Jewish-Christian Relations
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- Beatriz Costa Marroquim
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1 Jewish-Christian Relations Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue Lee, Dorothy A O Evangelho de Mateus e o Judaísmo Dorothy A. Lee Introdução O assunto de Evangelho de Mateus e Judaísmo é complexo, e a imagem que emerge é ambígua e não fácil para interpretar. No contexto do diálogo judaico-cristão, a questão básica é sim ou não o Evangelho de Mateus é mesmo anti-semítico. Se ou não tal anti-semitismo exista no texto do Evangelho, é inegável que Mateus tem sido interpretado, em vários quartéis cristãos, num modo antisemitista. Por vezes, tais interpretações eram incônscias, como se cristãos assumiriam que "fariseu" fosse sinônimo com auto-retidão e hipocrisia. Estou pressupondo na discussão que segue um número de doutrinas do estudo bíblico moderno: que Mateus é mais provavelmente o segundo, antes que o primeiro Evangelho; que estava dependente do Evangelho de Marcos e duma coleção de ditos de Jesus, partilhados também por Lucas; que Mateus editou cuidadosamente essas fontes para se dirigir à sua própria comunidade; que o seu evangelho não é biografia da vida de Jesus, mas antes narrativa e interpretação teológica, escrito da perspectiva de Páscoa; e que o evangelho foi escrito aproximadamente entre 80 e 90 dc, possivelmente na Antioquia da Síria, por um autor desconhecido. As Feições Pró-Judaicas do Evangelho de Mateus No surgimento da percepção dos problemas do anti-semitismo cristão, precisamos estar atentos do perigo de entrar rápido demais nas feições antijudaicas dos textos bíblicos. O Evangelho de Mateus, como outros textos do Novo Testamento, é mais amplo e mais ambivalente que poderíamos imaginar. E assim, começamos o nosso estudo do Evangelho de Mateus e o Judaísmo expondo os elementos pró-judaicos do Evangelho: aqueles aspetos que apresentam o povo judaico e o Judaísmo numa luz positiva e favorável. Há cinco feições do Evangelho que apresentam os judeus e o Judaísmo nesses termos: Primeiro: e mais obviamente os carateres maiores, os heróis, do Evangelho são judeus. O mais importante desses é Jesus, mas o mesmo vale para os doze apóstolos, particularmente Pedro, que joga papel importante na história de Mateus. As multidões são judeus; os outros discípulos, mais numerosos que justamente os doze, são também judeus, inclusivo as discípulas mulheres da Galiléia. Em outras palavras, quase todos os carateres positivos, com uma ou duas exceções notáveis, é gente judaica, que nunca negou a sua Judaicidade, de fato fazendo essa parte da sua identidade para Mateus. Segundo: a teologia de Mateus se funda na sua interpretação do Antigo Testamento. Esses são as Escrituras da sua comunidade e a fonte maior de revelação. Mateus cita regularmente do antigo Testamento. Nas narrativas do nascimento de Jesus e da infância (Mt 1,23; 2,6.l ). O seu princípio interpretativo é de promissão e cumprimento: o que é prometido nas escrituras está sendo cumprido no advento de Jesus de Nazaré. Mas por trás dessa visão está a crença de que o antigo Testamento é o livro fonte para a pedagogia cristã; é a lente pela qual Mateus desenvolve o seu ensino de Jesus e da Igreja. 1 / 5
2 Terceiro: encontramos um foco forte no conceito de "Israel" no Evangelho de Mateus. Por exemplo, depois da declaração sumária das curas de Jesus, o narrador nos conta que as multidões "louvaram o Deus de Israel" (Mt 15,31). Para Mateus, Deus é fundamentalmente o Deus de Israel. Semelhantemente, no grande discurso de missão, a missão de Jesus e dos apóstolos se direciona "às ovelhas perdidas da casa de Israel"; os discípulos não estão para entrar no território gentílico ou samaritano, mas para ir somente a Israel (Mt 15,24). O Jesus de Mateus usa a mesma frase na resposta à mulher cananéia: "Fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15,24). Somente no Evangelho de Matheus é que encontramos um foco tal na missão a Israel (cf. João 4,1-42; 12,20-26). Mas o quê dos gentílicos que são também importantes no entendimento de Mateus da missão (Mt 28,16-20)? Certamente há uma abertura a gentílicos na comunidade de Mateus, mas não precisamos assumir que Mateus partilha uma perspectiva paulina sobre cristãos gentílicos. A prioridade da missão para Mateus - o ordenar da salvação divina - começa fundamentalmente com Israel porque Deus é, primeiro e principalmente, o Deus de Israel. A inclusão dos gentílicos não nega as fundações nas quais a boa nova está construída; a entrada gentílica no reino do céu, para Mateus - e não sabemos em que termos entraram na comunidade - está sendo predicada na rejeição dos líderes de Israel, a rejeição que se intensifica por toda a narrativa do Evangelho. Quarto: há elementos significantes de teologia judaica por todo o Evangelho de Mateus: isso é, a teologia que se deriva do Antigo Testamento e do Judaísmo nos dias de Jesus e Mateus. Tomemos, por exemplo, o entendimento de Mateus da nova lei. Sabemos que a Igreja primitiva tinha debates longos e por vezes acrimoniosos sobre o lugar da Toráh dentro da experiência cristão.mas encontramos uma visão positiva da lei em Mateus que está muito diferente daquela de Paulo; pode até ser que Mateus partilha uma perspectiva semelhante àquela de alguns oponentes judaicocristãos de Paulo. A comunidade de Mateus é claramente uma comunidade que mantém a lei. De fato, Mateus crê que não é possível ser cristão senão aderir, tanto no coração como no estilo de vida, à lei (5,17-20). No capítulo 23, Mateus, nem por último, está crítico daqueles que cuidadosamente dizimam as mais pequenas ervas da sua horta; antes está preocupado como a negligência correspondente daqueles valores - "justiça e graça e fidelidade" - que jazem no coração da lei (Mt 23,23). Mateus admira um amor da lei que incorpora as coisas pequenas bem como as grandes. Assim, para ele, não é questão de lei ou letra versus espírito (cf. 2Corintios 3,6), mas antes aderência autêntica à lei que é interna e externa: graciosa e compassiva bem como escrupulosa, sincera e cordial bem como ética. Nisso, Mateus está provavelmente reagindo tanto contra o antinomianismo cristão (que crê que a lei é irrelevante) como a formas de legalismo judaico ou cristão. Jesus, como Mateus o apresenta, é intérprete definitivo da lei, dando à lei, para cristãos, o seu valor verdadeiro e duradouro. A textura judaica da teologia de Mateus chega a ser aparente também no seu retrato de Jesus. Os títulos básicos de Jesus são inteiramente judaicos no seu entendimento: Messíah, Filho de Deus, Rei, Filho de Davi. Mateus desenvolve esses, e outros títulos, em modos especificamente cristãos, mas o seu âmbito é judaico, não sendo compreensível senão numa estrutura judaico-cristã. O mesmo é verdade para a noção de Sofia - a Senhora Sabedoria - que emerge em partes do Antigo Testamento e escritos intertestamentários. Também isso é muito judaico e dimensão fundamental da cristologia de Mateus (p. ex. Mt 11,28-30). Mais um aspecto judaico da teologia de Mateus é o seu uso de imaginário apocalíptico. A ciência neotestamentária está percebendo como o pensamento apocalíptico é central para muito da teologia do Novo Testamento, senão bíblica. Mateus entende Jesus, particularmente a sua morte e ressurreição, um como evento apocalíptico, significando a volta das épocas. Essa perspectiva é particularmente influenciada pelo Livro de Daniel. A Igreja está sentada num vulcão, presa na tensão entre o antigo e o novo, já sofrendo os sofrimentos finais, já lutando a batalha final, aguardando em esperança para o triunfo final de Deus no final da história. O discurso final de Mateus (capítulos 2 / 5
3 24-25), o qual é uma expansão do discurso apocalíptico de Marcos (Marcos 13), culmina na visão apocalíptica do Filho de Homem glorioso [Pessoa Humana gloriosa] no seu trono (cf. Daniel 7,13), julgando as nações do mundo. Aqui, e alhures, Mateus intensifica a visão do mundo apocalíptica já estabelecida no Evangelho de Marcos. Quinto: há evidência de que Mateus usava material em comum com o Judaísmo do seu próprio dia: talvez diretamente influenciado por esse, ou talvez partilhando a mesma visão do mundo. Textos tais como Isaias 6,6 - "Desejo graça e não sacrifício" - são também encontrados em textos rabínicos (Mt 9,13). Também importante para Mateus é o poder da comunidade de "ligar e desligar", frase desconcertante que também se encontra em textos rabínicos (M 16,19; 18,18). É interessante que Mateus fala, em um único lugar, de sábios, escribas e profetas (Mt 23,34), três categorias de liderança dentro da comunidade, também reconhecidas em fontes rabínicas. Ainda mais trabalho científico está sendo feito nessa área. O que está sendo revelado mais e mais é a coerência de Mateus e os seus "oponentes" rabínicos. A evidência das dimensões pro-judaicas no evangelho de Mateus sugere que o próprio "Mateus" - seja quem tiver sido - pode ter sido um escriba cristão (Mt 13,52). Sugere também que a de Mateus é uma comunidade judaico-cristã. A abertura aos gentílicos e a presença óbvia de cristãos gentílicos dentro da comunidade não parecem impor nenhuma perda de identidade judaica. A despeito da complexidade, a perspectiva desse Evangelho é fundamentalmente judaico-cristã. Os Elementos Anti-Judaicos no Evangelho de Mateus Com contra a natureza fortemente judaica desse Evangelho, há um número de elementos que possam sugerir uma leitura antijudaica do Evangelho de Mateus. Esses elementos não podem ser ignorados no interesse de salvar o cânon cristão. Podemos detectar cinco elementos que refletem hostilidade ao Judaísmo ou distância deste, este de que o Evangelho emergiu. Poderíamos começar com o uso estranho, por exemplo, da frase "suas sinagogas" ou "vossas sinagogas", expressão ocasional de um judeu usar para outros judeus (p. ex. Mt 4,23; 12,9; 13,54). Aqui notamos um senso de distância entre a comunidade de Mateus e a sinagoga judaica, já refletindo a fissão pós-70 dc entre Judaísmo e Cristandade. Segundo: Mateus crê que a interpretação dada por Jesus é o único entendimento adequado da lei. A interpretação dos escribas e fariseus está sendo apresentada por Mateus como entendimento inadequado, senão perigoso, por exemplo, na questão do divórcio (Mt 19,3-11) ou no lugar da Toráh Oral (Mt 15,1-20). A noção de Mateus da "retidão melhor" está encontrada por todo o Evangelho, sendo ligada ao seguimento de Jesus; a "retidão melhor" é aquela que não só observa a Toráh, mas segue a interpretação e espiritualidade de Jesus no no modo da qualidade de discípulo (Mt 5,20). Um terceiro elemento antijudaico no Evangelho de Mateus é a rejeição de Israel por Deus. É difícil saber se Mateus vê essa como total ou só como rejeição temporária, mas certamente interpreta a destruição do Templo como julgamento de Deus sobre Israel pela sua rejeição de Jesus como Messíah. "Vede a vossa casa está vos deixada, desolada", disse o Jesus de Mateus no seu lamento sobre Jerusalém (23,38). Semelhantemente, a Parábola da Festa de Casamento retrata o rei como destruindo a cidade daqueles que assassinaram os seus servos (Mt 22,7), uma referência à destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 dc. Mateus vê isso como uma rejeição divina daqueles que mesmos rejeitaram a missão cristã. Quarto: editando as tradições que vieram até ele, Mateus aumentou a polêmica contra os escribas e fariseus. Um exemplo é o escriba que vem a Jesus durante a semana da paixão (Mt 22,34-40), e que, na narrativa de Marcos, está impressionado pelas respostas de Jesus aos seus atacantes, terminando no consentimento com Jesus (Marcos 12,28-34). Mas a história de Marcos do escriba amigo, nas mãos de Mateus, chega a ser mais um exemplo de hostilidade e malandragem de escribas. Para Mateus, esse homem está de fato muito longe do reino de Deus. 3 / 5
4 Mas o exemplo mais difícil da sua intensificação da polêmica está em Mateus 23, que é a crux interpretum [a cruz dos intérpretes] do anti-semitismo no Evangelho. Mateus 23 é uma denúncia prolongada dos escribas e fariseus, baseada numa passagem muito curta no Evangelho de Marcos (Marcos 12,38-40) e alguns ditos espalhados, encontrados em Lucas (Lucas 20,45-46; 11,42-48; 13,34-35). Divide-se em três setores: primeiro, uma série de críticas e instruções gerais à comunidade de Mateus (versículos 1-12), então a série central de sete ais, os quais são expressões de tanto lamento como julgamento (versículos 13-36) e, finalmente, o lamento de Jesus sobre Jerusalém (versículos 37 a 39). Os sete ais articulam a crítica devastadora visando os escribas e fariseus: estão sendo acusados de hipocrisia (ensinando uma coisa enquanto praticando outra), legalismo (preocupados somente com as minúcias da lei), auto-engrandecimento a custo de outros, liderança má (abuso pastoral) e, finalmente, até assassínio (a matança de todos os retos pela historia da salvação). A ferocidade e amargura desse capítulo - contradizendo, incidentemente, os conceitos básicos depositados no Sermão da Montanha - apresentam o maior problema, visto da perspectiva do diálogo judaico-cristão. O quinto elemento antijudaico do Evangelho se encontra na Narrativa da Paixão. Aí, as massas judaicas estão sendo politicamente manipuladas pelos seus líderes judaicos, assim que gritam para a soltura de "Jesus Barrabás", que é basicamente um terrorista, e para a crucificação de "Jesus que está sendo chamado de o Messíah" (Mt 27,15-23). O maior calafrio de tudo - em contraste às tentativas piedosas e ineficientes de Pilatos de se exonerar - as massas, ingenuamente, assumem a responsabilidade pela morte de Jesus: "Seu sangue esteja sobre nós e sobre as nossas crianças", gritam para instigar aqueles que as estão controlando (Mt 27,25). Aqui há outra vez provavelmente mais uma alusão à destruição de Jerusalém. Tendo exibido alguns dos elementos antijudaicos do Evangelho, precisamos agora os tentar entender. Isso é importante pelas razões históricas bem como contemporâneas, porque o que sabemos dos fariseus historicamente - particularmente no período seguinte a 70 dc, quando criaram um sentido novo de identidade e direção para o Judaísmo - sugere um retrato muito diferente daquele que encontramos no Evangelho de Mateus. Isso quer dizer que temos de entender o Evangelho de Mateus dentro de um contexto histórico e ideológico mais amplo. Muitos danos foram causados tomando textos - tais como os citados acima - fora do contexto. As razões para a amargura de Mateus, particularmente no capítulo 23, surgem da situação única em que o Judaísmo e a Cristandade se encontram depois da Guerra Judaica. Ambas as comunidades estão tentando a forjar uma nova identidade. Isso está certamente verdadeiro do Evangelho de Mateus, o qual carrega todas as marcas de trauma. Apareceria que, possivelmente em conseqüência da Guerra, que a comunidade de Mateus se separou da sinagoga judaica. Isso levou a uma situação de hostilidade intensa entre Igreja e sinagoga, na qual a comunidade de Mateus se sente irritada e orfanada, privada da mãe que lhe deu vida, mas precisando encontrar uma nova identidade à parte do corpo parente. Assim encontramos, pelo menos na comunidade de Mateus, um senso de rivalidade entre dois grupos ambos rivais pelas mesmas tradições religiosas, a mesma Bíblia, a mesma identidade como "Israel", a mesma ética. Ironicamente, isso é porque, lendo o Evangelho de Mateus, temos uma sensação, não só de irritação e trauma, mas também de ameaça e fragilidade. É porque Mateus está preocupado pelos "pequenos" (p. ex. Mt 18,6-7), porque quer construir uma comunidade forte e auto-suficiente. Nesse Evangelho, estamos testemunhando um grupo vulnerável de gente lutando com um sentimento de perseguição ameaçadora e a perda da fé paterna no Judaísmo - forjando uma nova identidade em discussão com o passado. Além disso, essa crença na ameaça de perigo e perseguição se deriva do mundo pagão bem como do judaico. Há um número de ditos antigentílicos no Evangelho de Mateus que sugerem uma atitude igualmente negativa ao mundo greco-romano (p. ex. Mt 10,17-23; 20,18.25). Mateus aguarda perseguição tanto do mundo gentílico como a aguarda da sinagoga judaica no outro lado da rua. O papel de Pilatos e dos soldados romanos na Narrativa da Paixão reforça esse ponto, revelando a complexidade do mundo social e religioso de Mateus. O que vemos no Evangelho de Mateus é uma comunidade sectária, que se crê estar contra o mundo: um grupo sediado, não-protegido tentando encontrar identidade - uma 4 / 5
5 Powered by TCPDF ( pequena ilha num mar de hostilidade. Ao mesmo tempo, precisamos notar que Mateus - o mais voltado ao julgamento dos escritos do Novo Testamento, à parte do Livro de Revelação - é capaz de virar a mesma invectiva contra a Igreja e os líderes desta. O Evangelho de Mateus, o que é o Evangelho da Igreja, não tem uma imagem idealizada da Igreja. A Igreja é lugar de "trigo e taxações", epitomada na caracterização de Pedro (Mt 14,22-33; 16,13-23). Mateus crê que a própria Igreja está sob julgamento. Isso é óbvio na parábola da Festa de Casamento e na cena final adicionada do hóspede sem vestido nupcial (Mt 22,14) e também no retrato do Servo Malvado (Mt 24,45-51). Aqui também precisamos lembrar que o Evangelho está escrito para a própria comunidade de Mateus, não para forasteiros. Assim em Mateus 23, os "escribas e fariseus" agem como chapa literária para os líderes da comunidade de Mateus. Desafia a liderança cristã e não é justamente polêmica contra um inimigo comum. O julgamento é arma que, para Mateus, pode ser virada contra inteiros bem como contra forasteiros - e especialmente contra os que os liderem. Conclusão O Evangelho de Mateus nos apresenta uma situação complexa. De um lado, encontramos elementos pró-judaicos essenciais para a identidade tanto do Evangelho como da comunidade. De outro lado, o Evangelho de Mateus contém elementos antijudaicos, particularmente a invectiva extraordinária do capítulo 23. Ambos os aspetos, como vimos, surgem do contexto de Mateus: uma pequena comunidade sectária, recentemente separada da sinagoga, vivendo no medo de perseguição, lutando para forjar identidade dum passado rompido, tentando manter a sua judaicidade, enquanto afirmando o seu cometimento cristão e abertura aos gentílicos. Precisamos chegar a ser mais sensíveis para o contexto histórico e social de onde este e outros textos do Novo Testamento vieram. Deus está revelado, não num vácuo, mas sim no contexto de experiência e luta humanas. Precisamos também ampliar o nosso entendimento do Judaísmo dos dias de Jesus e de Mateus, percebendo como a imagem é variada e mudando. Precisamo-nos reaproximar ao Judaísmo, tanto de Jesus mesmo como de Mateus e da comunidade de Mateus: a sua reverência à Toráh, os seus débitos ao Judaísmo, a sua esperança e amor por Israel. Precisamos ser mais sensíveis para como usamos o termo "fariseu", riscando-o do nosso vocabulário de insultos, entendendo as limitações do seu uso metafórico no Evangelho de Mateus. Argüiria que, na análise final, o Evangelho de Mateus não é anti-semítico - certamente não como entenderíamos esse termo hoje. Por vezes, interpretamos Mateus num modo anti-semítico, continuando fazer isso sem pensar. Mas o Evangelho de Mateus não é radicalmente prejudicial contra os judeus. Os seus sentimentos antijudaicos surgem dum contexto muito específico que não deve ser universalizado e não deve ser imitado. Finalmente, a mensagem do Evangelho desafia cada espécie de preconceito, ódio e medo de outros - até, talvez especialmente, daqueles aos quais as nossas vidas estão mais estreitamente ligadas. A rev.dª Lee é professora no Queens College, Austrália. Texto inglês Tradução: Pedro von Werden SJ - Rua Padre Remeter, Bairro Baú Cuiabá-MT -BRASIL pv-werden@uol.com.br 5 / 5
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