O SETOR MINERAL DE ITAPEVA/SP NOS CONTEXTOS REGIONAL E ESTADUAL NO ESTADO DE SÃO PAULO 1.
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- Cássio Bentes Gabeira
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1 O SETOR MINERAL DE ITAPEVA/SP NOS CONTEXTOS REGIONAL E ESTADUAL NO ESTADO DE SÃO PAULO 1. Leandro Bruno dos Santos leandrobrunogeo@hotmail.com FCT/UNESP/Presidente Prudente Introdução Pretende-se, por meio deste texto, destacar a importância do setor mineral do município de Itapeva, localizado no sudoeste do Estado de São Paulo, nos contextos regional e estadual no Estado de São Paulo. O texto, além dessa nota introdutória, contém mais três seções: aspectos históricos da mineração em Itapeva; a importância do setor mineral de Itapeva nos contextos regional e estadual; e, ao final, é apresentado as considerações finais. A elaboração do texto envolveu, além da seleção bibliográfica, a coleta de dados secundários no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e na Secretaria da Indústria, Comércio e Desenvolvimento de Itapeva. Histórico da mineração em Itapeva A mineração aparece, no município de Itapeva, nas primeiras décadas do século XX. Os relatos apontam para o funcionamento de pequenas caieiras já na década de Dessa forma, em 1922 era construída a primeira caieira de Itapeva, pertencente então a Gabriel Sedano, cuja produção mensal chegava à casa dos 800 sacos de cal virgem, e que eram transportados nas costas de burros do bairro das Caviúnas até a cidade (CHAVINI, 1969, p. 16). A atividade mineral, contudo, ainda não tinha tanta expressividade econômica quando comparada com outros ramos. É com as descobertas geológicas feitas pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) no município, entre as décadas de 1940 e 1950, que a mineração adquire notoriedade no desenvolvimento econômico, proporcionando a emergência da denominação de Itapeva Capital dos Minérios. Em 1952, é iniciada a construção de uma fábrica de cimento pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP). Paralelamente, o grupo Votorantim adquire a Cia. Mineração São Matheus e passa a produzir cal hidratada. É a partir da década de 1950, portanto, que o município de Itapeva passa por um salto quantitativo e qualitativo na exploração mineral, especialmente na exploração/transformação do calcário (SANTOS, 2005). Além dessas duas empresas de grande porte, surgem outras com relativa importância no setor mineral local, como a Sambra e a Brancal S/A. Mineração e Comércio, ambas voltadas para a transformação do calcário em cal hidratada. Nesse momento, há a diversificação da atividade industrial no município, com a entrada em funcionamento de olarias, serrarias, cerâmicas etc. 1 As considerações apresentadas nesse trabalho advêm, em parte, de uma monografia defendida no ano de 2005, intitulada: A importância do setor mineral no desenvolvimento econômico de Itapeva/SP: Estudo de caso da Fábrica de Cimento Lafarge. Contou-se, para a elaboração da pesquisa, com a orientação do Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito.
2 No final da década de 1960 e início da década de 1970, com as políticas e programas de desenvolvimento regional adotadas pelo Estado brasileiro, há um aumento considerável da atividade do reflorestamento no município de Itapeva e adjacências. Na verdade, essas políticas proporcionaram a ampliação da atividade de reflorestamento, uma vez que já havia, na área, pequenas fábricas de papel cartão e a atividade de reflorestamento. As próprias empresas de cimento e cal já plantavam o eucalipto para obter o carvão necessário ao processo produtivo (MAGALDI, 1991). A existência do reflorestamento no Sudoeste do Estado de São Paulo e as políticas de plantio incentivado, portanto, podem ser vistos como elementos fundamentais para a notoriedade adquirida pelo ramo econômico ligado à madeira. Com a expansão das áreas destinadas ao cultivo de pinus e eucaliptos, tem-se o aumento considerável de serrarias na porção sul do Estado de São Paulo. O setor industrial do município de Itapeva, atualmente, pode ser visto como um indicador da evolução histórica das atividades econômicas, pois há a predominância das atividades voltadas à extração e beneficiamento mineral e de atividades voltadas ao beneficiamento da madeira (Tabela 01). Tabela 01: Estabelecimentos industriais em Itapeva/SP Atividade Industrial Nº de empresas Extração e tratamento de minérios 19 Indústria de produtos de minerais não-metálicos 21 Indústrias madeireiras 34 Indústrias metalúrgicas 01 Fábrica de móveis 01 Indústria de couro e similares 03 Indústria de vestuário, calçados e artefatos 03 Indústria de produtos alimentícios 16 Indústria de construção 03 Total 101 Fonte: Relatório Preliminar de Itapeva, Paralelamente ao reflorestamento, ocorrido entre as décadas de 1960 e 1970, houve a expansão das atividades agrícolas, sobretudo de produtos de subsistência, como o feijão, o milho e o trigo. Recentemente, o cultivo de soja tem ganhado destaque tanto em Itapeva como nos municípios adjacentes. Isso se deve, obviamente, à valorização econômica dessa commoditie no mercado internacional. A enorme área territorial do município - segunda maior do estado de São Paulo - coloca-o em destaque na atividade agrícola. Com isso, a atividade agropecuária supera a atividade industrial no valor adicionado (riquezas produzidas) em Itapeva. O setor de serviços é o primeiro em valor adicionado - ficando à frente da agropecuária e da indústria com quase 50% do que é produzido de riqueza (Tabela 02). Tabela 02: Valor adicionado da economia de Itapeva/SP no ano de 2002 Setor da economia Valor Adicionado (Milhares de Reais) % Industrial Agropecuária ,7
3 Serviços ,3 Total Fonte: IBGE, Pelo exposto, foi possível notar que houve uma sucessiva mudança nas lógicas produtivas no município. Contudo, é preciso salientar a coexistência e complementaridade entre essas diferentes lógicas espaciais, em que uma não anula a outra. No caso da atividade mineral, em especial, a sua importância deve-se às condições geológicas do município e à entrada de grandes empresas na década de O auge da mineração ocorreu entre as décadas de 1950 e 1970, pois, além da chegada de grandes empresas como Maringá e Votorantim, há o surgimento de pequenas e médias empresas de capital local. O setor mineral de Itapeva nos contextos estadual e regional Com o aumento da demanda por minérios in natura e industrializados, decorrentes da urbanização do Estado de São Paulo, o município de Itapeva tornou-se, progressivamente, um importante pólo de exploração de alguns minérios, o que pode ser evidenciado pela arrecadação de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) (tabela 03). Tabela 03: Principais substâncias minerais exploradas no município de Itapeva e arrecadação de CFEM/2004 Minério Arrecadação de CFEM (R$) total Arrecadação municipal (R$) Calcário , ,29 Filito 8.923, ,11 Leucófilito 3.163, ,06 Total , ,46 Os dados da tabela 03 comprovam a importância da exploração de calcário no município, pois corresponde com mais de 50% de todo o montante obtido com a exploração mineral. As explorações de filito e leucófilito ocupam mais de 10% de toda a arrecadação municipal de CFEM. Dessa forma, as atividades ligadas à exploração/beneficiamento de calcário e de filito e leucófilito são as mais importantes em Itapeva, correspondendo com mais de 70% de toda a arrecadação municipal de CFEM. O município de Itapeva detém, em seu território, importantes reservas de calcário e filito exeqüíveis de exploração. A arrecadação municipal, em tese, poderia ser maior do que comumente tem sido repassado pelo DNPM. Isso se deve, em parte, à clandestinidade de muitas mineradoras e de indústrias de cerâmicas no município. A partir de trabalho in loco, foi possível constatar amplas reservas de quartzito sendo exploradas 2 ; contudo, não consta à arrecadação de 2 O quartzito é explorado na porção sul do município, sobretudo no distrito do Alto da Brancal. As empresas que exploram esse mineral são as seguintes: Mineração Ferro-Liga (MFL) e a Fronteira Mineração. O quartizito é beneficiado pela empresa siderúrgica Maringá S.A.
4 CFEM desse mineral no site do DNPM, o que é um indicador de que as mineradoras não estão registradas nesse órgão regulador. Por outro lado, as lavras de filito regularizadas, quando contabilizadas no DNPM, colocam o município de Itapeva como segundo maior extrator/beneficiador desse mineral, ficando atrás apenas do município vizinho, Nova Campina. Os municípios de Nova Campina e de Itapeva, juntos, detêm 85,2% da participação na arrecadação de CFEM de filito no Estado de São Paulo (Tabela 04). Tabela 04: Arrecadação de CFEM da substância filito e percentual por município no Estado de São Paulo/2004 Municípios Contribuição com CFEM em R$ Participação (%) Nova Campina ,56 67,2 Itapeva 8.923,26 18 Araçariguama 4.508,28 9 Pirapora do Bom Jesus 2.901,00 5,8 Total , Os dados apontam, portanto, para a configuração de um importante pólo de exploração/beneficiamento de filito no vale do Rio Taquari-Mirim. As jazidas podem ser vistas próximas à rodovia municipal que liga Itapeva e à cidade de Nova Campina 3. Atualmente, de acordo dom o IPT (1998), há aproximadamente 10 empreendimentos que exploram filito (6 deles em Itapeva e 4 em Nova Campina). A exploração de filito possibilita que os municípios de Itapeva e Nova Campina tenham um destaque na exploração/beneficiamento dessa substancia mineral no Estado de São Paulo. Hoje, o filito bruto que vem sendo explorado em Itapeva e Nova Campina tem como mercado as indústrias cerâmicas nos Estados de São Paulo, de Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná (IPT, 1998). Nesse caso, o mineral não recebe nenhuma agregação de valor, sendo enviado praticamente in natura. Isso remete a necessidade de uma maior organização dos pequenos e médios empresários e das instituições locais, tendo como objetivo a agregação de valor in loco. Itapeva tem ganhado destaque na exploração de leucófilito, mineral da variedade branca. A utilização principal desse mineral é como fundente (abaixa o ponto de fusão), como produto essencial na produção de pisos e cerâmica branca, como massa fina e argamassa nas construções. Atualmente, o município Itapeva responde por 80% na exploração/contribuição de CFEM, conforme dados do DNPM de 2004 (Tabela 05). Tabela 05: Arrecadação de CFEM da substância leucófilito e percentual por município no Estado de São Paulo em 2004 Municípios Contribuição com CFEM em R$ Participação (%) Itapeva 3.163,17 80 Piedade 793,27 20 Total 3.956, Há, ao longo dessa rodovia, diversas empresas que exploram e beneficiam o filito. A empresa de maior destaque é a Mineração Itapeva, que, atualmente, é a maior exploradora e beneficiadora desse minério no Brasil.
5 No entanto, embora a mineração de calcário seja a mais expressiva na arrecadação e na atividade industrial, o município não tem tanto destaque se comparado com outros municípios. Os municípios de Salto de Pirapora e Votorantim 4 contribuem, juntos, com cerca de 75% de toda a arrecadação de CFEM efetuadas no Estado de São Paulo (Tabela 06). Tabela 06: Arrecadação de CFEM da substância calcário e percentual por município no Estado de São Paulo em 2004 Municípios Contribuição com CFEM em R$ Participação (%) Salto de Pirapora** ,35 69,80 Ribeirão Grande* ,99 12,91 Votorantim** ,59 5,92 Itaóca* ,14 4,61 Itapeva* ,76 4,57 Guapiara* ,84 1,87 Saltinho 3.428,38 0,29 Iperó** 345,60 0,03 Total , *Municípios que compõem um pólo de calcário no sul do Estado de São Paulo. **Pólo de calcário próximo a Sorocaba. Ao mesmo tempo em que há a formação de um pólo de exploração de calcário próximo a Sorocaba, é preciso destacar que, embora com menor expressividade, há um outro pólo de exploração ao sul do Estado. Os municípios de Itapeva, Ribeirão Grande, Itaóca e Guapiara correspondem, juntos, com aproximadamente 24% da arrecadação de CFEM de calcário no Estado. A constituição desses pólos está ligada, indissociavelmente, à urbanização e aos grandes projetos de engenharia, que levaram ao crescente consumo de cimento, cal, brita, entre outros minerais. Conclusão O município de Itapeva tem um importante destaque no cenário regional e estadual no setor mineral. Contudo, três pontos merecem apreço: a) o município exporta para outras localidades minerais in natura; b) a industrialização dos bens minerais está, na sua maior parte, sobre o controle dos grandes grupos de exploração e beneficiamento de minerais do Brasil e do mundo (Lafarge e Votorantim); c) a Secretaria da Indústria, Comércio e Desenvolvimento não é a responsável pela atividade mineral. O ramo da mineração está, hoje, aos cuidados da Secretaria de Obras e Meio Ambiente. Com isso, fica evidente à falta de continuidade aos projetos de governos anteriores. O desenvolvimento da atividade mineral deve ser visto como um projeto de longo prazo e, por isso, precisa de continuidade. 4 Esses municípios, ao conjugarem boa infra-estrutura, mercado consumidor próximo e reserva mineral exeqüível, tornam-se mais competitivos e adquirem maior expressividade num contexto estadual.
6 Referências Bibliográficas IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Diagnóstico técnicoeconômico do setor mineral de Itapeva (SP) e das possibilidades para desenvolvimento de um pólo regional de mineração. São Paulo; IPT, MAGALDI, S. B. A ação do Estado e do grande capital na reestruturação da atividade econômica: o cultivo florestal e a cadeia madeira-celulose/papel. 373f. Dissertação (Geografia humana), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, CHIAVINI. Itapeva e seus 200 anos. Itapeva: Chavini, SANTOS, Leandro Bruno dos. A importância do setor mineral no desenvolvimento econômico de Itapeva/SP: estudo de caso da Fábrica de Cimento Lafarge f. Monografia em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente/SP.
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