na tabela a seguir, expõem se as variáveis que se mostraram estatisticamente relevantes para a implementação da síncope da vogal átona não final nas três análises.

101 101 Tabela 7 Variáveis Atuantes no Apagamento da Vogal Postônica Não final: Português Brasileiro NURC PEUL APERJ Ponto de articulação da consoante seguinte Modo de articulação da consoante seguinte Faixa Etária Input inicial:.11 Input de seleção:.07 Significance:.000 Modo de articulação da consoante seguinte Ponto de articulação da consoante precedente Ponto de articulação da vogal postônica não final Dimensão do vocábulo Modo de articulação da consoante precedente Faixa Etária Gênero Input inicial:.14 Input de seleção:.04 Significance:.000 Ponto de articulação da vogal postônica não final Modo de articulação da consoante seguinte Ponto de articulação da consoante precedente Modo de articulação da consoante precedente Escolaridade Input inicial:.15 Input de seleção:.07 Significance:.014 As tendências delineadas na tabela acima justificam o método empregado. Pela comparação dos resultados das três amostras, pode se verificar que há diferenças não só quanto à seleção das variáveis, mas também à sua hierarquia, embora os inputs de aplicação da regra se mostrem semelhantes ou muito aproximados. Nota se, inclusive, que os corpora representativos de indivíduos de níveis de escolaridade extremos (APERJ, analfabetos ou até a 4ª. série; NURC, nível superior) apresentam o mesmo índice na rodada de seleção:.07 6 As considerações acerca dos condicionamentos linguísticos e sociais tomarão como ponto de partida a variável selecionada em todas as amostras. 6 Para maiores detalhes sobre os conceitos utilizados na metodologia da análise variacionista, conferir Mollica e Braga (2003) e Guy e Zilles (2007).

102 Condicionamentos Linguísticos Modo de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Postônica Não final Ao longo deste trabalho, tem sido mencionado que o apagamento da vogal antes de consoantes liquidas é uma constante verificada em diversos momentos da história da língua portuguesa (Cf., por exemplo, as considerações de Coutinho, 1976). Assim, parte se do princípio de que a presença de consoantes líquidas no ataque da sílaba átona final favoreceria a queda da vogal postônica, uma vez que tais consoantes podem tanto se anexar à coda da sílaba tônica, formando o padrão CVC nesse contexto, quanto figurar como segundo elemento de um ataque complexo, desde que haja no ataque da sílaba postônica não final uma consoante obstruinte (oclusivas e fricativas labiais). Os resultados referentes a essa variável, a única selecionada para todas as variedades do PB aqui consideradas, estão expressos na tabela 8. Tabela 8 Efeito da Atuação do Modo de Articulação da Consoante Seguinte para o Apagamento da Vogal Postônica Não final NURC PEUL APERJ APL/T P.R APL/T P.R APL/T P.R Oclusivas e Fricativas 24/498 =.36 74/865 =.50 73/567 =.47 (época) 4% 8% 12% nasais 14/162 =.50 41/268 =.31 1/72 =.08 (mínimo) 8% 15% 1% Lateral 47/77 =.95 54/95 =.67 12/68 =.57 (óculos, círculo) 61% 56% 22% Vibrante (abóbora) 9/60 = 15%.65 17/78 = 21%.80 41/133 = 30%.83 Input:.07 Significance:.000 Input:.04 Significance:.000 Input:.07 Significance:.014 Os resultados confirmam as expectativas: as líquidas, nas três amostras consideradas, favorecem o apagamento da vogal, embora se observem diferenças quanto aos pesos relativos e à hierarquia dos fatores.

103 103 O corpus NURC se diferencia dos demais, no sentido de que a lateral, com peso relativo.95, se mostra mais significativa para o cancelamento do que a vibrante, que é o fator mais saliente nos outros dois corpora (PEUL,.80; APERJ,.83). Notam se diferenças também na hierarquia dos contextos que não favorecem a queda da vogal. Enquanto no corpus NURC as nasais são neutras em relação ao cancelamento (.50 de peso relativo), as oclusivas e fricativas atuam como desfavorecedoras da ocorrência do processo. Já no corpus PEUL, as oclusivas e fricativas são neutras, sendo as nasais as consoantes que inibem a aplicação da regra (.31). O corpus APERJ apresenta a mesma hieraquia de desfavorecimento observada na amostra do PEUL:.47 para oclusivas e fricativas,.08 para as nasais. Tais resultados, uniformes para as três amostras consideradas, sugerem que o apagamento da vogal postônica não final, culminando na regularização dos vocábulos proparoxítonos em paroxítonos, é fortemente condicionado por licenciamentos na estrutura fonotática da língua, sobretudo quando a queda do segmento vocálico átono não final possibilita a ressilabificação da consoante que o acompanha Ponto de Articulação da Vogal Postônica Não final Os trabalhos que investigam a relação entre aspectos linguísticos e sociais no apagamento da vogal postônica não final indicam que traços de articulação dessa vogal são de vital importância para a compreensão do fenômeno. O objetivo, então, é observar que vogal seria mais propensa ao apagamento. Nesta variável, as vogais foram analisadas em termos do ponto de articulação, tendo em vista o tratamento de cada vogal em separado não ser possível, por conta do alto índice de alteamento no

104 104 contexto das médias tanto as anteriores quanto as posteriores. O condicionamento foi estatisticamente relevante para os corpora de fala popular, sobretudo no âmbito rural, em que foi indicado como mais saliente. Tabela 9 Efeito do Ponto de Articulação para o Cancelamento da Vogal Postônica Não final PEUL APERJ APL/T P.R APL/T P.R Dorsal 25/176 =.58 29/54 =.79 (xícara, lâmpada, sábado) 14% 53% Labial 78/275 =.80 67/378 =.36 (abóbora, cúmulo, âncora) 28% 17% Coronal 89/866 =.38 34/420 =.58 (gênero, tímido, plástico) 10% 8% Input:.04 Input:.07 Significance:.000 Significance:.014 Os dados da fala rural devem ser relativizados, dado que a significância da rodada não é muito expressiva (.014), e também por não confirmarem a hipótese postulada para a variável. Esperava se assim como o verificado para o PEUL que as vogais labiais favorecessem o apagamento. Todavia, observa se que, no corpus APERJ, a vogal dorsal é a mais propensa a ser cancelada (.79), seguida pelas coronais (. 58), sendo as labiais as que inibem a aplicação da regra. Uma observação mais atenta dos dados revela que tal resultado poderia ser reflexo de uma questão lexical: o alto índice de apagamento da vogal dorsal estaria ligado ao fato de que tal vogal ter sido frequentemente apagada na palavra lâmpada. Os dados do PEUL mostram que o maior índice de favorecimento à aplicação da regra ocorre no contexto das labiais ([o] e [u]) com.80 de peso relativo. A dorsal mostra se próxima ao ponto neutro (.58 ), enquanto as coronais ([e] e [i]) são as mais resistentes ao cancelamento (.38).

105 105 Comportamento semelhante se observa nos dados relativos à fala culta. Apesar de a variável não ter sido selecionada como relevante, a tabela 10 mostra de que maneira a variável atua no corpus NURC. Tabela 10 Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Vogal Postônica Não final (nível 1): corpus NURC NURC APL/T P.R Dorsal 14/111 = (.59) 7 12% Labial 52/165 = (.82) 31% Coronal 29/540 = 5% (.36) Significance:.000 No âmbito da fala culta, a hierarquia é a mesma observada para a fala popular urbana: as labiais são as mais propensas ao apagamento (.82), seguidas pela dorsal (.59) e pelas coronais (.36). A tendência verificada nos dados da fala urbana está em parte de acordo com as constatações de Araújo et. al. (2007). Os autores, com base no levantamento das palavras proparoxítonas registradas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, indicam que o [u] é a vogal postônica não final que apresenta o maior número de contextos favoráveis à supressão (81%), o que está representado nos índices probabilísticos expressos acima Ponto de Articulação da Consoante Precedente à Vogal Postônica Não final Com essa variável, busca se observar o comportamento da vogal postônica não final em função do segmento consonantal que a acompanha. Espera se que nos contextos em que a sua queda leva a consoante a se anexar ou à coda da sílaba tônica, 7 Todas as tabelas que tratarem de variáveis não selecionadas são baseadas nos índices estatísticos do primeiro nível da análise multivariada. A significância, ao final de cada tabela, também corresponde ao índice no primeiro nível da ponderação estatística.

106 106 ou ainda ao onset da sílaba átona, o apagamento da vogal seja favorecido. Já as consoantes que, a princípio, não encontram contexto favorável à ressilabificação não favoreceriam a regra. O condicionamento foi relevante em termos estatísticos para os corpora PEUL e APERJ (em ambos selecionado em terceiro lugar) e os resultados observados estão expressos na tabela 11. Tabela 11 Efeito do Ponto de Articulação da Consoante Precedente para o Cancelamento da Vogal Postônica Não final PEUL APERJ APL/T P.R APL/T P.R Labial 62/392 =.34 92/431 =.74 (época) 15% 21% Alveolar 99/473 =.73 17/152 =.25 (título, pérola, cócegas) 20% 11% Palatal 11/323 =.30 8/154 =.27 (tínhamos, médico, último) 3% 5% Velar 19/55 =.63 12/104 =.26 (óculos, fígado) 34% 11% Input:.04 Input:.07 Significance:.000 Significance:.014 Os dados do PEUL trazem indícios de confirmação da hipótese. Os resultados verificados para a fala popular urbana mostram que as consoantes de articulação alveolar (.73) e velar (.63) favorecem a aplicação da regra. A hierarquia dos fatores talvez se explique pelo fato de o ponto de articulação alveolar reunir consoantes que tanto podem se anexar à coda da sílaba tônica (tornando se /S/, /N/ e /l/) quanto ao onset da sílaba átona (/t/ e /d/), neste caso desde que haja nesse ambiente uma consoante líquida. As velares teriam seus contextos de ressilabificação restritos ao ataque da sílaba átona final. Os dados da fala rural revelam que o apagamento da vogal é mais produtivo e favorecido quando o onset da sílaba postônica não final é preenchido por uma

107 107 consoante labial (.74), sendo desfavorecido pelos demais contextos (alveolares,.25; palatais,.22 e velares,.26). Ainda que não tenha se mostrado relevante em termos probabilísticos para a fala culta, é pertinente a apresentação dos resultados dessa variável, a fim de serem observadas regularidades no tocante a seu comportamento. Tabela 12 Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante Precedente para o Cancelamento da Vogal (nível 1): corpus NURC NURC APL/T P.R Labial 23/247 = (.46) 9% Alveolar 24/269 = (.45) 8% Palatal 14/186 = (.41) 7% Velar 33/79 = 41% (.86) Significance:.000 Nos dados do corpus NURC, são as consoantes velares (.86) que favorecem o apagamento da vogal, enquanto as demais o inibem (labial,.46; alveolar,.45; palatal,.41). Tal resultado sugere a confirmação da hipótese, uma vez que as velares podem se ressilabificar em direção ao ataque da sílaba átona final, caso haja nesse contexto como já se observou uma consoante alveolar (no caso, uma líquida) Observam se, portanto, duas tendências: os falantes cultos cancelam a vogal quando a consoante do ataque pode ser ressilabificada à direita, em direção à sílaba átona final; já para os falantes das variedades não standard, a direção da ressilabificação é variável, uma vez que favorecem o processo consoantes que podem se direcionar tanto para o final da sílaba tônica (labial nasal, as sibilantes, o tepe e a lateral), quanto para o ataque da sílaba átona final (as oclusivas labiais e alveolares).

108 Modo de Articulação da Consoante Precedente à Vogal Postônica De forma a complementar a investigação acerca do papel do contexto fonético precedente à vogal, controlou se também o modo de articulação da consoante que antecede a vogal. A variável foi selecionada, respectivamente em sexto e quarto lugares, para os corpora de fala popular (PEUL e APERJ). Os resultados estão expressos na tabela 13. Tabela 13 Efeito do Modo de Articulação da Consoante Precedente para o Cancelamento da Vogal PEUL APERJ APL/T P.R APL/T P.R Oclusivas e Fricativas 116/ / (bêbado, ângulo, fósforo) = 13% = 18% Nasais 73/296 =.64 4/114 =.04 (ônibus, mínimo, número) 24% 3% Laterais 1/58 = 1%.06 0/34 = (cólica) 0% Vibrantes 1/40 = 2%.09 0/11 = (América, mérito, espírito) 0% Input:.04 Input:.07 Significance:.000 Significance:.014 No corpus APERJ, o apagamento é altamente favorecido quando a queda da vogal postônica leva à formação de onsets complexos na sílaba átona final, já que são as consoantes precedentes oclusivas e fricativas as que se mostraram mais relevantes (.61). Observa se que as líquidas não atuam nesse sentido, ocorrendo praticamente o mesmo com as nasais (.04). Já os dados da Amostra Censo mostram as nasais como as mais propícias ao processo (.64), seguidas das oclusivas e fricativas (.52), resultado que destoa dos

109 109 demais corpora considerados para o PB e que, certamente, se deve às diversas ocorrências da palavra ônibus 8. Os resultados verificados para o corpus NURC, ainda que não relevantes para a aplicação da regra nessa amostra, evidenciam tendências observadas também no âmbito da fala rural. Pela tabela a seguir, nota se que há uma convergência entre a fala culta e a fala rural no tocante à atuação dessa variável: as obstruintes não nasais se revelam como favorecedoras e as nasais atuam como inibidoras do processo. Todavia, a diferença entre os contextos não é expressiva (.52 contra.40), o que de certa forma impede uma apreciação mais abrangente do comportamento da variável no âmbito da fala culta. Tabela 14 Índices Referentes à Variável Modo de Articulação da Consoante Precedente (nível 1): corpus NURC NURC APL/T P.R Oclusivas e Fricativas 82/587 = 13% (.52) Nasais 12/128 = 9% (.40) Laterais 0/20 = 0% Vibrante 0/46 = 0% Significance: Ponto de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Postônica. A variável ponto de articulação da consoante seguinte foi selecionada somente para os dados do PEUL como a mais relevante para o cancelamento. 8 Do total de 93 ocorrências da palavra ônibus, foi observada a queda da vogal postônica não final em 41 delas (44%).

110 110 Tabela 15 Atuação do Ponto de Articulação da Consoante Seguinte para o Apagamento da Vogal corpus PEUL PEUL APL/T P.R Labiais 85/354 =.85 (ônibus, último) 24% Alveolares 86/342 =.59 (pássaro, pérola) 25% Velares 15/603 =.22 (época, córrego) 2% Input:.04 Significance:.000 Os dados da Amostra Censo, apesar de serem reflexo de uma rodada ótima em termos probabilísticos (significância.000), sugerem uma tendência que não está de acordo com a hipótese postulada, uma vez que indicam como mais favorecedoras à queda da vogal as consoantes labiais (.85), seguida das alveolares (.59). Tal resultado, a princípio, contraria o que era esperado, já que consoantes labiais não poderiam figurar como segundo elemento de um ataque complexo, ao contrário das alveolares (sobretudo[l] e [ɾ]]). Todavia, um olhar mais atento aos dados revela que os resultados trazem em si uma correlação pertinente. As consoantes labiais [p, b, m] no onset da sílaba átona final [ o.ni.bu ] [ on. bu ], [ mĩ.ni.mu] [ mĩ.mu], [ pɾ.si.mu] [ pɾ s. mu] podem favorecer o apagamento da vogal átona medial, desde que no onset da sílaba postônica não final haja uma consoante que possa ser ressilabificada em direção à coda da sílaba tônica. Dos fatores controlados, o único que pode atuar nessas condições é o alveolar. Assim, a correlação entre o ponto de articulação precedente alveolar aos pontos de articulação das consoantes subsequentes pode trazer indícios para a compreensão do processo nos dados do PEUL, o que se procura mostrar na tabela 16.

111 111 Tabela 16 Cruzamento do ponto de articulação alveolar da consoante precedente com o ponto de articulação da consoante seguinte corpus PEUL Ponto de Ponto de Exemplos APL/T articulação precedente articulação seguinte Labial ônibus 72/187 = 39% Alveolar Alveolar pássaro 16/77 = 21% Velar única 11/208 = 5% A correlação revela que os resultados não são contraditórios, uma vez que respeitam as condições de estruturação silábica em português: consoantes labiais no onset da sílaba átona final favorecem o apagamento da vogal, quando o onset da sílaba postônica não final é preenchido por uma consoante alveolar. Os índices percentuais parecem confirmar tal tendência no corpus PEUL (39%). Na fala culta, apesar de a variável não ter sido selecionada pelo programa de análises estatísticas, há uma tendência distinta da que ocorre nos demais corpora, conforme mostra a tabela 17. Tabela 17 Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante Seguinte (nível 1): corpus NURC NURC APL/T PR Labiais 16/159 = 10% (.52) Alveolares 62/253 = 24% (.76) Velares 16/378 = 4% (.30) Significance:.000 Os índices sugerem que as consoantes alveolares no onset da sílaba átona final são os elementos que tendem a favorecer o apagamento da vogal (. 76); as labiais estão um pouco acima do ponto neutro (.52), enquanto as velares constituem um fator que o inibe (.30). Mais uma vez, vale destacar a pertinência dos resultados, já que o ponto de articulação alveolar reúne segmentos que podem se ressilabificar como o segundo segmento de um ataque complexo, desde que o onset da sílaba postônica não

112 112 final seja ocupado por uma consoante oclusiva ou fricativa. A correlação entre o ponto de articulação da consoante precedente e o ponto de articulação alveolar da consoante seguinte à vogal pode revelar a dinâmica do processo. Tabela 18 Cruzamento do ponto de articulação da consoante precedente com o ponto de articulação da consoante seguinte alveolar corpus NURC Ponto de Ponto de Exemplos APL/T articulação precedente articulação seguinte Labial abóbora 20/118 = 17% Alveolar título 9/51 = 18% Palatal Alveolar exógeno 0/8 = 0% Velar círculo 33/76 = 43% Os índices percentuais sugerem que a tendência ao apagamento no corpus NURC está diretamente atrelada à possibilidade de formação de onsets complexos na sílaba átona final (43% para estruturas formadas por velares + alveolares [ sihkulu] [ sihklu], [ ãgulu] )[ãnglu], [ ik ɾ ] [ ikɾa]). Muito próximos estão os índices para as combinações entre alveolares e alveolares 18% ([ titulu] [ titlu], [ tɾãzitu] [tɾãstu]) e labiais e alveolares 17% ([ kumulu] [ kumlu], [ numeɾu] [ numru]. Embora a variável não tenha sido selecionada na análise dos dados da fala rural, os resultados sugerem que as consoantes alveolares no onset da sílaba átona final favorecem o apagamento da vogal (.60); as consoantes velares constituem um contexto neutro (.50), enquanto as velares desfavorecem a aplicação da regra (.08). Tabela 19 Índices Referentes à Variável Ponto de Articulação da Consoante Seguinte no Cancelamento da Vogal Postônica Não Final (nível 1): corpus APERJ APERJ APL/T PR Labiais 1/64 = 1% (.08) Alveolares 62/313 = 19% (.60) Velares 66/461 = 14% (.50) Significance:.000

113 113 A correlação entre o ponto de articulação da consoante precedente e o ponto da articulação da consoante seguinte alveolar pode apontar de que forma o processo de apagamento se dá na fala rural. Tabela 20 Cruzamento do ponto de articulação da consoante precedente com o ponto de articulação alveolar da consoante seguinte corpus APERJ Ponto de Ponto de Exemplos APL/T articulação precedente articulação seguinte Labial árvore 41/142 = 29% depósito 14/70 = 20% Alveolar bússola Palatal Alveolar vinhático 1/3 = 33% Velar máquina âncora 6/92 =6% Se desconsiderarmos os resultados para o cruzamento palatal + alveolar (devido ao pequeno número de dados), os índices percentuais para essa correlação nos dados da fala rural sugerem que o apagamento da vogal é produtivo nos contextos em que há uma consoante labial na sílaba postônica não final e uma consoante alveolar na átona final (29%). O mesmo padrão foi verificado nos dados do PEUL. No entanto, ao observarmos mais atentamente o contexto sobretudo tendo em conta os resultados referentes às variáveis modo de articulação da consoante precedente e seguinte notou se que o cruzamento é produtivo por conta das consoantes fricativas: dos 41 dados de labiais que favoreceram o apagamento, 37 correspondem a [f, v], que só o favorecem se houver no ataque da sílaba átona final as alveolares de articulação líquida. O cruzamento alveolar + alveolar vem em segundo lugar (20%), seguido de velar +alveolar (6%). As consoantes adjacentes à vogal parecem exercer um papel decisivo para o apagamento: é a possibilidade de ressilabificação das consoantes que vai favorecê lo. No entanto, observaram se diferenças qualitativas nos três corpora, diferenças essas

114 114 que congregam, de um lado, a fala culta e a fala popular rural que favorecem a aplicação da regra quando há a possibilidade de formação de um ataque complexo na sílaba átona final, e, em oposição, a fala popular urbana, que favorece a ocorrência do processo quando a consoante da sílaba postônica não final pode se fixar na sílaba que se encontra tanto à sua esquerda quanto à sua direita Dimensão do Vocábulo A dimensão da palavra proparoxítona, medida em termos de número de sílabas, foi indicada como um dos condicionamentos atuantes no processo de apagamento da vogal no âmbito do corpus PEUL (apontado em quinto lugar). Parte se do princípio de que quanto maior o número de sílabas da palavra, maior a probabilidade de síncope. Pela tabela 21, pode se verificar que a hipótese se confirma para os dados da fala popular urbana, pois se observa que os vocábulos polissilábicos (.64) favorecem mais o apagamento do que os trissilábicos (.41). Tabela 21 Efeito da Atuação da Dimensão do Vocábulo no Apagamento da Vogal Postônica Não final: corpus PEUL PEUL APL/T P.R Três sílabas 112/859 = 13%.41 (óculos, médico) Quatro ou mais sílabas 80/458 = 17%.64 (característica, abóbora) Input:.04 Significance:.000 Embora a variável não tenha sido selecionada para a fala culta, os índices corroboram a tendência verificada no corpus PEUL, conforme a tabela 22.

115 115 Tabela 22 Índices Relativos à Variável Dimensão do vocábulo no Apagamento da Vogal (nível 1): corpus NURC NURC APL/T P.R Três sílabas 52/496 = 10% (.47) Quatro ou mais sílabas 43/320 = 13% (.54) Significance:.203 As proparoxítonas polissilábicas tendem a se reduzir mais do que as trissilábicas (respectivamente,.54 contra.47). Entretanto, a diferença entre os contextos não é significativa, o que fica transparente também pela alta significância da variável no nível 1. Assim, por mais que revelem uma convergência entre as normas urbanas, tais resultados devem ser relativizados. tabela abaixo. A mesma cautela deve ser tomada ao se observarem os dados da fala rural, na Tabela 23 Índices Relativos à Variável Dimensão do vocábulo no Apagamento da Vogal (nível 1): corpus APERJ APERJ APL/T P.R Três sílabas 96/619 = 15% (.50) Quatro ou mais sílabas 34/233 = 14% (.48) Significance:.742 Além da alta significância da rodada (.742) no nível 1, não há diferenças entre os contextos analisados: enquanto os vocábulos trissilábicos se comportam de maneira neutra diante da regra (.50), os polissilábicos não favorecem o apagamento (.48), o que invalida qualquer conclusão. Os resultados sociolinguísticos sugerem que, no caso da redução de sílabas, o ritmo pode estar atuando no apagamento de segmentos no interior de palavras proparoxítonas, hipótese que será testada por meio da análise acústica empreendida no capítulo 7.

116 Condicionamentos Sociais Faixa Etária A faixa etária é um dos parâmetros externos considerados decisivos no estudo de um fenômeno em variação, além de funcionar como indício para a depreensão da mudança linguística. Nesta Tese, utilizou se essa variável com o intuito de observar se a síncope em proparoxítonas se configuraria como um fenômeno de mudança em andamento ou um processo de variação estável. É evidente que tais questões só são seguramente respondidas em um estudo que conjugue a verificação em tempo real e o comportamento das variáveis através dos níveis de diferenciação etária. É evidente também que há hipóteses diferenciadas para a faixa etária em função do perfil sociolinguístico da comunidade investigada. Espera se que, entre os falantes cultos, representados na amostra NURC, a regra de apagamento da vogal postônica seja mais produtiva na fala dos indivíduos mais jovens; verificando se tendência oposta na fala dos demais indivíduos (amostras PEUL e APERJ). Como já se observou, nesta pesquisa, foram consideradas três faixas de idade: 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e mais de 56 anos. A variável foi selecionada como relevante para os corpora NURC (em segundo lugar ) e PEUL (em sétimo ). Os dados relativos ao APERJ também serão considerados em separado. Tabela 24 Efeito da Atuação da Faixa Etária no Apagamento da Vogal Postônica Nãofinal NURC PEUL APL/T P.R APL/T P.R Faixa 1 38/261 =.64 20/304 =.27 (18 a 35a) 14% 6% Faixa 2 27/183 =.57 80/528 =.50 (36 a 55a) 14% 15% Faixa 3 30/342 =.36 92/485 =.64 (mais de 56a) 8% 18% Input:.07 Input:.04 Significance:.000 Significance:.000

117 117 Com relação à atuação da variável, os resultados verificados no corpus NURC mostram correlações pertinentes à hipótese postulada para esse conjunto de dados: conforme o esperado, os falantes das faixas etárias mais jovens aplicam a regra de apagamento da vogal átona medial com mais frequência do que os da faixa etária mais alta. Os índices probabilísticos confirmam o decréscimo na aplicação da regra: os valores dos pesos relativos diminuem à medida que se avança pelas faixas etárias (.64,.57 e.36 para as faixas 1, 2 e 3, respectivamente). Tal tendência pode ser atribuída ao fato de os jovens cultos serem menos conservadores em relação aos usos padrão. No que se refere à amostra PEUL, os resultados expostos na tabela parecem indicar que os falantes mais velhos, com mais de 56 anos de idade, realizam muito mais formas sincopadas (.64) do que os falantes da faixa mais jovem. (.50 para faixa 2 e.27 para faixa 1). Percebe se, ainda, que a faixa mais jovem utiliza mais as formas padrão, o que pode ser indício de que o processo de regularização dos vocábulos proparoxítonos em paroxítonos é uma variável sem prestígio social nesse grupo. Não se deve descartar, ainda, a possibilidade de esse resultado ser reflexo de outros condicionamentos que não são facilmente traduzíveis em variáveis independentes, como as redes sociais a que pertencem os falantes, o acesso aos meios de comunicação, o grau de integração com a sociedade, a inserção do indivíduo no mercado de trabalho e o maior ou menor contato com as formas padrão. Os dados da fala rural expressos na tabela a seguir não parecem apontar correlações consistentes, tanto que a variável não foi considerada relevante em temos estatísticos. Os indivíduos das faixas mais velhas e mais jovens (cf. tabela 25) favorecem o apagamento (respectivamente.56 e.53), enquanto os da faixa intermediária tendem a

118 118 inibi lo (.42), embora com índices muito próximos não só entre si mas também ao ponto neutro. Tabela 25 Índices Referentes à Variável Faixa Etária (nível 1): corpus APERJ APERJ APL/T P.R Faixa 1 55/326 = 16% (.53) (18 a 35a) Faixa 2 36/314 = 11% (.42) (36 a 55a) Faixa 3 39/209 = 18% (.56) (mais de 56a) Significance: Gênero/Sexo do Informante Não há consenso na literatura sociolinguística quanto à influência do gênero/sexo do falante em fenômenos variáveis. Por um lado, há estudiosos (Cf. por exemplo, Chambers e Trudgill, 1980) que prevêem, em fenômenos de variação estável, serem os homens mais propensos à utilização da forma não padrão do que as mulheres. Uma segunda tendência (por exemplo, em Labov, 1972) prevê que, em situações de mudança linguística, as mulheres têm papel inovador, usando com maior frequência a forma inovadora. Os resultados expressos na tabela a seguir contrastam as tendências observadas na amostra PEUL 9, a única em que a variável foi estaticamente relevante (em último lugar). Tabela 26 Efeito do Gênero/Sexo do Informante no Cancelamento da Vogal Postônica Não Final corpus PEUL PEUL APL/T P.R Homens 113/658 = 17%.62 Mulheres 79/659 = 11%.37 Input:.04 Significance: Conforme já fora assinalado na descrição dos corpora utilizados na Tese, o banco de dados do APERJ é constituído somente por indivíduos do sexo masculino.

119 119 Pode se inferir que, no âmbito da fala popular urbana, estamos diante de uma variável sem prestígio social, porque, quando a variação não é um indício de um fenômeno de mudança em progresso, como mostram os resultados na perspectiva do tempo aparente, as mulheres tendem a utilizar as formas de prestígio muito mais do que os homens. Os resultados comprovam a primeira tendência com relação ao papel da variável gênero, descrito acima: os homens favorecem as formas com apagamento mais do que as mulheres (.62 e.37, respectivamente). (cf. tabela 27). Já os resultados para a fala culta não apresentam os mesmos direcionamentos Tabela 27 Índices Relativos à Variável Gênero do Informante (nível 1): corpus NURC NURC APL/T P.R Homens 67/602 11% (.48) Mulheres 28/214 = 13% (.53) Significance:.462 Notam se diferenças mínimas entre o comportamento de homens e mulheres, sendo que há um ligeiro favorecimento para a aplicação da regra na fala dos indivíduos do sexo feminino (.53). Todavia, os dois índices probabilísticos estão muito próximos ao ponto neutro, além de a significância da variável no primeiro nível da análise estatística estar alta (.462). Assim, os resultados para a influência do gênero para a ocorrência do apagamento não podem, no âmbito da variedade culta, ser tomados como conclusivos.

120 Escolaridade A escolaridade é um fator de ordem social que se mostra de grande relevância em fenômenos variáveis, uma vez que o esperado é que os falantes mais escolarizados mantenham os usos linguísticos valorizados socialmente, enquanto os menos escolarizados tendam a usar, com maior frequência, formas linguísticas que se afastam desse padrão. Com relação ao fenômeno aqui focalizado, esperava se uma correlação expressiva entre o grau de escolaridade do indivíduo e a aplicação da regra de apagamento. Dentre as amostras que serviram de base a este estudo, somente a do NURC apresenta um mesmo perfil de formação para todos os informantes, já que todos eles têm nível superior completo. As demais amostras permitem um controle da variável escolaridade. No entanto, tal variável se mostrou relevante somente no âmbito da amostra APERJ, representativa da fala rural e que congrega desde indivíduos analfabetos até os que possuem um grau mínimo de instrução (até a antiga quarta série). Os resultados, expressos na tabela 28, estão de acordo com o que era esperado para essa variável. Tabela 28 Efeito da Atuação do Condicionamento Escolaridade (corpus APERJ) Escolaridade APL/T P.R Analfabetos 75/323 = 23%.67 Alfabetizados 55/526 = 10%.38 Input:.07 Significance:.014 O apagamento da vogal postônica não final é mais produtivo na fala dos analfabetos do que na dos escolarizados (.67 contra.38). Tal resultado confirma a hipótese postulada, já que os falantes analfabetos, por não terem contato com a modalidade escrita, tendem a apresentar mais em sua fala as formas desprestigiadas

121 121 socialmente. Vale destacar ainda que o conjunto de palavras proparoxítonas que fazem parte do acervo lexical ativo dos falantes do português é muito restrito, uma vez que a maior parte delas constituem termos técnicos ou eruditos Perspectiva Geolinguística Para complementar a análise variacionista, recorreu se às dezoito cartas de proparoxítonas encontradas nos corpora AFeBG e MicroAFERJ, referentes aos vocábulos abóbora, árvore, cócegas, estômago, fósforo, lâmpada, máscara, médico, música, número, óculos, pérola, plástico, último, útero, vômito, fígado e sábado. Todavia, antes de se iniciar a discussão dos resultados observados nos atlas, fazem se pertinentes algumas observações acerca da importância de verificar a produtividade de fenômenos variáveis em corpora geolinguísticos. Brandão, Rocha e Santos (2011) tecem considerações importantes quanto à utilização de questionários em pesquisas que visam observar os usos linguísticos de uma comunidade. Para as autoras, em entrevistas sociolinguísticas, o intuito do pesquisador é sem comprometer a naturalidade da situação de comunicação propiciar a produção modos de organização discursiva que garantam a observação do comportamento linguístico do falante em uma situação de comunicação mais próxima à espontânea. Dessa forma destacam elas as entrevistas são direcionadas para relatos de experiência pessoal ou para debate de assuntos polêmicos, com a expectativa de que o informante se envolva mais com conteúdo a ser relatado/discutido do que com a própria situação de interação, o que propiciaria maior naturalidade e, consequentemente, o registro das formas por ele usadas no seu dia a dia.

122 122 Corpora organizados com o fim de mapeamento linguístico, contudo, são, em geral, produzidos a partir da aplicação de questionários, cuja finalidade básica é obter itens isolados, o que possibilita a comparação entre os dados. Dessa forma, a metodologia para a produção de dados implica, da parte do pesquisador, a seleção de itens lexicais que garantam a realização de determinados fenômenos. Tal método, entretanto, pode a depender do recorte utilizado acarretar a maior ou menor frequência das variantes. Os questionários permitem, ainda, ao informante a monitoração de sua fala, o que pode levá lo a usar/evitar formas que valorize como positivas/negativas. Nos dois atlas foi utilizado um mesmo questionário, o que permite uma comparação de caráter homogêneo. De um modo geral, os resultados foram convergentes quanto ao apagamento da vogal postônica medial (cf, tabela 29). Tabela 29 Índices gerais de apagamento da vogal postônica não final nos corpora AFeBG e MicroAFERJ Corpora APL/T MicroAFERJ 118/393 = 30% AFeBG 323/1230 = 26% Por se tratar de uma situação de maior monitoração estilística, pois o informante tem consciência de que está sob observação, esperava se um índice menor de apagamento da vogal, em contraste com os resultados verificados para os inquéritos do tipo DID. Os índices gerais não confirmam a hipótese, já que em ambos os atlas as taxas de apagamento são superiores às verificadas nas amostras utilizadas na análise variacionista. Uma observação de cada item lexical que constitui as cartas fonéticas aqui consideradas aponta taxas diferenciadas de apagamento, resultados aparentemente

123 123 condicionados pela estrutura fonotática do item proparoxítono analisado. A tabela 30 mostra o comportamento de cada palavra proparoxítona que constitui os corpora. Tabela 30 Índices de apagamento da vogal postônica não final referentes às dezoito palavras dos corpora geolinguísticos Item Lexical AFeBG MicroAFERJ APL/T APL/T abóbora 14/23 = 60% 29/71 = 40% árvore 7/19 = 36% 23/72 = 31% cócegas 17/21 = 80% 40/64 = 62% estômago 8/23 = 34% 20/69 = 28% fósforo 14/24 = 58% 35/72 = 48% lâmpada 2/24 = 8% 7/71 = 9% máscara 11/24 = 45% 31/72 = 43% médico 0/24 = 0% 4/72 = 5% música 4/21 = 19% 8/72 = 11% número 2/23 = 8% 1/61 = 1% óculos 16/24 = 66% 35/71 = 49% pérola 7/17 = 41% 30/65 = 46% plástico 6/23 = 26% 9/71 = 12% último 1/24 = 4% 10/72 = 13% útero 6/20 = 30% 24/68 = 35% vômito 0/14 = 0% 1/44 = 2% fígado 3/23 = 13% 10/71 = 14% sábado 0/24 = 0% 6/72 = 8% Para os dados do AFeBG, chamam a atenção os índices percentuais de apagamento referentes aos itens lexicais óculos (66%) abóbora (60%), fósforo (58%) três vocábulos que apresentam o contexto apontado como altamente favorecedor do apagamento nas análises variacionistas: onset da sílaba postônica não final preenchido por uma consoante obstruinte e o onset da sílaba átona final preenchido por uma líquida. A queda da vogal implica uma sílaba átona final formada por ataque complexo: [ klu ], [a b bɾa] e [ f fɾu]. Todavia, o resultado mais significativo nos dados do AFeBG se verifica em um item lexical em que o apagamento da vogal leva a consoante que a acompanha a se anexar à coda da sílaba tônica: a palavra cócegas, neste conjunto de dados, apresenta um índice de apagamento de 80%, sendo mais comum a

124 124 realização desse item lexical como [ k k ]. A palavra música, que apresenta o mesmo contexto fonético adjacente à vogal (consoante precedente alveolar, consoante seguinte velar), não exibe altas taxas de aplicação da regra (19%). Nos dados do MicroAFERJ, observa se uma regularidade maior no apagamento: não há nenhum item lexical que destoe consideravelmente dos demais, à exceção de cócegas que, também nesse corpus, apresentou um índice de apagamento superior aos dos demais itens lexicais (62%). Uma observação mais detalhada acerca das palavras proparoxítonas permite a separação dos dezoito vocábulos em três grupos, consoante o tipo de ressilabificação resultante da queda da vogal. Os itens foram redistribuídos na tabela abaixo tendo em vista a forma resultante da aplicação da regra. Tabela 31 Resultado do apagamento da vogal RESULTADO DO APAGAMENTO DA VOGAL FORMAÇÃO DE ONSET COMPLEXO PREENCHIMENTO DA CODA DA NA SÍLABA ÁTONA SUBSEQUENTE SÍLABA TÔNICA AFEBG ITEM LEXICAL abóbora 14/23 = 60% árvore 7/19 = 36% fósforo 14/24 = 58% máscara 11/24 = 45% óculos 11/24 = 45% útero 11/24 = 45% APAGAMENTO TAMBÉM DE UMA DAS CONSOANTES ADJACENTES MICRO AFEBG MICRO AFEBG MICRO AFERJ ITEM AFERJ ITEM AFERJ APL/T APL/T LEXICAL APL/T APL/T LEXICAL APL/T APL/T 29/71 = cócegas 17/21 = 40/64 = estômago 8/23 = 20/69 = 40% 80% 62% 34% 28% 23/72 = música 4/21 = 8/72 = fígado 3/23 = 10/71 = 31% 19% 11% 13% 14% 35/72 = número 2/23 = 1/61 = 1% lâmpada 2/24 = 7/71 = 48% 8% 8% 9% 31/72 = pérola 7/17 = 30/65 = médico 0/24 = 4/72 = 43% 41% 46% 0% 5% 31/72 = vômito 0/14 = 1/44 = 2% plástico 6/23 = 9/71 = 43% 0% 26% 12% 31/72 = último 1/24 = 10/72 = 43% 4% 13% sábado 0/24 = 0% 6/72 = 8%

125 125 A distribuição dos itens de acordo com o tipo de ressilabificação da consoante adjacente à vogal reforça a tendência verificada nas análises sociolinguísticas. Observase, nos dois atlas, índices altos de apagamento em contextos que favorecem a criação de ataques complexos na sílaba final. Os resultados podem sugerir que tal processo de ressilabificação é o mais natural, menos sujeito a estigma, por isso mais frequente. Contextos em que a consoante precedente se fixa no final da sílaba tônica exceção dos vocábulos cócegas e pérola oferecem resistência, assim como os que levam ao apagamento de uma das consoantes adjacentes seja a precedente (plástico [ pla ku], médico [m ku]), seja a seguinte (fígado [ figu], lâmpada [lãp ], sábado [ sabu]). Esses contextos podem resistir ao apagamento por produzirem formas estigmatizadas socialmente. Estando o indivíduo em uma situação discursiva relativamente monitorada, tenderá a evitar formas cujo valor seja negativo em termos de prestígio O Português Europeu Discussões Preliminares Pesquisadores brasileiros que pretendiam realizar uma análise sociolinguística contrastiva entre as variedades brasileira e europeia esbarravam em um sério entrave: dada a pouca tradição de estudos variacionistas no âmbito do português europeu, não havia até há pouco tempo um banco de dados organizado segundo os critérios estabelecidos por essa linha de investigação. Os trabalhos que visavam a uma abordagem comparativa entre as variedades do português se valiam de duas vias: ou se pautavam em corpora elaborados única e exclusivamente para a pesquisa em questão ou se valiam de registros sejam sonoros

126 126 ou escritos realizados para outros fins, e aproveitados para as considerações acerca da realidade (sócio)linguística do português europeu. Os estudos comparativos entre as variedades do português ganharam um novo fôlego quando pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa se reuniram para elaborar uma amostra sociolinguisticamente organizada para dar conta dos padrões variáveis observáveis no PB e no PE. Originalmente concebida dentro de um projeto binacional que se propunha a investigar o fenômeno da concordância em português, o banco de dados dado o rigor na seleção dos informantes e na organização do corpus está sendo utilizado para análise de fenômenos variáveis em outros níveis. Nesta Tese, recorreu se a esse banco de dados por ele permitir um controle rígido das variáveis sociais uma vez que é composto por informantes homens e mulheres, distribuídos por três faixas etárias e três níveis de escolaridade. Entretanto para o fenômeno em foco as variáveis sociais não se mostraram relevantes. Os resultados apresentados a seguir mostram que, no âmbito do PE, condicionamentos exclusivamente fonéticos, ligados à estruturação silábica e à dimensão da palavra proparoxítona, são atuantes no apagamento da vogal. O fato mais saliente em relação à produtividade do processo na variedade europeia está associado ao input de aplicação da regra. Na tabela a seguir em que se registram os condicionamentos para a ocorrência do fenômeno no âmbito do PE observa se que a probabilidade de apagamento nesta variedade é consideravelmente maior (.56) do que no PB, conforme registrado na tabela 6.

127 127 Tabela 32 Variáveis Atuantes para o Apagamento da Vogal Postônica Não Final: Português Europeu Modo de Articulação da Consoante Precedente Variáveis Selecionadas Modo de Articulação da Consoante Seguinte Dimensão do Vocábulo Aplicação 167/328 = 49% Input da Regra Inicial.49 Seleção.56 Significância.015 De alguma forma, tal resultado já era esperado e está diretamente associado à constituição da sílaba. No capítulo 4, foram apresentadas as considerações de Mateus e d Andrade (2000) e Mateus et. al. (2003) para a interpretação dos processos de estruturação silábica em português. Todos esses autores afirmam que a sílaba é um constituinte que se compõe obrigatoriamente de ataque e rima, podendo um deles (mas não ambos) ser vazio. Caso uma dessas posições não esteja preenchida, há reflexos no nível fonético. No âmbito do português europeu, são permitidas estruturas silábicas com núcleo não preenchido foneticamente, seja por não estar associado a nenhum segmento vocálico ([ ]cola, [ ]magar), seja por cancelamento da vogal subjacente ([pøk]eno, [dʃpɾ]gar).no português brasileiro verifica se tendência oposta. Assim compreende se o motivo pelo qual na variedade européia o apagamento de vogais átonas é licenciado com produtividade significativa. Todavia, apesar da validade das afirmações, os exemplos dos autores consideram sempre o contexto pretônico, carecendo o contexto átono não final de uma descrição que contemple suas particularidades. Outra evidência para a compreensão do fenômeno no âmbito do PE está relacionada à interação entre os condicionamentos atuantes para a sua ocorrência. Os resultados verificados para o PB mostram interação entre variáveis linguísticas e

128 128 sociais: a regra de apagamento é um processo de baixo prestigio, condicionada por fatores não só sistêmicos, mas também extralinguísticos. Já os dados relativos ao PE não apresentam tal interação. A análise estatística apontou como relevantes somente fatores linguísticos, ligados à natureza do contexto fonético adjacente à vogal e à dimensão da palavra proparoxítona (cf. tabela 32). Os resultados, apresentados a seguir, mostram a relevância da natureza das consoantes que estão nas adjacências da vogal para a aplicação da regra de apagamento Condicionamentos Selecionados Modo de Articulação da Consoante Precedente à Vogal A hipótese de que consoantes que podem ser ressilabificadas quando ocorre a queda da vogal postônica não final tendem a favorecer o apagamento também se confirma para os dados da variedade européia. Os índices expressos na tabela 33 refletem a tendência observada em todas as variedades analisadas em seções anteriores: a presença de consoantes oclusivas e fricativas no onset da sílaba postônica não final tende a favorecer o apagamento da vogal átona medial (.58). As consoantes nasais e líquidas atuam como bloqueadoras da regra (.25 e.18, respectivamente). Tabela 33 Efeito do Modo de Articulação da Consoante Precedente Modo de articulação APL/T P.R Oclusivas e Fricativas 140/212 =.58 (hábito, semáforo, séculos) 66% Nasais 15/43 =.18 (número) 34% Laterais e Vibrantes (psicólogo) 4/13 = 30%.25 Input:.56 Significance:.015

129 129 Uma evidência adicional para o papel do contexto precedente para a aplicação da regra de apagamento advém do controle dos pontos de articulação da consoante precedente. Apesar de o resultado para modo de articulação ter revelado serem as oclusivas e fricativas que mais favorecem o apagamento, buscou se, com essa variável, observar que consoante atuaria de forma mais significativa. A variável, ainda que não tenha sido apontada como relevante em termos estatísticos, enseja correlações pertinentes. Tabela 34 Índices Relativos à Variável Ponto de articulação da Consoante Precedente (nível 1) Labial (época) Alveolar (trânsito) Palatal (tínhamos) Velar (óculos, ângulo) APL/T P.R 45/70 = 64% (.55) 101/178 = 56% (.47) 4/8 = 50% (.40) 9/12 = 75% (.67) Significance:.005 Os resultados expressos na tabela 34 corroboram as tendências apontadas para o papel do contexto precedente: são as consoantes que podem ser ressilabificadas em direção ao onset da sílaba átona final as que mais favorecem o processo de apagamento da vogal: as velares (.67), seguida das labiais (.55). Alveolares e palatais parecem não atuar de forma significativa (.47 e.40, respectivamente). O cruzamento entre as variáveis ponto e modo de articulação da consoante precedente permite visualizar quais são as consoantes que nos dados do PE atuam a favor da aplicação da regra.

130 130 Tabela 35 Cruzamento Modo x Ponto de Articulação da Consoante precedente MODO DE ARTICULAÇÃO PONTO DE ARTICULAÇÃO EXEMPLO APL/T Oclusiva + Fricativa rápido 38/53 = 72% Liquida Labial Nasal econômico 7/17 = 41% Oclusiva + Fricativa matemática 93/147 = 63% Liquida Alveolar espírito 4/13 = 31% Nasal únicas 4/18 = 22% Oclusiva + Fricativa ridículo 8/10 = 80% Nasal Velar mecânico 1 /2 = 50% Oclusiva + Fricativa rígida 1/2 = 50% Nasal Palatal tínhamos 3/6 = 50% Consoantes oclusivas e fricativas, que se ressilabificam para a direita, formam o contexto favorecedor à ocorrência do apagamento no PE, refletindo a tendência histórica que persiste desde o latim, também verificada para os dados do PB (notadamente nas variedades culta e rural). A diferença entre o PB e o PE reside na taxa de aplicação da regra: enquanto na variedade europeia o fenômeno é produtivo e não associado a condicionamentos sociais, no PB ainda há resistência, pois o português brasileiro conserva uma tendência a preservar as vogais átonas; já o português europeu tende a apagá las, tanto no contexto postônico quanto no pretônico. A tendência ao apagamento se confirma, ainda, ao observarmos os resultados para a segunda variável apontada como relevante na análise multivariada do PE Modo de Articulação da Consoante Seguinte à Vogal Os resultados para esse condicionamento, aliados aos verificados para o primeiro selecionado pela análise estatística, mostram que, também na variedade européia, o apagamento da vogal é licenciado por pressões fonotáticas. Na tabela 36,

131 131 fica evidente que, mesmo no português europeu apesar de diversos estudos já citados comprovarem que a estruturação silábica dessa variedade destoa em muito da verificada para o português brasileiro a presença de consoantes líquidas no onset da sílaba átona final favorece o apagamento do núcleo da sílaba postônica medial. Todavia, dentre as líquidas, a vibrante favorece mais fortemente o processo (.94) do que a lateral (.76). As nasais em ataque da sílaba átona final ainda que de forma menos contundente também favorecem o apagamento da vogal postônica não final (.58), enquanto consoantes oclusivas e fricativas inibem o processo. Tabela 36 Efeito do Modo de Articulação da Consoante Seguinte Modo de articulação APL/T P.R Oclusivas e Fricativas 96/220 =.41 (época) 43% Nasais 47/84 =.58 (mínimo) 55% Laterais 9/11 =81%.76 (século) Vibrantes (Évora) 9/12 = 75%.94 Input:.56 Significance:.015 O controle do ponto de articulação da consoante seguinte também evidencia a tendência à formação de ataques complexos no onset da sílaba átona final. Ainda que o condicionamento não tenha sido considerado estatisticamente relevante, os resultados vêm a confirmar a tendência delineada para a atuação do modo de articulação da consoante seguinte.

132 132 Tabela 37 Índices Relativos à Variável Ponto de Articulação da Consoante Seguinte (nível 1) APL/T P.R Labial 47/83 = 56% (.57) Alveolar 40/64 = 62% (.63) Velar 74/180 = 41% (.41) Significance:.006 Os resultados, expressos na tabela 37, mostram que são as consoantes alveolares no onset da sílaba átona final os constituintes que atuam mais fortemente na regra de apagamento da vogal (.63). As labiais configuram o segundo contexto de favorecimento (.57), enquanto as velares inibem a aplicação da regra (.41). Tal resultado está de acordo com a hipótese postulada, uma vez que o ponto de articulação alveolar congrega, entre outras, as consoantes [l] e [ɾ], os dois únicos segmentos que podem se posicionar na segunda posição do ataque ramificado. A tendência fica evidente quando se cruzam as variáveis ponto e modo de articulação da consoante seguinte. Tabela 38 Cruzamento Ponto e Modo de Articulação da Consoante Seguinte PONTO DE ARTICULAÇÃO MODO DE ARTICULAÇÃO EXEMPLO APL/T Labial Nasal mínimo 47/83 = 57% Alveolar Oclusiva + Fricativa hipótese 22/40 = 55% Nasal máquina 0/1 = 0% Lateral ridículo 9/11= 82% Vibrante câmara 9/12 = 75% Velar Oclusiva + Fricativa fotográfico 74/180 = 41% Ficam evidentes (cf. tabela 38) as motivações para o favorecimento do ponto de articulação seguinte alveolar, sobretudo quando se verificam as relações entre

133 133 ponto e modo de articulação: as alveolares líquidas nos dados do PE constituem o ambiente fonético seguinte mais produtivo para o apagamento da vogal. Os resultados referentes à atuação do ponto de articulação da consoante seguinte, associados aos índices relativos à atuação do ponto de articulação da consoante precedente, corroboram a ocorrência de um princípio uniforme atuando no processo de apagamento da vogal postônica não final, princípio esse que não é novo, mas historicamente presente em português. A correlação entre os contextos precedente e seguinte elucida a questão. Tabela 39 Cruzamento: Modo de Articulação da Consoante Precedente x Modo de Articulação da Consoante Seguinte MODO DE MODO DE EXEMPLO APL/T ARTICULAÇÃO PRECEDENTE ARTICULAÇÃO SEGUINTE Oclusiva + Fricativa abóbada 90/145 = 62% Nasal ótimo 40/46 = 71% Oclusiva + Fricativa Lateral círculo 8/9 = 89% Vibrante semáforo 2/2 = 100% Nasal Vibrantes e Laterais Oclusiva + Fricativa única 3/20 = 15% Nasal mínimo 4/11 = 36% Lateral estímulo 1/2 = 50% Vibrante número 7/10 = 70% Oclusiva + Fricativa Hipólito 3/8 = 38% Nasal facílimo 1/5 = 20% Lateral Vibrante As tendências delineadas na tabela 39 deixam evidentes o papel dos contextos adjacentes precedente e subsequente no processo de apagamento da vogal. As altas taxas de apagamento nos contextos em que o cancelamento leva à ressilabificação à direita parecem reproduzir um processo histórico e ainda bastante atuante. Entretanto, vale destacar também que a correlação entre as consoantes precedente e subsequente revela a produtividade do apagamento mesmo em contextos em que as

134 134 consoantes não estão, fonologicamente, licenciadas para formar um ataque ramificado (estruturas formadas por duas obstruintes não nasais por exemplo, abóbada [ b bd ], política [pu lítk ], e obstruinte não nasal e consoante nasal estávamos [ tavmu ) formas possíveis no nível fonético na variedade europeia Dimensão do vocábulo A terceira e última variável selecionada pelo programa estatístico para os dados do português europeu é a dimensão da proparoxítona. A tabela a seguir expõe os índices obtidos. Tabela 40 Efeito da Dimensão do Vocábulo Proparoxítono Dimensão do vocábulo APL/T P.R Trés sílabas 85/202 =.44 (óculos) 42% Quatro ou mais sílabas (específico) 76/126 = 60%.58 Input:.56 Significance:.015 Os resultados expressos acima refletem a hipótese postulada: palavras proparoxítonas polissilábicas reduzem se com maior frequência do que as proparoxítonas trissilábicas. O apagamento é mais produtivo em proparoxítonas com quatro ou mais sílabas (.58) do que nas trissilábicas (.44), tendência semelhante à verificada para os dados da fala popular urbana do português brasileiro Reflexões sobre os resultados A análise variacionista apontou que, de forma geral, os contextos fonéticos adjacentes à vogal postônica não final constituem fortes condicionamentos para a

135 135 aplicação da regra de cancelamento da vogal. Contudo, as análises evidenciaram diferenças quantitativas consideráveis, sobretudo quando se comparam os inputs de aplicação da regra na variedade brasileira e na europeia. É notória a maior produtividade do fenômeno quando se confrontam as duas variedades. No âmbito do português brasileiro, os índices gerais de aplicação da regra são relativamente próximos (inputs.07 para o NURC,.04 para o PEUL e.07 para o APERJ conforme evidenciado na tabela 7), e revelam uma baixa ocorrência do processo. Uma possível justificativa para o comportamento da variedade brasileira pode estar vinculada ao fato de, nos contextos átonos do PB, ser mais produtiva a regra de alteamento, conforme salientam diversos estudos (Camara Jr, 1979; Wetzels, 1992; Bisol, 2003; Bisol e Magalhães, 2004; Santos, 2010). Isto leva a associar os processos de apagamento ao de alteamento: no PB, o apagamento em contexto postônico não final talvez seja pouco produtivo porque se observa variação na realização das vogais médias e altas nos contextos átonos. No PE, o processo de alteamento, em contexto pretônico, se generalizou durante a primeira metade do século XVIII, constituindo uma mudança paradigmática, fonológica (não conficionada) (Castro, 1991,259). Sincronicamente, em contexto postônico não final, só se observam, como mostram Mateus e d Andrade as vogais [ ], [ɨ ] e [u], todas realizações altas. Enquanto, no PB, se mantém um quadro de variação estável nos contextos átonos, no PE, parece estar havendo uma tendência ao apagamento, conforme já se salientou no item dedicado à constituição da sílaba. Assim, o apagamento da vogal postônica não final no PE, por ser significativamente frequente (input.56) e corresponder a um processo que não se restringe a essa posição, atingindo outros contextos átonos, não seria marcado

136 136 socialmente. No PB, o cancelamento, que eventualmente também ocorre em posição pretônica (beringela bringela) parece ser objeto de valoração social: a tendência à preservação das vogais átonas implicaria uma valoração negativa das formas com o cancelamento da vogal. Os resultados das análises aqui realizadas, de certa forma, refletem esse quadro: na análise referente ao PE, não houve interação, só variáveis estruturais se mostraram salientes; nas referentes ao PB, pelo menos uma variável social foi selecionada (corpus NURC: faixa etária; corpus PEUL: gênero e faixa etária; corpus APERJ: escolaridade). Embora as diferenças entre as duas variedades no que tange à produtividade do cancelamento da vogal e à interação entre os condicionamentos linguísticos e os sociais sejam marcantes, observam se convergências entre o PB e o PE no âmbito da atuação das variáveis linguísticas que controlam os contextos fonéticos adjacentes à vogal. No intuito de expor de forma sintética e clara essas convergências, elaboraramse gráficos referentes às variáveis modo e ponto de articulação, em que se comparam o PE e as variedades brasileiras aqui focalizadas (amostras NURC, PEUL e APERJ). Optou se por apresentar as variáveis independentemente de sua ordem de seleção e por registrar os resultados por meio de índices percentuais, tendo em vista que as análises multivariadas não indicaram como estatisticamente relevantes os mesmos condicionamentos em todos os corpora analisados. Ao se confrontarem os índices relacionados ao modo de articulação da consoante precedente, nota se que os resultados verificados para o NURC, o APERJ e os dados do PE são convergentes: nas três amostras, as consoantes oclusivas e fricativas são as mais salientes para a ocorrência do fenômeno (respectivamente, 13%,

137 137 18% e 66%); já os dados do PEUL revelam uma hierarquia diferente, uma vez que o modo de articulação precedente que favorece a aplicação da regra é o nasal (24%). Com relação aos contextos pouco produtivos, a tendência é uniforme para as amostras analisadas: as consoantes líquidas atuam como inibidoras do processo. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 18% 13% 13% Gráfico 1 Modo de articulação da consoante precedente: comparação entre as amostras 66% Oclusivas e Fricativas 9% 24% 3% 34% 30% 30% 0 1% 0 0 2% 0 Nasais Lateral Vibrante NURC PEUL APERJ PE Tendo em vista que o contexto precedente foi investigado quanto ao modo e ponto de articulação da consoante, o gráfico 2, a seguir em que são dispostos os resultados para os quatro corpora em termos da atuação do ponto de articulação da consoante precedente vem confirmar as tendências expostas no gráfico acima.

138 % 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Gráfico 2 Ponto de articulação da consoante precedente: comparação entre as amostras 64% 56% 21% 20% 15% 9% 11% 8% 7% 3% 5% 50% 41% 34% Labial Alveolar Palatal Velar 11% 75% NURC PEUL APERJ PE Observa se que dentre as oclusivas e fricativas as consoantes velares atuam significativamente tanto nos dados da fala culta do PB quanto nos dados do PE (respectivamente 41% e 75%). Nos dados do NURC nota se que os demais contextos são menos produtivos. Nos dados da fala rural do PB, as obstruintes labiais constituem os contextos precedentes mais produtivos para o apagamento (21%), enquanto as demais consoantes o desfavorecem. Já as tendências verificadas para a fala popular urbana revelam que, levando em conta os pesos relativos, são as alveolares que favorecem a ocorrência do fenômeno, tendo em vista que elas congregam consoantes que podem se ressilabificar tanto à esquerda quanto à direita, em termos absolutos, também as consoantes velares se mostraram relevantes para o apagamento da vogal (34%). A comparação dos resultados do efeito do modo de articulação da consoante seguinte único condicionamento comum aos quatro corpora permite inferir regularidades que atuam independentemente da variedade considerada. O gráfico abaixo mostra que a presença de uma líquida é o fator mais relevante para a

139 139 ocorrência do processo. Nos corpora NURC, PEUL e no PE, a consoante lateral tem produtividade muito superior em relação ao papel desempenhado pelas demais (respectivamente 61%, 56% e 81%); no APERJ, os índices mais altos são observados para a vibrante (30%). As demais consoantes controladas, em todas as amostras analisadas, não atuam da mesma forma que as líquidas. 90% 80% Gráfico 3 Modo de Articulação da consoante seguinte: comparação entre as amostras 81% 75% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 12% 8% 4% Oclusivas e Fricativas 43% 61% 55% 56% 30% 22% 21% 15% 15% 8% 1% Nasais Lateral Vibrante NURC PEUL APERJ PE Se comparados os resultados acima aos obtidos para o ponto de articulação da consoante seguinte (cf. gráfico 4), o papel das consoantes líquidas se confirma, tendência já reveladas nas tabelas 18, 20 e 38, em que se verifica o cruzamento entre as variáveis ponto de articulação da consoante precedente e ponto de articulação da consoante subsequente no NURC, APERJ e PE, respectivamente. O gráfico deixa transparecer uma convergência entre os corpora analisados: o ponto de articulação alveolar é o contexto seguinte mais produtivo para aplicação da regra de apagamento, sobretudo nos corpora NURC (24%) e APERJ (19%).

140 140 Os dados do PEUL mostram, do ponto de vista percentual, que as consoantes seguintes de articulação alveolar são as mais produtivas para o apagamento (25%), vindo as labiais logo em seguida (24%). Entretanto, a análise multivariada mostrou que as consoantes labiais constituem o ponto de articulação subsequente de peso relativo mais alto (.85, conforme a tabela 15). Essa tendência é pertinente desde que haja no onset da sílaba átona não final uma consoante que se ressilabifique à esquerda, em direção à coda da sílaba tônica. O cruzamento entre as variáveis ponto de articulação da consoante precedente e ponto de articulação da consoante seguinte mostrou essa relação, conforme expresso na tabela 16: a relação ponto precedente alveolar/ponto seguinte labial apresenta grande produtividade de apagamento na Amostra Censo. Os dados do PE mostram as alveolares como o ponto de articulação subsequente que mais favorece a queda da vogal (62%), seguidas das consoantes labiais (56%) 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 10% Gráfico 4 Ponto de articulação da consoante seguinte: comparação entre as amostras 24% 24% 25% 19% 1% 56% 62% 4% 2% 14% Labiais Alveolares Velares 41% NURC PEUL APERJ PE

141 141 Em síntese, os resultados apontaram que o cancelamento da vogal, no PB e no PE, é condicionado, entre outras, por razões fonotáticas, ligadas à estruturação silábica resultante do processo de síncope da postônica medial. Eles permitem, ainda, formular a hipótese de que a diferença entre as duas variedades explicitada na significativa distância entre os inputs de aplicação da regra poderia assentar não só no divergente comportamento de seu vocalismo átono, mas também em estruturas silábicas que, no plano fonético, ocorreriam no PB, mas não no PE.

142 O ENFOQUE ACÚSTICO 7.1. Fundamentação Teórica Há muito na literatura linguística, a noção de acento está intimamente associada ao conceito de proeminência. Entretanto, por mais que não haja dúvidas de que a sílaba tônica de um vocábulo é aquela com um maior relevo perceptivo, não há consenso, entre os teóricos, sobre em que bases está assentada essa percepção de proeminência. Em outros termos, não há acordo sobre quais parâmetros físicos são decisivos para a marcação do acento. É de se esperar que, em uma perspectiva translinguística, haja variação na hierarquia dos parâmetros caracterizadores do acento. Aqui, com base em uma revisão na literatura, buscam se evidências para a caracterização do acento na língua portuguesa, sem desconsiderar as diferenças perceptíveis entre as variedades brasileira e europeia. Estudos dedicados à atualização fonética do acento em português não datam de hoje, ainda que estejam baseados em evidências diacrônicas, ou também em abordagens puramente impressionísticas. A título de ilustração, Silva Neto (1970), destaca que, ao longo da evolução do latim vulgar, o acento musical torna se intensivo, o que acarreta, por um lado, o alongamento da sílaba tônica e, por outro, a supressão de segmentos átonos. O autor conclui (p. 163) que a mudança na caracterização do acento promove uma subversão na quantidade silábica. A noção mais difundida sobre o acento em português repousa justamente na associação entre acento e intensidade. Alguns trabalhos chegam até a defini lo como um acento intensivo. No entanto, a determinação de quais elementos físicos corresponderiam à intensidade não é de forma alguma precisa. Nogueira (1938, 292)

143 143 aponta o quão impreciso é o termo, fazendo referência ao grande número de expressões que são lhe são tomadas como sinônimas: (...) os foneticistas não são uniformes no emprego dessas designações, e, a par delas, empregam outras como acento dinâmico, acento de força, acento expiratório, acento articulatório, acento de sonoridade, acento predominante e acento tônico, em vez de acento de intensidade, acento melódico, acento cromático, tom, em vez de acento de altura; etc. A própria designação acento de intensidade, que devia ser aplicada para indicar a musicalidade de qualquer sílaba de uma palavra, resultante da intensidade com que se profere essa sílaba, é geralmente empregada para designar apenas a sílaba tônica, ou seja como sinônimo de acento tônico ou predominante. A despeito da profusão de termos para definir a natureza do acento em português e a correlação muito frequente entre acento e intensidade, Nogueira (op. cit, 291 2) elabora sua definição tomando em consideração os outros correlatos acústicos, associando os na manifestação da proeminência de uma sílaba sobre as demais. A palavra acento, (...), designa pròpriamente a musicalidade da linguagem. Essa musicalidade, que pode ser considerada vocabularmente e fràsicamente, resulta ou da intensidade com que se proferem as sílabas, ou da altura com que modula a voz, ou da duração que se emprega na pronúncia das sílabas, ou do modo como se articulam os fonemas, ou do timbre com que se produzem os fonemas, ou do ritmo com que se cadencia a dicção. Por isso, encontram se nos tratados de fonética designações como estas: acento de intensidade, acento de altura, acento de duração, acento de articulação, acento de timbre, acento de ritmo. Lacerda (1941/1947, 142), com base em trabalhos experimentais sobre aspectos prosódicos do português, é enfático ao afirmar que o correlato acústico do acento vocabular em português é a duração: importa fixar: a característica essencial da acentuação vocabular, é a maior duração da sílaba acentuada. Camara Jr. (1977) observa que o acento que possui valor fonêmico, por ser capaz de distinguir significado é marcado por uma alteração na intensidade ou na

144 144 duração com que a emissão de uma sílaba se opõe às que lhe ficam contíguas na enunciação. Em Para o estudo da fonêmica portuguesa, Camara Jr. (2008, 47) propõe ainda uma escala de gradação de atonicidade identificada pelo autor como graus de atonicidade variável. A escala é composta por três níveis: (i) atonicidade MÁXIMA sílabas átonas finais, terminadas por vogal ou por /S/; (ii) atonicidade MÉDIA pretônicas não iniciais ou iniciais começadas por vogal; (iii) atonicidade MÍNIMA pretônicas iniciadas por consoantes. Tais padrões foram estabelecidos considerando como default o acento paroxítono, apontado pelo autor como o mais produtivo na língua. No caso das palavras proparoxítonas, o autor destaca que as duas sílabas postônicas são igualmente débeis, com grau máximo de atonicidade, isto é, as duas são igualmente fracas do ponto de vista da produção. Com o desenvolvimento das técnicas instrumentais em Fonética, a preocupação com a caracterização física do acento ganha outras proporções, uma vez que surge a possibilidade de comprovação empírica dos processos que, até então, eram descritos sob o ponto de vista da impressão. Os primeiros trabalhos, feitos com base na descrição do inglês (Fry, 1958; Lieberman, 1960), mostram que, em inglês, os três parâmetros prosódicos duração, frequência fundamental e intensidade atuam em conjunto na marcação da proeminência da sílaba tônica em contraste com a(s) sílaba(s) átona(s). Isto significa que, do ponto de vista físico, a sílaba tônica seria mais longa, teria uma amplitude maior e um valor de F0 mais elevado, se comparadas às sílabas átonas de um mesmo vocábulo (Lehiste, 1970).

145 145 Com relação especificamente a dados do português, o conjunto de estudos realizados sobre o tema não apresenta uma uniformidade no tratamento da interação entre os parâmetros acústicos na caracterização do acento. Delgado Martins (1977) observa que os correlatos acústicos para o acento no português europeu são a duração e a energia (que corresponde à integração das variações da intensidade na dimensão temporal) nas oxítonas e proparoxítonas; nas paroxítonas (o padrão acentual não marcado), não há marcas acústicas que correspondam à acentuação 1. Entretanto, sua caracterização é problemática por lançar mão a um recurso extra o conceito de energia para a definição do acento. Além do suporte instrumental, a autora empreende análises perceptivas para verificar de que maneira os sujeitos percebem o acento no âmbito lexical. Seus experimentos apontam que os sujeitos não são capazes de perceber diferenças na acentuação quando são manipulados parâmetros isolados, sejam na vogal, sejam na consoante que constituem a sílaba. Todavia, os sujeitos percebem nitidamente o acento quando são manipulados os parâmetros no nível da sílaba, sobretudo a duração e a energia. Assim, como percebeu Massini (1991, 16), há uma contradição nas considerações de Delgado Martins, já que a autora insiste em considerar que a acentuação é marcada por um aumento na duração e na energia da vogal, enquanto 1 Em outro trabalho (1982, 186), a autora coloca suas observações nos seguintes termos: As vogais normalmente acentuadas em português, vogais da penúltima sílaba, não são marcadas por um índice específico. As outras vogais acentuadas, da antepenúltima e da última sílaba, são marcadas por uma variação regular um aumento da duração e da energia. Le voyelles normalement accentuées em portugais, voyelles de l avant dernière syllabe, ne sont marquées par acun índice spécifique. Le autres voyelles acentuées, donc dans l antepenultieme et la dernière syllabe, sont marquées par une variation regulière une augmentation de la durée et de l énergie

146 146 os resultados dos testes de percepção comprovam que os parâmetros acústicos considerados afetam a sílaba como um todo. Fernandes (1976) a partir da investigação em vocábulos inseridos em enunciados assertivos dos correlatos acústicos da acentuação na variedade do português falada em São Paulo, aponta que as marcas do acento são, em ordem decrescente de atuação, a duração, a frequência e, por fim, a intensidade. Major (1985, 261) considera que, no português brasileiro, o principal correlato acústico do acento é a duração. Através de uma série de experimentos, realizados a partir da fala de três informantes provenientes de regiões geográficas distintas (Bahia, Minas Gerais e Paraná), o autor conclui que os parâmetros frequência fundamental e intensidade não são correlatos consistentes do acento, já que apresentam um comportamento variável. Todavia, destaca que a duração atua consistentemente: as sílabas tônicas duram mais do que as pretônicas e as postônicas, respectivamente. Nos termos do autor: A sílaba que portava o acento primário tipicamente mostrava maiores altura, intensidade e duração do que as sílabas não acentuadas. Entretanto, altura e intensidade nem sempre eram correlatos confiáveis do acento. ( ) a intensidade da pretônica era aproximadamente igual a da postônica, enquanto a postônica era mais curta; ou a intensidade e a altura da pretônica eram menores; ou a intensidade e altura da pretônica era aproximadamente igual a da tônica, enquanto a postônica era mais curta. Ainda que altura e a intensidade da sílaba pudessem variar consideravelmente, a duração permanecia relativamente constante. Isso indica que o correlato primário do acento em português é a duração 2. (grifo nosso). 2 the primary stressed syllable typically showed a higher pitch, intensity and lenght than either of unstressed syllables. However, pitch and intensity were not always reliable correlates of stress. ( ) the intensity of the pretonic was approximately equal to that of posttonic, though the posttonic was shorter; or that the intensity and pitch of pretonic was shorter; or that intensity and pitch of pretonic was approximately equal to that of tonic, though posttonic was shorter. Thus the relative pitch and intensity of the syllable may vary considerably, while the durational ratios remain fairly constant. This indicates that the primary correlate of stress in BP is length.

147 147 O trabalho de Major foi duramente criticado ao longo dos anos (cf. por exemplo, Massini, 1991 e Barbosa, ). Para Massini (op. cit, ), um dos principais problemas das considerações de Major está no fato de que a caracterização que o autor busca em relação ao acento toma como unidade a sílaba como um todo, já que sua preocupação é integrar as noções de acento e ritmo na descrição do português. Os trabalhos tradicionais sobre o ritmo dividem as línguas naturais em dois grupos línguas de ritmo silábico e línguas de ritmo acentual em função da duração das sílabas. As demais pesquisas sobre a atualização fonética do acento levam em conta, em sua maioria, o comportamento da vogal. Massini Cagliari (1993) defende que, no português, o acento é uma proeminência realizada foneticamente pela co ocorrência de diversos fatores prosódicos. A autora aponta que, no tocante ao acento lexical, os correlatos acústicos respeitam a seguinte hierarquia: duração > intensidade > qualidade vocálica. A qualidade vocálica é verificada a partir da caracterização articulatória e acústica das vogais, na comparação entre o contexto tônico e o contexto átono. A associação entre qualidade vocálica e contexto acentual aponta que as vogais átonas em contexto postônicos estão mais sujeitas a processos como levantamento e/ou centralização do que as vogais átonas em contexto pretônicos. Moraes (1995, 323) retoma os estudos clássicos sobre a acentuação em português para apontar a falta de uniformidade dos teóricos na caracterização física do acento e tecer suas considerações sobre a natureza do acento lexical. O autor destaca que, a partir do século XVIII 3 As críticas de Barbosa estão focadas na interpretação de Major para o ritmo no português do Brasil, e serão discutidas a posteriori.

148 148 O acento tem sido visto ora como uma modulação da frequência fundamental, ou da elevação da voz, na expressão da época (REIS LOBATO, 1771), ora como variações da intensidade um tom mais ou menos intenso (LEONI, 1863), ora como contrastes da duração, graças a uma maior demora da voz sobre a sílaba tônica (FREIRE, 1863), ou ainda como a conjunção dos parâmetros frequência e intensidade (BARBOSA, 1875). Contudo, Moraes ressalta a importância da interação entre os parâmetros prosódicos duração, intensidade e altura na concretização do acento. O grau de interação entre esses elementos pode variar de acordo com o contexto estrutural da palavra na frase, modalidade da frase, ordem. O autor destaca também que, em certas posições do enunciado, as marcas do acento frasal não necessariamente coincidem com as marcas do acento lexical: em posições fortes, os três parâmetros prosódicos interagem; em posições fracas, a tendência é a de participação de apenas dois parâmetros duração e intensidade. Em síntese, Moraes (op. cit, 332) aponta que o acento manifesta se de maneira complexa, podendo servirse de dois ou três parâmetros prosódicos (frequência fundamental, intensidade, duração) em dosagens que variam segundo o seu contexto linguístico. O autor, no mesmo trabalho, faz uma distinção entre os três padrões acentuais no que diz respeito à atuação dos parâmetros acústicos, levando em consideração ainda o contexto em que os vocábulos se encontram no enunciado. Tomando especificamente a duração, pode se perceber que há diferenças marcantes que separam por um lado, paroxítonos e proparoxítonos e, de outros, os oxítonos. No caso dos vocábulos proparoxítonos e paroxítonos, o aumento percentual médio entre a duração de vogal tônica e átona é de 66%, não sendo significativo o efeito de

149 149 diferentes contextos (final de enunciado, final de tópico, interno ao grupo prosódico). Os oxítonos, todavia, seriam sensíveis ao condicionamento posição do vocábulo no enunciado. As observações de Moraes reforçam a ideia de que as sílabas postônicas nãofinais são acusticamente mais breves do que as finais. Entretanto, no âmbito da atuação dos outros dois parâmetros acústicos, a comparação entre os contextos apresenta índices distintos, uma vez que tanto a frequência fundamental quanto a intensidade revelaram se um pouco mais salientes na sílaba postônica não final. Desse modo, somente a qualidade da interação entre os três parâmetros, defendida por tantos estudiosos sobre o tema, é o que poderia apontar quais das sílabas átonas é a mais fraca e, consequentemente, mais propensa à atuação de processos fonéticofonológicos. Considerações acerca da influência do ritmo e da velocidade de fala no comportamento acentual das línguas também devem ser levantadas, uma vez que uma das principais hipóteses que norteia esta investigação é a de que o enfraquecimento e o apagamento da vogal postônica não final estão ligados à atuação de princípios rítmicos. Moraes e Leite (1992) estabelecem as principais diferenças entre o ritmo e a velocidade de fala, lembrando que, graças ao trabalho de Pike The Intonation of American English, de 1945 os estudos fonéticos passaram a abarcar a noção de ritmo à descrição sonora das línguas. A partir desse estudo, as línguas do mundo foram divididas em dois grupos, no tocante à classificação do ritmo: as línguas de ritmo silábico e as línguas de ritmo acentual.

150 150 Línguas de ritmo silábico entre as quais podem ser citadas o francês, o espanhol e o japonês possuem como unidade rítmica regular a sílaba, que permanece com a duração estável, independentemente do grau de tonicidade. Já as línguas de ritmo acentual grupo que inclui, de acordo com a hipótese inicial dos autores, o português e o inglês apresentam como unidade rítmica o pé acentual, caracterizado por acento forte na primeira sílaba, o qual se repete em ciclos regulares. Nas línguas de ritmo acentual, é frequente a redução das sílabas átonas, em função da necessidade de manutenção do equilíbrio rítmico da elocução. As reduções afetam, sobretudo, sílabas alocadas no interior do pé. Daí a importância da associação desse conceito à investigação da redução e do apagamento da vogal postônica não final: parte se do princípio de que esses fenômenos estão a serviço da manutenção do ritmo na enunciação. Moraes e Leite (1992) também destacam que, após a investigação de Harris sobre o ritmo no espanhol, os estudos fonológicos passaram a postular se a velocidade de fala entraria em jogo no processo de aplicação de regras fonológicas. Os poucos estudos sobre o comportamento das proparoxítonas destacam a importância de integrar essas noções à descrição dos processos que afetam os itens com o acento na antepenúltima sílaba, sobretudo nos casos em que ocorrem a ressilabificação de elementos sonoros por conta do enfraquecimento/apagamento de segmentos átonos. Todavia, esses estudos não aprofundam a associação entre os conceitos de ritmo e velocidade à descrição dos dados, muitas vezes por conta da dificuldade operacional de tratar de tais questões.

151 151 Por mais que esteja teoricamente delimitada a diferença entre as duas formas de manifestação do ritmo nas línguas, os estudos que visam aplicar tais conceitos aos dados do português brasileiro não entram em consenso sobre em qual categoria rítmica o PB está inserido. Os trabalhos não entram em acordo uma vez que a comprovação do conceito de isocronia a aferição da regularidade da sílaba ou da duração não se sustenta no nível acústico. Dauer (1987), ao constatar que a isocronia não poderia ser marcada no nível fonético, propõe que a diferença entre as línguas de ritmo silábico e as línguas de ritmo acentual não está na atuação do parâmetro duração. Para a autora (op.cit, 447), O ritmo específico de uma língua é resultado da interação de vários componentes, incluindo componentes fonéticos como duração, altura e qualidade segmental das sílabas acentuadas e não acentuadas, e componentes fonológicos, como estrutura silábica e função do acento. 4 A dificuldade em caracterizar a isocronia em dados do português brasileiro leva a diferentes interpretações da caracterização rítmica dessa variedade da língua, como mostram as conclusões divergentes em uma série de trabalhos que investigam a tipologia rítmica do PB. Major (1981, 1985) apresenta evidências de que o português brasileiro é uma língua marcadamente de ritmo acentual. Tais evidências estão assentadas em processos de redução vocálica. No trabalho de 1981 (p.350), o autor apresenta cinco 4 The particular rhythm of a language is the result of interaction of a number of components, including phonetic components, such as the relative length, pitch and segmental quality of accented and unaccented syllables, and phonological components, such as syllable structure and the function of accent.

152 152 argumentos que garantem a classificação do português brasileiro como língua de ritmo acentual: (1) a duração entre acentos não é diretamente proporcional ao número de sílabas; (2) muitas diferenças na duração entre acentos não são perceptíveis; (3) a duração da sílaba é inversamente proporcional ao número de sílabas na palavra; (4) na fala casual sílabas não acentuadas são apagadas, com efeito de equalizar o número de sílabas em cada grupo acentual, e (5) processos de redução (nas sílabas não acentuadas) que reduzem a duração, têm o efeito de implementar o ritmo acentual, i.e., elevação, monotongação e mudanças silábicas. 5 Barbosa (2000) levanta sérias críticas à posição defendida por Major, mas também dirige sua crítica a todos os pesquisadores que tentam enquadrar as línguas em um ou outro padrão rítmico. O autor inicia seu argumento dizendo que Pike, ao propor as tipologias ritmo acentual e ritmo silábico, teve cuidado em não afirmar que se tratavam de perspectivas dicotômicas, isto é, uma língua que apresenta uma tendência rítmica específica não necessariamente exclui a outra. Ao analisar os argumentos de Major, que, categoricamente, enquadra o português brasileiro no rol das línguas de ritmo acentual, Barbosa destaca que a análise do autor americano é limitada e parcial, além de equivocada, por conta do desconhecimento das propriedades fonéticas e da constituição fonológica do português brasileiro. Ao criticar cada uma das evidências apontadas por Major para considerar o PB como uma língua de ritmo acentual, Barbosa aponta que: 5 (1) interstress durations are not directly proportional to the number of syllabes; (2) many differences in interstress duration are not perceptible; (3) syllable duration is inversely proportional to the number of syllable in a word; (4) in casual speech unstressed syllables delete, which has the effect of equalizing the number of syllables In each stress group; and (5) shortening processes (of unstressed syllables), which reduce duration, have the effect of aiding stress timing, i.e., raising, monophthongization, and syllabicity shifts.

153 153 (a) com relação ao primeiro argumento a duração entre acentos não é diretamente proporcional ao número de sílabas em todas as línguas (independentemente da categorização em ritmo silábico ou ritmo acentual) não há uma proporcionalidade direta entre duração do grupo acentual e o número de sílabas. Essa é, de acordo com Barbosa (p. 381), uma característica universal do ritmo, não podendo ser tomada, portanto, como uma evidência para o ritmo acentual; (b) sobre a segunda evidência muitas diferenças na duração entre acentos não são perceptíveis Barbosa também destaca ser esta também um universal do ritmo, já que alguns estudos atestam que durações que diferem por um valor abaixo de um limite conhecido como Just noticeable difference, não são percebidas como distintas; (c) o terceiro argumento a duração da sílaba é inversamente proporcional ao número de sílabas na palavra também é uma sorte de universal linguístico: quanto mais sílabas se acrescentam em uma palavra primitiva, mais curtas se tornam as sílabas que a constituíam inicialmente; (d) o quarto argumento na fala casual sílabas não acentuadas são apagadas, com efeito de equalizar o número de sílabas em cada grupo acentual também é uma propriedade verificada em qualquer língua do mundo, não podendo ser tomado como forte evidência para a definição de um tipo de ritmo;

154 154 (e) quanto ao último argumento processos de redução (nas sílabas não acentuadas) que reduzem a duração, têm o efeito de implementar o ritmo acentual, i.e., elevação, monotongação e mudanças silábicas Barbosa defende que alguns processos fonológicos atuantes no PB, como a monotongação de [ow] e [ey] e a epêntese de [I] entre consoantes ambos processos verificados nos mais diversos estilos de fala, são evidências fortes para caracterizar a variedade brasileira na direção oposta à defendida por Major o ritmo silábico. Por fim, Barbosa tende a defender que o PB é uma língua de ritmo misto, já que apresenta evidências que o colocam em um meio termo entre as duas tipologias rítmicas. Suas conclusões vêm a corroborar os resultados de outros trabalhos que o precederam, que identificaram no PB características tanto de ritmo silábico quanto de ritmo acentual. Abaurre Gnerre (1979, 1981), em uma análise fonológica sobre o ritmo no PB, associa certos processos fonológicos (epêntese, monotongação, queda de consoante em coda, enfraquecimento do flap e harmonização vocálica) como evidências para a caracterização de padrões rítmicos. Além disso, a análise visa atrelar a noção de estilo ao estabelecimento do ritmo. De acordo com suas conclusões, no estilo formal do PB marcado por uma velocidade de fala mais lenta o ritmo predominante é o silábico, ou seja, a tendência é a manutenção da isocronia dos intervalos entre as sílabas. No estilo formal, ocorrem processos fonológicos característicos do ritmo silábico, como processos que promovem a regularização das sílabas em CV (epêntese, monotongação e queda de consoantes em coda) e a regra de harmonia vocálica.

155 155 O ritmo acentual estaria relacionado aos estilos de fala mais rápidos. Nos termos da autora (1981, 29): 1)as velocidades mais lentas favorecem, em geral, a manutenção de segmentos. Consequentemente, com a manutenção e saliência prosódica atribuída às vogais em núcleo silábico, criam se condições ideais para um ritmo que tende a ser silábico; 2)certas vogais átonas são frequentemente reduzidas ou suprimidas nas velocidades mais rápidas, o que causa aglomeração de segmentos consonantais em torno de núcleos acentuados, configurando se, desta forma, o contexto ideal para a implementação do padrão rítmico acentual (com tendência à manutenção de intervalos de tempo constantes entre sílabas acentuadas). Para comprovar seus argumentos, a autora propõe, no trabalho de 1979 ( ) considerações reafirmadas no trabalho de 1981, a seguinte correlação entre ritmo e estilo de fala na caracterização rítmica do português brasileiro: os padrões rítmicos de uma língua não permanecem constantes nos estilos; o grau de variação de tais padrões pode variar de língua para língua, de tal forma que algumas línguas, como inglês, mostram relativamente constante o ritmo acentual através dos estilos; línguas como o espanhol mostram o ritmo silábico relativamente constante, e línguas como o português brasileiro mostram uma grande tendência ao ritmo silábico nos estilos mais formais e uma grande tendência ao ritmo acentual nos estilos coloquiais. O grau de ritmo acentual/silábico nos diversos estilos parece ser uma caracterísitca específica de cada língua; cada língua escolhe um ponto específico no continuum dos universais ritmicos para cada estilo 6. Assim, Abaurre Gnerre formula o seguinte continuum rítmico estilístico (1979,272; 1981,30): 6 the rhythmic patterns of a language do not remain constant across styles; the degree of variation is such patterns can vary from language to language, in such a way that some languages, like English, show a relatively constant stress timing cross stylistically, languages like Spanish show a relatively constant syllable timing, and languages like Brazilian Portuguese show greater syllable timing in the more careful styles and greater stress timing in the more casual styles. The degree of syllable/stress timing for different styles seems to be language specifically determined, with each language choosing specific points of the universal rhythmic continuum for its style specific utterances

156 156 estilo: formal/lento coloquial/rápido ritmo: silábico acentual Para a autora, o Espanhol seria uma língua categorizada à esquerda do continuum, por ser reconhecidamente de ritmo silábico; o PB estaria em um ponto intermediário da escala, mais à esquerda, para se afastar do PE, que se aproxima, mesmo nos estilos mais lentos, da tipologia rítmica acentual. Sobre o padrão rítmico do português europeu, vale destacar as considerações levantadas por Frota, Vigário e Martins (2002, 2002a). Os autores iniciam sua abordagem demonstrando que, mais recentemente, os estudos sobre o ritmo linguístico sofrem uma virada considerável por conta da impossibilidade de comprovação empírica do conceito de isocronia. Defendem, retomando Rasmus, Nespor e Mehler (1999,268), que as diferenças entre as classes rítmicas são resultantes de características fonéticas e fonológicas de um sistema linguístico particular, e não o oposto. Ainda, dentre as propriedades fonético fonológicas que condicionam a marcação do ritmo, destacam se a variedade e complexidade da estrutura silábica, a redução vocálica e os correlatos do acento. Assim (cf. Frota, Vigário e Martins, 2002a, 189), línguas acentuais tendem a apresentar uma estrutura silábica mais heterogênea e complexa, redução considerável do sistema vocálico em contexto átono, uma correlação estrita entre acento e duração e atrelagem do acento às marcações tonais. Línguas silábicas, por outro lado, apresentam uma estrutura silábica menos variável e menos complexa, não têm

157 157 redução vocálica, a correlação entre acento e duração é relativa ou nula, e há um grau de independência entre acento e entoação. Com base nas propriedades elencadas acima, os autores propõem, por conta das características fonético/fonológicas do português europeu e do português brasileiro, que este é uma língua mais silábica, enquanto aquele tende mais para o ritmo acentual. Com base nas seguintes evidências: Português Europeu sistema vocálico átono reduzido; apagamento fonético de [i, u], formando agrupamentos consonantais; contraste forte entre sílabas tônicas e átonas; dependência entoação/acento. +Ritmo ACENTUAL Português Brasileiro menos redução vocálica (não centralização de [i, a]; epêntese vocálica, favorecendo o padrão silábico CV; contraste mais fraco entre sílabas tônicas e sílabas átonas; maior independência entoação/acento. + Ritmo SILÁBICO Em síntese, independentemente da tipologia rítmica considerada, a velocidade de fala é variável, podendo, inclusive, atuar de forma diversa em extensões menores que um pé ou através de vários. Retomando as considerações de Moraes e Leite (1992), a velocidade de fala está vinculada a aspectos discursivos, como a carga informacional, o grau de envolvimento do falante com o tema da interação, a formalidade/informalidade do contexto, o monitoramento da fala etc., estando além, portanto, do nível lexical e enunciativo.

158 158 Como afirmam os autores, depois de Harris (1969, apud MORAES &LEITE, 1992), que estudou a fonologia do espanhol, os estudos de descrição fonológica passaram a investigar se a velocidade da fala estava ligada à aplicação de regras. No caso dos estudos fonológicos que verificam o comportamento das vogais átonas nãofinais, vários trabalhos têm investigado a associação entre a fala rápida e alteração no comportamento das vogais átonas. Nesse sentido, vale destacar as considerações de Meireles (2007). O autor, ao investigar os processos de variação rítmica no âmbito lexical, focaliza especificamente as proparoxítonas. Através de experimentos acústicos e articulatórios quantitativos, o autor defende que não há, de fato, a queda da vogal postônica não final, mas a perda da magnitude dos gestos que compõem a vogal postônica medial, o que pode vir a ser interpretado como a síncope da vogal átona medial. A análise, realizada com base nos pressupostos da Fonologia Articulatória, aponta correlações que são pertinentes para uma melhor compreensão dos processos de redução observáveis nas proparoxítonas. Com base em um experimento que visava observar de que maneira se dava a relação taxa de elocução/reestruturação lexical, o autor conclui que as palavras proparoxítonas se reestruturavam de forma a serem percebidas como paroxítonas. A reestruturação se concretizou, no experimento, através de dois processos: a diminuição da duração acústica/articulatória da vogal postônica não final e diminuição da duração acústica/articulatória da vogal postônica final. No âmbito articulatório, o autor conclui que a percepção de algumas proparoxítonas como paroxítonas se dava por conta da sobreposição de gestos articulatórios de consoantes e vogais postônicas,

159 159 isto é, na medida em que havia um aumento da taxa de elocução, os gestos eram produzidos mais próximos entre si. Com a análise aqui empreendida, pretende se observar se a queda de segmentos átonos no interior do enunciado está atrelada à manutenção do ritmo na enunciação. A questão perpassa necessariamente pelo estabelecimento da duração dos segmentos vocálicos, uma vez que a hipótese a ser verificada é se o aumento da quantidade de material no interior do sintagma fonológico afetaria a duração dos segmentos fônicos considerados fracos situados no interior do constituinte. Não é uma tarefa simples a formulação de regras que delimitem a duração objetiva dos segmentos fônicos. A duração dos segmentos é fruto da conjunção de uma série de fatores, entre os quais conforme aponta Moraes (1999, 70) estão a natureza do segmento (isto é, sua duração intrínseca), o contexto fônico em que aparece (a duração co intrínseca), a velocidade de fala, a duração das pausas, o ritmo das línguas em questão, a posição da palavra na frase, a posição da sílaba na palavra, o acento e a entoação. Na tentativa de estabelecer a duração intrínseca das vogais do português brasileiro, tendo em vista a construção de um algoritmo que neutralizasse o papel das variáveis que podem em maior ou menor grau afetar a extensão dos segmentos vocálicos, Moraes (op.cit) investiga a duração das vogais orais e nasais, tendo em vista as alterações provocadas pela acentuação no âmbito da palavra e a modalidade do enunciado. Foram controlados cinco contextos e os resultados estão expressos no quadro 9.

160 160 Quadro 9 Duração (em milissegundos) dos segmentos vocálicos: experimento com dados do PB Vogais Contexto Sílaba tônica final de interrogação Sílaba tônicacontinuação de asserção Sílaba tônicafinal de asserção Sílaba pretônica Sílaba postônica final [i] [e] [ɛ] [a] [ᴐ] [o] [u] , Fonte: Moraes, 1999,72 A conclusão a que chega é que a duração das vogais no português brasileiro está diretamente relacionada ao grau de abertura: as maiores médias de duração são verificadas nas vogais marcadas pelos traços [+baixas, altas]: [ɛ], [a] e [ᴐ]. Os diferentes contextos entonacionais que foram controlados, não modificaram, de acordo com o autor, a relação observada entre a duração das vogais, ainda que em termos absolutos possa ser verificado um pequeno aumento da duração ao se passar do contexto final de asserção continuação de asserção final de interrogação. Entretanto, o trabalho aborda a dificuldade de se delimitarem as vogais postônicas, sobretudo as vogais altas. Ainda que o contexto postônico tenha sido verificado somente em termos de sílaba átona final, o autor deixa claro o quão delicada é a tarefa de estabelecer a duração dos segmentos vocálicos nesse contexto, uma vez que ocorre o ensurdecimento e mesmo a queda total das vogais altas.

161 161 Sobre a duração das vogais no português europeu, o único trabalho que busca delimitar a duração média dos segmentos fônicos é o de Delgado Martins (1975). Ainda que seus resultados tenham de ser relativizados, já que na verdade constituem uma sondagem (baseada no registro de um informante e sem a distinção pelo menos no âmbito dos segmentos vocálicos entre as vogais acentuadas e não acentuadas), observa se uma convergência entre as duas variedades: as vogais mais longas são as [+baixas, altas] que, de acordo com a autora, são as que figuram somente em posição tônica. Em seguida, [ altas, baixas] ([e] e [o]), que podem figurar tanto em posição tônica quanto em posição átona. Em grau menor estão as vogais [ altas, baixas] ([i] e [u]), que também podem ser átonas ou tônicas, concluindo que a duração dos segmentos vocálicos está intrinsecamente relacionada ao grau de abertura e tonicidade das vogais. Os resultados do referido estudo estão expressos no quadro 10. Quadro 10 Duração (em milissegundos) dos segmentos vocálicos: experimento com dados do PE Vogais [i] [u] [e] [o] [ɛ] [ᴐ] [α] [a] [Ə] [Ə ] Fonte: Delgado Martins, 1975, 5 Vale ressaltar ainda que a investigação acusou a queda de 11% do total das vogais orais 8 consideradas para o estudo, sendo verificado o cancelamento das vogais [i] (1 ocorrência), [α] (7 ocorrências), [u] (28 ocorrências) e [Ə] (13 ocorrências). 7 Corresponde a uma vogal de apoio que ocorre entre grupos consonânticos formados por oclusivas ou fricativas e a vibrante. 8 O estudo se pauta na ocorrência de 417 vogais, sendo 345 orais, 25 nasais, 23 semivogais e 24 ocorrências da vogal entre grupo consonântico.

162 162 Em síntese, os dois estudos destacam que a duração das vogais está vinculada ao grau de abertura e à tonicidade do segmento e observam a instabilidade das vogais átonas postônicas, sobretudo no que se refere às vogais altas. Ainda que os trabalhos não apontem uma distinção entre os dois tipos de contextos postônicos, é interessante observar a regularidade no comportamento das vogais altas Metodologia A análise acústica foi empreendida a partir da observação de um corpus estabelecido com base na aplicação de testes em duas leituras. De acordo com o exposto anteriormente sobre a relação entre velocidade de fala e os aspectos discursivos, questão levantada por Moraes & Leite (1992), tem se consciência de que dados produzidos a partir de leitura são frágeis no tocante à espontaneidade. Entretanto, como ressalvam os próprios autores, os trabalhos que se propõem a estudar o parâmetro prosódico da duração se pautam em corpora construídos artificialmente, a partir da leitura de frases e textos em mais de uma velocidade. O aproveitamento de fala espontânea traria sérios problemas metodológicos, uma vez que se tornariam difíceis o controle de duas velocidades e a comparação entre elas. Do ponto de vista acústico, o experimento realizado objetiva observar de que forma o ritmo afeta a regularização dos pés métricos. Esperar se ia que, quanto maior o número de material fonético à direita de palavras proparoxítonas, maior a tendência de compressão temporal da vogal postônica não final.

163 163 Para a verificação dessa hipótese, foi elaborado um corpus com nove palavras proparoxítonas e três logátomos, conforme ilustra o quadro a seguir: Quadro 11 Palavras que compõem o corpus Proparoxítonos Logátomos pétala cítara página pápapa récita pípipi príncipe púpupu círculo súplica fábrica Cada palavra foi inserida em três enunciados, cuja diferença reside na quantidade de material fonético à direita da palavra proparoxítona. Acrescenta se material fonético cuja função sintático semântica é qualificar o nome proparoxítono, expandindo o SN sujeito, ampliando se assim a quantidade de material no interior do sintagma fonológico. Em um primeiro momento (daqui por diante contexto 1), o sintagma fonológico é composto por determinante e nome proparoxítono e constituído por quatro sílabas; o contexto 2 corresponde ao acréscimo de duas sílabas à direita do nome proparoxítono, sendo constituído por seis sílabas; o contexto 3 corresponde ao acréscimo de quatro sílabas, além das duas inseridas no contexto 2, totalizando dez sílabas. A configuração do teste está expressa abaixo; [A pétala] ( )[ soltou se] ( ). [A pétala rosa] ( ) [soltou se] ( ). [A pétala rosa da tulipa] ( ) [soltou se] ( ).

164 164 [A súplica] ( ) [escutou se] ( ). [A súplica tola] ( ) [escutou se] ( ). [A súplica tola da menina] ( )[ escutou se] ( ). [O círculo] ( ) [fechou] ( ). [O círculo preto] ( ) [fechou] ( ). [O círculo preto da esquina] ( ) [fechou] ( ). [A récita] ( ) [terminou] ( ). [A récita calma] ( ) [terminou] ( ). [A récita calma da contista] ( ) [terminou] ( ). [O príncipe] ( ) [fugiu] ( ). [O príncipe feio] ( ) [fugiu] ( ). [O príncipe feio da história] ( ) [fugiu] ( ). [A fábrica] ( ) [prosperou] ( ). [A fábrica nova] ( ) [prosperou] ( ). [A fábrica nova da esquina] ( ) [prosperou] ( ). [A página] ( ) [foi rasgada] ( ). [A página cinza]( ) [foi rasgada] ( ). [A página nova da revista] ( ) [foi rasgada] ( ). [A crítica] ( ) [se ouviu] ( ). [A crítica dura] ( ) [se ouviu] ( ). [A crítica dura da artista] ( ) [se ouviu] ( ).

165 165 [A cítara] ( ) [partiu se] ( ). [A cítara negra] ( ) [partiu se]( ). [A cítara negra da orquestra] ( ) [partiu se] ( ). [O pápapa] ( ) [estourou] ( ). [O pápapa feio] ( ) [estourou] ( ). [O pápapa feio da menina] ( ) [estourou] ( ). [O pípipi] ( )[sumiu] ( ). [O pípipi belo] ( ) [sumiu] ( ). [O pípipi belo do menino] ( ) [sumiu] ( ). [O púpupu] ( ) [quebrou se] ( ). [O púpupu baixo] ( ) [quebrou se] ( ). [O púpupu baixo da garota] ( ) [quebrou se] ( ). Como pode ser observado pelo corpus acima, a diferença entre os enunciados reside na quantidade de material fonético à direita da palavra proparoxítona. Na primeira ocorrência, não há elementos entre a proparoxítona na posição inicial e o verbo; na segunda, há um vocábulo dissílabo; na terceira, soma se mais uma estrutura, formada por uma preposição monossilábica e uma palavra com três sílabas. Todos os itens lexicais inseridos à direita da palavra proparoxítona são paroxítonos. As proparoxítonas do corpus para análise acústica incluem palavras em que a queda da vogal postônica pode levar a consoante que a acompanha a se ressilabificar à

166 166 esquerda, em direção à coda da sílaba tônica (récita, página, príncipe), ou à direita, em direção ao ataque da sílaba átona final (pétala, círculo, cítara). Foram incluídas ainda duas palavras que apresentam contexto de resistência, por apresentarem uma estrutura silábica na posição postônica não final que não favorece a queda do segmento vocálico (fábrica, súplica) o onset da sílaba é preenchido por um ataque ramificado. Ainda, foram incluídos três logátomos, que constituem o grupo de controle. Cada frase foi gravada seis vezes, por oito informantes quatro brasileiros, nascidos na cidade do Rio de Janeiro, e quatro portugueses, naturais de Lisboa homens e mulheres de nível universitário. A ordem dos enunciados foi alterada em cada leitura, além de terem sido incluídas frases distratoras, que não constituíam objeto de análise. Foram desprezadas as duas gravações iniciais e as duas finais, sendo as análises pautadas no terceiro e no quarto registros. A fim de se observar se a duração da vogal postônica não final é afetada pela inserção de material fonético à direita da palavra, foram feitas as medições da duração do enunciado, da palavra e das vogais do vocábulo proparoxítono de cada registro, a partir do aparato metodológico oferecido pelo programa de análise acústica Praat 9. Para que fosse possível avaliar se as diferenças entre os valores médios encontrados eram relevantes, os dados foram submetidos ao teste estatístico T Student, oferecido pelo programa R. A ferramenta compara índices e gera um valor de 9 BOERSMA, P. & WEENINK, D. Praat: doing Phonetics by computer. Disponível em

167 167 significância (o p value). Caso o p value, gerado a partir da comparação entre dois conjuntos de dados, seja inferior a 0.05, considera se que a diferença entre os conjuntos é relevante. Se o valor for superior, a diferença não é significativa Análise dos dados Etapa I. Duração média das vogais contexto fônico neutro. Em um primeiro momento, foi estabelecida a duração média das vogais em análise. Tais médias foram verificadas com base no comportamento das vogais /a/, /i/ e /u/ dos logátomos. O procedimento foi adotado tendo em vista o estabelecimento de um padrão a ser investigado em comparação com as proparoxítonas reais, e também com os resultados encontrados por Moraes (1999) para o PB e Delgado Martins (1975) para o PE. A tabela 41 indica a quantidade total de dados analisados, separados em função dos contextos (dimensão do sintagma fonológico) e por variedade. Ao todo foram medidas 432 vogais de logátomos, cuja distribuição por variedade, contexto, pauta acentual e timbre pode ser visualizada na tabela 41.

168 168 Tabela 41 Distribuição das vogais analisadas por contexto PB PE Contexto 1 Contexto 2 Contexto 3 Contexto 1 Contexto 2 Contexto 3 ɸ 4 sílabas ɸ 6sílabas ɸ10 sílabas ɸ 4 sílabas ɸ 6sílabas ɸ 10 sílabas T PTNF PF T PTNF PF T PTNF PF T PTNF PF T PTNF PF T PTNF PF /a/ /i/ /u/ Legenda: T = vogal tônica; PTNF = vogal postônica não final; PF = vogal postônica final Estabeleceu se a duração média das vogais, separadas por timbre, levando se em conta a distinção entre tônicas e os dois tipos de postônicas, não se considerando em um primeiro momento as diferenças entre os contextos postulados (ɸ 4 sílabas, ɸ 6 sílabas e ɸ10 sílabas). Os resultados para os dados do PB estão expressos na tabela 42. Tabela 42 Duração média das vogais dos logátomos (em milissegundos) PB Vogal Tônica Postônica Não final Postônica Final Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/ No que tange ao comportamento das vogais tônicas, os dados expostos na tabela 42 corroboram os resultados verificados por Moraes (op. cit) quanto à relação

169 169 entre duração e grau de abertura: o /a/ é a que possui maior duração (93ms). As vogais altas apresentam uma duração menor (68ms para /i/, 65ms para /u/). No âmbito das postônicas não finais, os índices sugerem, contudo, que há similaridade entre os valores verificados para /a/ e /u/ (41ms e 43ms, respectivamente), enquanto /i/ apresenta média de duração menor (28ms). Já os valores verificados para a duração das postônicas finais mostram que a média de duração de /a/ é maior do que as médias apontadas para /i/ e /u/ (71 ms, 60 ms, 64 ms, respectivamente). No gráfico 5 é possível observar que, em relação ao acento, a duração média das vogais postônicas não finais é menor que a das postônicas finais, e essas, por sua vez, duram menos que as tônicas. 100 Gráfico 5 Duração média das vogais (em milissegundos) logátomos PB. 50 Tônica Postônica Não Final Postônica Final 0 /i/ /a/ /u/ Entretanto, para observar se a diferença de duração das vogais, comparadas em função da pauta acentual era significante, as médias foram confrontadas. A hipótese seria que as diferenças absolutas seriam refletidas pelos índices de significância. Os resultados, expressos na tabela 43, expõem os valores obtidos.

170 170 Tabela 43 Significância das diferenças entre a duração das vogais PB Vogais comparadas Significância /a/ tônico x /a/ postônico não final 0.04 /a/ tônico x /a/ postônico final 0.02 /a/ postônico não final x /a/postônico final 0.00 /i/ tônico x /i/ postônico não final 0.24 /i/ tônico x /i/ postônico final 0.37 /i/ postônico não final x /i/postônico final 0.00 /u/ tônico x /u/ postônico não final 0.00 /u/ tônico x /u/ postônico final 0.96 /u/ postônico não final x /u/postônico final 0.02 Os resultados expressos na tabela 43 indicam que, no âmbito de /a/, diferenças relevantes se observam em todos os confrontos considerados, sendo mais saliente o contraste das vogais átonas entre si (p=0.00). No confronto entre os dados de /i/, a única diferença significativa se observa no contraste entre os dados das posições postônicas (p=0.00). Esperava se que oposição entre as posições tônica e postônica não final também fosse relevante, mas a hipótese não se confirmou (p=0.24). A comparação dos dados referentes a /u/ revela que as diferenças significativas se verificam quando se contrastam os valores dos contextos tônico e postônico não final (p=0.00) e os contextos átonos entre si (p=0.02), o que vai ao encontro dos índices absolutos (cf. tabela 42).

171 171 A tabela 44 revela a duração média das vogais dos logátomos do PE, separadas também em função da pauta acentual. Tabela 44 Duração média das vogais dos logátomos (em milissegundos) PE Vogal Tônica Postônica Não Final Postônica Final Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/ Na tabela 44 também se podem visualizar as mesmas tendências, no âmbito das vogais tônicas, delineadas em Delgado Martins (1975) para a relação entre grau de abertura e duração: a vogal baixa tem maior duração do que as vogais altas (79ms contra 73ms para /i/ e 74ms para /u/). No entanto, os valores médios estão muito semelhantes. No que concerne à duração média das vogais postônicas não finais, nota se que os índices verificados para /a/e /i/ são muito próximos, tendo a alta anterior uma duração ligeiramente maior (45ms para /i/ contra 41ms para /a/) e a alta posterior um índice menor (33ms). No contexto postônico final, as diferenças entre as médias de duração de /a/ e de /i/ não são tão expressivas em termos absolutos (58ms para /a/ e 62ms para /i/). O /u/, nesse contexto, apresenta um índice menor em relação às outras vogais consideradas (49ms). Ao se realizar a transposição das médias para o gráfico 6, é possível visualizar como se dá a relação das durações entre as posições tônicas e átonas.

172 172 Gráfico 6 Duração média das vogais dos logátomos (em milissegundos) PE Tônica Postônica Não Final Postônica Final 0 i a u O gráfico 6 também revela que, em termos absolutos, a duração média das vogais postônicas não finais no PE é menor em comparação à verificada para as postônicas finais. Contudo, ao se realizar o confronto entre as médias de cada vogal por contexto, nota se que, em valores relativos, a diferença é significativa em quatro contrastes, conforme expresso na tabela 45. Tabela 45 Significância das diferenças entre a duração das vogais PE Vogais comparadas Significância /a/ tônico x /a/ postônico não final 0.36 /a/ tônico x /a/ postônico final 0.60 /a/ postônico não final x /a/postônico final 0.00 /i/ tônico x /i/ postônico não final 0.08 /i/ tônico x /i/ postônico final 0.01 /i/ postônico não final x /i/postônico final 0.31 /u/ tônico x /u/ postônico não final 0.03 /u/ tônico x /u/ postônico final 0.1 /u/ postônico não final x /u/postônico final 0.03

173 173 Para os dados relativos ao /a/, a única diferença estatisticamente relevante se estabelece ao serem confrontadas as médias de duração das posições postônicas (p=0.00). O contraste entre as médias verificadas para o /i/ em cada contexto revelou ser significativa a oposição entre a posição tônica e a postônica final (p=0.01). No âmbito de /u/, há diferença relevante quando se compararam os índices relativos ao contraste entre a posição tônica e postônica não final (p=0.03) e ao se contrastarem as posições átonas (p=0.03). A próxima comparação visa observar de que maneira a dimensão de ɸ afeta a duração das vogais postônicas dos logátomos, já que a hipótese considerada é que à medida que se aumenta a quantidade de material fonético à direita da palavra, há uma compressão dos segmentos vocálicos das posições pós acentuadas, sobretudo da vogal postônica não final. Na tabela 46, relativa aos dados do PB, estão expressas as médias de duração das vogais postônicas não finais, separadas por timbre e pela dimensão do constituinte em que a vogal estava inserida. Tabela 46 Duração média das vogais postônicas não finais por contexto PB Vogal ɸ 4sílabas ɸ6 sílabas ɸ 10 sílabas Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/

174 174 A tabela 46 indica que, em números absolutos, a hipótese não se confirma nos dados de /a/ nem nos de /i/. Ao se compararem os índices médios de duração do /a/ postônico não final, nota se que há um aumento da duração da vogal à medida que se amplia a dimensão do sintagma fonológico (30ms para ɸ = 4 sílabas; 35ms em ɸ= 6 sílabas e 39ms em ɸ=10 sílabas). Os dados de /i/ são assistemáticos, por se verificar um decréscimo na duração da vogal quando se inserem duas sílabas no sintagma (34ms em ɸ = 4 sílabas e 21ms em ɸ = 6 sílabas) e um aumento na duração da vogal quando se confrontam os índices de ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (31ms). Os índices absolutos verificados para o /u/ parecem confirmar a hipótese, pois a duração decai à medida que se aumenta quantidade de material fonético no interior do constituinte (46ms, 41ms e 40ms, respectivamente). O gráfico 7 permite uma visualização das relações entre duração e contexto. 100 Gráfico 7 Duração média da vogal postônica não final (em milissegundos) logátomos PB 50 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas 0 [i] [a] [u] No entanto, ao serem confrontadas as médias de duração de cada vogal por contexto, mesmo no âmbito do /u/, a diferença entre as médias não é significativa. Os resultados, na tabela 47, mostram que a hipótese postulada não se confirma, ou seja,

175 175 não há neste corpus uma relação entre o aumento do constituinte e a diminuição da duração da vogal postônica não final. Tabela 47 Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais postônicas não finais PB Vogal Contextos em comparação Significância ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.39 /a/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.28 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 1 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.25 /i/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.55 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.82 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.56 /u/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.95 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.57 Os valores de p expressos na tabela 47 estão todos acima de 0.05, o que indica não ser significativa a diferença observada entre as médias de duração das postônicas não finais por contexto. A tabela 48 registra as médias de duração das vogais postônicas não finais nos dados de logátomos do PE.

176 176 Tabela 48 Duração média das vogais postônicas não finais por contexto PE Vogal ɸ 4sílabas ɸ6 sílabas ɸ 10 sílabas Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/ Os resultados expressos na tabela 48 também não revelam consistência entre o aumento de material no sintagma fonológico e a compressão da vogal postônica nãofinal. No âmbito de /a/, os valores médios de duração estão bastante próximos para os três contextos analisados (39ms, 41ms e 39ms); observa se no comportamento de /i/ uma queda da duração ao serem inseridas duas sílabas no constituinte (46ms em ɸ 4sílabas 42ms em ɸ 6 sílabas), mas um aumento na média ao serem comparados os índices de ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (47ms). Os valores médios verificados para /u/ também estão muito semelhantes para os três contextos analisados (32ms, 35ms, 32ms, respectivamente). O gráfico 8 ilustra as tendências observadas na tabela 48.

177 Gráfico 8 Duração média da vogal postônica não final (em milissegundos) logátomos PE 50 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas 0 i a u O confronto entre os valores verificados para cada contexto evidencia que a hipótese também não se confirma nos dados do PE. Os índices de significância estão expressos na tabela 49. Tabela 49 Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais postônicas não finais PE Vogal Contextos em comparação Significância ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.79 /a/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.73 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 1 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.58 /i/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.50 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.77 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.81 /u/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.88 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.82

178 178 Os valores de p expressos na tabela 49 assim como já fora observado na tabela 47, relativa aos dados do PB estão todos acima de 0.05, o que indica não ser significativa a diferença observada das médias de duração das postônicas não finais por contexto, o que demonstra a não comprovação da hipótese. A relação entre aumento do sintagma fonológico e compressão das vogais átonas também não se confirma quando se confrontam as médias absolutas das vogais átonas finais. A tabela 50 mostra a duração média das vogais nos dados do PB Tabela 50 Duração média das vogais postônicas finais por contexto PB Vogal ɸ 4sílabas ɸ6 sílabas ɸ 10 sílabas Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/ Os resultados expressos na tabela 50 são assistemáticos. No que tange à vogal /a/, há uma queda da duração ao serem inseridas duas sílabas no sintagma fonológico (74ms em ɸ 4sílabas contra 59ms em ɸ 6 sílabas), mas observa se seu aumento ao serem confrontadas as médias obtidas para ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (59ms 81ms, respectivamente). O comportamento de /i/ também não é uniforme, pois se observa um aumento da duração da vogal ao serem inseridas duas sílabas ao ɸ (45ms em ɸ 4sílabas 73ms em ɸ 6 sílabas) e uma queda quando se contrastam os índices de ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (73ms 63ms, respectivamente). Os índices verificados para /u/

179 179 são muito próximos nos três contextos investigados (68ms, 61ms, 64ms, respectivamente). O gráfico 9 permite visualizar a não confirmação da hipótese. Gráfico 9 Duração média vogal postônica final (em milissegundos) logátomos PB Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas 0 i a u Ao se realizar o confronto entre as médias de cada vogal por contexto, confirma se que a dimensão do sintagma fonológico não afeta significativamente a duração das vogais átonas finais. O contraste entre os contextos está expresso na tabela 51.

180 180 Tabela 51 Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais postônicas finais PB Vogal Contextos em comparação Significância ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.14 /a/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.34 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.77 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.25 /i/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.67 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.21 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.69 /u/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.89 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.86 Os valores de p expressos na tabela 51 estão todos acima de 0.05, o que indica não ser significativa a diferença observada entre as médias de duração das postônicas finais por contexto. A hipótese também não se confirma nos dados do PE. A tabela 52, relativa às médias de duração das vogais postônicas finais, também revela uma não uniformidade na relação entre dimensão de ɸ e duração da átona final.

181 181 Tabela 52 Duração média das vogais postônicas finais por contexto PE Vogal ɸ 4sílabas ɸ6 sílabas ɸ 10 sílabas Média σ n Média σ n Média σ n /a/ /i/ /u/ Os resultados expressos na tabela 52 também são assistemáticos. Em relação à vogal /a/, nota se que há um aumento da duração ao serem inseridas duas sílabas no sintagma fonológico (50ms em ɸ 4sílabas contra 58ms em ɸ 6 sílabas), mas observase um decréscimo na duração ao serem confrontadas as médias obtidas para ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (58ms 50ms, respectivamente). O comportamento de /i/ também não é uniforme, pois se observa uma queda da duração da vogal ao serem inseridas duas sílabas ao ɸ (61ms em ɸ 4sílabas 42ms em ɸ 6 sílabas) e um aumento quando se contrastam os índices de ɸ 6 sílabas e ɸ 10 sílabas (42ms 62ms, respectivamente). O /u/ comporta se de maneira semelhante ao /a/: aumento da duração na passagem de quatro para seis sílabas (40ms e 57ms, respectivamente) e queda no contraste entre seis e dez sílabas (50ms). No gráfico 10 é possível observar de que maneira se dá a relação entre duração da postônica final e dimensão do constituinte em que está inserido o vocábulo.

182 182 Gráfico 10 Duração média da vogal postônica final (em milissegundos) logátomos PE Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas 0 i a u O confronto entre as médias por contexto mostra que, também nos dados do PE, a diferença entre as médias não é significativa, conforme aponta a tabela 53. Tabela 53 Significância das diferenças entre as médias de duração das vogais postônicas finais PE vogal Contextos em comparação significância ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.40 /a/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.38 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.93 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.45 /i/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.79 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.81 ɸ 4sílabas x ɸ 6 sílabas 0.12 /u/ ɸ 6 sílabas x ɸ 10 sílabas 0.23 ɸ 4sílabas x ɸ 10 sílabas 0.29

183 183 Todos os valores dos contrastes entre as médias de duração por contexto apresentam o valor de p superior a 0.05, o que demonstra serem não significativas as diferenças observadas na duração das vogais átonas finais Etapa II. Confronto entre Logátomos e Palavras reais Na segunda etapa da análise, são comparados os índices de duração das vogais postônicas não finais das palavras artificiais com os índices verificados nas proparoxítonas reais. Entretanto, quando são confrontados os comportamentos dos logátomos com as palavras reais, uma questão se impõe: o apagamento da vogal postônica não final. Nos logátomos, a estrutura do vocábulo artificial dificulta o apagamento das vogais átonas, uma vez que a consoante que as acompanha não pode ser ressilabificada (todas as sílabas têm o ataque ocupado pela oclusiva bilabial surda). No corpus de palavras reais, há vocábulos proparoxítonos que apresentam contextos favorecedores para o apagamento da vogal átona medial, assim como há itens cuja estrutura silábica da posição átona não final bloqueia a ocorrência do processo. A comparação entre a duração das vogais postônicas não finais das proparoxítonas reais com a dos logátomos revela também que a questão pode estar atrelada a outros condicionamentos, e não necessariamente vinculada à manutenção do ritmo. Os resultados mostram, sobretudo para os dados do PB, que a interação entre a constituição das sílabas átonas finais e o ponto de articulação da vogal é o princípio que governa o comportamento da vogal postônica não final. Para comprovar a questão, inicia se a observação dos resultados encontrados para o /a/ postônico não final. Os resultados encontrados na análise variacionista

184 184 mostraram que, no âmbito das postônicas não finais, o /a/ tende a ser a vogal que apresenta menos probabilidade de ser cancelada, ao contrário de /i/ e principalmente /u/. Os resultados do experimento acústico revelam também a estabilidade de /a/. No gráfico 11 são expressas as médias de duração do /a/ nas proparoxítonas reais (pétala e cítara) nos três contextos considerados, e um confronto com as médias do /a/ átono não final dos logátomos. 100 Gráfico 11 Duração do /a/ postônico não final: comparação entre logátomos e palavras reais (PB) 50 Logátomos Palavras reais 0 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas Os resultados no gráfico 11 não revelam, para o /a/, uniformidade na atuação do condicionamento rítmico: nos dados das palavras proparoxítonas reais, percebe se um aumento em sua duração quanto maior a quantidade de material fônico no interior do sintagma fonológico, tendência que vai ao encontro do verificado para as proparoxítonas artificiais,uma vez que se observou nos logátomos um aumento da duração da vogal à medida que foram inseridas duas sílabas à direita do nome, o mesmo ocorrendo quando foram acrescentadas mais quatro sílabas. Nota se que a constituição fonotática das sílabas postônicas nas palavras reais licenciava o apagamento da vogal (oclusiva no onset da sílaba postônica não final, líquida no onset

185 185 da sílaba postônica final), mas o processo não ocorreu. As figuras a seguir ilustram, na fala de uma das informantes brasileira, que a vogal manteve a duração média de 40ms, independendentemente da quantidade de material inserido à direita da palavra.

186 186 p t l Figura 2 Vocábulo pétala contexto 1 : [a pétala] ɸ [soltou se]ɸ Informante brasileira 1 leitura 1

187 187 p t l Figura 3 Vocábulo pétala contexto 2: [ a pétala rosa]ɸ [soltou se] ɸ Informante brasileira 1 Leitura 1

188 188 p t l Figura 4 Vocábulo pétala contexto 3 : [a pétala rosa da tulipa]ɸ[ soltou se]ɸ Informante brasileira 1 Leitura 1

189 189 Nos dados do Português Europeu, observa se também a não uniformidade na atuação do parâmetro duração em relação ao aumento do sintagma fonológico, no âmbito de /a/. No gráfico 12, são expressas as médias de duração da vogal postônica não final /a/ em função dos contextos investigados. 100 Gráfico 12 Duração do /a/ postônico não final: comparação entre logátomos e palavras reais (PE) 50 Logátomos Proparoxítonas reais 0 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas A vogal postônica não final nos logátomos manteve, conforme mostra o gráfico 12, uma média de duração em torno de 40 ms, havendo um ligeiro aumento na duração entre os contexto 1 e 2, e uma ligeira queda entre os contextos 2 e 3, que se revelou não ser significativa. O mesmo padrão se verifica nas médias de duração da vogal postônica nas palavras reais (aumento da duração quando são inseridas duas sílabas à direita da palavra, queda da duração quando são inseridas quatro sílabas). Todavia, o aumento entre os contextos 1 e 2 é um pouco mais acentuado (39 46) do que a queda verificada entre os contextos 2 e 3 (46 ms 44ms) e do que ocorre com os logátomos. Os espectogramas a seguir ilustram o comportamento uniforme do /a/ postônico no português europeu.

190 190 (p) t l Figura 5 Vocábulo pétala contexto 1 : [ a pétala]ɸ [soltou se]ɸ Informante portuguesa 1 Leitura 1

191 191 p t l Figura 6 Vocábulo pétala contexto 2 : [a pétala rosa] ɸ [soltou se]ɸ Informante portuguesa 1 Leitura 1

192 192 p t l Figura 7 Vocábulo pétala contexto 3: [a pétala rosa da tulipa]ɸ [soltou se]ɸ Informante portuguesa 1 Leitura 1

193 193 A hipótese não se confirmou em relação ao comportamento da vogal baixa, nas duas variedades analisadas. Já os resultados verificados para as vogais altas são reveladores de uma tendência que não está vinculada, necessariamente, ao ritmo, mas pelo menos no PB a questões ligadas à natureza da consoante que ocupa a posição de ataque da sílaba postônica não final. Para observação do comportamento da vogal alta anterior no contexto medial, o corpus apresenta dois tipos de configurações fonotáticas: de um lado, palavras que apresentam no onset da sílaba postônica não final uma consoante que pode se ressilabificar à esquerda, formando a coda da sílaba tônica (página, récita, príncipe); de outro, palavras em que a ressilabificação da consoante não é possível, uma vez que o onset é preenchido por uma estrutura ramificada (súplica, fábrica), ou a queda forma uma estrutura silábica no onset não licenciada em português (crí[t]i[k]a cri.[t]ø.[k]a cri[tk]a). A hipótese era que a vogal alta seria mais estável nos contextos em que a ressilabificação não é possível, enquanto nos demais contextos fonéticos a duração da vogal seria afetada pela ampliação do sintagma fonológico. Entretanto, a análise mostrou que, nos dados do PB, a vogal alta anterior no contexto postônico não final só foi mantida nas palavras cuja sílaba postônica apresentava o onset preenchido por duas consoantes (súplica, fábrica). Nos demais itens (récita, página e príncipe) independentemente da quantidade de material fônico inserido no sintagma a vogal anterior foi apagada 10. Mesmo na palavra crítica 10 Miereles (2007), contudo, destaca que em contextos como o das sílabas postônicas não finais dos vocábulos página, récita e príncipe, os gestos articulatórios da consoante e da vogal que compõem a

194 194 que traz um contexto que não licenciaria o apagamento foi observada a queda da vogal. Nos espectrogramas a seguir observam se algumas ocorrências do processo. sílaba postônica não final podem ser produzidos concomitantemente, acarretando a impressão do apagamento da vogal alta anterior no sinal acústico.

195 195 p a n Figura 8 Vocábulo página contexto 1 : [a página] ɸ[ foi rasgada]ɸ Informante brasileiro 1 Leitura 1

196 196 p a n Figura 9 Vocábulo página contexto 1 : [a página]ɸ[ foi rasgada]ɸ Informante brasileiro 1 Leitura 2

197 197 As vogais altas são as mais propensas a serem atingidas pelo processo de cancelamento, por constituírem os segmentos vocálicos de menor sonoridade. Com o apagamento da vogal, ocorre a ressilabificação da consoante: nos dados do PB, notadamente as consoantes se anexaram à coda da sílaba tônica. Nesse sentido, em crítica, não se devia esperar o apagamento da vogal: a consoante /t/ no onset da sílaba postônica não teria como ressilabificar. Entretanto, aspectos ligados a sua articulação, podem justificar a síncope da vogal nesse contexto. Na verdade, a consoante /t/ antes da vogal [i] é realizada, no dialeto carioca, como uma africada alveopalatal [t ]. É, portanto, um segmento caracterizado por uma articulação mista: oclusão seguida de fricção. Uma possível justificativa para a não realização da vogal pode estar assentada no enfraquecimento da oclusão, primeira etapa na realização da consoante. A articulação fricativa ganha relevo e, por conta disso, o grau de coarticulação entre a consoante e a vogal alta faz com que não haja a manifestação acústica da vogal alta anterior. Os espectogramas a seguir atestam a ausência do sinal acústico da vogal átona medial e também o enfraquecimento da articulação oclusiva de [t ].

198 198 (kɾ) i t k Figura 10 Vocábulo crítica contexto 1: [a crítica]ɸ[se ouviu]ɸ Informante brasileiro 2 Leitura 1. Em destaque a consoante no onset da sílaba postônica não final

199 199 (kɾ) i t k Figura 11 Vocábulo crítica: contexto 1 : [a crítica]ɸ [se ouviu]ɸ Informante brasileiro 2 Leitura 2. Em destaque a consoante no onset da sílaba postônica não final

200 200 Já no português europeu, a realização da consoante /t/ não é mista, apresentando uma articulação oclusiva. Foram detectados os sinais acústicos da vogal postônica não final nesse mesmo contexto. A figura a seguir atesta a existência da vogal no mesmo vocábulo, nas duas leituras realizadas.

201 201 (kɾ) i t ɨ k Figura 12 Vocábulo crítica contexto 1 : [a crítica]ɸ [ se ouviu]ɸ Informante português 2 Leitura 1. Em destaque a sílaba postônica não final

202 202 k ɾ i t ɨ k Figura 13 Vocábulo crítica contexto 1 : [a crítica]ɸ [ se ouviu]ɸ Informante português 2 Leitura 2. Em destaque a sílaba postônica não final

203 203 Assim sendo, a relação entre dimensão do sintagma fonológico e duração da vogal alta anterior no contexto átono não final só pode ser observado no âmbito do PB nos vocábulos fábrica e súplica. Por não apresentarem contexto adjacente à vogal que possibilitasse o apagamento, notou se a manutenção da átona medial. No gráfico a seguir, as médias de duração estão expressas, em um confronto com os índices observados nos logátomos. 100 Gráfico 13 Duração do /i/ postônico não final: comparação entre logátomos e palavras reais (PB) 50 Logátomos Palavras reais 0 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ 6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas O gráfico 13 revela que a duração do /i/ postônico não final só é afetada, ainda que sutilmente, na passagem do contexto 2 para o contexto 3 (32ms para 31ms). Todavia, a diminuição não é significativa. Tal comportamento comprova que, no âmbito da vogal alta anterior quando tal segmento é realizado foneticamente em PB a manutenção do ritmo não é um condicionamento que atue de maneira uniforme. Já os dados do PE revelam a manutenção da alta anterior, à exceção de um item (o vocábulo príncipe). Os resultados serão considerados em dois momentos.

204 204 Primeiramente é apresentado o total de ocorrências, por informantes, com base nos itens lexicais que apresentavam contextos favorecedores da queda da vogal; em seguida, os índices relativos aos vocábulos fábrica e súplica, também por informantes. Tabela 54 Realização do /i/ postônico não final PE Informantes masculinos Informantes femininos Item lexical Informante 1 Informante 2 Informante 1 Informante 2 Grupo 1 onset da sílaba postônica não final ressilabificável vocábulo APL/T APL/T APL/T APL/T página 5/6 6/6 6/6 5/6 crítica 6/6 6/6 6/6 6/6 príncipe 0/6 0/6 0/6 0/6 récita 6/6 6/6 6/6 6/6 Total 17/24 18/24 18/24 17/24 Grupo 2 onset complexo na sílaba postônica não final vocábulo APL/T APL/T APL/T APL/T fábrica 6/6 6/6 6/6 6/6 súplica 6/6 6/6 6/6 6/6 Total 12/12 12/12 12/12 12/12 Pela tabela 54, observa se que no vocábulo príncipe ocorreu sistematicamente a queda da vogal átona medial; nos demais casos, percebeu se a manutenção do segmento. Ao serem estabelecidos os índices de duração média da vogal em cada grupo investigado, conforme mostra o gráfico 14, logo a seguir, percebe se que, mais uma vez, não há uma correlação direta entre o aumento de material no interior do

205 205 sintagma fonológico e a diminuição da duração da vogal: nota se uma ligeira queda, nos três tipos de itens verificados, quando são acrescentadas duas sílabas à estrutura original (contexto 1 contexto 2), mas não se verifica o mesmo quando são acrescentadas mais quatro sílabas ao sintagma fonológico (contexto 2 contexto Gráfico 14 Duração do /i/ postônico não final: comparação entre logátomos e palavras reais (PE) 50 Logátomos Palavras reais Grupo 1 Palavras reais Grupo 2 0 Contexto 1 Φ 4 sílabas Contexto 2 Φ6 sílabas Contexto 3 Φ 10 sílabas Todavia, ao se observar no gráfico 14 a duração da vogal postônica tendo em vista a constituição fonotática das sílabas átonas (grupo 1 x grupo 2), nota se que nos contextos em que a queda da vogal não é licenciada, pela existência de um onset complexo na sílaba postônica não final, a vogal átona medial apresenta um aumento sutil na duração, o que pode ser justificado pela necessidade de manutenção do segmento. A síncope da vogal levaria à criação das estruturas silábicas [ fabrk ], [ suplk ].

206 206 Queda sistemática foi observada para a vogal alta posterior: tanto nos dados do PB quanto no PE, a vogal foi apagada, independentemente da constituição do sintagma fonológico. Diversos trabalhos que investigam a queda da vogal postônica não final em variedades do Português Brasileiro mostram que as vogais labiais são as mais propensas a serem apagadas (Cf, Amaral, 1999; Silva, 2006; Ramos, 2008). No corpus constituído para a análise acústica, a queda de /u/ foi categórica. Contribui também para esse comportamento o fato de que a estrutura fonotática do vocábulo que continha a vogal alta posterior é o contexto apontado como altamente favorecedor da queda do segmento (obstruinte não nasal no onset da sílaba postônica não final, líquida no onset da sílaba átona final). Assim, a conjugação entre contexto fonológico adjacente e o ponto de articulação da vogal foi decisivo para a síncope do /u/ nos dados. As figuras a seguir ilustram a ausência 11 do sinal acústico da vogal em alguns dados. 11 Meireles (com.pes) alerta que, do ponto de vista articulatório, é possível uma consoante oclusiva ser produzida concomitantemente a uma vogal.

207 207 ( si h k l U Figura 14 Vocábulo círculo contexto 1 : [o círculo]ɸ [ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Em destaque a sílaba final [klu]

208 208 s i h k l U Figura 15 Vocábulo círculo contexto 2 : [o círculo preto]ɸ[ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Em destaque a sílaba final [klu]

209 209 s i h k l U Figura 16 Vocábulo círculo contexto 3: [o círculo preto da esquina]ɸ[ fechou]ɸ. Informante brasileiro 1 Leitura 1. Em destaque a sílaba final [klu].

210 210 As três figuras revelam que o enfraquecimento atinge todo o contexto postônico (consoantes e vogais apresentam uma realização reduzida), mas as vogais átonas finais ainda se mantêm. As postônicas não finais não foram realizadas em nenhum dos três contextos. Nos dados do PE verificam se o enfraquecimento da consoante no onset da sílaba postônica não final, a queda da vogal postônica não final e também o desaparecimento da consoante no onset da sílaba átona final. As figuras a seguir mostram a realização do vocábulo por um mesmo informante nos três contextos analisados.

211 211 s i ɾ k U Figura 17 Vocábulo círculo contexto 1: [ o círculo] ɸ [ fechou]ɸ Informante português 2 Leitura 1. Em destaque a sílaba final [ku]

212 212 s i ɾ k U Figura 18 Vocábulo círculo contexto 2: [ o círculo preto]ɸ[ fechou]ɸ Informante português 2 Leitura 1. Em destaque a sílaba final [ku]

213 213 s i ɾ k U Figura 19 Vocábulo círculo contexto 3: [ o círculo preto da esquina]ɸ[fechou]ɸ). Informante português 2 Leitura 1. Em destaque a sílaba final. [ku]

O APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA DO RIO DE JANEIRO: UMA INVESTIGAÇÃO GEO-SOCIOLINGUÍSTICA Danielle Kely Gomes (Universidade Feder

O APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA DO RIO DE JANEIRO: UMA INVESTIGAÇÃO GEO-SOCIOLINGUÍSTICA Danielle Kely Gomes (Universidade Feder O APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA DO RIO DE JANEIRO: UMA INVESTIGAÇÃO GEO-SOCIOLINGUÍSTICA Danielle Kely Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 0. Apresentação Dentre as classes

Leia mais

THE DELETION OF VOWELS IN POST-STRESSED NON-FINAL POSITION: A CONTRASTIVE ANALYSIS OF VARIETIES OF THE PORTuguESE LANguAgE

THE DELETION OF VOWELS IN POST-STRESSED NON-FINAL POSITION: A CONTRASTIVE ANALYSIS OF VARIETIES OF THE PORTuguESE LANguAgE THE DELETION OF VOWELS IN POST-STRESSED NON-FINAL POSITION: A CONTRASTIVE ANALYSIS OF VARIETIES OF THE PORTuguESE LANguAgE O APAgAMENTO DAS VOgAIS POSTÔNICAS NÃO FINAIS: uma ANÁLISE CONTRASTIVA ENTRE VARIEDADES

Leia mais

VOGAIS MÉDIAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA CULTA CARIOCA

VOGAIS MÉDIAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA CULTA CARIOCA 3206 VOGAIS MÉDIAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA CULTA CARIOCA Alessandra de Paula Santos ( UFRJ/CNPq) INTRODUÇÃO A variação no âmbito das vogais médias, em contexto átono, constitui uma das características

Leia mais

O apagamento das vogais postônicas não finais em português: o papel do contexto fonético adjacente

O apagamento das vogais postônicas não finais em português: o papel do contexto fonético adjacente O apagamento das vogais postônicas não finais em português: o papel do contexto fonético adjacente Danielle Kely Gomes 1 e Alessandra de Paula Santos 2 UFF/UFRJ Brasil Abstract This paper aims to focus

Leia mais

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA *

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA * 45 de 297 AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA * Juscélia Silva Novais Oliveira ** (UESB) Marian dos Santos Oliveira ***

Leia mais

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Alessandra de Paula (FAPERJ/UFRJ)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Alessandra de Paula (FAPERJ/UFRJ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ANÁLISE ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS POSTÔNICAS NÃO FINAIS: ALTEAMENTO E VELOCIDADE DE FALA Alessandra de Paula (FAPERJ/UFRJ) anelassard@hotmail.com I TRODUÇÃO A variação

Leia mais

AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA

AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA II Simpósio sobre Vogais 21 a 23 de maio de 2009 Belo Horizonte- MG AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA Luana Machado Universidade Federal do Rio de Janeiro Orientadores:

Leia mais

A DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSO DE APAGAMENTO DO RÓTICO NAS QUATRO ÚLTIMAS DÉCADAS: TRÊS CAPITAIS EM CONFRONTO

A DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSO DE APAGAMENTO DO RÓTICO NAS QUATRO ÚLTIMAS DÉCADAS: TRÊS CAPITAIS EM CONFRONTO A DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSO DE APAGAMENTO DO RÓTICO NAS QUATRO ÚLTIMAS DÉCADAS: TRÊS CAPITAIS EM CONFRONTO Aline de Jesus Farias Oliveira (UFRJ/IC-FAPERJ)) Dinah Maria Isensee Callou (UFRJ/CNPq) dcallou@gmail.com

Leia mais

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA 19 de 107 REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA Juscélia Silva Novais Oliveira * (Uesb) Priscila de Jesus Ribeiro ** (UESB) Vera Pacheco *** (Uesb) RESUMO O PB, segundo

Leia mais

A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS A PARTIR DOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL

A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS A PARTIR DOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS A PARTIR DOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL Aluiza Alves de Araújo Resumo: Esta investigação estuda a síncope nas palavras proparoxítonas, sob o prisma da sociolinguística

Leia mais

O APAGAMENTO DO RÓTICO EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: INDICADORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS

O APAGAMENTO DO RÓTICO EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: INDICADORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS O APAGAMENTO DO RÓTICO EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: INDICADORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS INTRODUÇÃO Vitor Caldas (PIBIC/UFRJ) vitor_caldas@hotmail.com Dinah Callou (UFRJ/CNPq) dcallou@gmail.com Neste trabalho,

Leia mais

FALAR POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA

FALAR POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA O ALTEAMENTO DA POSTÔNICA NÃO FINAL /e/ NO FALAR POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA Aluiza Alves de Araújo (UECE) aluizazinha@hotmail.com 1. Introdução O vocalismo átono do português brasileiro,

Leia mais

O /S/ EM CODA SILÁBICA NO NORDESTE, A PARTIR DOS INQUÉRITOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB).

O /S/ EM CODA SILÁBICA NO NORDESTE, A PARTIR DOS INQUÉRITOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB). 157 de 297 O /S/ EM CODA SILÁBICA NO NORDESTE, A PARTIR DOS INQUÉRITOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB). Cláudia Santos de Jesus (UFBA) Jacyra Andrade Mota (UFBA) RESUMO A presente pesquisa

Leia mais

APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO FINAIS NA FALA FLUMINENSE: UM ESTUDO GEOLINGUÍSTICO

APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO FINAIS NA FALA FLUMINENSE: UM ESTUDO GEOLINGUÍSTICO APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO FINAIS NA FALA FLUMINENSE: UM ESTUDO GEOLINGUÍSTICO Introdução Danielle Kely Gomes (UFRJ) daniellekgomes@gmail.com O vocalismo átono do português tem sido amplamente

Leia mais

REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA NA ESCRITA

REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA NA ESCRITA 79 de 368 REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA NA ESCRITA Geisa Borges da Costa * (UFBA) RESUMO O presente trabalho objetiva investigar os aspectos relacionados ao apagamento do rótico

Leia mais

SÍNCOPE E ALÇAMENTO DA VOGAL POSTÔNICA NÃO-FINAL/O/: INDÍCIOS DE MOTIVAÇÃO EXTRALINGUÍSTICA

SÍNCOPE E ALÇAMENTO DA VOGAL POSTÔNICA NÃO-FINAL/O/: INDÍCIOS DE MOTIVAÇÃO EXTRALINGUÍSTICA SÍNCOPE E ALÇAMENTO DA VOGAL POSTÔNICA NÃO-FINAL/O/: INDÍCIOS DE MOTIVAÇÃO EXTRALINGUÍSTICA SYNCOPE AND RAISING OF THE POSTONIC NON-FINAL VOWEL /O /: INDICATION OF EXTRALINGUISTIC MOTIVATION Raquel Gomes

Leia mais

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro Estudos da Língua(gem) Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro Characteristics of the duration of the fricative noise of a sample of Brazilian Portuguese

Leia mais

Estudo variacionista sobre a palatalização de S em coda silábica na fala fluminense

Estudo variacionista sobre a palatalização de S em coda silábica na fala fluminense Estudo variacionista sobre a palatalização de S em coda silábica na fala fluminense Silvia Figueiredo Brandão Faculdade de Letras Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Conselho Nacional de Desenvolvimento

Leia mais

TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL

TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL 225 de 667 TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL Dyuana Darck Santos Brito 61 (UESB) Vera Pacheco 62 (UESB) Marian Oliveira 63 (UESB) RESUMO considerando que a tonicidade é um aspecto importante

Leia mais

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES Letícia Cotosck Vargas (PUCRS/PIBIC- CNPq 1 ) 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem por objetivo examinar um dos processos de sândi externo verificados

Leia mais

As vogais médias postônicas não-finais em corpora de perfis sócio e geolingüístico

As vogais médias postônicas não-finais em corpora de perfis sócio e geolingüístico As vogais médias postônicas não-finais em corpora de perfis sócio e geolingüístico (Post-stressed non-final mid vowels in corpora of social and geolinguistic profiles) Alessandra de Paula Santos 1 1 Faculdade

Leia mais

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR Nome do COMPONENTE CURRICULAR: Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa Curso: LICENCIATURA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA Período: 4 Semestre:

Leia mais

A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA

A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA Página 57 de 510 A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA Juscimaura Lima Cangirana (UESB) Elisângela Gonçalves (UESB) RESUMO Procura-se,

Leia mais

VOWELS IN NON-FINAL POST-TONIC CONTEXT IN VARIETIES OF PORTUGUESE: THEORETICAL QUESTIONS

VOWELS IN NON-FINAL POST-TONIC CONTEXT IN VARIETIES OF PORTUGUESE: THEORETICAL QUESTIONS VOWELS IN NON-FINAL POST-TONIC CONTEXT IN VARIETIES OF PORTUGUESE: THEORETICAL QUESTIONS VOGAIS EM CONTEXTO POSTÔNICO NÃO FINAL EM VARIEDADES DO PORTUGUÊS: QUESTÕES TEÓRICAS Alessandra DE PAULA Universidade

Leia mais

Apresentação Conceitos básicos Gramática, variação e normas Saberes gramaticais na escola... 31

Apresentação Conceitos básicos Gramática, variação e normas Saberes gramaticais na escola... 31 Sumário Apresentação... 9 Conceitos básicos... 11 Gramática, variação e normas... 13 Dinah Callou A propósito de gramática e norma... 15 O ensino e a constituição de normas no Brasil... 21 A propósito

Leia mais

Apresentar uma análise inicial da variação na sílaba postônicaem paroxítonas segundo a

Apresentar uma análise inicial da variação na sílaba postônicaem paroxítonas segundo a Variação na sílaba postônica final no falar mineiro Alan Jardel de Oliveira (UFMG) 1 Objetivos Apresentar uma análise inicial da variação na sílaba postônicaem paroxítonas segundo a sociolingüística variacionista.

Leia mais

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1 39 de 107 VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1 Cirlene de Jesus Alves * (Uesb) Layane Dias Cavalcante * (Uesb) Vera Pacheco ** (Uesb) RESUMO Esse trabalho

Leia mais

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB 3661 AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB INTRODUÇÃO Francisco De Oliveira Meneses (UESB/ FAPESB) Vera PACHECO (UESB) As oclusivas são sons consonânticos

Leia mais

VOGAIS EM CONTEXTO POSTÔNICO MEDIAL NO PORTUGUÊS DE SÃO TOMÉ

VOGAIS EM CONTEXTO POSTÔNICO MEDIAL NO PORTUGUÊS DE SÃO TOMÉ 6 CAPÍTULO VOGAIS EM CONTEXTO POSTÔNICO MEDIAL NO PORTUGUÊS DE SÃO TOMÉ 1. INTRODUÇÃO DANIELLE KELY GOMES Reflexões sobre o vocalismo átono sempre estiveram em pauta nos estudos sobre a Fonologia do Português,

Leia mais

ANÁLISE DA ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS SEM MOTIVAÇÃO APARENTE 1. INTRODUÇÃO

ANÁLISE DA ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS SEM MOTIVAÇÃO APARENTE 1. INTRODUÇÃO ANÁLISE DA ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS SEM MOTIVAÇÃO APARENTE DÉBORAH VIEIRA PINTO AGUIAR 1 ; MARIA JOSÉ BLASKOVSKI VIEIRA 2 1 Universidade Federal de Pelotas ddeborahvieira@gmail.com 1 2 Universidade

Leia mais

Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de falar sulista, à área de falar fluminense e à área de falar mineiro, conforme Nascentes (1953)

Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de falar sulista, à área de falar fluminense e à área de falar mineiro, conforme Nascentes (1953) VARIAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ-TÔNICAS NO FALAR DE BELO HORIZONTE: UM ESTUDO EM TEMPO APARENTE Amanda Felicori de Carvalho e Maria do Carmo Viegas Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de

Leia mais

ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS *

ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS * 57 de 297 ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS * Francisco Meneses (UESB) Vera Pacheco (UESB) RESUMO A duração das vogais

Leia mais

UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA DA DUPLA NEGAÇÃO NO SERTÃO DA RESSACA

UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA DA DUPLA NEGAÇÃO NO SERTÃO DA RESSACA Página 143 de 511 UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA DA DUPLA NEGAÇÃO NO SERTÃO DA RESSACA Savanna Souza de Castro Julinara Silva Vieira Valéria Viana Sousa Jorge Augusto Alves Silva RESUMO A negação é um

Leia mais

O PROCESSO FONOLÓGICO DE NÃO-PRODUÇÃO NA ESCRITA DE ESTRUTURAS SILÁBICAS COMPLEXAS

O PROCESSO FONOLÓGICO DE NÃO-PRODUÇÃO NA ESCRITA DE ESTRUTURAS SILÁBICAS COMPLEXAS O PROCESSO FONOLÓGICO DE NÃO-PRODUÇÃO NA ESCRITA DE ESTRUTURAS SILÁBICAS COMPLEXAS Susie Enke Ilha 1 1. Introdução O presente trabalho tem como objetivo investigar o processo fonológico de não-produção

Leia mais

COMPORTAMENTO DA FRICATIVA CORONAL EM POSIÇÃO DE CODA: UM ESTUDO VARIACIONISTA DA INTERFACE FALA E LEITURA DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PESSOENSES

COMPORTAMENTO DA FRICATIVA CORONAL EM POSIÇÃO DE CODA: UM ESTUDO VARIACIONISTA DA INTERFACE FALA E LEITURA DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PESSOENSES 4175 COMPORTAMENTO DA FRICATIVA CORONAL EM POSIÇÃO DE CODA: UM ESTUDO VARIACIONISTA DA INTERFACE FALA E LEITURA DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PESSOENSES Priscila Evangelista Morais (UFPB/CNPq) Izete de Souza

Leia mais

Fatos fonéticos em estudantes residentes em áreas rurais da Bahia *

Fatos fonéticos em estudantes residentes em áreas rurais da Bahia * Fatos fonéticos em estudantes residentes em áreas rurais da Bahia * 1 Gredson dos Santos Mestre em Letras / PPGLL-UFBA gredsons@bol.com.br Resumo O trabalho, de natureza empírica, pautado em princípios

Leia mais

Conclusão. Juliana Simões Fonte

Conclusão. Juliana Simões Fonte Conclusão Juliana Simões Fonte SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FONTE, JS. Rumores da escrita, vestígios do passado: uma interpretação fonológica das vogais do português arcaico por meio da

Leia mais

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA Página 33 de 315 INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA Michael Douglas Silva Dias 9 (UESB) Vera Pacheco 10

Leia mais

Análise fonológica da entoação: estudo constrastivo entre o português e. o espanhol

Análise fonológica da entoação: estudo constrastivo entre o português e. o espanhol Análise fonológica da entoação: estudo constrastivo entre o português e o espanhol Kelly Cristiane Henschel Pobbe de Carvalho (FCL/ UNESP-Assis) Introdução Este trabalho consiste na apresentação de um

Leia mais

PROGRAMA. PARTE PRÁTICA: Comentário de textos a partir do século XVI.

PROGRAMA. PARTE PRÁTICA: Comentário de textos a partir do século XVI. DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA VI PERÍODO: 79.1/80.2 OBJETIVOS: Induzir os alunos a uma visão pancrônica da Língua Portuguesa, através do confronto de sua atual estrutura com as origens dessa estrutura.

Leia mais

P R O G R A M A III - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

P R O G R A M A III - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA VI PERÍODO: 2000.1 a 2003.1 CARGA HORÁRIA: 60 HORAS-AULA

Leia mais

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86 Página 497 de 658 VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86 Jaciara Mota Silva ** Taise Motinho Silva Santos *** Marian Oliveira **** Vera Pacheco ***** RESUMO:

Leia mais

PROGRAMA. Romanização da Península Ibérica; A reconquista; Modalidades do latim: clássico e vulgar;

PROGRAMA. Romanização da Península Ibérica; A reconquista; Modalidades do latim: clássico e vulgar; UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA VI PERÍODO: 98.1/99.1 CARGA HORÁRIA: 60 HORAS-AULA

Leia mais

Sobre vogais médias em posição postônica não final na fala popular do Rio de Janeiro

Sobre vogais médias em posição postônica não final na fala popular do Rio de Janeiro LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE Sobre vogais médias em posição postônica não final na fala popular do Rio de Janeiro On mid vowels

Leia mais

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO Página 47 de 315 PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO Tássia da Silva Coelho 13 (UESB) Vera Pacheco 14 (UESB) RESUMO Este trabalho visou a avaliar a configuração

Leia mais

Marisa Cruz & Sónia Frota. XXVII Encontro Nacional da APL

Marisa Cruz & Sónia Frota. XXVII Encontro Nacional da APL Marisa Cruz & Sónia Frota Laboratório de Fonética (CLUL/FLUL) Universidade de Lisboa XXVII Encontro Nacional da APL FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 28 de Outubro de 2011 Para a prosódia do foco em variedades

Leia mais

O ALÇAMENTO VOCÁLICO NO FALAR BALSENSE

O ALÇAMENTO VOCÁLICO NO FALAR BALSENSE O ALÇAMENTO VOCÁLICO NO FALAR BALSENSE Autora: Luciara Silva Teixeira Hellen Vitória Queiroz de Brito Isabella Divina Nunes Lazarin Universidade Estatual do Maranhão UEMA Centro de Estudos Superiores de

Leia mais

APRESENTAÇÃO: ENCONTRO COMEMORATIVO DO PROJETO VARSUL: VARSUL 30 ANOS

APRESENTAÇÃO: ENCONTRO COMEMORATIVO DO PROJETO VARSUL: VARSUL 30 ANOS BRESCANCINI, C.; MONARETTO, V. Apresentação: Encontro Comemorativo do Projeto VARSUL: VARSUL 30 anos. ReVEL, edição especial n. 13, 2016. [www.revel.inf.br]. APRESENTAÇÃO: ENCONTRO COMEMORATIVO DO PROJETO

Leia mais

ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA RESUMO

ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA RESUMO (1) ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA Cecília de Godoi Fonseca (1) ;Valter Pereira Romano (2) Aluna do 6º Período do curso de Letras do

Leia mais

10 A CONSTRUÇÃO FONOLÓGICA DA PALAVRA

10 A CONSTRUÇÃO FONOLÓGICA DA PALAVRA APRESENTAÇÃO Os trabalhos reunidos neste volume apresentam, em seu conjunto, os resultados das pesquisas desenvolvidas pelos membros do Grupo de Trabalho (gt) de Fonética e Fonologia ao longo dos dez anos

Leia mais

UM CASO DE ESTABILIDADE FONOLÓGICA COMPROVADO EM TEMPO APARENTE E EM TEMPO REAL

UM CASO DE ESTABILIDADE FONOLÓGICA COMPROVADO EM TEMPO APARENTE E EM TEMPO REAL UM CASO DE ESTABILIDADE FONOLÓGICA COMPROVADO EM TEMPO APARENTE E EM TEMPO REAL Maria Cecília de Magalhães Mollica* Camille de Miranda Fernandez 1 Resumo Este texto reúne resultados de estudo sobre o uso

Leia mais

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1 31 de 368 IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1 Renato Abreu Soares * (Uesb) Vera Pacheco ** (Uesb) RESUMO Modificações na constituição intrínseca dos segmentos

Leia mais

Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa DO TRATAMENTO FORMAL DA FALA CONECTADA EM FRANCÊS

Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa DO TRATAMENTO FORMAL DA FALA CONECTADA EM FRANCÊS Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa DO TRATAMENTO FORMAL DA FALA CONECTADA EM FRANCÊS por RICARDO ARAUJO FERREIRA SOARES Tese de Doutorado apresentada

Leia mais

Relação entre acento e entoação numa variedade do Português europeu continental

Relação entre acento e entoação numa variedade do Português europeu continental Relação entre acento e entoação numa variedade do Português europeu continental ROSA LÍDIA COIMBRA LURDES MOUTINHO ANA MARGARIDA VAZ Universidade de Aveiro, Portugal Resumo Com a pesquisa que seguidamente

Leia mais

VARIAÇÃO DITONGO/HIATO

VARIAÇÃO DITONGO/HIATO VARIAÇÃO DITONGO/HIATO Viviane Sampaio 1 1 Introdução Este estudo é parte integrante do projeto Epêntese Consonantal Regular e Irregular da prof. Dr. Leda Bisol 2 que trata das consoantes e do glide. Contudo,

Leia mais

A CONCORDÂNCIA VERBAL: A RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS E NÃO LINGÜÍSTICAS

A CONCORDÂNCIA VERBAL: A RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS E NÃO LINGÜÍSTICAS 543 A CONCORDÂNCIA VERBAL: A RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS E NÃO LINGÜÍSTICAS Constância Maria Borges de Souza * Introdução Os estudos da Concordância Verbal têm demonstrado que os falantes de

Leia mais

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB)

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB) 61 de 119 UMA ANÁLISE DE F0 DAS VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 1 Luiz Carlos da Silva Souza** Priscila de Jesus Ribeiro*** Vera Pacheco**** RESUMO: Este trabalho tem por objetivo fornecer

Leia mais

Preâmbulo. Ensino do. Português

Preâmbulo. Ensino do. Português Da teoria à prática Ensino do Português Preâmbulo Os novos programas de Português para o Ensino Básico entram em vigor no ano letivo que se inicia em 2010, altura em que está igualmente prevista a aplicação

Leia mais

O APAGAMENTO DO /R/ FINAL NA ESCRITA DE ESTUDANTES CATUENSES

O APAGAMENTO DO /R/ FINAL NA ESCRITA DE ESTUDANTES CATUENSES 1585 O APAGAMENTO DO /R/ FINAL NA ESCRITA DE ESTUDANTES CATUENSES Geisa Borges da Costa PPGLL/UFBA 0 Introdução Um dos campos em que a teoria da variação lingüística se mostrou bastante fecunda, tal como

Leia mais

COMO FALA O NORDESTINO: A VARIAÇÃO FÔNICA NOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL

COMO FALA O NORDESTINO: A VARIAÇÃO FÔNICA NOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL COMO FALA O NORDESTINO: A VARIAÇÃO FÔNICA NOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL Jacyra Andrade MOTA 1 UFBA/CNPq RESUMO O Projeto Atlas Lingüístico do Brasil tem como objetivos a descrição e

Leia mais

Variação lingüística. Coda silábica. Variedade popular. Sociolingüística. Linguistic variation. Syllable coda. Substandard variety. Sociolinguistics.

Variação lingüística. Coda silábica. Variedade popular. Sociolingüística. Linguistic variation. Syllable coda. Substandard variety. Sociolinguistics. VARIAÇÃO EM CODA SILÁBICA NA FALA POPULAR FLUMINENSE Silvia Figueiredo BRANDÃO Universidade Federal do Rio de Janeiro RESUMO Descreve-se a variação de S, R e L em coda silábica com base em resultados de

Leia mais

SOBRE AS VOGAIS PRETÔNICAS <e> E <o> EM PB E EM PE

SOBRE AS VOGAIS PRETÔNICAS <e> E <o> EM PB E EM PE 7 CAPÍTULO SOBRE AS VOGAIS PRETÔNICAS E EM PB E EM PE SERGIO DRUMMOND MADUREIRA CARVALHO 1 1. INTRODUÇÃO 12 A flutuação na pronúncia das vogais médias em Português, não apenas em contexto pretônico,

Leia mais

ANÁLISE VARIACIONISTA DO PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO DA PARAÍBA

ANÁLISE VARIACIONISTA DO PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO DA PARAÍBA 2453 ANÁLISE VARIACIONISTA DO PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO DA PARAÍBA Luana Anastácia Santos de Lima PROINCI/CNPq/UEPB 0. Introdução Durante muito tempo, os estudos lingüísticos despertaram interesse,

Leia mais

APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA INTERNA E EXTERNA: A REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO

APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA INTERNA E EXTERNA: A REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA INTERNA E EXTERNA: A REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO 1. Introdução Ingrid Oliveira (UFRJ) oliver.ingrid@hotmail.com Mayra Santana (UFRJ) mstn18@yahoo.com.br Carolina

Leia mais

SYLLABIC CONSTRAINTS AND SYNCOPE IN PROPAROXYTONES IN THE SOUTH REGION OF BRAZIL

SYLLABIC CONSTRAINTS AND SYNCOPE IN PROPAROXYTONES IN THE SOUTH REGION OF BRAZIL SYLLABIC CONSTRAINTS AND SYNCOPE IN PROPAROXYTONES IN THE SOUTH REGION OF BRAZIL AS RESTRIÇÕES SILÁBICAS E A SÍNCOPE EM PROPAROXÍTONAS NO SUL DO BRASIL 1 Raquel Gomes CHAVES Universidade Federal de Santa

Leia mais

21467)7 5 $4#5+.'+41 &+#.'6#. 6'/#5)4#/#6+%#+5

21467)7 5 $4#5+.'+41 &+#.'6#. 6'/#5)4#/#6+%#+5 21467)7 5 $4#5+.'+41 &+#.'6#. 6'/#5)4#/#6+%#+5 , 0+#/4#/15 57'.+/#4+#%1'.*1 14)#0+

Leia mais

A REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL DE REFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA COMUNIDADE LINGUÍSTICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA *

A REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL DE REFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA COMUNIDADE LINGUÍSTICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA * 249 de 298 A REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL DE REFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA COMUNIDADE LINGUÍSTICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA * Daiane Gomes Bahia ** Elisângela Gonçalves *** Paula Barreto Silva **** RESUMO

Leia mais

DO ANTIGO AO NOVO: DA MUDANÇA DA TEORIA LINGUÍSTICA À MUDANÇA DA LÍNGUA

DO ANTIGO AO NOVO: DA MUDANÇA DA TEORIA LINGUÍSTICA À MUDANÇA DA LÍNGUA 471 de 663 DO ANTIGO AO NOVO: DA MUDANÇA DA TEORIA LINGUÍSTICA À MUDANÇA DA LÍNGUA Sivonei Ribeiro Rocha 146 (UESB) Jorge Augusto Alves da Silva 147 (UESB) RESUMO Este trabalho compara o conceito de mudança

Leia mais

As construções de tópico marcado no português falado no Libolo/Angola

As construções de tópico marcado no português falado no Libolo/Angola UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS RAQUEL AZEVEDO DA SILVA As construções de tópico marcado no português falado no Libolo/Angola São Paulo 2017 RAQUEL AZEVEDO DA

Leia mais

Thiago Leonardo RIBEIRO 1

Thiago Leonardo RIBEIRO 1 182 CASTRO, Vandersi Sant Ana. Revisitando O Atlas Linguístico do Paraná (ALPR) um estudo do r caipira. In: ALTINO, Fabiane Cristina (org.). Múltiplos olhares sobre a diversidade linguística: uma homenagem

Leia mais

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO NA ESCRITA DAS SÉRIES INICIAIS Geisa Borges da Costa (UNEB) geicosta@ig.com.br RESUMO O presente trabalho, pautando-se nos pressupostos teóricos da sociolinguística

Leia mais

Percepções sobre o acesso à justiça: olhares dos usuários da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Percepções sobre o acesso à justiça: olhares dos usuários da Defensoria Pública do Estado de São Paulo Juliana Ribeiro Brandão Percepções sobre o acesso à justiça: olhares dos usuários da Defensoria Pública do Estado de São Paulo Universidade de São Paulo Faculdade de Direito São Paulo 2010 Juliana Ribeiro

Leia mais

Trabalho laboratorial sobre Ritmo: produção

Trabalho laboratorial sobre Ritmo: produção Prosódia Ritmo e Melodia Professora Doutora Sónia Frota Marisa Cruz Laboratório de Fonética (FLUL/CLUL) Universidade de Lisboa 29 de Março de 2016 5 de Abril de 2016 Trabalho laboratorial sobre Ritmo:

Leia mais

Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos. Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos. Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura

Leia mais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA VARIAÇÃO FONÉTICA EM REGIÕES DE MINAS GERAIS Plano de Trabalho Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) UBERLÂNDIA Setembro, 2016

Leia mais

CRIAÇÃO LEXICAL: O USO DE NEOLOGISMOS NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS

CRIAÇÃO LEXICAL: O USO DE NEOLOGISMOS NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS CRIAÇÃO LEXICAL: O USO DE NEOLOGISMOS NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS Paulo Gerson Rodrigues Stefanello ¹; Elza Sabino da Silva Bueno². ¹Aluno do 4º ano do Curso de Letras Português/Espanhol. Bolsista

Leia mais

A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA NOMINAL NUM DIALETO RURAL

A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA NOMINAL NUM DIALETO RURAL 5 CAPÍTULO A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA NOMINAL NUM DIALETO RURAL 1. INTRODUÇÃO 1 EVANILDA MARINS ALMEIDA 1 A pesquisa, cujos resultados se discutem, teve por objetivo analisar o comportamento do -s marcador

Leia mais

A PRETÔNICA /O/ NA FALA DE NOVA IGUAÇU/RJ

A PRETÔNICA /O/ NA FALA DE NOVA IGUAÇU/RJ 15 CAPÍTULO A PRETÔNICA /O/ NA FALA DE NOVA IGUAÇU/RJ FABIANE DE MELLO VIANNA DA ROCHA 1 1. INTRODUÇÃO 1 Este artigo expõe parte dos resultados da análise variacionista de Rocha (2013), destacando o comportamento

Leia mais

A REALIZAÇÃO DAS FRICATIVAS ALVEOLARES NAS CAPITAIS DA REGIÃO SUDESTE: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB)

A REALIZAÇÃO DAS FRICATIVAS ALVEOLARES NAS CAPITAIS DA REGIÃO SUDESTE: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB) A REALIZAÇÃO DAS FRICATIVAS ALVEOLARES NAS CAPITAIS DA REGIÃO SUDESTE: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB) Dayse de Souza Lourenço Prof. Drª Vanderci de Andrade Aguilera

Leia mais

VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA

VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA Página 27 de 315 VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA Luiz Carlos da Silva Souza 7 (UESB/Fapesb) Vera Pacheco 8 (UESB) RESUMO Este

Leia mais

Colaboradores deste número

Colaboradores deste número Colaboradores deste número CARLOS FELIPE DA CONCEIÇÃO PINTO Graduado e mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é aluno do curso de doutorado em Linguística na Universidade Estadual

Leia mais

O APAGAMENTO DAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NO FALAR MARANHENSE 1

O APAGAMENTO DAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NO FALAR MARANHENSE 1 O APAGAMENTO DAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NO FALAR MARANHENSE 1 Arthur Pereira SANTANA 2 RESUMO: Este estudo analisa a síncope em proparoxítonas no falar maranhense. Investigam-se os motivadores linguísticos

Leia mais

SÍNCOPE DA PROPAROXÍTONA: UMA VISÃO VARIACIONISTA

SÍNCOPE DA PROPAROXÍTONA: UMA VISÃO VARIACIONISTA 225 SÍNCOPE DA PROPAROXÍTONA: UMA VISÃO VARIACIONISTA André Pedro da Silva 1 Dermeval da Hora 2 Juliene Lopes Ribeiro Pedrosa 3 INTRODUÇÃO Os primeiros pensamentos abordando de forma inerente a relação

Leia mais

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275 Objetivo, programa e cronograma da disciplina: - 1 o. Semestre de 2019 1. Objetivo: Apresentar aos alunos os aspectos fundamentais da fonologia da língua portuguesa, de um ponto de vista histórico e descritivo.

Leia mais

REVISITANDO OS UNIVERSAIS FONOLÓGICOS DE JAKOBSON

REVISITANDO OS UNIVERSAIS FONOLÓGICOS DE JAKOBSON Página 207 de 513 REVISITANDO OS UNIVERSAIS FONOLÓGICOS DE JAKOBSON Laís Rodrigues Silva Bockorni (IC- UESB/GEDEF) Maria de Fátima de Almeida Baia (PPGLIN/GEDEF/UESB) RESUMO Neste trabalho, revisitamos

Leia mais

Fonologia Gerativa. Traços distintivos Redundância Processos fonológicos APOIO PEDAGÓGICO. Prof. Cecília Toledo

Fonologia Gerativa. Traços distintivos Redundância Processos fonológicos APOIO PEDAGÓGICO. Prof. Cecília Toledo Fonologia Gerativa Traços distintivos Redundância Processos fonológicos APOIO PEDAGÓGICO Prof. Cecília Toledo ceciliavstoledo@gmail. com PRESSUPOSTOS DA FONOLOGIA GERATIVA A gramática é concebida como

Leia mais

A INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS NA SUPRESSÃO DAS SEMIVOGAIS DOS DITONGOS EI E OU NA ESCRITA INFANTIL 1. INTRODUÇÃO

A INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS NA SUPRESSÃO DAS SEMIVOGAIS DOS DITONGOS EI E OU NA ESCRITA INFANTIL 1. INTRODUÇÃO A INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS NA SUPRESSÃO DAS SEMIVOGAIS DOS DITONGOS EI E OU NA ESCRITA INFANTIL ADAMOLI, Marco Antônio 1 ; MIRANDA, Ana Ruth Moresco 2 1 Faculdade de Educação PPGE/UFPel

Leia mais

Produção do Português Escrito

Produção do Português Escrito Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2015-2016 Produção do Português Escrito Sintaxe e Pontuação 14 e 16 de março 18 e 20 de abril 23 e 25 de maio Conceitos introdutórios segunda-feira 14 de março

Leia mais

CONTRIBUTOS PARA O ESTUDO DO ENSINO DO PORTUGUÊS A FALANTES DE OUTRAS LÌNGUAS O CONCELHO DE ÉVORA. Ao meu pai, no meu coração, para sempre.

CONTRIBUTOS PARA O ESTUDO DO ENSINO DO PORTUGUÊS A FALANTES DE OUTRAS LÌNGUAS O CONCELHO DE ÉVORA. Ao meu pai, no meu coração, para sempre. Ao meu pai, no meu coração, para sempre. iii Agradecimento O meu primeiro agradecimento vai para a Professora Doutora Maria José Grosso que para além da orientação científica indispensável, sempre me apoiou,

Leia mais

A VARIAÇÃO DO MODO SUBJUNTIVO: UMA RELAÇÃO COM O PROCESSO DE EXPRESSÃO DE MODALIDADES

A VARIAÇÃO DO MODO SUBJUNTIVO: UMA RELAÇÃO COM O PROCESSO DE EXPRESSÃO DE MODALIDADES 477 de 663 A VARIAÇÃO DO MODO SUBJUNTIVO: UMA RELAÇÃO COM O PROCESSO DE EXPRESSÃO DE MODALIDADES Vânia Raquel Santos Amorim 148 (UESB) Valéria Viana Sousa 149 (UESB) Jorge Augusto Alves da Silva 150 (UESB)

Leia mais

A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na

A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na variedade do interior paulista Márcia Cristina do Carmo (FAPESP 06/59141-9) Orientadora: Profa. Dra. Luciani Ester Tenani UNESP Câmpus

Leia mais

Processamento fonológico e habilidades iniciais. de leitura e escrita em pré-escolares: enfoque no. desenvolvimento fonológico

Processamento fonológico e habilidades iniciais. de leitura e escrita em pré-escolares: enfoque no. desenvolvimento fonológico Renata Maia Vitor Processamento fonológico e habilidades iniciais de leitura e escrita em pré-escolares: enfoque no desenvolvimento fonológico Dissertação de mestrado apresentada ao curso de Pós-Graduação

Leia mais

Disciplinas Optativas

Disciplinas Optativas UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Linguística e Filologia Relação de Disciplinas Optativas Disciplinas Optativas LEF001 LINGUÍSTICA B Trabalho de campo nas áreas da fonologia, morfologia,

Leia mais

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275 Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275-1 o. Semestre de 2018 1. Objetivo: Apresentar aos alunos os aspectos fundamentais da fonologia da língua portuguesa,

Leia mais

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL Maria do Carmo VIEGAS UFMG Alan Jardel de OLIVEIRA UFMG RESUMO Nosso objetivo neste texto é o estudo do apagamento da vogal átona em sílaba

Leia mais

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL. Redução/apagamento. Vogal. Dialeto mineiro. Léxico. Variação fonético-fonológica.

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL. Redução/apagamento. Vogal. Dialeto mineiro. Léxico. Variação fonético-fonológica. APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL Maria do Carmo VIEGAS UFMG Alan Jardel de OLIVEIRA UFMG RESUMO Nosso objetivo neste texto é o estudo do apagamento da vogal átona em sílaba

Leia mais

Quadro 2: vogais pretônicas orais do português (SILVA, 2008, p. 81)

Quadro 2: vogais pretônicas orais do português (SILVA, 2008, p. 81) ɔ Quadro 1: vogais tônicas orais do português (SILVA, 2008, p. 79) ɔ] em posição pretônica acarreta a marca de variação dialetal geográfica ou mesmo do idioleto. Ela cita como exemplo as palavras d[є]dal,

Leia mais

A SÍNCOPE REVISITADA: ANÁLISE COM BASE NO CORPUS DO ALiMA 1

A SÍNCOPE REVISITADA: ANÁLISE COM BASE NO CORPUS DO ALiMA 1 Número 05-2012 Departamento de Letras Universidade Federal do Maranhão A SÍNCOPE REVISITADA: ANÁLISE COM BASE NO CORPUS DO ALiMA 1 Arthur Pereira SANTANA 2 RESUMO: Estudo que analisa a síncope em proparoxítonas

Leia mais

Samuel Gomes de Oliveira 1.

Samuel Gomes de Oliveira 1. OLIVEIRA, Samuel Gomes de. Resenha de História do português brasileiro volume III: mudança fônica do português brasileiro (2019), coordenado por Ataliba T. de Castilho, Dermeval da Hora, Elisa Battisti

Leia mais

AVALIAÇÃO DE OUTIVA DA QUALIDADE VOCÁLICA EM PALAVRAS DERIVADAS POR SUFIXAÇÃO

AVALIAÇÃO DE OUTIVA DA QUALIDADE VOCÁLICA EM PALAVRAS DERIVADAS POR SUFIXAÇÃO 25 de 297 AVALIAÇÃO DE OUTIVA DA QUALIDADE VOCÁLICA EM PALAVRAS DERIVADAS POR SUFIXAÇÃO Vera Pacheco (UESB) RESUMO Este trabalho objetiva avaliar, auditivamente, se a adição dos sufixos diminutivo e aumentativo

Leia mais