MINISTÉRIO DA FAZENDA TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO. Voluntário ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 18 de julho de 2012

Transcrição

1 Fl. 120 Fl. 1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Recurso nº Acórdão nº Voluntário ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 18 de julho de 2012 Matéria Recorrente Recorrida II. MULTA REGULAMENTAR LOCALFRIO S/A ARMAZÉNS GERAIS FRIGORÍFICOS FAZENDA NACIONAL Assunto: Regimes Aduaneiros Data do fato gerador: 19/07/2007 ENTREPOSTO ADUANEIRO. A ausência de conferência física e documental da DI, necessárias à concessão do regime especial de entreposto aduaneiro, não caracteriza, por si só, embaraço à fiscalização. Recurso Voluntário provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Irene Souza da Trindade Torres Presidente e Relatora Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Irene Souza da Trindade Torres, Rodrigo Cardozo Miranda, Gilberto de Castro Moreira Júnior, Luís Eduardo Garrossino Barbieri e Charles Mayer de Castro Souza. Relatório Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da decisão recorrida, o qual passo a transcrever: Trata o presente processo do Auto de Infração, de fls. 01 a 09, por meio do qual é feita a exigência da multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) aplicável a quem, por qualquer meio ou forma, omissiva ou comissiva, embaraçar, dificultar ou 1

2 Fl. 121 impedir a ação de fiscalização aduaneira, inclusive no caso de não apresentação de resposta, no prazo estipulado, a intimação em procedimento fiscal, conforme previsto no art. 107, IV, "c", do Decreto lei nº. 37, de 18/11/1966, DOU 21/11/1966. De acordo com o que consta na Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal de fls. 02 a 05, temos que: O importador LOCALFRIO SA ARMAZÉNS GERAIS FRIGORÍFICOS registrou, em 19/07/2007, Declaração de Importação n 07/ , diversas mercadorias, [tendo] solicitado regime especial de Entreposto Aduaneiro, na modalidade indireta, pelo prazo de um ano. A mercadoria chegou em Santos em 12/06/2007, a bordo do Navio Cordélia, procedente de Shangai, China, amparada pelo conhecimento de carga n COSU , de 16/05/2007. Em 27/09/2007 a empresa registrou a Declaração de Trânsito de Transferência DTT n 07/ , que foi parametrizada para o canal vermelho de conferencia aduaneira, com a finalidade de transportar, por via rodoviária, até o recinto PORTO SECO MULTILOG localizado em Itajaí SC, parte da mercadoria. Quando da conferência física, tendo em vista que o representante do importador apresentou apenas o extrato da DTT nº. 07/ , a fiscalização solicitou a apresentação da DI n 07/ , ocasião em que constatou que a referida DI não foi objeto de conferência documental ou física. Não foram encontrados registros sobre recepção ou encaminhamento do envelope referente à DI n 07/ , nem o interessado apresentou despacho ou documento comprovando os procedimentos relativos à conferência física ou documental da mercadoria. Intimada a apresentar explicações ou justificativas, a interessada esclareceu que a empresa LOCALFRIO não figura como contribuinte e sim como consignatário da carga, a qual deu entrada no Terminal em regime de entreposto aduaneiro, conforme DA n 07/ , e não DI, e solicitou orientações para regularizar o procedimento. Como a empresa não esclareceu a não observância das normas administrativas aplicáveis ao processo de Admissão em Entreposto Aduaneiro, foi proposto o cancelamento da DTT nº. 07/ , e submissão da DI n 07/ aos procedimentos de admissão em entreposto aduaneiro, e proposta a aplicação da multa, objeto deste processo. Não apresentando a DA n 07/ à fiscalização, deixaram de ser realizados os procedimentos previstos nos itens 1 a 5 da Comunicação de Serviço n 11, de 14/07/2000, a qual estava sujeita, como as conferência aduaneiras documental e física, qualquer que fosse o canal parametrizado. Cumulativamente, a fiscalização foi impedida de verificar a admissibilidade ou não da mercadoria no regime, bem como o controle do prazo de vigência, previstos nos artigos 17 e 25, da Instrução Normativa SRF n 241/02, assim como os artigos 366, 368, 370 e 371 do Decreto 4543/02. Mesmo sem a realização dos procedimentos indispensáveis, sem sua autorização para admissão em regime de entreposto aduaneiro, o importador efetuou o registro da DTT n 07/ , para transportar parte da mercadoria para o PORTO SECO MULTILOG. 2

3 Acórdão n.º Fl. 122 Fl. 2 Lavrado o Auto de Infração em tela e intimada a autuada, em 07/01/2008 (fl. 01), ela ingressou, em 06/02/2008, com a impugnação de fls. 71 e ss por meio da qual alega que: Em sua resposta às intimação recebida (fls. 12), diz que solicitou orientação para regularização do processo, momento em que não lhe foi permitida a apresentação da respectiva DA de regularização, fato este que, se aceito, a fiscalização a qualquer momento poderia concluir a correspondente "conferencia física" sem qualquer transtorno ou impedimento como alegado. Se houve erro foi por parte do auditor fiscal quando da intimação enviada, quando fala da DI n 07/ , quando na realidade deveria falar em DA. Não pode ser penalizado por não atendimento das instruções contidas na CS n 11/2000, por se tratar de procedimento interno que não diz respeito ao importador/consignatário. Alega ser injusta a aplicação de penalidade uma vez que toda mercadoria referente ao auto de infração foi regularizada. Ao final requer a improcedência da ação fiscal. A DRJ São Paulo II/SP julgou improcedente a impugnação (fls 82/87), nos termos da ementa adiante transcrita: Assunto: Regimes Aduaneiros Data do fato gerador: 28/06/2001 Entreposto Aduaneiro. O não observância de normas administrativas aplicáveis ao processo de admissão em entreposto aduaneiro acarreta a exigência de multa por embaraço aduaneiro. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Irresignada, a contribuinte apresentou recurso voluntário a este Colegiado (fls. 92/95), repisando os mesmos argumentos expedidos na impugnação. Ao final, requereu o cancelamento do Auto de Infração. É o Relatório. Voto Conselheira Irene Souza da Trindade Torres, Relatora O recurso voluntário é tempestivo e preenche as demais condições de admissibilidade, razões pelas quais dele conheço. 3

4 Fl. 123 Trata se de Auto de Infração lavrado contra a empresa LOCALFRIO S/A ARMAZÉNS GERAIS FRIGORÍFICOS, no valor de R$ 5.000,00, para aplicação de multa regulamentar, por embaraço à fiscalização, em razão da não apresentação da Declaração de Importação para Admissão em Entreposto Aduaneiro DA. A multa aplicada é aquela prevista pelo art. 107, IV, c do Decreto lei nº 37/66, com a redação dada pelo art. 77 da Lei nº /2003, que assim dispõe: Art Aplicam se ainda as seguintes multas:... IV de R$ 5.000,00 (cinco mil reais):... c) a quem, por qualquer meio ou forma, omissiva ou comissiva, embaraçar, dificultar ou impedir ação de fiscalização aduaneira, inclusive no caso de não apresentação de resposta, no prazo estipulado, a intimação em procedimento fiscal; A irregularidade verificada no processo de entreposto aduaneiro, regime especial requerido pela contribuinte, consta do Memorando EQCOF 041/2007, no qual a autoridade fiscal relata os fatos que deram origem à autuação (fl. 10). Vejamos: Sr. Chefe, Em 4 de outubro de 2007, o interessado apresentou para conferência física a DTT 07/ , parametrizada para o canal vermelho, considerando que se tratava de remoção de mercadoria que teria sido objeto de entreposto aduaneiro, solicitei ao interessado a apresentação da DI 07/ (canal verde), após analise preliminar da DI, pude constatar que: 1. A DI não foi objeto de conferência Documental ou Física. Embora toda mercadoria submetida ao regime de entreposto aduaneiro na importação deva receber tratamento de canal vermelho, independentemente do seu canal de parametrização no sistema Siscomex, isso não aconteceu. 2. Consultados os controles do depositário, não foram encontrados quaisquer registros sobre a recepção ou encaminhamento do envelope referente à DI 07/ O Depositário, mesmo após solicitação, não apresentou o despacho ou outro documento onde os procedimentos de conferência documental e física da mercadoria estivesse registrada. Considerando que os fatos caracterizam irregularidade administrativa e descumprimento às determinações da Alfândega do Porto de Santos, submeto o presente à apreciação superior. Os fatos que levaram à autuação foram descritos no Auto de Infração, tendo sido aplicada a multa por embaraço à fiscalização pelos seguintes motivos: Não apresentando a DA n 07/ à fiscalização, deixaram de ser realizados os procedimentos previstos nos itens 4

5 Acórdão n.º Fl. 124 Fl. 3 1 a 5, da Comunicação de Serviço n 11, de 14 de julho de 2000, da Alfândega do Porto de Santos, publicada no Diário Oficial da União em 18/07/2000, anexa às fls. 51 a 56, a que estava sujeita, como as conferências aduaneiras documental e fisica, qualquer que fosse o canal para o qual tenha sido parametrizada. Cumulativamente, foi impedida a verificação da admissibilidade ou não da mercadoria no regime, bem como o controle do prazo de vigência, previstos nos artigos 17 e 25, da Instrução Normativa SRF n 241, de 06 de novembro de 2002, assim como nos artigos 366, 367, 368, 370 e 371, do Decreto n 4.543, de 26 de dezembro de Não me parece que em algum momento a contribuinte, mesmo que por meio de seu despachante aduaneiro, tenha embaraçado ou dificultado ou impedido a Fiscalização. Pelos fatos, assim como narrados, vê se que, antes pelo contrário, apresentou toda a documentação que lhe estava disponível. Quando intimada a interessada a prestar justificativas para a não observância dos procedimentos administrativos pertinentes ao processo de entreposto aduaneiro (fl.11), a contribuinte apresentou prontamente resposta, ainda que esta não se mostrasse suficiente para justificar a inobservância da Comunicação de Serviço nº. 11/2000, expedida pela Alfândega do Porto de Santos (fl.12). A autoridade fiscal observou que não houve conferência física ou documental da DI, necessárias à concessão do regime especial de entreposto aduaneiro requerido, de forma que não houve, na verdade, a concessão do regime. Assim, portanto, não preenchidas as condições para a concessão do regime especial, ter se ia cancelada a DTT e os tributos seriam exigíveis como se importação comum tivesse sido realizada, porém, ao meu ver, a inobservância dos procedimentos, por si só, não caracterizaria o embaraço à fiscalização. Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso voluntário. É como voto. Irene Souza da Trindade Torres 5