OPTANTES DO SIMPLES: O E-COMMERCE ESTÁ A SALVO... POR ENQUANTO! Nesta quarta-feira (17/02), o STF concedeu liminar que livra as micro e pequenas
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- Vitorino Figueiroa Fonseca
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1 NÚMERO 86, ANO VIII FEVEREIRO DE 2016 I OPTANTES DO SIMPLES: O E-COMMERCE ESTÁ A SALVO... POR ENQUANTO! Nesta quarta-feira (17/02), o STF concedeu liminar que livra as micro e pequenas empresas das mudanças nas regras de cobrança de ICMS no comércio eletrônico. As mudanças foram introduzidas pelo Convênio Confaz 93/15, que define a partilha do ICMS entre os Estados de origem e de destino. Bem diferente da antiga sistemática, que demandava apenas um pagamento mensal ao Estado onde está localizada a Empresa. Ou seja, a empresa do Simples teria que analisar a legislação de cada Estado ao fazer uma simples venda online, e fazer diversos recolhimentos isolados. Para o relator do caso (Toffoli), a nova regra de recolhimento do ICMS a optantes do Simples não observa o princípio constitucional que garante tratamento diferenciado a firmas de pequeno porte, que recolhem o tributo de forma unificada. A decisão já está valendo, mas pode ser alterada mediante recurso. Sempre que há concessão de liminar, a recomendação é a mesma: provisionar valores para evitar surpresas no futuro. Porém, esse caso tem uma particularidade. Como a liminar trata do Estado destinatário de recursos, mas não do valor do ICMS em si, caso seja derrubada futuramente, estaria criada mais uma disputa entre Estados pelos valores que foram recolhidos no período. E o prejudicado seria o contribuinte, como sempre. Entretanto, achamos que é baixa a chance de isso ocorrer. Melhor
2 aproveitar a decisão e seguir trabalhando para enfrentar a crise econômica nacional, que sempre pode contar com a ajuda de mais uma trapalhada do governo. II O SIGILO BANCÁRIO E O ESTADO DE FISCALIZAÇÃO CONTÍNUA O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ser constitucional a lei que permite a Receita ter acesso a informações bancárias dos contribuintes, encaminhadas pelas instituições financeiras, sem a necessidade de ordem judicial. Tal mecanismo, previsto na Lei Complementar nº 105, de 2001, possibilitou a recuperação de R$ 94,4 bilhões de tributos sonegados nos últimos 15 anos, segundo a Receita. O julgamento foi encerrado ontem (24), por 9 votos a 2 a favor da Receita ter acesso aos dados bancários, sem autorização judicial. O argumento vencedor é de que o sigilo bancário não se aplica à Receita, que segue com o dever de sigilo dos dados recebidos. Claro que isso não faz sentido algum. O Fisco é todo o motivo de existir um sigilo bancário. É contra ele que a norma constitucional protege o contribuinte. Tal argumentação é tão lógica quanto afirmar que existe a legítima defesa, desde que não contra alguém que venha agredi-lo. Na verdade, o que o Fisco busca é facilidade. Com um mínimo de indícios de sonegação, o Judiciário já decretava quebras de sigilo. Mas a Receita quer poder acessar tais dados sem essa burocracia. Mesmo em tempos de crise política e econômica, esta é uma das causas mais
3 importantes dos últimos tempos, pois seu resultado sinaliza novamente a postura do STF de legislador, ao reescrever princípios constitucionais em prol dos interesses políticos e econômicos do momento. O acesso automático a dados bancários, sem decisão judicial, é também uma violação ao princípio da privacidade, garantido pela Constituição, e deixará os contribuintes em estado de fiscalização contínua. Lembrese, ainda, da recente instrução normativa da Receita Federal que obriga os bancos a informar todas as movimentações de seus clientes ao Fisco, acima de R$ 2 mil feitas por pessoas físicas e de mais de R$6 mil feitas por pessoas jurídicas, demonstrando o interesse da Fazenda de ter acesso constante às informações financeiras de todos os contribuintes, grandes ou não. Como participantes de um reality show, os contribuintes seguem cada vez mais expostos e submetidos às razões de estado de um Grande Irmão controlador. O contribuinte deve se proteger de acordo. III A JUSTIÇA NA ERA DO WHATSAPP Não faltam bons exemplos das benesses trazidas com o avanço da tecnologia e o compartilhamento de informações em tempo real. A sociedade vive interligada como nunca e a celeridade se tornou uma espécie de marca dessa geração, quase uma cobrança.
4 Em alguns casos, resultados rápidos podem significar eficiência e qualidade, como na saúde, na comunicação, no comércio ou mesmo naquele restaurante que escolhemos via app nos dias que não queremos enfrentar filas. Pois bem, mas e a Justiça em meio a essa maré? O Judiciário brasileiro passa por um momento de renovação; é verdade que a introdução dos processos digitais promoveu uma ruptura com o modelo burocrático até então vigente, mas a carga de trabalho, as metas de decisões e a criação das estatísticas de produtividade dos Juízes criaram uma espécie de Justiça Whatsapp. Isto é, o conceito do juiz que mal lê, mal fundamenta, mal se aprofunda e logo decide. Certamente que há muitos processos simplórios e repetitivos nos Tribunais, mas também há casos absurdamente complexos. Entretanto, as metas de produtividade não distinguem uns dos outros. O que o CNJ Conselho Nacional de Justiça, deseja é ver casos sendo julgados rapidamente. Nossa percepção clara é que o ganho de produtividade se deu em detrimento da qualidade. Como o acúmulo de trabalho inviabiliza o estudo aprofundado, as decisões saem baseadas nas informações mais claras, rasas e de fácil acesso possíveis, assim como as divulgadas em nossas redes sociais. Assim, se multiplicam as decisões obscuras, incompletas e contraditórias, que geram mais recursos, que por sua vez seguirão sendo tratados como uma batata quente pelos desembargadores. Uma solução prática deve ser dada. Nesse momento reforça-se a chamada jurisprudência defensiva, que é quando os tribunais passam a exigir requisitos burocráticos aos recursos e processos, como forma de extinguir prontamente os não conformes. É o caso clássico da guia de
5 recurso recolhida com 1 centavo a menos, que implica em não conhecimento do recurso da parte. É a cara da Justiça que vê o processo como problema, não como sua razão de existir. O cenário é preocupante. A verdade é que a conciliação dos fatores qualidade e celeridade está desequilibrada no Poder Judiciário, empurrando à sociedade insegurança jurídica e um considerável aumento do risco jurisdicional (risco de ineficácia do provimento dado). É de se destacar que, assim como na saúde, o erro, a imperícia ou a negligência na Justiça pode ser fatal àqueles que litigam. A Justiça em Números (medição de produtividade do Juiz) é importante, assim como a necessidade de um tempo razoável de duração do processo, mas talvez seja necessário qualificar melhor esses números. É preciso agregar um pouco mais de humanização ao processo decisório, valorizando o trabalho do Magistrado, que, além da produtividade, deve entregar qualidade na prestação jurisdicional, sob pena de falência da credibilidade do Judiciário. Uma maior oralidade no processo ou seja, maior ênfase do processo ao que ocorre em audiência, e não nas trocas de petições escritas poderiam contribuir para isso.
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