O COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS DE UBERLÂNDIA-MG

Transcrição

1 CONVÊNIOS CNPq/UFU & FAPEMIG/UFU Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2008 UFU 30 anos O COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS DE UBERLÂNDIA-MG Nome do primeiro autor: Laura Gonçalves da Silva Chagas 1 Nome da instituição e endereço: UFU (Universidade Federal de Uberlândia) Av. Pará, 1720, bloco 2T Campus Umuarama l.g.s.c@hotmail.com Nome do segundo autor: Evelyn Ferreira Lopes 1 evlynha_fl@hotmail.com Nome do terceiro autor: Nayara Hotêncio Manzan 1 nayarahm@hotmail.com Nome do quarto autor: Márcia Carolina Domingues Santos 1 marcinha_carol@yahoo.com.br Nome do quinto autor: Andréia Fernanda do Nascimento 1 andreiafernandan@hotmail.com Nome do sexto autor: Lucas Silva Resende de Oliveira Nome do sétimo autor: Laerte Pereira de Almeida 2 laerte@umuarama.ufu.br Legenda: 1 Acadêmico do curso de Medicina Veterinária 2 Orientador Resumo: O complexo teníase-cisticercose é uma das mais importantes zoonoses na atualidade. O objetivo deste estudo foi investigar o complexo teníase-cisticercose em pequenas Propriedades Rurais de Uberlândia MG. Foram entrevistados, por meio de um questionário previamente testado, estruturado e codificado, 168 pequenos proprietários rurais de Uberlândia-MG. As entrevistas foram realizadas por estudantes de Medicina Veterinária, previamente treinados, sendo coletados dados demográficos, sociais, do ambiente e epidemiologia do complexo teníasecisticercose. Após a coleta e controle de qualidade, os dados foram digitados para um banco de dados do software EpiInfo 2000, e estatisticamente analisados, com distribuição em tabelas de freqüência e testes estatísticos para verificação de associações, com valor de alfa igual a 5%. Dos 168 indivíduos entrevistados, 78,57% (132) são do sexo feminino, com idade média de 47,57 anos. 86,90% (146) são católicos e 21,42% (36) possuem o primeiro grau incompleto. A média de tempo que as famílias moram no local é de 25,60 anos. Os resultados mostraram que 79,76% (134) dos indivíduos abatem animais em sua propriedade para consumo próprio, sendo que 132 dos 1

2 entrevistados abatem suínos. 56,54% (95) já observaram a presença de cisticercos em alguma porção da carne, 43,45% (73) denominam estes pequenos cistos de Canjiquinha e 63,69% (107) afirmaram já terem ouvido falar sobre teníase-cisticercose. A alta freqüência de abate de animais, para consumo próprio, nas pequenas propriedades rurais estudadas, a observação de cisticercos nessas carcaças e pouco conhecimento dessa zoonose, apontam para a possibilidade de pequenas propriedades rurais se tornarem locais epidemiologicamente de risco para o complexo teníasecisticercose, merecendo maior atenção para o controle e prevenção dessa zoonose voltados às pequenas propriedades rurais. Palavras-chave: Complexo teníase-cisticercose, Saúde Pública, Zoonoses. 1. INTRODUÇÃO A cisticercose é uma doença que afeta homens e animais. Sendo que em humanos sua forma mais grave, a neurocisticercose, é considerada a mais importante doença neurológica de origem parasitária pela freqüência e gravidade com que atinge o SNC. Sendo um dos principais problemas de saúde pública nos paises em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, por causar, a cada ano, aproximadamente, mortes e necessidade de mais do que uma internação hospitalar e intervenção cirúrgica em 50% dos casos da doença. Em áreas endêmicas para a taenia solium, a neurocisticoercose pode ser a principal causa de epilepsia e 30% dos episódios de convulsão, na América Latina, estão associados a essa doença. Os sintomas mais freqüentes na neurocisticercose são: cefaléia (35,5%), epilepsia isolada (20,9%) ou associada a outros sintomas neurológicos (9%), ou até apresentar-se sem sintomatologia (WHO, 2001). A cadeia epidemiológica da cisticercose envolve o homem, como hospedeiro definitivo do Cestódeo Taenia solium, ovos do parasito colocados no ambiente e o suíno como hospedeiro intermediário da forma larval da Taenia, o Cysticercus cellulosae. O homem adquire a cisticercose ao se tornar hospedeiro intermediário do parasito, que ao migrar para o SNC desenvolve a neurocisticercose. Sendo os principais elos dessa cadeia: do lado humano, o homem infectado pela teníase, hábitos alimentares como a ingestão de carne crua ou mal cozida e hábitos higiênicos inadequados como defecar a céu aberto, contaminando pastos ou córregos, e do lado animal, a presença de suínos infectados com cisticercose. Com relação à cisticercose em suínos sua ocorrência tem mostrado decréscimo em animais criados em granjas com tecnologia que impedem a introdução e manutenção da cisticercose e cujos animais são abatidos sob inspeção. Mantendo, no entanto, uma situação indefinida e preocupante associada à criação não industrial, clandestinidade do abate e comercialização dos animais (PINTO et al., 2004). No caso de suínos criados em granjas e abatidos sob inspeção, resultados obtidos por vários autores confirmam a queda na ocorrência da doença nessa situação, como Molin; Silveira (2005) ao examinarem 1571 carcaças de suínos abatidos em 2 abatedouros de Realeza sob inspeção, Paraná obtiveram uma freqüência de ocorrência de 0,06%. Pinto et al (2002) em pesquisa sorológica realizada pelos testes de ELISA e Immunoblot, constataram uma freqüência de cisticercose de 0,3% ao examinarem 322 suínos provenientes de três abatedouros sob inspeção federal. Paiva (2006) ao pesquisar a prevalência de cisticercose em suínos abatidos sob inspeção no Brasil constatou para os anos de 2003 e 2004 as seguintes frequências de ocorrência para alguns estados brasileiros: (2004) MG (0,0016%); PR (0,0002%); RS (0,0003%) e (2003) SC (0,0002%); SP (0,0026%). Em contrapartida pesquisas realizadas com suínos criados soltos em comunidades rurais mostraram outra realidade em relação aos valores de prevalência de cisticercose. Assim ao examinar 306 suínos criados soltos em comunidades rurais através da técnica de Elisa e Immunoblot, Pinto et al. (2002) obtiveram uma freqüência igual a 8,2%. Desta forma existe um contexto da criação de suínos que não é abrangida pela tecnologia de criação e abate sob inspeção. Este contexto é representado por pequenas propriedades rurais, localizadas nas cercanias das cidades, constituídos de pequenos sítios, os quais continuam a cultivar 2

3 antigas práticas da zona rural, como a criação e o abate de animais para consumo da própria família e de vizinhos, além de outros hábitos culturais predispondo essa população ao risco de contrair a neurocisticercose. Em Uberlândia, cidade do Triângulo Mineiro em Minas Gerais, Costa-Cruz et al. (1995) detectaram, a partir de dados de necropsias e análises de laudos completos, uma freqüência de cisticercose igual a 1,4%, sendo que destes 89,7% apresentavam comprometimento do SNC isolado ou associado a outras formas clínicas da cisticercose. Almeida et al (2006) a examinar registros de abate de bovinos provenientes de 51 municípios do estado de Minas Gerais e abatidos em Matadouros-Frigoríficos de Uberlândia-MG, no período de 1997 a 2001, encontraram uma freqüência de cisticercose igual a 4,9%. Portanto o conhecimento da situação do complexo teníase-cisticercose entre moradores de pequenas propriedades rurais pode contribuir para reduzir o risco de casos de neurocisticercose e diminuir o sofrimento humano com essa doença. Com base nessa hipótese é que se planejou a execução de um estudo epidemiológico baseado em pequenas propriedades rurais da região de Uberlândia em Minas Gerais visando conhecer e avaliar alguns indicadores dessa situação. 2. OBJETIVOS Investigar o complexo teníase-cisticercose em pequenas Propriedades Rurais de Uberlândia MG com vistas a prevenção e controle dessa zoonose.. 3. METODOLOGIA 3.1) População do Estudo Realizou-se este estudo em 168 pequenas propriedades rurais, sítios, localizadas na região de Uberlândia-MG, com tamanho médio de 8 alqueires. Essas propriedades distantes 18 km da cidade de Uberlândia e cujos moradores vivem da plantação de culturas de subsistência, criação de animais e mão de obra familiar. 3.2) Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada por estudantes de graduação do curso de Medicina Veterinária, previamente treinados, participantes de estudo piloto e sob a supervisão de coordenadores da equipe de pesquisa. Utilizou-se de um questionário padronizado, codificado e previamente testado, com questões sobre dados demográficos, dados sanitários sobre a moradia e dados epidemiológicos referente ao complexo teníase-cisticercose e informações referentes ao conhecimento da zoonose. Realizou-se entrevista com um morador de cada propriedade, sendo o respondente um indivíduo maior de 18 anos e que consentiu com a entrevista, após ser esclarecido sobre a pesquisa e seus objetivos. A pesquisa foi realizada em conformidade com os princípios éticos e condições para pesquisas envolvendo seres humanos estabelecidos na Declaração de Helsinki (1989) e na Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 3.3) Processamento e Análise dos Dados Durante a coleta, ações de revisão e edição dos dados permitiram a detecção e correção de possíveis erros. Terminada a coleta, realizou-se dupla digitação para um banco de dados, criado por meio do software EpiInfo Uma vez verificada a qualidade dos dados, iniciou-se a análise, que constou de análise descritiva através de medidas de tendência central, de variabilidade e freqüência das variáveis sob estudo. 3

4 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 168 indivíduos entrevistados, 78,57% (132) são do sexo feminino, com idade média de 47,57 anos. 86,90% (146) são católicos e 21,42% (36) possuem o primeiro grau incompleto. A média de tempo que as famílias moram no local é de 25,6 anos. Com relação ao abate de animais, 79,76% (134) dos indivíduos abatem animais em sua propriedade para consumo próprio, sendo que 78% dos entrevistados abatem suínos. O que pode evidenciar um risco para a transmissão dessa doença, conforme citado por GEMMELL et al. (1983) ao considerar o manejo de suínos higienicamente inadequado como fator importante para o contágio humano. Quanto a presença de cisticercos na carne de animais abatidos na propriedade, 56,54% referiram a presença de cisticercos em alguma porção de carne. Dos indivíduos que já disseram ter encontrado cisticercos na carne consumida na propriedade, 43,45% denominam estes pequenos cistos de Canjiquinha. Estes dados devem ser levados em conta para o controle dessa zoonose nas propriedades rurais investigadas, pois sabe-se que bovinos e suínos se infectam quando ingerem os ovos das tênias por meio de água e pastagem contaminadas por fezes humanas portadoras do parasita (ACHA; SZYFRES,1986). Gemmel e Lawson (1982) salientam quanto infecção desses animais, os bovinos normalmente evitam pastar ao redor de fezes, mas podem sob condições adversas, por falta de alimentos, ingerirem fezes. Já os suínos, por possuírem hábitos coprofágicos, teriam maior facilidade em adquirir a doença. Entretanto, a viabilidade de ovos no meio ambiente poderia facilitar a infecção sem que, necessariamente, o animal ingira fezes. 6. CONCLUSÃO A alta freqüência de abate de animais, para consumo próprio, nas pequenas propriedades rurais estudadas, a observação de cisticercos nessas carcaças e pouco conhecimento dessa zoonose, apontam para a possibilidade de pequenas propriedades rurais se tornarem locais epidemiologicamente de risco para o complexo teníase-cisticercose, merecendo maior atenção para o controle e prevenção dessa zoonose voltados às pequenas propriedades rurais. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEAN AG; DEAN, J.A.; BURTON, A.H.; DICKER, R.C., 2001, EpiInfo, 2000: a word processing database and statistics program for epidemiology on micro-computerns. Center for Disease Control, Atlanta. Georgia, USA. GEMMELL, M. et al., 1983, Guidelines for surveillance prevention and control of taeniasis and cysticercosis. Genève: World Health Organization (WHO), pp REY, L., 1991, Cisticercose bovina. In: REY, L. Parasitologia - parasitas e doenças parasitárias do homem nas Américas e na África. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, pp ALMEIDA, L. P.; REIS, D. O. ; MOREIRA, M. D., 2006, Cisticercose em bovinos procedentes de Minas Gerais e abatidos em Matadouro-Frigorifico de Uberlândia-MG. Revista Higiene Alimentar. Brasil. Vol. 20, n. 139, pp MOLIN, C.D. and SILVEIRA, S.M., 2005, Occurrence of porcine and bovine cysticercosis in animals slaughtered in the town of Realeza, PR under the municipal inspection service. Revista Higiene Alimentar. Vol. 19, pp World Health Organization. Epilepsy: etiology, epidemiology and prognosis. Geneva: World Health Organization [ Links ] 4

5 PINTO, P. S. A.; MONTEIRO, L. L.; DIAS, F. S.; PINTO, M. S., 2004, Cisticercose suína: aspectos clínico-epidemiológicos, imunodiagnóstico e controle. Bioscience Journal (UFU), Vol. 20, n. 3, pp COSTA-CRUZ, J. M.; ROCHA, A; SILVA, A. M.; MORAES, A. T.; GUIMARÃES, A. H. B.; SALOMÃO, E. C.; ALCANTARA, T. M., 1995, Ocorrência de cisticercose em necropsias realizadas em Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo. Vol. 53, n. 2, pp THE TAENIASIS CYSTICERCOSIS COMPLEX PROPERTIES IN SMALL RURAL OF UBERLÂNDIA-MG First Author s Name: Laura Gonçalves da Silva Chagas 1 (Universidade Federal de Uberlândia) Av. Pará, 1720, bloco 2T Campus Umuarama if any: l.g.s.c@hotmail.com Second Author s Name: Evelyn Ferreira Lopes 1 if any: evlynha_fl@hotmail.com Three Author s Name: Nayara Hotêncio Manzan 1 if any: nayarahm@hotmail.com Four Author s Name: Márcia Carolina Domingues Santos 1 if any: marcinha_carol@yahoo.com.br Five Author s Name: Andréia Fernanda do Nascimento 1 if any: andreiafernandan@hotmail.com Six Author s Name: Lucas Silva Resende de Oliveira 1 if any: ---- Seven Author s Name: Laerte Pereira de Almeida 2 if any: laerte@umuarama.ufu.br Abstract: The complex taeniasis cysticercosis is one of the most important zoonoses in actuality. This study aimed to investigate the complex taeniasis cysticercosis in small farms of Trelawny - MG. They were interviewed through a questionnaire previously tested, structured and coded, 168 small landowners from Uberlandia, Minas Gerais. The interviews were conducted by students of Veterinary Medicine, previously trained, with data collected demographic, social, environmental and epidemiology of complex taeniasis cysticercosis. After collection and quality control, data were entered in a database software EpiInfo 2000, and statistically analyzed, with distribution on scales of frequency and statistical tests to check associations, with an alpha value equal to 5%. Of the 168 individuals surveyed, 78.57% (132) are female, with an average age of years % (146) are Catholics and 21.42% (36) have the elementary school. The average time that the families live on site is years. The results showed that 79.76% (134) of individuals animals on your property for their own consumption, with 132 of those interviewed slaughtering pigs % (95) have observed the presence of cysticerci in any portion of meat, 43.45% (73) called these small 5

6 cysts of "Canjiquinha" and 63.69% (107) had heard said about taeniasis cysticercosis. The high frequency of slaughtering animals for their own use, small farms studied, the observation of these cysticerci carcasses and little knowledge of zoonosis, pointing to the possibility of small farms become local epidemiological risk for the complex taeniasis cysticercosis, Deserving more attention to the control and prevention of zoonosis geared to small farms. Keywords: Complex taeniasis cysticercosis, Public Health, Zoonosis 6