UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE LETRAS E ARTES FACULDADE DE LETRAS CAROLINA ECARD BARROS

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE LETRAS E ARTES FACULDADE DE LETRAS CAROLINA ECARD BARROS A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO ESPANHOL DO MÉXICO 2017

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO ESPANHOL DO MÉXICO CAROLINA ECARD BARROS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola) Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold RIO DE JANEIRO

3 A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO ESPANHOL DO MÉXICO Carolina Ecard Barros Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pósgraduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola) Aprovada por: Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold - UFRJ Profa. Doutora Filomena Varejão UFRJ Prof. Doutora Viviane Conceição Antunes Lima UFRRJ Profa. Doutora Virginia Sita Farias UFRJ Suplente Profa. Doutor Leonardo Lennertz Marcotulio UFRJ Suplente Rio de Janeiro Fevereiro de

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5 Dedico esta dissertação aos meus pais, minha irmã e todos aqueles que me apoiaram nos momentos em que mais precisei; aos meus alunos que eu espero que tenham as mesmas oportunidades de estudos que eu tive. 5

6 AGRADECIMENTOS Não poderia deixar de agradecer primeiramente aos meus pais e minha irmã que, sempre compreensivos, fizeram o que estava ao seu alcance para tornar a minha luta diária com os estudos menos difícil e estiveram do meu lado sempre. Agradeço aos meus amigos e familiares que, com tanta boa vontade, me ajudaram inúmeras vezes para que eu chegasse até aqui. Seja com caronas, conselhos, palavras de conforto, participando dos meus testes, todos estes pequenos gestos do dia a dia contribuíram durante muitos anos para que eu pudesse seguir minha jornada na Faculdade de Letras. Aos meus amigos de faculdade também dedico um agradecimento sincero por terem me ajudado sempre que precisei. Mas preciso reservar um agradecimento especial à minha amiga Renata, minha companheira de pesquisa que me incentivou desde o início. Se não fosse por você amiga, talvez eu não estivesse hoje no mestrado. Obrigada por tudo! Serei sempre grata à minha orientadora querida Mercedes por ter me incentivado tanto e me ensinado coisas importantes que vão além da pesquisa. Obrigada por você, assim como a Renata, ter acreditado em mim quando eu mesma não acreditava. Agradeço ao meu namorado por estar sempre do meu lado sendo meu melhor amigo, sempre me apoiando e me escutando falar eternamente sobre o quanto eu estava nervosa e preocupada e ansiosa etc Por fim, agradeço aos professores participantes da banca da minha defesa por toda contribuição acadêmica e ao CNPQ pela oportunidade que me foi concedida de ser bolsista, o que me ajudou extremamente durante a pesquisa. 6

7 Sinopse Estudo de cunho gerativista sobre entre o Português do Brasil e o espanhol do México, baseado na descrição e análise das estratégias de relativização e dos tipos de retomada de objeto produzidos pelos falantes de tais línguas a partir de um teste de produção induzida. 7

8 Resumo A CORRELAÇÃO ENTRE TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO ESPANHOL DO MÉXICO Carolina Ecard Barros Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, A presente pesquisa consiste em um estudo de cunho gerativista sobre as estratégias de relativização e os tipos de retomada de objeto direto produzidos por falantes de português do Brasil e do espanhol de três cidades mexicanas: Guadajajara, Guanajuato e Cidade do México. Damos continuidade à proposta de Kato (1981), segundo a qual estes dois conjuntos de fenômenos linguísticos podem estar correlacionados, de modo que seria possível apontar pares correlatos formados, cada um, por uma estratégia de relativização e um tipo de retomada de objeto. O falante selecionaria cada um destes pares de acordo com o contexto de comunicação em que se encontra. Temos como objetivo principal verificar se a correlação entre estratégias de relativização e tipos de retomada de objeto ocorre no português do Brasil e se também ocorre no espanhol. Assumimos como hipótese que cada estratégia de relativização produzida pelos falantes estará correlacionada a um tipo de retomada de objeto utilizado por eles e que tal correlação acontece no português do Brasil e também pode ser encontrada no espanhol. Adotamos como metodologia a aplicação de um teste de produção de fala induzida, que foi realizado com um grupo de falantes de português do Brasil e um grupo de falantes de espanhol, todos adultos e com alto nível de escolaridade. O experimento exigia que os informantes descrevessem uma sequência de imagens e respondessem a algumas perguntas. A partir da análise dos dados pudemos observar que a correlação proposta parece realmente ocorrer no PB, mas não parece ocorrer no espanhol. Palavras-chave: relativização, tipos de retomada, correlação, português do Brasil, espanhol. 8

9 Resumen LA CORRELACIÓN ENTRE LOS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRECTO Y LAS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZACIÓN DEL PORTUGUÉS DE BRASIL Y DEL ESPANHOL DE MÉXICO Carolina Ecard Barros Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017 Esta investigación consiste en un estudio de cuño generativista sobre las estrategias de relativización y los tipos de retomada de objeto directo producidos por hablantes de portugués de Brasil e del español de três ciudades mexicanas: Guadajajara, Guanajuato y Ciudad de México. Nos basaremos la propuesta de Kato (1981), según la cual estos dos conjuntos de fenómenos lingüísticos pueden estar correlacionados, de manera que sea posible indicar pares que estén formados, cada uno de ellos, por una estrategia de relativización y un tipo de retomada de objeto. El hablante seleccionaría cada uno de estos pares de acuerdo con el contexto de comunicación en el que se encuentre. Nuestro objetivo principal es verificar si la correlación entre estrategias de relativización y los tipos de retomada de objeto ocurre en portugués de Brasil y si también ocurre lo mismo en el español. La hipótesis que asumimos es que cada estrategia de relativización producida estará correlacionada a un tipo de retomada de objeto y que dicha correlación ocurre en portugués de Brasil y también puede ser encontrada en el español. La metodología que adoptamos es la aplicación de un test de producción de habla inducida, que fue hecho por un grupo de hablantes de portugués de Brasil y un grupo de hablantes de español, todos adultos y con alto nivel de escolaridad. El experimento exigía que los informantes describieran una secuencia de imágenes y que respondieran a algunas preguntas. A partir del análisis de los datos, se pudo observar que la correlación que proponemos parece ocurrir en portugués de Brasil, pero no parece ocurrir en el español. Palabras clave: relativización, tipos de retomada, correlación, portugués de Brasil, español. 9

10 Abstract THE CORRELATION BETWEEN THE STRATEGIES RETAKE DIRECT OBJECT AND THE RELATIVIZATION STRATEGIES OF BRAZILIAN PORTUGUESE AND MEXICAN SPANISH Carolina Ecard Barros Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017 This research is a generative nature study about the relativization strategies (RS) and the strategies retake direct object produced by Brazilian Portuguese (BP) speakers and Spanish speakers from three different cities of Mexico: Guadalajara, Guajanuato and Ciudad de Mexico. We will follow-up Kato s (1981) proposition, according to which these two groups of linguistic topics can be correlated, in a way that would be possible to indicate correlated pairs that are formed by a RS and a strategy retake direct object. The speaker could choose each pair according to a given communication context. Our main objective is to if the correlation between RSs and a strategies retake direct object occurs in BP and if it also happens in Spanish. The hypothesis we defend is that each RS that is produced by the speakers will be correlated to one strategy retake direct object used by them and the correlation happens in BP and in Spanish. The methodology we adopted is an experiment that induces the speaker to produce certain expressions, which was done with a group of BP speakers and a group of Spanish speakers that have a high level of schooling. The experiment requires that the participants described a sequence of images and answer some questions. The results revealed that the correlation can occur in BP but not in Spanish. Key words: relativization, retake direct object, correlation, Brazilian Portuguese, Spanish 10

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12 SUMÁRIO 1. Capítulo 1 O estudo da competência linguística a partir da abordagem gerativista Língua-I e Língua-E Gramática nuclear a gramática periférica O Movimento de constituintes na derivação de orações relativas Capítulo 2 - A retomada do objeto direto no PB e no espanhol Tipos de retomada de objeto direto no PB A perda do clítico acusativo no PB O objeto nulo no PB O pronome tônico no PB A retomada por repetição do SN Tipos de retomada de objeto direto no espanhol A retomada por clíticos no espanhol O objeto nulo no espanhol Outros tipos de retomada de objeto no espanhol A relativização no PB e no espanhol Línguas tipologicamente próximas: o caso do PB e do espanhol O conceito de relativização Estratégias de relativização do Português do Brasil Estratégias de relativização do espanhol Sobre a correlação entre estratégias de relativização e tipos de retomada de objeto Metodologia Perfil dos informantes Falantes de PB Falantes de espanhol O teste Aplicação Descrição do material utilizado na primeira tarefa do teste Descrição do material utilizado na segunda tarefa do teste

13 4.3. Tratamento dos dados Análise dos dados Tipos de retomada do PB Apagamento do objeto e retomada por repetição do SN A retomada por clíticos A retomada por pronome tônico Estratégias de relativização do PB: análise dos resultados O grau de escolaridade dos informantes Função sintática do elemento relativizado Tipos de retomada do espanhol: análise dos resultados Estratégias de relativização do espanhol As relativas padrão do espanhol Análise das estratégias de relativização presentes na primeira tarefa do teste Função sintática do elemento relativizado Considerações finais Referências bibliográficas Anexos 13

14 Introdução Assim como as diferentes línguas humanas variam entre si, também podemos encontrar variação dentro de uma mesma língua. Um falante de uma língua como o português do Brasil (PB) ou o espanhol, por exemplo, dispõe de inúmeros recursos linguísticos que pode utilizar nas mais diversas situações e optar pelo que julgar mais adequado para cada uma delas. Alguns destes recursos seriam, por exemplo, as estratégias de relativização (ER) e as estratégias de retomada, que se manifestam nas línguas por meio de diferentes configurações. Considerando esta questão, Kato (1981) se propõe a descrever um modelo de uso individual para as ERs do PB, observando os fatores linguísticos e extralinguísticos que estariam envolvidos na variação das relativas que pode ocorrer na produção de um mesmo indivíduo. Observando também que há variação individual no uso que os falantes de PB fazem dos diferentes tipos de retomada do objeto (RO) disponíveis nesta língua, a autora cogita, então, uma aproximação entre ERs e tipos de RO. Ela propõe que é possível que exista uma correlação entre estes dois tópicos linguísticos que nos permita prever qual ER um indivíduo selecionará preferencialmente de acordo com o tipo de RO que ele mais usa. Assim, são apresentadas as seguintes hipóteses: Se o tipo de retomada selecionado for o apagamento, então a ER será a cortadora; Se o tipo de retomada selecionado for o pronome tônico, então a ER será a copiadora; Se a retomada for realizada por clíticos, então a ER será a estratégia padrão. Os pares correlatos formados caracterizariam as diferentes gramáticas paralelas de que um falante de PB dispõe. Parece possível também, segundo Kato (1981), que a correlação, se realmente existir, ocorra em outras línguas. O interesse em averiguar a existência da correlação entre ERs e tipos de RO nos motivou inicialmente a empreender um estudo sobre o PB, mas, ao mesmo tempo nos pareceu possível que essa proposta possa ser expandida para uma outra língua, como o espanhol. Observamos que o espanhol apresenta pelo menos três ERs que se assemelham muito à forma das ERs do PB e, além disso, também é uma língua que possui mais de um tipo de RO. Essas semelhanças pontuais entre este par linguístico nos 14

15 levaram a cogitar a possibilidade que ERs e tipos de RO podem também estar correlacionados, porque, em princípio, não haveria evidências contrárias a isso. Então, selecionamos como variedades a serem estudadas o espanhol da Cidade do México, da cidade de Guadalajara e da cidade de Guanajuato. Para o nosso estudo, consideramos fundamental investigar a influência da escolarização sobre as estruturas linguísticas que analisamos e sua distribuição nas línguas. Além disso, acreditamos que o fato de o contexto de comunicação ser mais ou menos controlado influencia a variação individual das relativas e das retomadas, bem como o fato de determinados elementos fazerem parte ou não da Língua-I do falante. Temos como objetivos específicos primeiramente descrever os tipos de retomada de objeto direto e as ER do PB e no espanhol. Pretendemos também observar a produtividade que cada ER e cada tipo de retomada apresentam nestas duas línguas, a fim de verificarmos quais seriam as estruturas mais selecionadas pelos falantes. Estes passos nos levariam ao nosso objetivo mais geral que é o de verificar se a escolha do tipo de retomada de objeto mantém relação de correspondência com a escolha da estratégia de relativização de modo que possamos identificar pares correlatos caracterizadores de variedades de uma mesma língua, como a variedade padrão e a variedade não padrão. A hipótese que assumimos é que há uma correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto no PB e que também há correlação entre as ERs e tipos de retomada de objeto no espanhol, de modo que: A ER padrão está correlacionada à retomada do objeto por clíticos; A ER cortadora está correlacionada ao apagamento do objeto; A ER copiadora está correlacionada à retomada do objeto por pronome tônico. A fim de confirmar nossas hipóteses, desenvolvemos um teste de produção de fala induzida composto por duas etapas. Na primeira delas induzimos o participante do experimento a produzir retomadas de objeto direto, por meio da descrição que ele deve fazer das imagens que lhe são mostradas. Na segunda parte, fazemos algumas perguntas que o induzem a produzir orações relativas em suas respostas. Através deste experimento pretendemos observar quais são as estratégias mais produtivas e as que foram evitadas. 15

16 Organizamos esta dissertação em 5 capítulos, além da introdução, conclusões finais e os anexos contendo as transcrições dos áudios utilizados. No primeiro capítulo, apresentamos alguns conceitos da Teoria Gerativa, como Língua-I e gramática nuclear. No capítulo 2, discorremos sobre os tipos de retomada de objeto disponíveis no português do Brasil e no espanhol e sua distribuição nessas línguas. No capítulo 3, nos dedicamos a descrever as estratégias de relativização do Português do Brasil e do espanhol e apresentamos a proposta da correlação entre estratégias de relativização e tipos de retomada de objeto, que é o tópico que norteia nosso estudo. No capítulo 4, apresentamos a metodologia utilizada, descrevendo detalhadamente o experimento que criamos para a obtenção dos dados e os fatores envolvidos em sua elaboração. O capítulo 5 consiste na exposição dos resultados obtidos através da aplicação do nosso teste e na análise destes resultados. Ao final apresentamos nossas conclusões finais e, posteriormente, os anexos que constituíram o nosso corpus. 16

17 1. O estudo da compete ncia linguística a partir da abordagem gerativista 1.1. Língua-I e Língua-E Um dos principais interesses da Teoria Gerativa consiste no estudo do sistema de conhecimento sobre a linguagem comum à espécie humana que está de algum modo representado na mente/cérebro de cada indivíduo. Este tipo de conhecimento linguístico é o que Chomsky (1986) denomina de Língua-I, que é um conhecimento internalizado adquirido de maneira natural durante a infância. A concepção de língua que assumimos, de acordo com a Teoria Gerativa, é a de que língua é um estado mental dos indivíduos. Quando nascemos, nossa mente se encontra num estágio inicial (S 0 ) comum à todos os seres humanos e que é constituído de princípios bastante gerais sobre a linguagem. Este estágio inicial é o que conhecemos como Gramática Universal (GU). À medida que interagimos com o ambiente, entramos em contato com dados linguísticos produzidos pelos indivíduos de uma comunidade, o que faz com que o estágio inicial (S 0 ) comece a ser modificado e especificado segundo as propriedades do conjunto de dados linguísticos aos quais somos expostos. No final do processo de aquisição da linguagem, nossa mente atinge um estagio relativamente estável (S s ) que corresponde à Língua-I de um falante adulto. De tudo o que um indivíduo produz em termos de linguagem, grande parte é determinada pela sua Língua-I, o que significa que o que falamos é determinado em grande medida pelo conjunto de princípios referentes à linguagem que regem a Língua-I de todos os seres humanos. Cada pessoa possui sua própria Língua-I, por isso dizemos que ela possui caráter individual, já que varia em relação a cada indivíduo. Porém é necessário considerar que as Línguas-I não variam de maneira ilimitada, pois devem obedecer ao conjunto de regras previsto pela GU que é comum à espécie. No que diz respeito ao nosso objeto de estudo nesta dissertação, as ERs e os tipos de RO, podemos afirmar, a partir do exposto, que apesar de toda a variação existente entre as diferentes estratégias que um indivíduo pode utilizar para produzir 17

18 uma oração relativa ou a retomada de um referente, há uma estrutura subjacente que respeita os limites impostos pela GU com relação ao que é possível de ser produzido numa língua natural. Interessa-nos, portanto, observar o que há de comum (relativo às Línguas-I dos falantes) entre as diferentes estratégias que os indivíduos utilizam para expressar os fenômenos linguísticos que observamos e o que consiste em uma particularidade compartilhada por vários indivíduos de uma mesma comunidade linguística, mas que pode variar de uma comunidade para outra. Consideremos, por exemplo, o que Correa (1998) diz sobre as ERs do PB. As orações relativas são estruturas que estão disponíveis a todas as línguas naturais, porém elas podem se manifestar de formas diferentes numa mesma língua. No PB elas se manifestam de três formas, cada uma correspondendo a uma ER: a estratégia cortadora, a estratégia copiadora e a estratégia padrão. Mas apenas duas delas são adquiridas naturalmente pelos falantes desta língua, sendo a terceira, no caso de relativas preposicionadas, fruto de uma exposição constante durante o processo de escolarização. Sendo assim, as ERs que um indivíduo adquire durante o período de aquisição da linguagem são aquelas que irão compor a sua Língua-I. Espera-se, portanto, que todos os falantes de PB apresentem em sua Língua-I as ERs que adquiriram naturalmente e que apenas aqueles que se submeteram ao processo de escolarização produzam a estratégia padrão. Casos como o da ER padrão do PB, que só é aprendida apenas através de instrução formal, se enquadram, segundo Oliveira, M. (2007), no que conhecemos como Língua-E. Este conceito se opõe ao de Língua-I na medida em que não se refere ao conhecimento internalizado na mente dos indivíduos, mas ao que lhes é externo. A Língua-E, para Chomsky (1986), compreende o conjunto dos expressões linguísticas produzidas e compartilhadas por uma comunidade linguística. Tudo o que pode fazer parte da Língua-E é determinado pelo sistema de conhecimento que já adquirimos (a Língua-I) e, por isso, é derivada dele. Quando uma criança está adquirindo uma língua ela tem acesso à Língua-E dos indivíduos com quem convive e a partir dela constrói sua própria Língua-I, o que só é possível graças ao conhecimento inato de que dispõe. Retornando ao tema de nosso estudo, consideremos, agora, o que Kato (1981) afirma sobre a correlação entre ERs e tipos de retomadas de objeto no PB. Segundo suas hipóteses sobre a correlação que apresentamos na seção de introdutória desta 18

19 dissertação, Kato (1981, p. 14) afirma que se tal correspondência realmente ocorrer, teremos uma restrição implicacional transderivacional a nível de produção, caracterizadora de idioletos. Assim, a autora postula que se a correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto ocorrer no PB de modo a formar pares correlatos, cada um desses pares formados caracterizaria um idioleto possível para um falante de PB. A noção de idioleto, segundo Rosa (2010), se refere ao uso individual da língua no sentido de que o que o indivíduo produz se distancia em alguns aspectos do que é falado por sua comunidade, mas se aproxima à produção de um certo conjunto de indivíduos em determinadas situações. Assim, a autora afirma que idioleto seria um termo mais antigo usado para referir-se ao que conhecemos como Língua-E. Como Kato (1981) deixa claro que a correspondência entre os pares linguísticos está relacionada à produção dos indivíduos, então podemos entender que a autora se refere à Língua-E. Embora os pares correlatos sejam compostos também por elementos linguísticos que fazem parte da Língua-I dos falantes de PB, cada par, por ser utilizado numa situação específica variando de acordo com o registro de fala, caracterizaria, deste modo, as escolhas próprias da produção de um indivíduo. Além disso, ressaltamos que, para Kato (1981), o fato de que um indivíduo já tenha atingido o estágio final do processo de aquisição e já disponha de uma Língua-I não significa que sua produção seja totalmente previsível no sentido de que ele usará sempre os mesmos elementos linguísticos para as mesmas situações. Ao transitar por diferentes contextos de fala (e também pela escrita), o falante adequa sua produção a tal contexto atribuindo diferentes usos às expressões que já fazem parte de sua Língua-I. Assim são realizadas as escolhas entre uma ER e outra ou de um tipo de RO e outro a depender da situação de comunicação em que o falante se encontra e dos interlocutores com os quais irá interagir. Estas escolhas caracterizam a variação que poder existir no interior de uma língua, como o PB, por exemplo, e essa variação obedece aos princípios universais que determinam o que faz parte ou não desta língua. 19

20 1.2. Gramática periférica e gramática nuclear O questionamento sobre o que há na mente de um falante que conhece uma língua particular, como inglês ou japonês nos remete ao desenvolvimento de gramáticas das línguas. A gramática de uma língua, para Chomsky (1986), consiste na teoria utilizada para descrever sua estrutura, assim, a gramática de uma língua-i é um modelo abstrato da sua representação. O que pretendemos elaborar, portanto, seria um modelo que represente a estrutura do conhecimento que permite ao falante compreender uma língua particular e ter intuições sobre quais são as expressões lingüísticas admitidas na sua língua (a língua que ele adquiriu). O que conhecemos como Língua-I de um indivíduo é composto, segundo Chomsky (1981), por uma gramática nuclear e uma gramática periférica. A gramática nuclear de um indivíduo é construída durante o processo de aquisição da linguagem a medida que ocorre a especificação dos parâmetros da gramática universal (GU). A GU permite que sejam geradas diversos tipos de gramáticas nucleares, porém a variação existente entre elas deve sempre respeitar os limites impostos pelos princípios universais. É na gramática nuclear que se encontram todos os elementos linguísticos próprios da competência linguística de um indivíduo. A gramática periférica, por sua vez, é um domínio que inclui necessariamente o material contido na gramática nuclear e também outros elementos de maior variabilidade nas línguas, como empréstimos, o léxico em geral, inovações da língua, entre outros. Os elementos que compõem a periferia podem variar bastante entre distintos grupos de indivíduos ainda que façam parte de uma mesma comunidade linguística. Podemos citar alguns exemplos de estruturas do PB que nos relevam diferenças entre os conceitos de gramática nuclear e periférica. Vejamos abaixo 1 : (1) [ ] não posso comprar detergente suave para lavar as minhas duas únicas camisas, mantenho-as bem limpas com sabão azul (2) Eu também já tive o meu bonequinho! Era o ursinho Bilu! Pra onde eu ia, sempre levava ele! No exemplo 1 temos um caso de retomada de objeto realizada por um clítico, no qual o antecedente as minhas duas únicas camisas é retomado pelo clítico as na 1 Os exemplos 1 e 2 pertencem ao estudo de Freire (2011), p. 17 e 16, respectivamente. 20

21 função de objeto direto do verbo manter. Este tipo de retomada de objeto é muito comum na escrita de falantes de PB, mas não em sua fala, como verificou Freire (2011). O autor atribui este fato à explicação de que os clíticos de acusativo e dativo não fazem parte da gramática nuclear de falantes de PB, pois não fazem parte do processo de aquisição natural da linguagem. Estes clíticos praticamente não ocorrem na fala, mas ainda ocorrem de maneira significativa na escrita de indivíduos escolarizados. O contrário ocorre com a retomada por pronomes tônicos, que podemos identificar no exemplo 2. Nele o antecedente o ursinho Bilu é retomado pelo pronome ele, objeto direto do verbo levar. A retomada por pronomes tônicos é muito mais utilizada na fala e menos na escrita, sendo esta um tipo de retomada que consta na gramática nuclear de falantes de PB. A forte presença de clíticos na escrita em competição com outros tipos de retomada de objeto é resultado da escolarização que ainda consegue, com maior ou menor êxito a depender de cada caso, incluir na produção dos indivíduos elementos que não fazem parte de sua gramática nuclear. Conforme Freire (2011) observou em seu estudo, o indivíduo falante de PB escolarizado acessa a língua falada a fim de recuperar o conhecimento que já possui sobre a língua que adquiriu, o português e, com isso, aprender estruturas da língua escrita. Isso seria possível porque na Língua-I deste indivíduo existe uma periferia cujos valores dos parâmetros estão fixados de maneira oposta aos que foram fixados em sua gramática nuclear. Durante o processo de escolarização, os parâmetros da periferia que já estavam presentes são então acionados e desta forma um falante consegue incorporar elementos que não faziam parte de sua Língua-I, como os clíticos no caso do PB. Estes elementos passam a integrar uma nova gramática desenvolvida pelo falante e que estará disponível para ele em diversas situações, como por exemplo, o uso de clíticos na escrita que exigiria o acesso a esta outra gramática. Do mesmo modo, a variação existente entre as ERs disponíveis nas línguas está relacionado ao que é nuclear e o que é periférico. As relativas cortadoras e copiadoras do PB, por exemplo, pertencem à gramática nuclear dos falantes desta língua, pois, segundo Kenedy (2007) e Corrêa (1998), apenas estas são adquiridas naturalmente pelo durante o processo de aquisição da linguagem. Relativas padrão preposicionadas do tipo pied piping, por outro lado, só passam a ser produzidas após terem sido aprendidas por meio de instrução formal recebida na escola. Portanto, figuram como estruturas típicas 21

22 da gramática periférica dos falantes e são mais acessadas em contextos de maior formalidade e na escrita. Conforme Kato (1981) já havia mencionado, a variação individual das relativas, ou seja, a variação no uso de um mesmo falante pode ser explicada por uma mudança de gramáticas. Um indivíduo selecionaria uma das gramáticas que estiverem disponíveis para ele de maneira consciente, conforme a sua necessidade de se adequar à situação de comunicação. Contextos de fala mais controlados ilustram bem essa mudança, pois o falante se mostra consciente do quanto cada elemento linguístico pode ser mais ou menos marcado socialmente e baseado nisso, entre outros fatores, faz suas escolhas. Para a autora, estas gramáticas disponíveis seriam paralelas e a troca de uma para outra poderia ser determinada por fatores extralinguísticos. Entretanto, no caso das ERs Kato (1981) também considera que fatores de ordem estritamente linguística podem também guiar a mudança de uma estratégia para outra na produção do falante, visto que há casos em que o indivíduo se encontra, por exemplo, em uma situação de formalidade, mas utiliza uma estratégia considerada marginal. Um dos fatores relacionados a esta questão pode ser o grau de complexidade que uma estratégia de relativização oferece para ser produzida, mas este tópico abordaremos com maior detalhamento no capítulo 3 que trata mais especificamente sobre a relativização O Movimento de constituintes na derivação de orações relativas As orações relativas se caracterizam por serem sentenças encaixadas que funcionam como modificadores de um sintagma nominal (SN). Este sintagma é também conhecido como núcleo e, por isso, relativas que aparecem adjacentes a um SN são chamadas de nucleares e se diferenciam das relativas livres por estas últimas não se associarem a um núcleo. Vejamos o exemplo a seguir 2 : (1) A cadeia de supermercado i [da qual você é acessor Ø i ] 2 Os exemplos 3 e 4 foram retirados de Braga et ali (2015). 22

23 No exemplo 3, o SN a cadeia de supermercado é o núcleo nominal da oração relativa da qual você é acessor. Essa sentença, nos traz ainda um exemplo de relativa padrão preposicionada, o que significa que a ER utilizada é a estratégia padrão e a função sintática que o SN relativizado assume dentro da relativa é regida por uma preposição, neste caso a preposição de. De acordo com Braga et ali (2015), uma relativa padrão como a do exemplo que apresentamos é derivada através do movimento do pronome relativo para o início da sentença, deixando em sua posição de origem uma categoria vazia que é correferente ao SN relativizado. O movimento do pronome relativo, nas relativas padrão deste tipo, é acompanhado pelo movimento da preposição que se antepõe a ele. Este movimento de dois constituintes é que chamamos de pied piping. Há também relativas padrão que não envolvem piedpiping, como as relativas do PB introduzidas por onde : (2) Locais i [onde tem assim mais facilidade de comunicação Ø i ] Neste caso a ER é considerada padrão, já que a oração relativa é introduzida por onde, mas este pronome dispensa preposições ao contrário dos pronomes que e qual. O movimento de constituintes da sentenças, como ocorre com o pronome relativo é uma das operações realizadas pelo sistema computacional e também é conhecido pela denominação em inglês Move. Esta operação consiste no deslocamento de constituintes durante uma determinada derivação. Deste modo, um constituinte passa a ocupar uma posição diferente daquela em que foi gerado e, muitas vezes, é interpretado numa posição distinta da posição na qual foi pronunciado na forma final da sentença construída. Os itens retirados do léxico para serem manipulados pelo sistema computacional constituem, cada um deles, um conjunto de traços semânticos, fonológicos e formais. Alguns destes traços podem ser interpretáveis, como os fonológicos são interpretados na Forma Fonética e os semânticos e formais são interpretados na Forma Lógica. Dentre os traços formais, porém, há alguns que não são interpretáveis e, portanto, devem ser eliminados antes que a expressão gerada chegue aos sistemas de performance. Caso contrário, a expressão que ainda contenha traços não interpretáveis não será lida (de 23

24 acordo com as condições de legibilidade) pelos sistemas de performance e irá fracassar. Para que tais traços sejam eliminados, é realizada a operação da checagem de traços, que se dá através do encontro de itens, no mesmo domínio, que contenham traços equivalentes e são esses traços os que são eliminados. No caso dos traços não interpretáveis, segundo Chomsky (1995), a sua checagem ocorre através do movimento de constituintes. O movimento de constituintes é, portanto, uma operação realizada a fim de que se possa atender a certas condições de legibilidade do sistema. Consideremos, a partir de agora, algumas condições sobre o movimento que estão diretamente relacionadas com um de nossos objetos de estudo, as orações relativas. A aplicação de Move deve respeitar não somente condições de legibilidade como também certas condições de economia do sistema. Para tanto, a quantidade de material movido deve ser a menor possível, sendo deslocado apenas o estritamente necessário. Se considerarmos que as orações relativas são estruturas derivadas por movimento como propõe Chomsky (1977), temos que, na sua derivação, é necessário o movimento de um elemento QU, que neste caso é o pronome relativo, para o início da sentença. Segundo Kenedy (2007), mesmo em uma relativa na qual o pronome relativo é regido por uma preposição devido à função sintática que assumiu neste contexto, o movimento apenas do pronome já é suficiente, porque seria a operação mais econômica para o sistema computacional. Não sendo necessário que a preposição seja movida também para acompanhá-lo, como ocorreria numa sentença interrogativa. Observemos o exemplo abaixo 3 : (3) [CP [PP com [DP quem]]i WH [você foi à praia [PP com [DP quem]]i]]? No exemplo 1, vemos que não só pronome quem deve ser obrigatoriamente movido, mas também a preposição com porque o português não licencia sentenças com este tipo de preposição abandonada ao final, como é comum no inglês, por exemplo. Mas no caso de orações relativas temos outras possibilidades além do movimento da preposição junto ao pronome relativo. Uma oração relativa preposicionada no PB formada pela estratégia padrão apresenta a seguinte estrutura: (4) O assunto [CP [PP de [DP que]] WH [TP o professor [vp falou]]] 3 Os exemplos 5 e 6 foram retirados de Kenedy (2007). 24

25 Relativas piedpiping, como a que podemos ver no exemplo (2), também ocorrem com semelhante estrutura em outras línguas. No entanto, tanto o PB como as demais línguas apresentam outras possibilidades de formação de uma oração relativa preposicionada, ou seja, outras ERs. Tais estratégias se diferenciam de uma relativa piedpiping porque nenhuma delas envolve o movimento da preposição além do movimento do pronome relativo. Se o sistema computacional prefere sempre as derivações mais econômicas, consequentemente as relativas piedpiping seriam bloqueadas pelas demais ERs que não envolvem o movimento de dois constituintes, mas apenas o do pronome. Estas últimas podem ser formadas pela omissão da preposição que rege o pronome relativo, pelo seu abandono (stranding) no final da relativa e pela sua manutenção na posição de base seguida por um pronome resumptivo. 25

26 2. A retomada do objeto direto no PB e no espanhol Introdução Neste capítulo, apresentaremos os tipos de RO disponíveis no português do Brasil e no espanhol. Para tanto, nos basearemos em estudos que tratam não somente da distribuição de tais RO nas línguas citadas, como também dos fatores envolvidos na preferência dos falantes pela seleção de determinada estratégia anafórica. Na presente dissertação, pretendemos dar prosseguimento à proposta formulada por Kato (1981), segundo a qual cada estratégia anafórica (que aqui tratamos como tipos de retomada de objeto) de uma língua pode estar correlacionada a uma determinada estratégia de relativização. Ao citar tal proposta, a pesquisadora utiliza em seu texto alguns exemplos dos tipos de estratégia anafórica a que se refere. Reproduzimos, abaixo, tais exemplos: (7) Eu descasquei as laranjas e Pedro as comeu. (8) Eu descasquei as laranjas e Pedro comeu elas. (9) Eu descasquei as laranjas e Pedro comeu Ø. As sentenças (7), (8) e (9) ilustram tipos de RO presentes no PB, a saber: a retomada por clítico no exemplo (7), a retomada por um pronome tônico no exemplo (8) e o uso do objeto nulo no exemplo (9). Nesta dissertação daremos ênfase, tanto na parte teórica quanto em nossa metodologia, aos casos de retomada em que o antecedente seja um sintagma nominal (SN), como ocorre nos exemplos de Kato (1981) mencionados anteriormente. 26

27 2.1. Tipos de retomada de objeto direto no PB A perda do clítico acusativo no PB Podemos identificar no PB atual quatro estratégias para a realização da retomada de um elemento (sintagma nominal ou sentença) que assumirá a função de objeto direto (Oliveira, S. 2007), a saber 4 : a. A retomada por clíticos (10) Você conhece o João? Sim, conheço-o. b. A retomada por um pronome tônico (11) Você conhece o João? Sim, (eu) conheço ele. c. A presença de uma categoria vazia (objeto nulo) (12) Você conhece o João? Conheço [Ø]. d. A retomada por um SN que repete o antecedente (13) Você conhece o João? Sim, conheço o João. O sistema de clíticos do PB é composto pelas formas me, te, lhe(s), se, o(s), a(s) e nos, apresentados no quadro abaixo que ilustra o sistema pronominal do PB segundo o que está previsto na gramática normativa (Rocha Lima, 2000): 4 Os exemplos de (4) a (7) pertencem ao estudo de Oliveira (2007), p

28 Pronomes de caso reto (desempenham função de sujeito) Pronomes de caso oblíquo (desempenham função de complemento verbal) átonos tônicos 1ª p. eu me mim sing. 2ª p. tu te ti sing. 3ª p. ele/ela o, a, lhe, se ele, ela, si sing. 1ª p. pl. nós nos nós 2ª p. pl. vós vos vós 3ª p. pl. eles/elas os, as, lhes, se eles, elas, si Quadro 1 Paradigma dos pronomes pessoais do PB (Rocha Lima, 2000, p. 111) Contudo, diversos estudos, como os de Tarallo (1983), Correa (1991) e Cyrino (1993), indicaram que está ocorrendo no PB um processo de perda do clítico acusativo de terceira pessoa em detrimento do uso dos demais tipos de retomada. No quadro seguinte propomos um modelo do paradigma dos pronomes pessoais do PB tal como têm se manifestado na fala brasileira comum segundo o que revelaram as pesquisas realizadas pelos autores mencionados nesta dissertação: Pronomes que desempenham função de sujeito Pronomes que desempenham função de complemento verbal (OD) átonos tônicos 1ª p. sing. eu me - 2ª p. sing. tu/ você Te você 3ª p. sing. ele/ela o/ a ele / ela 1ª p. pl. nós / a gente nos nós 2ª p. pl. vocês - vocês 3ª p. pl. eles / elas os/ as eles/ elas Quadro 2 Paradigma dos pronomes pessoais do PB Apesar de ter desenvolvido um estudo centrado nas estratégias de relativização do PB, Tarallo (1983) considerou importante realizar, paralelamente, uma análise da pronominalização nesta língua, com a justificativa de que no estudo da relativização lidamos com a noção de referencialidade do mesmo modo que nas estratégias de 28

29 retomada. Como veremos posteriormente nesta dissertação, Tarallo (1983) relacionou as estratégias de relativização do PB às mudanças ocorridas no seu quadro pronominal. O pesquisador observou, através de uma análise diacrônica, que desde a primeira metade do século XVIII até a segunda metade do século XIX houve uma queda significativa no percentual de retenção pronominal (uso de clíticos) no PB em frases simples 5. Esse período de tempo foi dividido em quatro períodos menores e durante todos eles a retenção pronominal foi constante. Em um estudo diacrônico sobre os clíticos no PB, Cyrino (1993) confirmou o que Tarallo (1983) havia observado previamente com relação à perda dos clíticos. A autora critica o fato de, nos estudos que consultou, anteriores ao seu, não haver clareza com relação a qual clítico está desaparecendo (se são os de 1ª pessoa, os de 3ª etc.). Por isso, realizou uma análise mais ampla que abarcava clíticos de diferentes tipos a fim de verificar qual deles foi o primeiro a ser afetado durante o processo de mudança ocorrido no PB. Com essa análise, que teve como corpora peças teatrais, modinhas e poesias satíricas do século XVI até o ano de 1973, Cyrino (1993) verificou que o clítico o que retoma uma proposição foi o primeiro que começou a ter seu uso reduzido no PB. Vejamos os exemplos seguintes 6 : (14) [...] a explicação para isto está no fato de eu não ter sido capaz de elucidar o processo de conscientização tal como o fiz na prática (15) [...] e dividir também a sociedade entre os que possuem este conhecimento e os que não o possuem Destacamos na sentença (14) um exemplo de uso do clítico o proposicional que retoma o trecho elucidar o processo de conscientização e, atualmente, tem um uso bastante restrito ao contexto da escrita culta. Segundo Cyrino (1993), a perda deste tipo de pronome depois se estendeu ao clítico acusativo de 3ª pessoa de forma geral, o que inclui o clítico o usado para a retomada de substantivos, como no caso do exemplo (15) em que este pronome retoma o antecedente este conhecimento. Os clíticos de 1ª e de 2ª pessoas, por outro lado, continuam presentes na língua apesar de serem menos 5 Quando utilizamos a noção de frases simples nos referimos a sentenças que não envolvem relação de subordinação com outra sentença. No presente estudo, é necessário esclarecer tal diferença porque observamos o comportamento de pronomes tanto nas sentenças simples quanto nas relativas. 6 Os exemplos 8 e 9 foram extraídos do livro Diálogos com Paulo Freire, 2003, p. 43 e

30 frequentes que antes. Na sentença 16, a seguir, destacamos um uso do clítico de 1ª pessoa, o pronome me. (16) João me deu um livro Além disso, o desaparecimento do clítico estaria relacionado com o aumento do índice de ocorrência do objeto nulo. Cyrino defende que ao longo do tempo o objeto nulo que era considerado uma variável foi reanalisado como pro e essa reanálise consistiu em uma mudança na marcação de parâmetros que afetou também o sistema de clíticos. Pesquisas sobre períodos mais recentes da história do PB, como Correa (1991) revelam que o clítico acusativo tem seu uso cada vez mais restrito à norma culta e, principalmente, à escrita. É uma estrutura que só passa a ser produzida depois de ter sido aprendida ao longo do processo de escolarização, por isso não ocorre entre falantes não escolarizados. Oliveira, M. (2007) vai ao encontro do que defende Correa (1991) afirmando que os clíticos são formas que não fazem parte do processo de aquisição da linguagem, mas que podem ser aprendidas. Assim, o clítico acusativo passa a ser produzido pelos falantes na escrita e na fala somente após alguns anos de escolarização, mais especificamente, a partir da 8ª série do ensino fundamental. Se seguimos a abordagem feita por Tarallo (1983), segundo a qual a mudança linguística ocorre primeiro em sentenças simples e depois se estende às subordinadas, podemos concluir que os clíticos foram desaparecendo nas sentenças simples e, consequentemente nas subordinadas. Lessa de Oliveira (2010) também constatou em seu estudo a ocorrência do mesmo fato, porém, no PB, os clíticos continuam aparecendo nas frases simples mesmo que em reduzida quantidade, mas não ocorrem mais em relativas, que são orações subordinadas. Podemos atribuir a permanência tímida dos clíticos tanto na fala quanto na escrita à escolarização, mas se ela é capaz de mantê-los presentes nas frases simples, por que não é capaz de realizar o mesmo nas relativas? Esta questão pode se apresentar como um dos empecilhos à abordagem de Tarallo (1983) ou simplesmente revelar que, se existe a correlação entre ERs e tipos de RO no PB, esta não poderia ser explicada pelo fato de as frases simples com retomada de objeto e as relativas envolverem operações linguísticas semelhantes. 30

31 Outra restrição à proposta de Tarallo (1983) diz respeito à origem dos dados que este autor analisou. Conforme Kenedy (2007) apontou, os dados obtidos por Tarallo (1983) são provenientes de textos escritos e, por este motivo, muito provavelmente não refletem com precisão o momento em que de fato as relativas cortadoras surgiram na língua. Isto pode ser postulado porque mudanças linguísticas costumam aparecer primeiramente no registro oral e, apenas depois de já terem se estabelecido nele, se estendem à escrita. Então as mudanças no sistema de relativização do PB apresentadas pelo autor possam talvez ter ocorrido num período diferente do que ele acreditava O objeto nulo no PB Uma das principais características que definem o sistema pronominal do PB é, como apontado por Galves (1984), a possibilidade de haver uma categoria vazia na posição de objeto ou de esta posição ser preenchida pelo pronome tônico ele (e suas variantes eles, ela, elas), que pode inclusive ocupar a posição de sujeito da sentença. (17) Ele disse que faria Ø amanhã 7 O exemplo (17) ilustra a assimetria que o PB apresenta hoje com relação ao preenchimento das posições de sujeito e objeto. A posição de sujeito é preferencialmente preenchida, seja por um pronome tônico ou um SN, como acontece no exemplo em questão no qual há um pronome ele como sujeito. Na posição de objeto, por outro lado, o emprego da categoria vazia é bastante produtivo nas modalidades escrita e oral do PB, seja em contextos formais ou informais, o que também podemos identificar no exemplo (17) através do objeto nulo como complemento do verbo fazer. O uso do objeto nulo e do pronome tônico como as formas predominantes de RO no PB pode estar relacionado à reorganização do sistema de clíticos. Para Cyrino (1993) estes tipos de retomada se tornaram mais frequentes à medida que o clítico acusativo foi desaparecendo, o que gerou como consequência a refixação do parâmetro do objeto nulo que passou a licenciar este último como estratégia de retomada própria da gramática nuclear dos indivíduos. 7 Exemplo retirado de Galves (1984), p

32 O objeto nulo no PB não só se tornou mais frequente como também mais livre em relação aos contextos sintáticos que podem determinar seu uso. Esta afirmação foi confirmada por Marafoni (2010), que considera que não há restrições de contextos sintáticos para o objeto nulo no PB atual. Através da análise de entrevistas orais e da aplicação de testes de julgamento de gramaticalidade a falantes de PB e do português europeu (PE), a pesquisadora constatou que o objeto nulo é um tipo de retomada muito produtiva no PB atual e pode ocorrer em sentenças de todo tipo de configuração sintática, incluindo orações relativas, completivas e até mesmo inserido em ilhas sintáticas. Os principais fatores favorecedores deste tipo de retomada foram a estrutura de tópico e antecedentes que possuam a mesma função sintática, a de objeto direto. O fato de um elemento na posição de tópico como referente do objeto nulo favorecer a sua ocorrência, conforme atestado por Marafoni (2010), confirma o que Correa (1991) já havia apontado em sua dissertação sobre o PB ser uma língua orientada para o discurso. Vejamos o exemplo seguinte: (18) A Maria, o João disse que gostaria de conhecer Ø melhor No exemplo 8 (18), a Maria é o sintagma nominal que se encontra na posição de tópico da sentença. Este sintagma é o referente da categoria vazia que está no interior da oração o João disse que gostaria de conhecer melhor, ou seja, é o objeto nulo do verbo conhecer. As elipses no PB podem ter como co-referente elementos que estejam fora da sentença, como o tópico, não havendo a necessidade de que estejam ligadas ao seu referente. Por isso, a autora destaca que no caso do objeto nulo é mais relevante a co-referência do que a ligação, posto que o referente deste objeto pode estar em uma posição não argumental e não exige um referente que o c-comande O pronome tônico no PB Retomando o tópico apresentado no início da seção anterior, o tipo de RO no PB que concorre em maior medida com o objeto nulo, e que também pode ser denominado apagamento do objeto, é o uso do pronome tônico ele e suas variantes. Este pronome, segundo os estudos diacrônicos de Cyrino (1993) e Tarallo (1983), já existia pelo menos desde o século XIX, mas seu uso estava associado à fala coloquial e era considerado 8 A sentença utilizada como exemplo foi extraída de Marafoni (2010), p

33 inculto. Cyrino (1993) defende que, assim como o objeto nulo, o aparecimento do pronome tônico na posição de objeto também está relacionado à perda do clítico acusativo. Com relação à distribuição do pronome tônico, Galves (1984) aponta que este elemento pode figurar tanto na posição de objeto quanto na posição de sujeito, sendo muito mais frequente nesta última já que a primeira favorece o uso da categoria vazia. A autora considera relevante também a possibilidade que o PB oferece, ao contrário das demais línguas românicas, de o pronome tônico aparecer em orações relativas como um pronome lembrete. Observemos o exemplo 9 seguinte: (19) Esse moço aí [que vi ele ontem] Na sentença (19), a oração relativa que vi ele ontem tem como alvo da relativização o SN esse moço aí, que é retomado pelo pronome lembrete ele. Esse pronome é, na relativa, o objeto direto do verbo vi. Vemos, portanto, em orações relativas, que o pronome tônico também retoma um antecedente como nos casos de RO em frases simples, pois ele é o responsável por repetir dentro da relativa o elemento relativizado. Em um estudo posterior, Galves (1986) destaca novamente a relevância de se considerar na análise dos pronomes tônicos do PB o caso do pronome lembrete nas orações relativas. A autora considera essa especificidade da língua uma característica fundamental para distingui-la do PE e reafirma, como já havia mencionado em seu estudo anterior (GALVES, 1984), que a distribuição do pronome tônico nas relativas segue a mesma tendência que há nas frases simples: posição de sujeito preenchida e posição de objeto não preenchida. Além disso, nos parece relevante o fato de que as sentenças que envolvem a estrutura de tópico-comentário, tão comuns no PB, apresentem configuração bastante semelhante à das orações relativas, como podemos ver nos exemplos abaixo: (20) Paulo, o João disse que Pedro encontrou Ø ontem (21) No tempo do calor, a gente colhe as maçãs, [que guarda Ø no porão para comer no inverno] Quando falamos em semelhanças formais entre (20) e (21), nos referimos ao fato de que ambas as construções apresentam um argumento em posição não argumental 9 Os exemplos 13, 14 e 15 foram retirado de Galves (1984), p. 110, 112,

34 (que numa construção de tópico, como em (20), seria Paulo e numa oração relativa, como em (21) seria o SN relativizado as maçãs ) e uma espécie de comentário sobre este argumento (que pode ser a relativa que guarda Ø no porão para comer no inverno no exemplo (21) ou a oração o João disse que Pedro encontrou Ø ontem ). Pareceria bastante esperado, portanto, que a forma como a distribuição dos pronomes é realizada em estruturas de tópico-comentário seja seguida em orações relativas A retomada por repetição do SN Apesar de o objeto nulo no PB ser considerado o principal tipo de RO até os dias atuais, de acordo com Oliveira, M. (2007) a retomada pela repetição do SN na posição de objeto tem se tornado cada vez mais produtiva, chegando a ultrapassar os índices de retomada pelo pronome tônico e a concorrer agora com o objeto nulo. Temos de considerar, porém, que, para a autora, o SN não é uma realização fonética do objeto, mas sim uma duplicação do objeto nulo (Oliveira, M., 2007, p. 15) e é justamente isso que explicaria o aumento do seu uso na língua. Para sustentar esta afirmação, a autora parte de sentenças encontradas em textos escolares como o exemplo 10 (22): (22) Começaram acusa-la as ovelhas, as pobres coitadas. (3º EM) Neste exemplo, vemos a retomada realizada pelo clítico la e, em seguida, a duplicação feita pelo SN as ovelhas. A explicação para a ocorrência deste tipo de estrutura estaria numa construção já consolidada no PB que é a duplicação do sujeito. Quando ela ocorre, o pronome considerado fraco duplica um SN numa posição à esquerda da sentença, a posição de tópico. Na duplicação do objeto, tanto o clítico quanto o objeto nulo podem duplicar, à sua direita, um SN ou um pronome. Reproduzimos, a seguir, mais um exemplo utilizado pela autora: (23) A Clarinha, ela cozinha que é uma maravilha. Em (23), vemos um caso de duplicação de sujeito em que o tanto SN na posição de tópico a clarinha quanto o pronome ela, sujeito da sentença, remetem ao mesmo referente. Este tipo de construção com duplicação teria servido como modelo que motivou, na produção dos estudantes, a duplicação de clíticos por um SN (acusa-la as 10 Os exemplos 22 e 23 foram extraídos do estudo de Oliveira, M. (2007), p. 9 e 10, respectivamente. 34

35 ovelhas). Do mesmo modo, o objeto nulo pode também ser duplicado à direita por um SN. A estrutura de duplicação de sujeito, segundo Oliveira, M. (2007), é importante também para a aprendizagem do clítico acusativo de 3ª pessoa, pois, nos dados que a autora analisou em seu estudo, as sentenças produzidas pelos falantes apresentavam o clítico retomando um antecedente nominal deslocado à direita da sentença (uma estrutura de tópico). Além dos exemplos que citamos, provenientes do estudo de Oliveira, M. (2007), apresentamos mais um exemplo 11 de retomada pela repetição do SN que esperamos encontrar em nosso corpus: (24) Apareceu um chapeu e a brucha vestiu o chapéu Esta sentença ilustra bem um típico caso de retomada por SN que costuma ocorrer no PB que é um pouco diferente dos exemplos vistos anteriormente, pois não apresenta um clítico imediatamente anterior a ele. Neste caso, temos duas orações coordenadas e na primeira delas o antecedente um chapéu que é retomado na oração seguinte como o chapéu Tipos de retomada de objeto direto no espanhol Tomando como base as gramáticas descritivas do espanhol, como a de Alarcos Llorach (2000), a única estratégia para a retomada do objeto que está prevista é a retomada por clíticos. A partir disto podemos supor que este seja o tipo de retomada predominante nesta língua, pelo menos no que se refere à norma culta. Contudo, alguns dos estudos que citaremos mais adiante revelam que outras possibilidades de retomada têm ocorrido de forma significativa nesta língua, como o objeto nulo, a retomada pela repetição de SN e o uso de outros tipos de pronomes que não os clíticos A retomada por clíticos no espanhol Ao contrário do que observamos no PB, o espanhol é, de acordo com González (1994), uma língua que permite e favorece o sujeito nulo, mas que não admite o objeto 11 Exemplo pertencente ao estudo de Oliveira, M. (2007), p

36 nulo. Esta afirmação engloba as diversas variedades desta língua, com apenas algumas exceções que mencionaremos na próxima seção. A posição de objeto no espanhol, quando preenchida, é ocupada pelos seguintes clíticos me, te, nos, os, lo(s), la(s), le(s) e o neutro lo. Este último é bastante utilizado para substituir proposições. O grupo me, te, le, nos e os pode ser usado tanto como clíticos de acusativo como para expressar também o caso dativo, enquanto lo(s), la(s) e o neutro lo marcam apenas o caso acusativo. Apresentamos, a seguir, o paradigma dos pronomes pessoais do espanhol de acordo com o que prevê a gramática descritiva de Alarcos Llorach (2000): Pronombres personales tônicos Pronombres personales átonos 1ª pers. sing. yo me 2ª pers. sing. tú te 3ª pers. sing. él, ella, usted lo, le, la, se 1ª pers. pl. nosotros nos 2ª pers. pl. vosotros os 3ª pers. pl. ellos, ellas, ustedes les, los, las, se Quadro 3 Sistema pronominal referente à variedade padrão do espanhol A divisão apresentada sobre quais clíticos expressam caso acusativo e dativo corresponde ao uso etimológico da língua, que não necessariamente corresponde ao que ocorre na língua falada e escrita de todas as variedades do espanhol. (25) Quiénes son esas chicas? No sé; no las conozco. No exemplo (25) podemos observar um caso em que o pronome átono las funciona como complemento de caso acusativo do verbo conocer, ou seja, desempenha função de objeto direto. Seu uso segue o que é estabelecido pela gramática normativa, pois o pronome recupera os morfemas de gênero (feminino) e número (plural) próprios do seu referente essas chicas. Além disso, os clíticos são estruturas que fazem parte da gramática nuclear de falante de espanhol, pois são adquiridos naturalmente durante o processo de aquisição da linguagem. O estudo de Parrini (2013) pode comprovar este fato, pois apresenta 36

37 dados de crianças madrilenas em fase de aquisição que produzem preferencialmente retomadas por clíticos, característica que é mantida também na produção de adultos O objeto nulo no espanhol Apesar da preferência que o espanhol apresenta pelo preenchimento da posição de objeto do verbo que mencionamos anteriormente, existe a possibilidade nesta língua da ocorrência do objeto nulo. Na gramática normativa, o licenciamento da omissão do pronome átono de objeto direto acontece em um contexto extremamente restrito: os objetos nulos só são admitidos caso seu referente seja um objeto [-animado] e [- definido] (PALACIOS, 2000), como podemos ver no exemplo abaixo: (26) - Has traído pasteles hoy? -No, hoy no he traído [pasteles]. No caso do exemplo (26) a omissão do objeto pode ser explicada porque o complemento verbal pasteles é [-animado] e [-definido] já que corresponde a um grupo indefinido de bolos quaisquer. No entanto, estudos recentes, como o de Simões (2014) 12 e Palacios (2000), têm revelado cada vez mais casos de ocorrência de objeto nulo em distintas variedades do espanhol. Com relação ao espanhol do Paraguai, Palacios (2000) demonstrou que a omissão do objeto é possível nesta variedade em contextos sintáticos considerados impossíveis na norma culta da língua. O fenômeno já está generalizado na língua falada e na língua escrita do espanhol paraguaio, visto que esta variedade não oferece restrições quanto aos contextos em que ele pode ocorrer. Contudo, a autora ressalta que a omissão do pronome átono no espanhol paraguaio é um fenômeno decorrente do contato com o guarani, língua indígena que mantém contato com o espanhol nesta região. 12 A pesquisa realizada por Simões (2014) visa analisar os contextos de realização do objeto nulo e do clítico acusativo de 3ª pessoa no espanhol de Madri e de Montevidéu, partindo da hipótese de que o objeto nulo se restringe a antecedentes [- específicos; - determinados]. A análise de dados (coletados em entrevistas orais) revelou que nestas variedades do espanhol o objeto nulo pode ocorrer também em outros contextos (construções ditransitivas, construções de predicação secundária e construções de tópico). Foram considerados, na análise, fatores como a estrutura do sintagma antecedente, os traços semânticos que ele apresenta e a estrutura da oração em que está o objeto. 37

38 Por outro lado, há estudos que atestam o não preenchimento do objeto em regiões onde o espanhol não está em situação de língua de contato. Em sua pesquisa sobre as variedades do espanhol de Madri e de Montevidéu, Simões (2014) encontrou dados de objeto nulo com antecedente [-determinado; -específico] e com antecedente [+determinado; +/- específico] e [+/- humano], em construções de tópico e construções com clítico dativo. A pesquisadora afirma que os contextos sintáticos que favoreceram o objeto nulo no espanhol de Madri e de Montevidéu favoreceram também sua ocorrência em outras regiões, como Quito e o País Basco, onde é possível o objeto nulo com antecedente [+determinado]. Simões (2014) conclui, a partir dos dados analisados, que as variedades de Madri e Montevidéu parecem seguir a mesma tendência sobre o objeto nulo que já está se manifestando em Quito e no País Basco. A ampliação dos contextos de uso deste tipo de RO, segundo a autora, parece também aproximar o espanhol do PB, que permite o uso do objeto nulo em inúmeros contextos sintáticos Outros tipos de retomada de objeto no espanhol Na bibliografia consultada para a presente dissertação, foram extremamente restritas as menções sobre a existência de outros tipos de RO no espanhol. Destacaremos algumas nesta seção a fim de deixar claro que estas outras alternativas de retomada do objeto podem ocorrer, mas, como veremos, são casos tão restritos quanto o uso do objeto nulo. O estudo do espanhol de Madri realizado por Parrini (2013) tinha como objetivo comparar as retomadas de objeto produzidas por crianças e adultos desta cidade. Foram considerados na análise dos dados as seguintes estratégias: retomada por clíticos, por SN, o apagamento do objeto e a retomada por outros pronomes. Os dados obtidos pela pesquisadora revelaram a preferência pela retomada por clíticos com índice muito superior aos demais tipos de retomada, que foram poucos, mas estiveram presentes tanto na produção dos adultos quanto das crianças. Com relação à retomada por outros 38

39 tipos de pronomes que não os clíticos, Parrini (2013) encontrou casos de retomada por pronome demonstrativo e um indefinido, como vemos nos exemplos 13 abaixo: (27) Yo quiero sacar esto. (las piezas del juego) (28) Me encantaban los Exin Castillos... y entonces todos los años me regalaban uno. No exemplo (27) temos o pronome demonstrativo esto retomando o referente las piezas del juego e no exemplo (28) é o pronome indefinido uno que realiza a retomada do referente los Exin Castillos. É interesante observar que em determinados casos, como o exemplo 28, a escolha pela retomada por pronome indefinido em vez de um clítico não parece ser fortuita, visto que o indefinido nesta situação traz um determinado sentido de indeterminação do objeto que o clítico acusativo não poderia transmitir. 13 Exemplos retomados de Parrini (2013), p

40 3. A relativizaça o no portugue s do Brasil e no espanhol 3.1. Línguas tipologicamente próximas: o caso do PB e do espanhol Nesta seção, abordaremos alguns tópicos referentes à relação de proximidade entre o português do Brasil e o espanhol, bem como alguns dos resultados que essa complexa relação acarreta. Discorreremos sobre como a visão dos brasileiros com relação ao espanhol 14 e ao seu aprendizado mudou ao longo do tempo tomando como base o estudo de Celada (2002). Segundo a autora, se um dia o espanhol já foi considerado uma língua que qualquer falante de PB poderia compreender e reproduzir sem muito esforço ou estudo, hoje se tornou objeto de especial atenção por parte dos brasileiros. Também abordaremos a inversa assimetria existente entre tais línguas, proposta por González (1994), que pode ser observada principalmente nas diferenças entre seus sistemas pronominais. Durante muitos anos, o estudo da língua espanhola foi considerado desnecessário pela maioria dos brasileiros, devido à imagem que se tinha do espanhol como uma língua de fácil aquisição por parte dos falantes de português. Julgava-se que a proximidade entre o português do Brasil e o espanhol era grande o suficiente para que um falante de PB dispensasse o estudo do espanhol já que esta última se apresentava como uma versão modificada, ou até mesmo mais formal, da primeira e que, portanto, não possuía um saber que justificasse o estudo aprofundado desta língua (CELADA, 2002). Tal proximidade chegou, inclusive, a ser medida em dados estatísticos, que indicaram que 90% das palavras do PB teriam equivalentes idênticos em espanhol e a diferença entre tais línguas estaria, portanto, restrita aos 10% do léxico composto por falsos cognatos. Este quadro começou a se modificar em meados do século XX quando o ensino da língua espanhola passou a integrar o currículo escolar. Segundo Celada (2002), Até 14 É necessário esclarecer que, ao longo deste trabalho utilizaremos o termo espanhol ou língua espanhola para nos referirmos a esta língua considerando as distintas variedades que ela engloba. Não adotamos, com isso, uma concepção de espanhol como língua homogênea que se estende por diferentes regiões da América Latina e Espanha. Ao utilizarmos esta palavra, estaremos nos referindo a diversas variedades de uma mesma língua, considerando suas diferenças e particularidades. 40

41 então, e mesmo durante esta época, utilizava-se o espanhol no meio acadêmico como um instrumento de apoio para a leitura de textos aos quais não se tinha acesso em português. No entanto, a partir dos anos 90 o estudo da língua espanhola começa a ser considerado não só necessário como também obrigatório para aqueles que pretendiam ingressar em um mercado de trabalho que se tornava cada vez globalizado. O ingresso do Brasil no Mercosul foi um dos principais fatores que motivaram essa mudança de perspectiva dos brasileiros com relação à necessidade de se aprender espanhol. Estes últimos, então, passaram, finalmente, a atribuir a esta língua um saber ao qual deveriam se submeter aqueles que pretendiam dominá-la. A atribuição de um saber ao espanhol consistiu-se em uma importante mudança de paradigma a partir da qual os brasileiros deixaram de se basear exclusivamente na proximidade entre o PB e o espanhol como justificativa para não encarar esta última como uma língua estrangeira que deveria ser estudada como qualquer outra. Como consequência desta mudança, o estudo do espanhol se tornou uma grande contradição para o brasileiro, devido ao fato de ele ter que lidar com uma língua estrangeira que lhe é bastante familiar, mas que, ao mesmo tempo, exige dele um grande esforço para que não se apoie exclusivamente na visão de que o espanhol é uma língua fácil para o brasileiro. Estudos recentes têm descrito o PB e o espanhol como línguas moderadamente próximas, pois apesar das inúmeras semelhanças que apresentam, se diferem em muitos aspectos. Kulikowski & González (1999) chegam a apontar a necessidade de se determinar a justa medida de uma proximidade 15 a partir da concepção de que a distância que efetivamente existe entre as duas línguas é bastante diferente da distância percebida pelo falante. Enquanto esta última se baseia na experiência que o falante teve com o uso da língua estrangeira, a distância real entre o PB e o espanhol vem sendo determinada por estudos linguísticos que buscam apontar quais são as diferenças e semelhanças entre estas línguas e que efeitos elas causam no processo de ensinoaprendizagem de língua estrangeira. Um dos mais relevantes estudos sobre estes tópicos foi empreendido por González (1994), no qual se defende que existe, entre o par de línguas em questão, uma 15 Esta expressão que utilizamos constitui uma tradução livre da expressão original la justa medida de una cercanía utilizada por Kulikowski & González (1999). 41

42 relação de inversa assimetria. Uma das principais consequências disso seria que os falantes de PB aprendizes de espanhol transferem para a língua estrangeira um feixe de características de sua língua materna que se manifestam de maneira oposta no espanhol. A autora se refere principalmente, mas não de maneira exclusiva, à distribuição das formas pronominais tônicas, átonas e do apagamento que ocorre de maneira diferente nas duas línguas a ponto de ser possível caracterizá-las como inversamente assimétricas. Sintetizaremos, no quadro abaixo alguns dos principais tópicos linguísticos que caracterizam o PB e o espanhol e revelam a inversa assimetria existente entre este par linguístico: Alguns tópicos que constituem/caracterizam assimetrias entre PB e E Sujeitos pronominais Complementos verbais (OD e OI, dativos) Quadro 4 16 PB São predominantemente presentes e podem ser utilizados para duplicar um tópico. - predominantemente nulos ou expressos por pronomes tônicos; - formas átonas são usadas em contextos restritos; - os OI podem ser expressos por uma forma tônica ou átona; - o clítico neutro o, com a função de retomar fragmentos do discurso, dificilmente é utilizado. E São predominantemente nulos e são usados quando se pretende contrastar dois seres/elementos do discurso ou para evitar ambiguidades em casos nos quais não se consegue recuperar o referente pelo contexto. - os OD e os OI são expressos preferencialmente por pronomes átonos, podendo também ser duplicados por um sintagma nominal ou pronominal; - o clítico neutro lo é utilizado para retomar sentenças Conforme o quadro apresentado, no PB, há uma preferência pelo preenchimento da posição de sujeito, realizada preferencialmente por um pronome lexical, tal como no exemplo (29): (29) Tudo que ele i puder fazer para ajudar o Brasil, ele i vai fazer. 16 O quadro 1 constitui uma adaptação do quadro proposto em González (2008), p.3. 42

43 Na posição de objeto, predomina o não preenchimento da posição de objeto, como exemplificado em (30), o que configura uma assimetria dentro da própria língua em relação ao sujeito. (30) Separei as coisas que não usava porque não gostava e já repassei Ø para tias e primas Quando a posição de objeto é preenchida, são usados pronomes lexicais na maioria dos casos, já que os clíticos têm um uso extremamente restrito. Observemos o exemplo (31): (31) Eu tenho uma pergunta sobre Flip, meu cão macho beagle, eu comprei ele a 5 dias O espanhol, por outro lado, parece evitar construções com o preenchimento do sujeito, tal como em (32), mas favorece o uso de clíticos, como no exemplo (33): (32) María dijo que [ella] va a hacer el trabajo cuando pueda (33) Vi el libro ayer, pero no (me) lo compré porque me pareció muy caro No exemplo (32), o sujeito do verbo ir é não tem uma representação fonética, mas podemos recuperar pelo contexto que se trata de Maria, representado na frase por [ella]. Em (33), observamos a necessidade que o espanhol apresenta de sempre preencher a posição de objeto preferencialmente por clíticos, como o uso do clítico lo que se refere a el libro e é complemento do verbo comprar. A presente dissertação está centrada em dois tópicos linguísticos que iremos analisar a fim de realizar um estudo comparativo entre o PB e o espanhol. O primeiro deles consiste na retomada de objeto direto e nas formas como ela se manifesta nestas duas línguas, seja por meio de estratégias como o uso de pronomes tônicos, pronomes átonos ou por apagamento 17. O segundo tópico se refere às construções relativas, que também parecem fazer parte do conjunto de elementos que caracterizam a inversa assimetria entre o PB e o espanhol. González e Castaldo (2014) propõem que as orações 17 O apagamento de pronomes de objeto direto pode ocorrer em diversas variedades do espanhol. Na variedade padrão desta língua, o apagamento se aplica apenas aos pronomes de terceira pessoa que possuam um referente [- animado]. Mas em outras variedades, como o espanhol paraguaio, o apagamento do pronome pode ocorrer em inúmeros contextos sintáticos não permitidos pela norma culta do espanhol, conforme foi verificado por Palacios (2000). No caso do espanhol paraguaio se atribui o amplo emprego do apagamento à influência que esta variedade sofreu pelo contato linguístico com o guarani. 43

44 relativas estariam relacionadas à maneira oposta como essas línguas apresentam e retomam a informação no discurso através do uso de elementos coesivos como as retomadas de objeto, por exemplo. Tanto o PB como o espanhol apresentam uma estratégia de relativização padrão e outras duas estratégias alternativas, todas com características formais muito semelhantes, porém com uma distribuição distinta dentro de cada língua no que se refere ao uso. A partir do exposto nesta seção, podemos concluir que as semelhanças formais entre o PB e o espanhol não devem ser tomadas como único parâmetro para comparações entre essas línguas, posto que isso nos conduziria a uma visão equivocada do quão distantes elas realmente estão. A análise das orações relativas, por exemplo, feita por González e Castaldo (2014), nos indica que estas construções parecem confirmar a tese da inversa assimetria entre o PB e o espanhol e que, além disso, estariam relacionadas às diferenças entre os sistemas pronominais destas línguas. No entanto, como veremos mais adiante, há muitas semelhanças formais entre as ERs dessas duas línguas O conceito de relativização As orações relativas são cláusulas que mantêm, com um determinado sintagma nominal (SN), relação semelhante à que se estabelece entre o nome e o adjetivo, ou seja, exercem a mesma função gramatical de um adjetivo. Estas construções podem se manifestar nas línguas apresentando diferentes configurações, as quais são designadas estratégias de relativização. Contudo, esta descrição não parece suficiente para que se compreenda as propriedades das orações relativas que sejam comuns a todas as línguas, já que tais propriedades não se limitam apenas a aspectos sintáticos. Por isso, estudos como o de Keenan e Comrie (1977) adotam uma perspectiva estritamente semântica que considera como uma oração relativa qualquer construção que sirva para especificar um determinado conjunto de elementos. As relativas são um subconjunto que restringe, através de uma asserção, o domínio da relativização, que compreende o SN relativizado e a própria oração relativa. Retomaremos, a seguir, o exemplo apresentado em Keenan e Comrie (1977, p. 64) a fim de elucidar nossa explicação: (34) The girl (that) John likes 44

45 A garota de quem John gosta Na sentença (34) the girl é o elemento relativizado pela oração (that) John likes. Todo o grupo de garotas existente e o alvo da relativização the girl (que é a garota por quem John se interessa) constituem o domínio da relativização, pois compõem o grupo maior que é restringido pela relativa (that) John likes. Abordar as orações relativas através de um critério semântico parece ser válido para estudos comparativos entre diferentes línguas, visto que as ERs parecem apresentar a mesma relação subjacente entre um nome e seu elemento especificador. No entanto, nesta dissertação nossa abordagem do fenômeno será estritamente sintática. Nosso interesse consiste no estudo e a descrição formal das orações relativas, compreendidas como sentenças encaixadas cuja função é a de modificar um SN. Este SN alvo da relativização é compartilhado pela relativa e pela a sentença matriz por exercer uma função sintática em cada uma das duas Estratégias de relativização do português do Brasil Nesta seção, nos dedicaremos a descrever as diferentes ERs do PB e do espanhol, apresentando algumas propostas de descrição sintática que fazem parte do histórico dos estudos sobre a relativização nestas línguas. No que se refere ao PB, diversos estudos foram realizados sobre as ER produzidas por falantes desta língua com o intuito de elaborar uma descrição sintática adequada para cada uma delas e explicar sua distribuição na língua, sendo considerados clássicos os de Tarallo (1983) e Kato (1981), dentre outros. Tais estudos indicam que o PB apresenta três tipos de ERs. A primeira que descreveremos é a estratégia canônica do PB, conhecida como estratégia padrão, que é a única reconhecida nos manuais de gramática normativa da língua portuguesa (ROCHA LIMA, 2000) por ser considerada própria da norma culta. No PB, esta ER pode ser utilizada para relativizar um SN em diferentes funções sintáticas, sejam elas preposicionadas ou não (neste caso, nos referimos à função sintática que o SN exerce no interior da oração relativa). A relativa padrão se caracteriza por ser introduzida por um pronome relativo, que retoma o SN relativizado, e por apresentar uma categoria vazia correferente a este SN, como 45

46 podemos observar no exemplo 18 (35). Quando o elemento relativizado ocupar uma posição sintática regida por preposição dentro da relativa, tal preposição será movida para a frente do pronome relativo, como vemos em (36). Este tipo de relativa também é conhecida como relativa pied piping. (35) O homem i [que saiu t i ] (36) O hotel i [em que ficamos t i ] No exemplo (35), o elemento relativizado é o SN o homem, que é retomado na relativa pelo pronome relativo que e apresenta dentro dela uma categoria vazia correferente a ele. Como este elemento ocupa a função de sujeito, ele não é regido por nenhuma preposição, ao contrário do SN o hotel em (36). Este exerce uma função de caso oblíquo na relativa e, por isso, é regido por preposição, o que conduz a formação de uma relativa pied piping. O PB apresenta também a possibilidade de que o SN relativizado seja retomado na relativa por um pronome resumptivo, ou pronome lembrete, o que caracteriza a estratégia copiadora. Como vemos em (37), o pronome lembrete ele retoma o termo relativizado o homem : (37) O homem i [que eu vi ele i ] No caso de funções sintáticas preposicionadas, o pronome resumptivo é acompanhado pela preposição que se mantém na posição em que foi gerada, como pode ser visto no exemplo seguinte: (38) O homem i [que eu mandei o livro pra ele i ] A terceira ER de que dispõe o PB é conhecida como estratégia cortadora, devido ao corte da proposição que ocorre. Esta estratégia só se aplica aos casos em que o alvo da relativização exerce função sintática preposicionada. Ela se caracteriza por apresentar, assim como na relativa padrão, uma categoria vazia correferente ao SN, mas se diferencia pelo apagamento da preposição que o rege. (39) A fruta [que eu mais gosto t i ] 18 Os exemplos de 35 a 40 foram todos retomados de Kato (1981), p. 2 e 6. 46

47 Como podemos observar em (39), a fruta é o alvo da relativização representada na relativa por uma categoria vazia. Embora a regência do verbo gostar exija o emprego da preposição de, ela não aparece se a estratégia utilizada for a cortadora. Um dos primeiros estudos sobre orações relativas não-canônicas do PB foi realizado por Kato (1981), quem buscou oferecer um modelo que representasse a variação do uso individual das ERs. De acordo com a autora, falantes de PB dispõem de diferentes ERs: a relativa padrão, própria da variedade padrão da língua e as relativas cortadora e copiadora próprias da variedade não padrão. Tais ERs podem ser selecionadas por eles de forma mais consciente, quando a motivação para a escolha for um fator extralinguístico, como o grau de formalidade da situação em que se encontram, ou de forma menos consciente quando os fatores forem linguísticos ou psicolinguísticos. Com a finalidade de tentar explicar como ocorre a variação de uso das ERs em um mesmo indivíduo, Kato (1981) recorre à Hierarquia de Acessibilidade (HA) proposta por Keenan and Comrie (1977). De acordo com a HA, as posições em que um SN pode ser relativizado, ou seja, as funções sintáticas relativizadas, podem ser mais ou menos acessíveis e o conjunto dessas posições obedece a uma hierarquia que as organiza progressivamente de acordo com o seu grau de acessibilidade. Essa hierarquia, de caráter universal, se apresenta da seguinte forma: sujeito> objeto direto> objeto indireto> oblíquo> genitivo> objeto de comparativo. As posições mais altas na hierarquia (sujeito e objeto direto, por exemplo) são mais acessíveis porque são consideradas mais fáceis de serem relativizadas, enquanto as mais baixas são as mais difíceis. Essa diferença no grau de acessibilidade de cada função sintática pode determinar a escolha inconsciente que um indivíduo faz entre uma ER ou outra, de modo que sejam escolhidas aquelas estruturas que ofereçam maior facilidade de processamento (KATO, 1981). Tomando o PB como exemplo, uma oração relativa que não respeite a ordem canônica da sentença nesta língua, como ocorre com a relativa padrão do exemplo (36), retomado aqui como (40), será evitada por ser uma estrutura mais difícil de ser processada. ERs que favoreçam a ordem canônica nas relativas, como a cortadora e a copiadora, serão preferidas. (40) O hotel i [em que ficamos t i ] 47

48 Toda língua, segundo Keenan and Comrie (1977), deve apresentar uma estratégia de relativização primária. Se numa língua houver mais de uma ER disponível, será considerada primária aquela que for usada para relativizar o sujeito. Se uma determinada ER é utilizada em uma posição da hierarquia, essa mesma ER deve necessariamente poder ser usada para relativizar as posições superiores a esta. Mas a ER primária pode também deixar de ser aplicada em qualquer ponto da hierarquia, o que faz com que deixe de ser usada em todas as posições inferiores seguintes. Como o PB possui duas ERs que podem relativizar o sujeito, a estratégia padrão e a copiadora, Kato (1981) argumenta que o falante desta língua provavelmente possui duas gramáticas que funcionam paralelamente e que se alternam de acordo com a mudança de registro, pois não é possível que haja duas ERs primárias num mesmo sistema. Assim, o falante pode relativizar o sujeito ou outra posição utilizando a ER que achar mais adequada ao grau de formalidade da situação em que se encontra. Entretanto, a autora afirma ter encontrado exemplos que contradizem a complementariedade de uso das ERs explicada pela mudança de registro e, por este motivo, defende que a alternância entre ERs parece ser determinada muito mais pela dificuldade/facilidade de processamento de tais estruturas. Em um outro tópico do mesmo estudo, Kato(1981) postula que a escolha que um falante faz por uma ER possa ser determinada talvez pelo tipo estratégia anafórica que ele mais utiliza. Deste modo, seria possível prever que ER um falante usará a partir do tipo de retomada anafórica selecionada, o que conduz à formulação das seguintes hipóteses: se um falante seleciona a anáfora por apagamento, utilizará a estratégia cortadora; se seleciona a anáfora por pronome pessoal do objeto, utilizará a estratégia copiadora; se seleciona a anáfora por clítico, utilizará a estratégia padrão. Neste estudo Kato (1981) não se propôs a verificar, através de um trabalho empírico, se tal correlação realmente ocorre no PB, deixando o caso no âmbito das suposições. Mas a autora indicou que a correlação pode ocorrer em outras línguas, como indicaram os dados da língua japonesa. A hipótese da correlação foi levada adiante na tese de Tarallo (1983), que apresentou essa proposta como um dos argumentos utilizados para defender que a estrutura das ER não canônicas é derivada por uma regra de apagamento. Neste estudo, defende-se que as relativas padrão preposicionadas são derivadas por movimento, 48

49 enquanto as estratégias copiadora e cortadora, seriam derivadas pela manutenção do pronome resumptivo na posição em que foi gerado ou pelo seu apagamento, respectivamente. Nas relativas cortadoras, a preposição seria apagada na mesma posição em que foi gerada. A explicação que Tarallo atribui a este fenômeno é que o surgimento da estratégia cortadora no PB é decorrente de uma mudança no sistema pronominal desta língua, que se caracterizou pelo aumento da produtividade do apagamento pronominal em detrimento do uso de clíticos, cada vez menos frequentes. Em sua tese, Tarallo (1983) analisou dados do PB oriundos de um corpus diacrônico (cartas e peças de teatro dos séculos XVIII e XIV) e de um corpus sincrônico (amostras de fala de habitantes da cidade de São Paulo, coletadas através de entrevistas, e da mídia da época, o que inclui novelas, documentários, programas de esportes, entre outros). Os dados do corpus diacrônico confirmaram, segundo o autor, a relação entre a mudança no sistema pronominal do PB e o surgimento da ER cortadora. Além disso, revelaram que a estratégia copiadora sempre existiu como uma opção no PB, mas era e ainda é uma estratégia estigmatizada e por este motivo seu uso tem sido mais restrito que o das demais ERs. A análise do corpus sincrônico, por sua vez, revelou que tanto falantes de classes sociais mais altas como os de classe média utilizam mais a estratégia cortadora. A estratégia copiadora é favorecida nas classes mais baixas que, embora também utilizem bastante a estratégia cortadora, ainda é o grupo que mais favorece a copiadora. A explicação que se atribui a este fato é que a estratégia cortadora é menos estigmatizada pelos falantes de classes alta e média que a copiadora. Relativas do tipo piedpiping foram as menos utilizadas em todos os contextos considerados e por falantes de todas as classes sociais. A proposta de relacionar pronominalização e ERs através da mudança do quadro pronominal do PB, como feito por Tarallo (1983) parece ser um forte argumento a favor das hipóteses de correlação entre tipos de retomada de objeto e ERs, pois explica como a seleção de uma determinada estratégia anafórica nos permite predizer qual será a ER que o falante irá produzir preferencialmente. Contudo, precisamos considerar também a interferência que o processo de escolarização pode exercer neste contexto, pois ele pode influenciar as escolhas linguísticas dos falantes tanto no âmbito das orações relativas, quanto no das retomadas de objeto. 49

50 Partindo do pressuposto de que a escolarização interfere fortemente na variação de uso das ERs do PB, Corrêa (1998) defende que a ER padrão do tipo piedpiping é uma estrutura que não pertence ao vernáculo do PB e, por isso, só passa a ser produzida pelos falantes após ter sido aprendida por meio da educação formal. A autora trabalhou com um corpus composto por narrativas orais e escritas, ambas realizadas por alunos do 1º grau, indivíduos não escolarizados e indivíduos com nível superior. Também foi realizada com alunos do 2º grau de uma escola particular uma tarefa composta por exercícios sobre orações relativas. Os resultados obtidos confirmaram que os falantes de PB só adquirem a relativa padrão preposicionada depois de serem expostos a esta estrutura durante o processo de escolarização. Corrêa (1998) verificou que o uso da preposição diante do pronome relativo é uma estrutura que tem sido evitada no PB e que mesmo falantes universitários não consideram como estigmatizada a omissão da preposição em relativas. O uso da relativa padrão preposicionada por alunos do fim do 2º grau foi realizado com hesitações e autocorreções, o que revela, segundo a autora, o quanto a escolarização produz nos falantes uma conscientização sobre a importância social de se utilizar determinadas estruturas linguísticas associadas à variedade de maior prestígio na língua. Dentre os falantes de baixo nível de escolaridade e os não-escolarizados, por outro lado, esse comportamento não acontece já que eles utilizam sem hesitar apenas as ERs não canônicas. Tais estratégias apresentaram variação de uso mesmo entre indivíduos escolarizados e não são eliminadas da gramática do falante de PB apesar da influência da escolarização. O estudo de Corrêa (1998) conseguiu revelar o quanto a influencia da escolarização pode ser determinante na escolha que os falantes fazem das ERs. No caso do PB, tal influencia foi forte o suficiente para incluir na produção dos falantes uma ER que não está presente em sua L1. Num estudo posterior ao desta autora, Kenedy (2007) se propõe a confirmar a hipótese de que as relativas padrão preposicionadas não são naturais nem no PB nem em qualquer outra língua natural. A hipótese da antinaturalidade de piedpiping, como o autor a denomina, se baseia no argumento de que esta ER constitui uma estrutura muito custosa para o sistema computacional humano, pois envolve o movimento de mais elementos do que seria necessário para que a derivação de uma relativa convergisse. O piedpiping, que é o movimento da preposição que rege o pronome relativo neste caso, não seria necessário na derivação 50

51 das relativas porque apenas o movimento do elemento QU já seria suficiente. A aplicação desta operação fere, portanto, as condições de economia do sistema computacional, segundo as quais numa derivação deve ser utilizado o menor número possível de operações e símbolos. A partir da análise de seus dados, Kenedy (2007) confirma sua hipótese e afirma que o sistema computacional não pode derivar naturalmente relativas piedpiping e que, por este motivo, as ERs que podem fazer parte da gramática nuclear dos falantes de qualquer língua são a estratégia cortadora, a copiadora e o abandono da preposição no fim da oração relativa, estratégia mais comum na língua inglesa. 3.4 Estratégias de relativização do Espanhol Assim como o PB, o espanhol também apresenta três ERs. Iniciaremos a descrição destas ERs pela estratégia canônica do espanhol exemplificada 19 em (41). Segundo a Nueva gramática de la lengua española (NGLE) (2009), as relativas canônicas do espanhol são sempre introduzidas por um pronome, advérbio ou determinante relativo que estabelece uma relação anafórica com o elemento alvo da relativização, o antecedente. Os pronomes relativos em questão são quien, cual y cuanto, os advérbios donde, como, cuando e o determinante seria o possessivo cuyo. (41) La participante [que logre reunir todos los requisitos] obtendrá el premio mayor. A participante que consiga reunir todos os requisitos receberá o maior prêmio. Quando a função sintática do elemento relativizado dentro da relativa é preposicionada, a preposição que rege essa função se encontra diante do pronome relativo dando origem a uma relativa do tipo pied-piping, como vemos no exemplo (42): (42) Los espectadores [a quienes gustó la obra] aplaudieron mucho. Os espectadores que gostaram da obra aplaudiram muito. 19 As frases de 41 a 44, utilizadas como exemplos nesta seção, foram retomadas da tese de Cerrón - Palomino (2010), pags. 1, 2 e 5. 51

52 No exemplo (41), la participante é o SN relativizado com função de sujeito na relativa e, por isso, dispensa preposições, enquanto em (42) o SN los espectadores é regido pela preposição a dada a sua função oblíqua na relativa. De acordo com o que estabelece a NGLE (2009), a ER canônica é a estratégia própria da variedade culta da língua espanhola, utilizada nos registros formais e na escrita. No entanto, além da relativa canônica, o espanhol possui duas outras ERs associadas aos registros menos formais e à língua oral. Uma delas é a relativa de pronome pleonástico ou resumptivo, cuja estrutura envolve um pronome resumptivo que retoma o antecedente, como podemos ver em (43). Caso a relativa seja preposicionada e o pronome resumptivo esteja em sua forma tônica, este será regido pela preposição anteposta a ele. (43) Tenía una amiga [que ella en la universidad leía cartas, le gustaba la Ouija]. Tinha uma amiga que ela na universidade lia cartas, gostava de Ouija. (44) Es una persona [que yo sí confío en ella]. É uma pessoa que eu sim confio nela Tanto no exemplo (43) como em (44) foi utilizada a estratégia do pronome resumptivo na formação da relativa. Em (43) una amiga é retomada pelo pronome tônico ella. Podem figurar como resumptivos os pronomes tônicos, pronomes átonos, pronomes demonstrativos e pronomes possessivos. Como a função sintática deste resumptivo é regida por preposição, ela acompanha o pronome dentro da relativa, como vemos em (44), em que o sintagma una persona é retomado pelo pronome ella e é regido pela preposição en. A segunda ER não canônica do espanhol corresponde às relativas no pronominales, que se caracterizam pela omissão da preposição que nos permite identificar qual a função sintática que o SN relativizado exerce na relativa. Por este motivo, as relativas no pronominales só podem ocorrer quando a oração for preposicionada. Esta ER, segundo a NGLE (2009), pode ser considerada uma estrutura sintática que caracteriza bem a rapidez e a improvisação da fala espontânea por ser uma estrutura que parece prescindir de menos operações sintáticas já que não expressa o vínculo que une a oração ao seu antecedente, que seria a preposição anteposta ao pronome relativo. 52

53 (45) Este es el coordinador i [que precisa Ø i Adalberto]. Este é o coordenador que Adalberto precisa. Neste exemplo 20, el coordinador é o SN relativizado e a preposição de, que o rege, foi omitida na formação desta relativa no pronominal. Se ela fosse formada pela estratégia padrão, apresentaria a preposição anteposta ao pronome relativo como em Este es el coordinador del que Adalberto precisa. Uma das particularidades que diferenciam as orações canônicas e não canônicas do espanhol é o fato de estas últimas serem sempre introduzidas por que, enquanto as primeiras podem ser introduzidas por diferentes pronomes relativos além do que, como cuyo, cual e quien, por exemplo. É importante ressaltar a diferença entre as ERs através do elemento que as introduz, pois diversos estudos descritivos das orações relativas do espanhol, como Trujillo (1990) e Brucart (1999), entre outros, partem justamente da discussão sobre as características do pronome que e de como tais características influenciam a configuração das orações relativas. Iniciaremos pelo estudo de Brucart (1999) ao considerar que, nas relativas resumptivas, a função anafórica própria do pronome relativo que não se perde. Ao contrário, ela é reiterada por outro pronome. Assim, a relativa resumptiva seria um caso de duplicação de relativo, no qual o pronome resumptivo assume a mesma função de retomada do antecedente que já era realizada pelo relativo. Uma abordagem alternativa à anterior foi apresentada por Trujillo (1990), quem afirma que um pronome nunca repete ou substitui nenhum elemento linguístico, ele apenas faz alusão a um termo já expresso. O pronome relativo que, diferentemente de outros determinantes, possui um caráter bifuncional, pois este único elemento atua como um elo coesivo que une duas construções sintáticas ao mesmo tempo em que faz referencia a um antecedente. A partir desta perspectiva, o autor compreende a existência das relativas com pronome resumptivo como um fenômeno relacionado ao enfraquecimento do caráter bifuncional do relativo, porque o aparecimento de um resumptivo (ou SN) que exerça uma das funções que o relativo exercia tem como consequência a redução de seu potencial anafórico. 20 O exemplo 45 pertence ao estudo de Cerrón-Palomino (2011), p

54 Assumindo tal posicionamento, Trujillo (1990) não considera o uso do pronome resumptivo como uma ER anômala no espanhol. Do mesmo modo, considera normal a omissão da preposição diante do relativo e afirma que apenas uma visão de pronome que funcione como um substantivo, repetindo e substituindo termos, pode endossar a concepção de que as ERs não canônicas do espanhol sejam anomalias. A omissão da preposição, para Trujillo (1990), seria consequência também da perda da bifuncionalidade do que, mas principalmente pelo fato de ele não ser concebido como um nome que possa figurar como termo a ser regido por preposição. Apesar das inúmeras contribuições proporcionadas pelos estudos de Brucart (1999) e Trujillo (1990) à descrição das orações relativas do espanhol, em nosso estudo buscaremos ir mais adiante abordando outras questões além do que diz respeito ao que já foi tratado por esses autores. Para tanto, recorreremos ao estudo de Cerrón-Palomino (2010) quem buscou verificar quais fatores favorecem a ocorrência das ERs não canônicas do espanhol, tendo em vista também a alternância de uso de tais estratégias na língua. Foram analisadas três funções sintáticas nas relativas: sujeito, objeto direto e oblíquo. Os resultados obtidos por meio deste estudo revelaram que as relativas resumptivas e no pronominales que relativizam a função de oblíquo não ocorrem em distribuição complementar, como foi inicialmente suposto. Cada uma delas parece obedecer a seu próprio grupo de fatores favorecedores e por isso seriam dois processos independentes. Além disso, o autor afirma que o uso do pronome resumptivo não pode ser atribuído a fatores condicionantes universais. Ao mencionar a universalidade neste caso, Cerrón- Palomino se refere à Hierarquia de Acessibilidade de Keenan & Comrie (1977) e à Resumptive Pronoun Hierarchy Prediction 21 proposta por Hawkings (2004) para explicar porque o uso do pronome resumptivo em espanhol contraria estudos que tentam explicar sua ocorrência através de aspectos comuns a todas as línguas naturais. A Resumptive Pronoun Hierarchy Prediction estabelece que se o pronome resumptivo for considerado gramatical em alguma posição dentro de uma determinada hierarquia de funções relativizadas, como a de Keenan & Comrie (1977), então também poderá haver resumptivos em todas as posições mais baixas e mais complexas na hierarquia 21 Optamos por manter o termo original em inglês devido ao fato de não termos encontrado a tradução deste termo para o português. Numa tradução livre poderíamos atribuir a denominação prev isão da hierarquia do pronome resumptivo. 54

55 (HAWKINS, 2004). Pronomes resumptivos seriam utilizados como forma de facilitar o processamento de estruturas complexas, como as orações que relativizam posições mais baixas na hierarquia de acessibilidade, logo, quanto mais complexa for a sentença, maior a probabilidade de uso desses pronomes. O grau de complexidade da relativa é medido por Hawkins (2004) de acordo com a quantidade de palavras intervenientes entre o sintagma relativizado e os elementos utilizados na oração relativa para caracterizar a função sintática que foi relativizada. De acordo com a análise feita por Cerrón-Palomino (2010), o esperado no espanhol seria, portanto, que houvesse um índice de ocorrência maior do resumptivo na função de oblíquo que é mais complexa que as de sujeito e objeto direto, segundo a Hierarquia de Acessibilidade. Contudo, ele ocorre com maior frequência na posição de objeto direto, que parece ser um contexto favorecedor para a sua ocorrência. O resumptivo é frequente também na posição de sujeito, porém, conforme Cerrón-Palomino (2010), os fatores que favorecem sua ocorrência nesta posição não estão relacionados apenas ao grau de dificuldade de processamento da sentença, mas também à sintaxe e à pragmática. O autor conclui, por fim, que seu estudo não revelou evidências de que a ocorrência de pronomes resumptivos em orações relativas do espanhol possa ser explicada por uma abordagem de cunho universalista baseada somente na dificuldade de processamento de sentenças. Em Cerrón-Palomino (2011) o pronome resumptivo é novamente abordado e considerado uma ER cujo uso é previamente planejado pelos falantes e não uma estrutura de reparação para uma oração que não foi bem estruturada, como supôs inicialmente. Mas a estratégia resumptiva, assim como a estratégia da omissão da preposição são consideradas extremamente coloquiais e costumam ocorrer com maior frequência na fala e em contextos menos formais. Por este motivo, ao aplicar um experimento a falantes de espanhol a fim de obter a produção de orações relativas, Cerrón-Palomino (2011) verificou que em contextos mais controlados, como o do teste, os falantes evitam utilizar o pronome resumptivo porque têm consciência do quanto esta estratégia é considerada marginal e que não devem utilizá-la quando pretendem se adequar à norma culta. Além disso, o autor chega a citar que entrevistas sociológicas revelaram que a estratégia da omissão da preposição tem sido ainda mais frequente que o uso do resumptivo. Podemos supor, neste caso, que talvez as relativas no pronominales sejam menos marcadas socialmente que as relativas resumptivas. 55

56 3.5. A CORRELAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO E OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO A proposta da correlação no PB Retomando a proposta de Kato (1981), proporemos, nesta seção, uma aproximação entre ERs e tipos de retomada anafórica com base em estudos que postulam uma correlação entre estes dois tópicos linguísticos. Apresentaremos a premissa, defendida por alguns autores, de que esta correlação ocorre no PB e que ela pode ser um caminho promissor no que diz respeito à descrição sintática das orações relativas porque nos leva a considerar a relativização como parte de um conjunto de fenômenos que caracterizam o processo de mudança que esta língua vem sofrendo. Finalmente, estenderemos nossa abordagem ao espanhol, com o objetivo de verificar se nesta língua também podemos identificar a correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto. No PB, as três ERs produzidas pelos falantes, a estratégia padrão, a cortadora e a copiadora, têm seu uso determinado pelo registro e pelo nível de escolaridade do indivíduo, isto é, um falante utiliza preferencialmente uma determinada ER dependendo da situação em que se encontra e do nível de escolaridade que possui (KATO, 1981). Mas esses fatores não parecem ser os únicos fatores responsáveis por delimitar a escolha do falante por uma determinada ER, principalmente se considerarmos o fato de que, no PB, a estratégia cortadora têm se mostrado a mais produtiva em indivíduos de diferentes níveis de escolaridade, tanto quando utilizam um registro formal, quanto no uso do registro informal. De acordo com Kato (1981), parece possível pressupor qual será a ER utilizada por um falante de acordo com o tipo de estratégia anafórica que ele utiliza preferencialmente. Desta forma, a autora correlaciona a relativização de processos anafóricos, como a retomada de objeto direto, sugerindo que estes últimos influenciam o uso das ERs. São propostas, a partir disso, as seguintes hipóteses: Se a estratégia anafórica mais usada pelo falante é o apagamento, então a ER utilizada será a cortadora; Se a estratégia anafórica mais usada pelo falante é a retomada por pronome tônico (pronome pessoal do objeto), então a ER utilizada será a copiadora; 56

57 Se a estratégia anafórica mais usada pelo falante é a retomada por pronome clítico, então a ER utilizada será a padrão. Notemos que as hipóteses apontam para a formação de pares correlatos que indicam que a relação entre as ERs e os tipos de retomada de objeto não é ocasional, e sim baseada em características comuns a estes dois fenômenos. Não à toa que a ER cortadora, caracterizada pela supressão da preposição e por conter uma categoria vazia, se combina com a retomada por apagamento que também envolve uma categoria vazia. Do mesmo modo, a ER copiadora se combina com a retomada por pronome tônico, elemento comum a ambos. Posteriormente, Tarallo (1983) vai ao encontro da proposta da correlação de Kato (1981) afirmando que uma análise do sistema pronominal do PB feita paralelamente à das ERs pode favorecer a descrição sintática destas últimas. Assim, a correlação poderia ser um meio utilizado para se chegar a uma explicação sobre a natureza das ERs de cada língua. Para Tarallo (1983), as relativas cortadoras teriam sido originadas no PB como o resultado de um processo de mudança no sistema pronominal da língua iniciado no século XIX, no qual os pronomes passaram a ser cada vez mais apagados na posição de objeto, em detrimento do uso de clíticos. Esse processo começou a se manifestar nas sentenças conhecidas como principais, ou períodos simples, e gradativamente se estendeu às subordinadas, como as relativas. Se assumirmos que as orações relativas envolvem um processo de retomada do elemento relativizado, podemos compreender a aproximação que Tarallo (1983) propõe entre o apagamento e as relativas cortadoras, já que ambos envolvem uma categoria vazia correferente ao elemento que foi retomado. De maneira geral, a origem das ERs cortadora e copiadora, segundo Tarallo, (1983) pode ser explicada por um mesmo processo que ele denomina de regra de apagamento pronominal. Quando a ER utilizada é a copiadora, o pronome resumptivo se mantém expresso na sentença, mas nas cortadoras ele é apagado seguido do apagamento da preposição, de modo que a distribuição dessas ERs na língua se torna complementar devido à alternância entre o uso ou apagamento do pronome. Ainda que o estudo de Tarallo (1983) tenha se desenvolvido com base na premissa da correlação de Kato (1981), e que tenha apresentado uma descrição sintática das ERs que parecia 57

58 confirma-la, os estudos desses autores não tinham como objetivo confirmar a existência da correlação em si mesma, mas apontar indícios de que ela pode ocorrer. Os argumentos defendidos por Tarallo (1983) sobre a origem das relativas cortadoras são retomados posteriormente por Lessa de Oliveira (2010). Ao analisar dados do PB em um corpus diacrônico, a autora propôs que o processo de mudança pelo qual esta língua passou nos últimos séculos gerou alterações em seu quadro pronominal que também influenciaram as relativas copiadoras. Assim, a mudança no sistema pronominal do PB teria sido responsável também por uma reorganização no sistema de relativização. As relativas copiadoras parecem ter sofrido uma alteração em sua estrutura sintática, uma vez que deixaram de apresentar, em seu interior, clíticos e o pronome possessivo seu (nas relativas de genitivo) atuando como pronomes lembrete (resumptivo). Estes foram substituídos, respectivamente, pelo pronome tônico ele e pela sua combinação com a preposição de (dele). Se a hipótese assumida por Lessa de Oliveira (2010) for válida, isto pode nos levar a considerar novamente que estratégias anafóricas, como a retomada de objeto, apresentam relação de correspondência com as ERs posto que influenciam a forma como será realizada a retomada dentro da oração relativa. Sendo assim, parece possível postular que os pares correlatos formados a partir das hipóteses de Kato (1981) se combinam de maneira previsível porque o elemento que une as partes é o mesmo: o tipo de estratégia anafórica. Por outro lado, podemos questionar a validade das propostas realizadas por Tarallo (1983) e Lessa de Oliveira (2010) no que diz respeito à influência do sistema pronominal do PB na configuração das orações relativas. Afirmamos isso porque, como já mencionamos anteriormente, os dados utilizados nestes estudos talvez não nos permitam ter certeza sobre o período no qual a ER cortadora teve origem no PB, como indicou Kenedy (2007). Sendo assim, provavelmente as relativas cortadoras e copiadoras tenham surgido antes do século XIX (quando começaram a aparecer em textos escritos) e, portanto, antes do início da reorganização do sistema pronominal do PB. Se esta suposição for verdadeira, então perseguir a proposta da correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto a partir dos argumentos apresentados por Tarallo (1983) e Lessa de Oliveira (2010) talvez não seja o meio mais adequado. 58

59 Apesar de as pesquisas mencionados nesta seção apontarem para a confirmação da existência da correlação entre ERs e tipos de RO no PB, o estudo de Oliveira, M. (2007), que toca mais diretamente nesta questão, apresenta evidências contrárias a tal proposta. A autora se dedicou especificamente ao par clítico acusativo relativa padrão com o pronome cujo e argumentou que, embora ambos sejam aprendidos por meio da escolarização como estruturas da variedade culta do PB, o clítico acusativo pode ser aprendido como parte de um sistema de representação em nível de Língua-I (OLIVEIRA, M. 2007), mas a aprendizagem da relativa com cujo ocorre apenas no nível da Língua- E. Sendo assim, o fato de a retomada por clítico acusativo e a relativa padrão com cujo não pertencerem ao mesmo domínio seria o fator responsável por impedir que haja a correlação. Compreendemos, então, que para que possamos apontar um par correlato numa determinada língua, como o PB por exemplo, os componentes deste par devem pertencer ou à Língua-I ou à Língua-E do falantes, caso contrário a correlação não pode ser estabelecida. Assumiremos, porém, um posicionamento diferente de Oliveira, M. (2007) com relação à questão de os clíticos fazerem parte da Língua-I de falantes de PB. Concordamos que o clítico seja uma estrutura aprendida por meio de sua constante exposição ao longo de anos na escola, porém consideramos que se o clítico não é adquirido de maneira natural durante o período de aquisição da linguagem, então não poderia fazer parte da Língua-I dos falantes. A partir da leitura do estudo de Oliveira, M. (2007) compreendemos que o clítico acusativo pode ser aprendido como uma estrutura análoga ao que o falante de PB já possui em sua Língua-I, a duplicação de sujeito, mas por ser aprendida apenas via instrução formal passaria a fazer parte da Língua-E deste falante. Desta maneira, poderíamos propor que não haveria ruptura da correlação da forma como propôs a autora. Ampliação da proposta da correlação a outras línguas Conforme mencionamos anteriormente neste capítulo, parece ser possível ampliar a proposta da correlação para outras línguas. Kato (1981) indicou que no japonês há apenas uma estratégia de relativização, a da omissão da preposição (como as relativas cortadoras do PB), e que a retomada do objeto em orações coordenadas é feita por apagamento. Para a autora, este fato corrobora a hipótese da correlação por mostrar 59

60 que a ER utilizada nesta língua se relaciona justamente ao tipo de retomada de objeto que envolve uma operação em comum a ambos, o apagamento. Por isso, Kato postula que a correlação inicialmente formulada a partir de dados do PB pode ser um fenômeno trans-linguístico. Decidimos, nesta dissertação, verificar se tal correlação de fato consiste em um fenômeno que ocorre em outras línguas além do PB e nos dispusemos a verificar se ocorre também no espanhol. Como já foi explicitado anteriormente, no espanhol há diferentes tipos de retomada de objeto direto, assim como são produtivas também três ERs. Estes dois grupos de fenômenos sintáticos poderiam, a principio, estar correlacionados como parece acontecer no PB e no japonês. 60

61 4. Metodologia A metodologia que adotamos nesta pesquisa foi a aplicação de um teste de produção de fala induzida (off-line), que tinha como finalidade induzir os informantes a produzirem oralmente algumas descrições breves e a responderem às perguntas que lhes eram feitas. Este tipo de experimento é muito utilizado na Psicolinguística e oferece a vantagem de se conseguir gerar os enunciados que se pretende analisar de acordo com os objetivos da pesquisa. A indução é realizada através de um contexto no qual todos (ou quase todos) os seus detalhes foram controlados a fim de favorecer a produção do enunciado esperado. Este tipo de método é extremamente útil em pesquisas que estudam fenômenos que não ocorrem frequentemente na produção dos falantes, como no caso das relativas preposicionadas que costumam ser evitadas pelos falantes. A elaboração do nosso teste foi baseada no experimento realizado por Labelle (1990) para o estudo das orações relativas da língua francesa. Esta pesquisadora aplicou uma atividade a um grupo de crianças que consistia em mostrar a elas pares de cartões em preto e branco e pedir que escolhessem apenas um. Cada par de cartões continha a mesma imagem com pequenas variações relativas às atividades na qual os personagens que apareciam estavam envolvidos. Pediam que a criança escolhesse um personagem/objeto que aparecia nas imagens, mas em cada uma das duas imagens o personagem/objeto estava envolvido numa atividade diferente, o que induzia à produção da oração relativa, como por exemplo, The box [[where] the girl is hiding ]. Adaptamos, então, aos nossos objetivos a tarefa vista em Labelle (1990) para a obtenção dos dados sobre orações relativas e incluímos uma outra tarefa para a obtenção dos dados referentes à retomada de objeto direto PERFIL DOS INFORMANTES Selecionamos para participar desta pesquisa um grupo de 24 informantes, metade deles era falante de PB e a outra metade era composta por falantes de espanhol. 61

62 Falantes de PB O grupo dos informantes falantes de PB era composto por 12 pessoas adultas com idade entre 21 e 56 anos. Todos são moradores da Cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro e, quanto ao grau de escolaridade, todos possuíam nível superior completo. Neste grupo havia 11 mulheres e 1 homem Falantes de espanhol O grupo dos informantes falantes de espanhol era composto por 12 pessoas, sendo 8 residentes na Cidade do México, 1 de Guanajuato e 3 de Guadalajara. Os informantes são adultos com idade entre 21 e 50 anos e nível superior completo. O grupo era formado por 6 homens e 6 mulheres O TESTE Nosso teste era composto por três sequências de imagens semelhantes a histórias em quadrinhos que foram desenvolvidas através de um site específico para a criação deste tipo de material. Na criação das sequencias, os elementos (personagens, cenário, objetos etc) foram escolhidos e apresentados com um objetivo específico: fazer com que os informantes produzissem os fenômenos linguísticos estudados nesta dissertação (orações relativas e retomadas de objeto direto). O mesmo experimento foi aplicado tanto aos falantes de PB quanto aos falantes de espanhol. Por isso, durante sua elaboração foram levadas em conta as diferenças e semelhanças entre essas línguas no que diz respeito aos fenômenos linguísticos estudados Aplicação O teste continha duas tarefas. O aplicador apresentava ao informante uma sequência de quadrinhos e lhe pedia que descrevesse oralmente o que via através de um comando simples: Conte a história que você está vendo. Logo em seguida, o aplicador 62

63 mostrava ao informante uma das cenas que foi destacada da sequência e fazia uma pergunta sobre esta cena que o informante deveria responder também oralmente. Essas duas tarefas, descrição da história e pergunta sobre a cena destacada, eram repetidas três vezes porque o teste completo continha três histórias no total. Toda a fala dos informantes foi gravada em um dispositivo de mídia. Os teste realizados com falantes de PB foi aplicado pela própria pesquisadora e os que foram realizados por falantes de espanhol foram aplicados por outros dois aplicadores Descrição do material utilizado na primeira tarefa do teste Primeiramente, apresentaremos as imagens utilizadas no teste tal como foram mostradas aos informantes e, a seguir, descreveremos todo o material. 63

64 Sequência 1 Imagem 1 Cena destacada referente à sequência 1 Imagem 2 Pergunta: Qual dos gatos tem o sinal? / Cuál de los gatos tiene la señal? 64

65 Sequência 2 Imagem 3 Cena destacada referente à sequência 2 Imagem 4 Pergunta: Qual das piscinas tem o sinal? / Cuál de las piscinas tiene la señal? 65

66 Sequência 3 Imagem 5 Cena destacada referente à sequência 3 Imagem 6 Pergunta: Qual das meninas tem o sinal? / Cuál de las niñas tiene la señal? 66

67 Ao criar estas sequências de quadrinhos controlamos algumas variáveis independentes que acreditávamos que fariam com que os informantes produzissem retomadas de objeto direto, que são as variáveis dependentes do experimento. Uma dessas variáveis independentes foi um objeto que seria repetido diversas vezes na história. Dessa forma, o falante mencionaria o elemento pela primeira vez e necessariamente tinha que mencioná-lo de novo para estabelecer a continuidade da história que ele criava, pois o elemento repetido ocupava sempre um papel central. A outra variável independente foram os verbos relativos às ações praticadas pelos personagens. Se desejamos que os informantes produzam retomadas de elementos na função de objeto direto, logo devemos priorizar verbos que requeiram como complemento um objeto direto. Alguns dos verbos que induzimos eram transitivos direto e indireto. Descreveremos agora a variável independente de cada sequência de quadrinhos e o que era esperado com relação à produção dos falantes. Sequência 1 Neste caso, o elemento que aparece repetidamente e induz à retomada do objeto é o peixe que a mulher compra no mercado. Esperávamos que fossem utilizados os verbos comprar, levar, lavar, cortar, cozinhar, comer, experimentar/provar e dar, no PB e comprar, llevar, lavar, cortar, cocinar, comer e probar, em espanhol. O mínimo que esperávamos de uma descrição desta sequência era que o informante contasse que uma mulher foi ao mercado e comprou um peixe (1ª menção ao peixe). Foi para casa, lavou, cortou, preparou o peixe, cozinhou e foi comer, mas quando experimentou o peixe não gostou e deu para os gatos. Sequência 2 Nesta sequência, o elemento que aparece repetidamente e induz à retomada do objeto é o celular que o menino ganha. Esperávamos que fossem utilizados os verbos ver, querer, comprar, entregar e mostrar, no PB, e ver, querer, comprar, entregar e mostrar, no espanhol. 67

68 O mínimo que esperávamos de uma descrição desta sequência era que o informante contasse que um menino se interessa por um aparelho de celular que viu numa loja e pede ao seu pai que o dê de presente. Após ganhar o celular, o menino se distrai e cai numa piscina com o celular nas mãos. Sequência 3 Nesta sequência, o elemento que aparece repetidamente e induz à retomada do objeto são as blusas que as meninas ganham. Esperávamos que fossem utilizados os verbos ganhar, lavar, passar e vestir/colocar, no PB, e ganar, lavar, planchar e ponerse, no espanhol. O mínimo que esperávamos de uma descrição desta sequência era que o informante contasse que duas meninas ganharam umas blusas e ficaram felizes. Logo em seguida foram lavar e passar as blusas para poder usá-las. As meninas vestiram as blusas e foram sair, mas quando passaram ao lado da mesa uma delas encostou num bolo e sujou sua blusa. Estes verbos que apresentamos foram os que consideramos como o mínimo esperado da produção dos informantes, que poderiam incluir outros Descrição do material utilizado na segunda tarefa do teste A segunda tarefa do teste exigia que o informante respondesse a uma pergunta feita sobre uma das cenas da sequência de quadrinhos que foi destacada e apresentada separadamente. Utilizando a sequência de nº 2 como exemplo, reproduzimos, abaixo, a cena destacada correspondente junto à pergunta sobre ela: 68

69 História 2 Pergunta sobre a cena destacada: qual das piscinas tem o sinal? Um dos mais importantes elementos controlados (variável independente) nesta etapa do experimento era o objeto a ser repetido (no caso da sequência 2, por exemplo, seria a piscina). Estes itens duplicados deveriam ser exatamente iguais, de maneira que só pudessem ser diferenciados pelo fato de um conter o símbolo e o outro não e também pela situação que envolvia os personagens. Este contexto que manipulamos era o que induziria o falante a produzir como resposta uma sentença com oração relativa, como por exemplo a piscina em que o menino caiu. Uma vez que já indicamos na pergunta o fato de que há um símbolo que distingue os objetos duplicados (qual das piscinas tem o sinal?), o único fator restante que poderia diferenciá-los seria a ação praticada/sofrida pelos personagens, como cair na piscina por exemplo. Assim, induzimos o falante a produzir uma sentença escolhendo uma das piscinas que viu na cena e que só poderia se diferenciar da outra pelo fato de que um menino caiu nela, logo seria a piscina em que o menino caiu. A oração relativa é, portanto, a variável dependente nesta etapa do nosso experimento. Como nos dedicamos ao estudo das ERs, esperávamos que através da aplicação da segunda tarefa do teste fossem ocorrer tais estratégias na produção dos falantes, visto que as ERs são as formas através das quais uma oração relativa se manifesta. Por outro lado, consideramos, desde a elaboração do teste, que havia a possibilidade de que os falantes produzissem respostas que não contivessem orações relativas. Afirmamos isto porque num teste de produção induzida, como o nosso, manipulamos as variáveis independentes no intuito de restringir o máximo possível o 69

70 contexto apresentado para aumentar a probabilidade de que apareçam os resultados esperados na produção dos informantes, mas sempre há a possibilidade de resultados inesperados. Além disso, cada uma das três perguntas que criamos induz o falante a produzir orações relativas com diferentes funções sintáticas relativizadas. Vejamos as sentenças abaixo que mostram as perguntas feitas no teste e as possíveis respostas para cada uma delas: Perguntas Objeto indireto Qual dos gatos tem o sinal X? / Cuál de los gatos tiene la señal X? Quadro 5 Respostas possíveis O gato para o qual a mulher deu o peixe / el gato al que la mujer le dio el pescado O gato que a mulher deu o peixe / el gato que la mujer le dio el pescado O gato que a mulher deu o peixe para ele / el gato que la mujer le dio el pescado a él 70

71 Perguntas Oblíquo Qual das piscinas tem o sinal X? / Cuál de las dos piscinas tiene la señal? Quadro 6 Respostas possíveis A piscina em que o menino caiu / la piscina en la que el niño cayó A piscina que o menino caiu / la piscina que el niño cayó A piscina que o menino caiu nela / la piscina que el niño cayó en ella 71

72 Perguntas Genitivo Qual das meninas tem o sinal X? / Cuál de las chicas tiene la señal X? Quadro 7 Respostas possíveis A menina cuja blusa está manchada / la chica cuya blusa se manchó A menina que a blusa está manchada / la chica que la blusa se manchó A menina que a blusa dela está manchada / la chica que su blusa se manchó A pergunta 1, qual dos gatos tem o sinal?, induz o falante a produzir uma relativa cuja função do elemento relativizado seja a de objeto indireto. A oração relativa formada poderia ser o gato que a mulher está dando o peixe para ele, em que o pronome resumptivo ele ocupa a posição de objeto indireto do verbo dar. Na pergunta 2, qual das piscinas tem o sinal?, umas das respostas esperadas seria a piscina que o menino caiu nela com o pronome resumptivo ela (nela) ocupando uma posição oblíqua na sentença. A terceira pergunta, qual das meninas tem o sinal?, poderia ter como resposta a sentença a menina que a blusa dela está manchada, na qual o resumptivo ela (dela) ocupa a função de genitivo. Como o pronome resumptivo é um elemento que retoma o SN alvo da relativização, ele assume na relativa a função sintática propria deste SN. O mesmo se aplica à categoria vazia nas relativas padrão e cortadora. 72

73 4.3. Tratamento dos dados Após a aplicação do experimento, iniciamos a análise dos dados contabilizando tanto as ocorrências de retomadas de objeto direto quanto as de orações relativas. No primeiro caso, foram contabilizadas as ocorrências de retomada de objeto e separadas em 4 grupos de acordo com o tipo de retomada utilizado pelo falantes, a saber: retomada por clíticos, retomada por pronomes tônicos, apagamento do objeto e retomada por repetição do SN. As orações relativas também foram contabilizadas e separadas em três grupos de acordo com as ERs disponíveis nas línguas estudadas: estratégia padrão, estratégia da omissão da preposição (cortadora) e uso do pronome resumptivo (copiadora). Todo o procedimento que adotamos foi realizado da mesma forma com os dados do PB e do espanhol. 73

74 5. Ana lise dos dados Apresentaremos, neste capítulo, a análise dos resultados obtidos através da aplicação de testes de produção oral induzida a falantes de português do Brasil e falantes de espanhol. Através de um único teste, composto por duas etapas, pretendíamos, na primeira delas, induzir os informantes a produzirem retomadas de SNs na posição de objeto direto e, na segunda etapa, a produzirem orações relativas. Primeiramente, serão mostrados os fatores levados em conta no recorte que adotamos para realizar a análise dos dados. Em seguida, apresentamos os resultados gerados pelo teste e sua análise de acordo com os fatores envolvidos na produção de cada fenômeno linguístico abordado Tipos de retomada do PB: análise dos resultados Para a análise dos tipos de retomada de objeto direto no PB, consideramos os dados obtidos através da aplicação da primeira tarefa de nosso teste, na qual cada informante deveria narrar uma história a partir dos quadrinhos que lhes eram mostrados. Consideramos para nosso estudo todos os casos em que um SN era retomado por algum elemento que ocupava a função de objeto direto do verbo em questão. Com isso, conseguimos identificar no corpus quatro tipos de retomada de objeto: retomada por clítico, retomada por SN, apagamento e a retomada por pronome pessoal. Dentre as estratégias utilizadas para realizar a retomada de objeto direto no PB, podemos citar a retomada por clítico, o apagamento (uso do objeto nulo), a retomada por pronome tônico e a repetição do SN alvo da retomada. No caso dos clíticos, podemos afirmar que, no PB, o uso do clítico acusativo de 3ª pessoa está cada vez mais restrito à escrita e a contextos de uso formais, com baixíssima frequência na fala mesmo entre falantes escolarizados, como foi atestado por Cyrino (1993), Tarallo (1983) e mais recentemente por Oliveira, M. (2007). Em contrapartida, tais autores apontam o apagamento do objeto como estratégia de retomada predominante em grupos de distintos níveis de escolaridade. Como alternativa a este tipo de RO temos ainda o pronome pleno, pouco frequente na posição de objeto (GALVES, 1984), e a repetição do SN que, segundo Oliveira, M. (2007), são estratégias que estavam em competição até 74

75 que o crescimento do índice de produtividade do SN fez com que este último se estabelecesse como estratégia mais selecionada pelos falantes que a anterior. Em nosso corpus, composto por 138 ocorrências de retomadas de objeto, encontramos todos os tipos de retomada citados anteriormente com diferentes índices de produtividade, como podemos observar no gráfico abaixo: Tipos de retomada de objeto direto - português do Brasil 1% 63% 6% 30% Sintagma nominal Apagamento Clítico Pronome tônico Gráfico 1- Índices de ocorrência dos tipos de retomada de objeto direto no PB No gráfico 1, podemos observar que a maioria dos casos de RO de nosso corpus foi realizada através do apagamento do objeto (63%), seguido da retomada pela repetição do SN, que com 30% das ocorrências, também se mostrou bastante produtivo. Dada a predominância destes dois tipos de retomada, os poucos casos restantes se dividiram entre os índices de 6% de uso de clíticos e 1% de retomada por pronome pleno. O que esperávamos como resultado neste grupo de informantes era o apagamento do objeto como o principal tipo de retomada, a repetição do SN bastante produtiva e a retomada por clíticos e por pronome tônico com índices reduzidos. No quadro abaixo, podemos ver o número de casos registrados de cada tipo de retomada de objeto direto do PB. Estes são os quantitativos de dados referentes aos percentuais apresentados no gráfico 1. 75

76 Tipos de retomada Número de dados Apagamento do objeto 87 Retomada por sintagma nominal 42 Retomada por clíticos 8 Retomada por pronome tônico 1 Total 138 Quadro 8 De maneira geral, os resultados obtidos sobre a distribuição dos tipos de RO do PB corresponderam ao que era esperado para um grupo de falantes de PB com nível alto de escolaridade: o apagamento se mostrou uma estratégia muito produtiva, enquanto o uso de clíticos e de pronomes tônicos foi bastante restrito. Confirmamos também a tendência apontada por Oliveira, M. (2007) de que o uso da retomada por repetição do SN tem ocorrido de maneira mais frequente no PB. objeto: Seguem, abaixo, exemplos 22 retirados do corpus de cada tipo de retomada de Retomada por SN (46) Chegando lá, ela lavou o peixe, tirou o peixe da embalagem, lavou o peixe, cortou o peixe, preparou o peixe na frigideira, né (PB 04) Retomada por clítico (47) Uma senhora deu de presente duas blusas para suas filhas. Elas ficaram tão contentes e correram para lavar as blusas e passar, para deixá-las bem cheirosas (PB 10) Apagamento (48) Chegando em casa, ela lava o peixe, corta Ø, coloca Ø na frigideira (PB 08) Retomada por pronome pessoal (ele/ela) 22 Ao lado de cada exemplo apresentado neste capítulo há uma combinação alfa-numérica que utilizamos para identificar cada informante que participou da pesquisa. Por exemplo, a combinação PB 08 ao lado de uma determinada sentença indica que este exemplo foi produzido pelo falante que identificamos como PB 08. A lista com todos os informantes e suas respectivas identificações estão na seção de Anexos desta dissertação. 76

77 (49) Uma senhora foi ao mercado e escolheu entre outras compras um peixe que estava bem bonito.[...] Chegando em casa ela lavou ele, temperou e fritou. (PB 10) Apagamento do objeto e retomada por repetição do SN O alto índice de ocorrência da retomada por repetição do SN encontrado em nosso corpus parece confirmar que esta estratégia se tornou mais frequente no PB ao longo dos últimos anos, como apontado por Oliveira, M. (2007). Além disso, os dados indicam que este tipo de RO parece estar, atualmente, em competição com o apagamento do objeto e não com o uso do pronome lexical como ocorria anteriormente. Afirmamos isto porque os percentuais de uso destes tipos de RO foram mais próximos entre si (63% e 30%) ao mesmo tempo em que ambos se distanciaram dos 6% de ocorrência de pronomes tônicos. Observemos os exemplos a seguir: (50) Que peixe ruim. Aí ela... pensou ela. Que que ela fez? Cortou e deu pros gatinhos. Fim. (PB 06) (51) Ele foi, escorregou, caiu, o celular caiu dentro da piscina e ele perdeu o celular (PB 04) No exemplo 50 temos um caso de apagamento objeto como estratégia de retomada, na qual o SN peixe seria retomado como objeto direto dos verbos cortar e dar mas em seu lugar figura um objeto nulo. Em 51, ao contrário, a retomada do objeto teve uma manifestação fonética realizada pelo SN o celular, complemento do verbo perder que retoma o mesmo SN na oração anterior. Em nosso corpus, identificamos que havia 30 casos em que a retomada do objeto era feita com um verbo transitivo direto e indireto ou um verbo transitivo acompanhado de uma expressão de função adverbial, como entregar, mostrar e botar no bolso, por exemplo, número que incluía tanto casos de apagamento quanto de retomada por repetição de SN e clíticos. Esse tipo de verbo correspondeu a 22% dos casos de retomada, enquanto os outros 78% eram verbos transitivos diretos. 77

78 Destes 30 casos, 74% eram casos de apagamento do objeto, índice que consideramos expressivo o suficiente para afirmarmos que esse contexto parece favorecer o apagamento em nosso corpus, em detrimento da retomada por SN que correspondeu a 23% dos casos e da retomada por clítico que teve uma ocorrência (3%) com este tipo de verbo. (52) um menino imagina que seu celular está... que ele ganhou um celular mas o celular não tá bom, aí ele entrega pro pai dele (PB 05) (53) Chegou em... foi, comprou o celular, dirigiu até em casa no melhor carro e entregou o celular ao filho (PB 06) Como podemos ver na sentença 52, o verbo entregar não apresenta seu complemento objeto direto expresso foneticamente, que seria uma forma que retomasse o SN o celular. Mas mesmo assim o outro complemento do verbo está presente pro pai dele. Na sentença 53 o mesmo acontece, mas a retomada dessa vez é realizada pelo SN o celular e o complemento ao filho também é mantido. Este fato encontrado em nossos dados talvez não possa ser generalizado como uma característica do PB já que temos um reduzido número de dados, mas talvez nos indique alguma tendência que vem se manifestando nessa língua. Mas ainda que a retomada por repetição do SN não tenha sido a estratégia mais selecionada no PB, Oliveira, M. (2007) menciona que o crescente uso da retomada por SN pode ser um indicativo de que o PB está atravessando um processo de mudança com relação aos tipos de RO que apresenta, no qual a repetição do SN tem ganhado mais espaço. Entendemos, portanto, que o significativo uso de tal retomada em nosso corpus parece corroborar o fato de o PB estar passando por alterações com relação aos tipos de RO mais selecionadas pelos falantes. Estas alterações podem indicar que o apagamento do objeto agora esteja concorrendo com a repetição do SN, ambos como tipos de RO mais produtivos na língua. Por outro lado, podemos postular que a competição entre retomadas por SN e o apagamento talvez seja aparente, se considerarmos que na verdade temos nos dois casos um objeto nulo. Para sustentar tal afirmação nos baseamos na proposta de Oliveira, M. (2007) de que a retomada por SN no PB consiste em um caso de duplicação do objeto nulo. Por isso, nos termos de Oliveira, M. (2007), o SN só aparentemente ocupa a posição de objeto, sendo, na verdade, um elemento deslocado à direita e não uma manifestação fonética do 78

79 objeto direto. Sendo assim, se todos os casos de retomada por SN do PB forem duplicações do objeto nulo que não ocupam de fato a posição de objeto, teríamos, no corpus do nosso estudo, que o apagamento ainda é o tipo de RO predominante no PB frente ao uso de clíticos e pronomes tônicos. Essa discussão sobre o estatuto da retomada por SN no PB nos parece relevante no que diz respeito à proposta da correlação entre tipos de RO e ERs que perseguimos. Tal proposta considera três pares correlatos que incluem a retomada por clíticos, por pronome tônico e por apagamento, mas não inclui a retomada por SN. Sendo assim, a própria existência da retomada por SN no PB poderia ser um fator que impediria a ocorrência da correlação ou então este tipo de SN não poderia ser incluído entre os três pares correlatos por algum motivo. Se tomamos como verdadeira a proposta de Oliveira, M. (2007) de que a retomada por SN é um constituinte deslocado, como ocorre com o tópico, e não uma realização fonética do objeto, temos, então, um indício de que os tipos de retomada disponíveis no PB são realmente aqueles apontados por Kato (1981) como componentes dos três pares correlatos A retomada por clíticos O índice que obtivemos de 3% de ocorrência do clítico acusativo de 3ª pessoa revela que este tipo de pronome está num processo de desaparecimento no PB, como indicou Cyrino (1993). Porém, a interferência da escolarização ainda é relevante a ponto de fazer com que indivíduos escolarizados, como os informantes de nosso teste, utilizem o clítico em situações de fala mais controladas, como a da aplicação do teste, pois parecem associar o seu uso à variedade culta da língua. Corrêa (1991) afirma que o clítico acusativo é aprendido primeiro na língua escrita para só depois se manifestar na língua oral. Este é um processo longo que se consolida nos anos finais do período de escolarização do indivíduo, como verificou Oliveira, M. (2007). (54) Elas ficaram tão contentes e correram para lavar as blusas e passar, para deixá-las bem cheirosas. (PB 10) 79

80 Um aspecto que merece destaque em nossa análise foi que todas as ocorrências de clíticos foram, sem exceção, casos de ênclise, ou seja, de uso do pronome posposto ao verbo, como vemos no exemplo (55): (55) Mostra ao Pablo, que acha genial o seu novo celular, e depois ele sai pra mostrar... para mostrá-lo a outros amigos. (PB 09) Sentenças como esta, em que o clítico las retoma o antecedente blusas numa posição a direita do verbo seguem a ordem canônica da oração no PB (sujeito verbo objeto, SVO), fator importante na aquisição e uso deste tipo de pronome. Conforme atestado por Oliveira, M. (2007), é fundamental, para a aquisição do clítico acusativo de 3ª pessoa, que o falante conheça as possibilidades de configuração da sentença no PB, pois quando tiver que utilizar os clíticos, por exemplo, deverá dominar não só a leitura para a direita (em casos de ênclise) como também para a esquerda (em casos de próclise). Como a ordem OV está desaparecendo no PB, o que os falantes adquiriram como parte de sua Língua-I foi a ordem SVO e esta parece exercer tal influência na sua produção que favorece a posposição do clítico ao verbo A retomada por pronome tônico Identificamos em nosso corpus apenas um caso de retomada por pronome tônico, o que correspondeu a aproximadamente 1% do total das retomadas de objeto. Observemos o exemplo a seguir: (56) Uma senhora foi ao mercado e escolheu entre outras compras um peixe que estava bem bonito. [...] Chegando em casa ela lavou ele, temperou e fritou. (PB 10) Nesta sentença temos como referente o sintagma um peixe que estava bem bonito que é retomado pelo pronome tônico ele como objeto direto do verbo lavar (lavou ele). Mas ainda na mesma sentença, dois outros verbos sucedem o verbo lavar, temperar e fritar e nos dois casos houve apagamento do objeto ela lavou ele, temperou Ø e fritou Ø. A escolha pelo apagamento do objeto logo após a retomada por pronome tônico não nos parece ser casual e sim uma escolha feita por um falante que tem consciência do quanto o objeto nulo é menos marcado socialmente que o pronome 80

81 tônico. Neste caso estão envolvidos tanto a questão de o informante possuir alto nível de escolaridade quanto o fato de o contexto de produção ser mais controlado, pois como já afirmava Kato (1981) as escolhas linguísticas que fazemos seguem determinados padrões do dialeto que estamos reproduzindo. Compreendemos a noção de dialeto, nesta situação, como a variedade padrão ou não padrão da língua Estratégias de relativização do PB: análise dos resultados A aplicação do teste de produção induzida teve como objetivo conduzir os informantes a produzirem orações relativas nas quais o sintagma nominal (SN) relativizado desempenhasse as seguintes funções sintáticas: objeto indireto, oblíquo e genitivo. Optamos por abordar apenas funções sintáticas preposicionadas, pois relativas padrão do tipo pied-piping e relativas cortadoras ocorrem apenas nestes casos. A análise de relativas não preposicionadas, que se referem às funções de sujeito e objeto direto, não faz parte de nosso escopo. Dentre os fatores que interferem na seleção das estratégias de relativização, e que levaremos em conta durante nossa análise, destacamos o grau de escolaridade do indivíduo e a função sintática relativizada, que no nosso caso incluirá as funções de objeto indireto, oblíquo e genitivo. Com a aplicação do teste a falantes de PB com alto nível de escolaridade esperávamos encontrar três ERs que são produtivas nesta língua: a estratégia padrão (pied-piping), a estratégia copiadora e a estratégia cortadora. Era esperado também que a estratégia mais produtiva fosse a cortadora, seguida da estratégia padrão com menor índice de ocorrência e que a menos produtiva fosse a estratégia copiadora (Tarallo, 1983; Correa, 1998). De um total de 36 respostas obtidas através das perguntas do teste, foram obtidas 15 ocorrências de orações relativas. Apesar de o índice de ocorrência ser baixo com relação ao número total de possibilidades que o teste nos oferece, este fato já era esperado, pois os falantes tendem a evitar orações relativas preposicionadas por serem estruturas de processamento mais difícil que as relativas não preposicionadas. O gráfico 1, abaixo, apresenta os percentuais de cada ER produzida pelos informantes: 81

82 Estratégias de Relativização do PB 40% 13% 47% Cortadora Estratégia Padrão Copiadora Gráfico 2- Índice de ocorrência de cada estratégia de relativização do PB Conforme podemos observar no gráfico 2, a estratégia cortadora foi a mais produtiva de todas com um percentual de 47%. Mas apesar de essa ser a ER mais selecionada, a estratégia padrão também foi bastante produtiva com 40% de ocorrências, pois pode ser explicado pela influência da escolarização na escolha das ERs que os falantes utilizam, se considerarmos que as relativas padrão preposicionadas são construções aprendidas pelos indivíduos através de instrução formal. Por fim, a estratégia menos selecionada foi a copiadora, que com apenas 13% de ocorrências parece ser evitada por este grupo de falantes, mas ainda é um recurso adotado. Nas sentenças seguintes, podemos observar alguns exemplos das ERs encontradas no corpus analisado: Estratégia padrão (57) A piscina [na qual caiu Henrique Ø ] Nesta sentença, a piscina é o elemento relativizado que exerce uma função sintática preposicionada de caso oblíquo dentro da relativa. Este SN é retomado pelo pronome relativo e possui uma categoria vazia correferente a ele na relativa. Estratégia cortadora (58) A piscina [que o menino caiu Ø ] 82

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