Estudo da Plasticidade de Misturas de Bentonita-Areia
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- Sandra das Neves Coelho
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1 Estudo da Plasticidade de Misturas de Bentonita-Areia Giovana Collodetti e Kátia Vanessa Bicalho Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo Reno Reine Castello. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Solo Fundações & Geotecnia, Vitória, E. S. Marita Raquel Paris Cavassani Universidade Federal do Espírito Santo (UFES ) e Ensino Superior Unificada do Centro Leste (UCL), Serra, E. S. RESUMO: Misturas de bentonita-areia são muito utilizadas para a construção de tapetes impermeáveis para a contenção de resíduos (liners) e vem sendo estudadas na Engenharia Geotécnica há décadas. Este trabalho apresenta um estudo dos valores de limites de Atterberg de misturas de bentonita-areia, visando a previsão da plasticidade destas misturas a partir da plasticidade da bentonita. A avaliação de resultados experimentais apresentados na literatura confirma o modelo proposto por Castello e Polido (1994) e Bicalho et al. (22) e mostra que o índice de plasticidade de uma mistura de argila com areia varia linearmente com a quantidade de argila presente na mistura, desde que o volume de argila seja tal que não haja contato entre os grãos de areia (condição de argila pouco arenosa). Os resultados de ensaios de limites de Atterberg mostram que para percentagens superiores a 2 % de fração argilosa a teoria se mostra válida. PALAVRAS-CHAVE: Misturas Bentonita-Areia, Plasticidade, Limites de Atterberg, Estabilização Granulométrica. 1 INTRODUÇÃO Materiais adequados para a construção de tapetes impermeáveis para a contenção de resíduos (liners) devem ter baixa condutividade hidráulica (< 1-9 m/s) e boa estabilidade mecânica (características de inchamento e retração controladas). As argilas bentoníticas atendem ao requisito de baixa condutividade hidráulica, mas são muito expansivas e têm expressivas variações de volume quando submetidas a variações de umidade. Para diminuir este efeito indesejável costuma-se misturar a bentonita com areia, de modo que a condutividade hidráulica ainda atenda às necessidades deste uso e a expansividade seja controlada. (Montanez 22). Em 1994 Castello e Polido apresentaram uma teoria para investigar a influência da fração arenosa na compressão unidimensional de solos argilosos moles e em seus limites de Atterberg. Tal teoria permite calcular a plasticidade, os índices físicos e o comportamento de compressão unidimensional de um solo argiloso com várias proporções de areia, desde que se conheçam tais valores para uma determinada mistura dos mesmos componentes e que não haja contato entre os grãos de areia. Bicalho et al. (22) mostram experimentalmente através de ensaios de compressão odométrica e de limites de Atterberg em misturas de bentonita e areia que para percentagens superiores a 2% de fração argilosa a proposição feita por Castello e Polido (1994) se mostra válida. Este trabalho faz parte de uma pesquisa em curso no Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade Federal do Espirito Santo (LAMES-UFES), que envolve a verificação experimental, através de resultados de ensaios laboratoriais, da proposição feita por Castello e Polido (1994) e Bicalho et al. (22) para diferentes proporções de misturas de argila e areia. Neste artigo utilizam-se resultados de ensaios de limites de Atterberg para misturas de
2 bentonita-areia realizados no LAMES-UFES (Bicalho et al. 22) e publicados por Montanez (22) para avaliar a influência de frações arenosas na plasticidade dessas misturas. 2 MÉTODO DE ANÁLISE 2.1 Teoria Estudada Castello e Polido (1994) e Bicalho et al. (22) propõem uma normalização para os parâmetros de compressão odométrica e os valores de umidade para misturas de argila e areia. Tal normalização permite extrapolar as características de compressão de misturas de argila e areia em qualquer proporção, a partir de dados de compressão, granulometria, limites de Atterberg e densidade de sólidos de uma dada amostra de solo que contenha a mesma argila e mesma areia, inclusive argila pura. A teoria proposta restringe à condição de argila pouco arenosa, onde a compressão ocorre exclusivamente na matriz argilosa, de forma praticamente uniforme e sem concentrações de tensões. Os autores recomendam um maior número de ensaios com diferentes argilas para verificação experimental da proposição teórica e conclusões mais amplas. Seed et al. (1964) apresentam a seguinte equação para o cálculo do volume mínimo de argila, C fv, para preencher os vazios de uma determinada areia: x C fv = x (1) onde: x = peso seco em gramas de partículas de 1.es 1 LLc Gss + G sc 1 argila ( ) ; LL c = limite de liquidez da fração argila (em percentagem); G sc = densidade dos sólidos da fração argila; G ss = densidade dos sólidos da fração areia e e s = índice de vazios máximo da areia. Considerando-se que os grãos de areia são incompressíveis e que se a fração de areia em pequenas proporções numa mistura com argila é inerte, e produziria o simples efeito de diminuir o volume relativo da matriz argilosa na mistura, Castello e Polido (1994) classificaram as misturas de argila e areia como misturas com pouca areia, com areia e com muita areia, conforme mostra a Figura 1. Tal classificação baseia-se no comportamento dos grãos e da mistura durante a compressão. Segundo a classificação estudada, a matriz argilosa de uma mistura com pouca areia é comprimida uniformemente e não há alteração do arranjo formado pelos grãos de areia. A compressão da matriz argilosa de uma mistura com areia é desuniforme e cria concentrações de tensões entre os grãos de areia, mas o arranjo geral é mantido. Já em uma mistura com muita areia a compressibilidade da amostra ocorre principalmente na fração arenosa, que apresenta alteração de seu arranjo durante o processo. As correlações entre características da argila pura, denominadas normalizadas, e de uma mistura argila-areia são também propostas pelos autores. Essas propriedades são umidade (w nor ), índice de vazios(e nor ), altura (ou volume),(h nor ), e índice de compressão (Cc nor ). Na nossa análise interessa apenas a variação da umidade com a variação da fração bentonita da mistura, e assim a equação de normalização é: w nor w 1 = (2) P 2 onde w nor é a umidade normalizada (em percentagem), w é a umidade de uma mistura qualquer (em percentagem) e P 2 é a percentagem de material da mesma mistura qualquer que passa na peneira nº Investigação Experimental Para verificação da teoria apresentada foram analisados resultados de ensaios de laboratório dos limites de liquidez e de plasticidade de misturas de bentonita e areia em várias proporções, publicados na literatura. Dois grupos de misturas foram estudados.
3 COMPRESSÃO UNIFORME CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES REARRANJO DE GRÃOS DE AREIA GRÃOS DE AREIA ARGILA Pouca Areia Com Areia Muita Areia Figura 1. As diferentes misturas de argila com areia e os respectivos comportamentos de seus grãos durante a cmpressão (Castello e Polido 1994). O primeiro grupo, analisado por Bicalho et al. (22), é composto por uma argila bentonítica, com densidade dos sólidos, G SC, igual a 2,624. A areia usada é natural, quartzosa, branca, uniforme, com grãos angulares que passaram na peneira de malha,42 mm e densidade de seus sólidos, G SS, igual a 2,645. A percentagem mínima da fração argila necessária para preencher os vazios da areia, definida pela Equação 1, varia de 9 a 1%. Por isso as amostras foram preparadas com proporções de argila, C, variando de 1% a 6%, em massa, na mistura argila-areia. Também foi estudado o comportamento da bentonita pura. No segundo grupo, cujos ensaios foram realizados por Montanez (22), analisam-se os resultados feitos com uma bentonita sódica com densidade dos sólidos, G SC, igual a 2,6877, e uma areia bem graduada, com grãos angulares e densidade dos sólidos, G SS, igual a 2,6553. A percentagem mínima da fração argila necessária para preencher os vazios da areia, definida pela Equação 1, é de 8%. Os ensaios foram feitos em amostras contendo 13, 22, 3 e 75% de bentonita. 3 RESULTADOS OBTIDOS As Tabelas 1 e 2 apresentam os resultados de caracterização (limites de Atterberg) convencionais e normalizados conforme Equação 2, dos ensaios feitos por Bicalho et al. (22). Já as Tabelas 3 e 4 exibem tais resultados para os ensaios realizados por Montanez (22). As Tabelas 2 e 4 mostram que as misturas com fração de bentonita de 1% para Bicalho et al. (22) e 13% para Montanez (22) apresentaram uma disparidade em seus dados normalisados, em comparação com os outros percentuais do mesmo grupo. Isso pode ser explicado pela baixa concentração de argila nas misturas, que podem ser classificadas como com areia, visto que são percentagens muito próximas às mínimas necessárias para preencher os vazios das respectivas areias, Tabela 1. Resultados convencionais dos ensaios de caracterização feitos por Bicalho et al. (22). C (%) LL LP IP Tabela 2. Resultados normalizados dos ensaios de caracterização feitos por Bicalho et al. (22). C (%) LL nor LP nor IP nor
4 Tabela 3. Resultados convencionais dos ensaios de caracterização feitos por Montanez (22). C (%) LL LP IP Tabela 4. Resultados normalizados dos ensaios de caracterização feitos por Montanez (22). C (%) LL nor LP nor IP nor conforme se pode calcular com a Equação 1, e não se pode, neste caso, dizer que não há contato entre os gãos de areia, nem que eles não se rearrajariam se a amostra fosse submetida à compressão. Portanto a proposta estudada não se aplica às misturas com as concentrações de bentonita citadas. A Figura 2 relaciona os valores de LL e C a partir dos resultados da Tabela 1 juntamente com dados exibidos por, obtidos com estudos de misturas da mesma bentonita e areia. Os resultados de ensaios realizados por Montanez (22) também são apresentados na Figura 2. A reta LL = 2,915 C apresentou-se como bom ajuste para os resultados de e Bicalho et al. (22). O mesmo ocorreu para a reta LL = 4,598 C e os dados de Montanez (22). Tais ajustes apresentam coeficientes de correlação (CR) iguais a,974 e,992, respectivamente. Isso indica linearidade nas relações entre LL e C para misturas de mesmas argila e areia. Observe-se que os dados correspondem a misturas com fração argila superiores à mínima calculada com a Equação 1. Não foi possível obter resultados conclusivos para os valores dos limites de plasticidade das misturas de bentonita e areia, determinados segundo o procedimeto padrão, no qual rola-se um filite de solo com diâmetro de 3mm até esfarelar e então mede-se sua umidade (NBR 718). Isso pode ser justificado devido ao maior grau de subjetividade associado ao ensaio de determinação do LP (Bicalho et al. 22). O ensaio convensional para determinação do LP apresenta resulados pouco consistentes, uma vez que a tensão aplicada durante o rolamento Limite de liquidez, LL Bicalho et al. (22) Montanez (22) LL = 2,915C (CR=,975) LL = 4,598C (CR=,992) Fração argila, C (%) Figura 2. Variação de LL com C para as misturas de Bentonita-areia estudadas. do filete de solo é difícil de ser controlada (Whyte 1982, Feng 2). A Figura 3 apresenta a relação entre os valores de IP e LL para as misturas ensaiadas por, Bicalho et al. (22) e Montanez (22) e a reta empírica, IP =,9416 (LL-2,61) proposta por Padian e Nagaraj (1995) obtida a partir de um total de 13 dados experimentais apresentados por Skempton (1955) e Seed et al. (1964). Observa-se que os resultados experimentais analisados neste estudo são consistentes e confirmam a equação empírica proposta por Padian e Nagaraj (1995). Por sua vez a Figura 4 apresenta a variação de IP com C, para as misturas investigadas neste trabalho. Os resultados confirmam a linearidade da relação apresentada com IP =
5 2,3423C para os dados de e Bicalho et al. (22), com CR =,998, e IP = 3,814C para os dados de Montanez (22), apresentando CR =,965. Índice de plasticidade, IP Bicalho et al. (22) Montanez (22) IP =,9416 (LL-2,61) Limite de liquidez, LL Figura 3. Resultados experimentais e teóricos do IP em função de LL. Índice de plasticidade, IP Bicalho et al. (22) Montanez (22) IP = 2,342C (CR=,998) IP = 3,841C (CR=,965) Fração argila, C (%) Figura 4. Variação de IP com C para as misturas de Bentonita-areia estudadas. 4 CONCLUSÕES Em determinada faixa de percentagens, as misturas de bentonita e areia podem ter suas plasticidades previstas, desde que se conheça o LL e o IP da bentonita e a quantidade de areia presente na mistura. A percentagem de areia na mistura não pode ser superior à que a define como com pouca areia, conforme a proposição feita por Castello e Polido (1994) e Bicalho et al.(22). Resultados de ensaios de limites de Atterberg analisados neste trabalho confirmaram a linearidade da relação entre LL e C e entre IP e C em misturas de bentonita e areia em diferentes proporções, com concentrações de argila tais que não há contato entre os grãos de areia. Os resultados de ensaios mostram que para percentagens superiores a 2% de bentonita a teoria se mostra válida. Estes valores são pouco superiores ao mínimo necessário para que a bentonita preencha os vazios da areia da misturas estudadas (8-1%). Entretanto, recomenda-se maiores estudos para investigar o que vem a ser argila pouco arenosa, ou seja, a quantidade mínima de argila presente na mistura no qual a teoria proposta se mostra válida. REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984). Determinação do limite de plasticidade: NBR 718. Rio de Janeiro. Bicalho, K V., Cavassani, M. R. P. e Castello, R. R. (22). Características de Compressibilidade de Argilas Arenosas Moles. 8 Congresso Nacional de Geotecnia, Lisboa, vol 1, p Castello, R.R.; Polido, U.F. (1994). Influência da fração arenosa em argilas no adensamento. In: X Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Foz do Iguaçu, vol. 2, pp Dantas, B.; Bicalho, K. V.; Castello, R.R. e Polido, U. F. (1995). Verificação de argilas arenosas para adensamento. In: SIPUFES, Vitória, XIII Seminário Interno de Pesquisa e Extensão da UFES, vol. XIII. Feng, T.W. (2). Fall-cone penetration and water content relationship of clays. Geotechnique, vol., nº 2, pp Montanez, J. E. C. (22). Suction and volume changes of compacted Sand-Bentonite mixtures. Ph. D. dissertation, University of London (Imperial College of Science, Technology and Medicine), London, UK. Padian, N.S.; Nagaraj, T.S. (199). Critical reappraisal of colloidal activity of clays. Journal of Geotechnical Engineering, ASCE, vol. 116, nº 2, pp Seed, H.B.; Woodward, R.J.; Lundgren, R. (1964). Fundamental aspects of the Atterberg limits. Journal of the Soil Mechanic and Foundations Division, ASCE 9, SM6, pp Skempton, A.W. (1953). The colloidal activity of clays. Proc., III International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, vol. 1, pp Whyte, I.L. (1982). So il plasticity and strength a new approach using extrusion. Ground Engineering, vol. 15, nº 1, pp
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