INFORME OPEU NOVEMBRO 2010, n 2

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1 ELEIÇÕES 2010 CHANCES E OPORTUNIDADES PARA OBAMA EM NOVO CENÁRIO LEGISLATIVO 03 DE NOVEMBRO DE 2010 O presidente Barack Obama fez um pronunciamento na Casa Branca em 03 de novembro, um dia depois das eleições parlamentares que mudaram a composição partidária no Congresso a favor do Partido Republicano. Além de garantir a maioria da Câmara e a presidência dos comitês da Casa, os republicanos reduziram a vantagem democrata no Senado. Esse resultado apresenta um grande obstáculo aos planos do Executivo para ampliar a reforma de saúde aprovada em 2009, votar a legislação de clima e de energia, e impedir os cortes de impostos introduzidos por seu antecessor, George W. Bush. Apesar dessas e outras adversidades, o presidente poderia reverter o cenário pessimista, caso viesse a reproduzir a situação vivida pelo democrata Bill Clinton. Após sofrer derrota nas eleições de meio de mandato de 1994, Clinton responsabilizou o Congresso, majoritariamente republicano, pela paralisação do governo, transformando os oposicionistas em figuras impopulares. Dois anos depois, o ex-presidente se reelegeu para um segundo termo. Pela forma como parabenizou o novo líder da Câmara, John Boehner (R-OH), na noite da eleição, Obama sinalizou com a intenção de adotar a mesma estratégia conciliatória e deixar para a oposição a tarefa de confrontar o governo. REPUBLICANOS PRETENDEM PARALISAR O GOVERNO 20 DE OUTUBRO DE 2010 Vários legisladores republicanos manifestaram a intenção de paralisar o governo no próximo ano, antecipando a disputa orçamentária com o Executivo com a retomada da maioria na Câmara. A paralisação do governo ocorre quando não se consegue aprovar orçamentos federais para o ano fiscal seguinte devido a divergências entre o presidente e o Congresso. O impasse deixa agências federais sem verbas, prejudicando beneficiários da seguridade social, veteranos de guerra, funcionários públicos, entre outros. Situação semelhante ocorreu em 1995, quando o Partido Republicano retomou o Congresso após 40 anos de maioria democrata. Comandados por seu porta-voz, Newt Gingrich, congressistas republicanos recusaram-se a aprovar o orçamento proposta pelo então presidente, Bill Clinton, que tampouco aceitou as modificações feitas pelos legisladores. O episódio terminou favorável para o Partido Democrata, criando para a oposição a imagem de criadora de obstáculos. Na quinta-feira, 30 de outubro, dia em que se encerrou o ano fiscal, a Câmara e o Senado aprovaram uma resolução de continuidade: medida paliativa para que, mesmo sem um orçamento definitivo, as agências federais continuem a receber recursos pelos próximos dois meses, a fim de evitar uma paralisação federal antes das eleições.

2 INDEPENDENTES DETERMINARAM VANTAGEM REPUBLICANA 02 DE NOVEMBRO DE 2010 Pesquisas eleitorais anteriores à eleição reforçavam as expectativas de uma retomada republicana e indicavam que os grandes responsáveis pela guinada política seriam os eleitores independentes - o mesmo público determinante para a onda democrata e a eleição de Obama em Uma pesquisa da CBS News/New York Times sobre as intenções de voto para a Câmara dos Representantes mostrou que 47% dos independentes pretendiam votar em republicanos e 32% nos democratas. Quatro em cada cinco eleitores democratas e republicanos continuariam fiéis aos seus partidos. A pesquisa do Politico/George Washington University sobre eleições no Senado mostrava o Partido Republicano com vantagem de 14 pontos entre os independentes contra 5 no eleitorado geral. Os independentes apoiariam os republicanos em questões como a reforma do sistema de saúde, a gestão econômica e o governo em geral. As pesquisas mostraram ainda que as eleições parlamentares transformaram-se em um referendo sobre o presidente: 32% dos entrevistados declararam voto anti-obama, 22% disseram apoiá-lo e 42% alegaram outros critérios de escolha. BAIXO PERCENTUAL DAS MINORIAS NO PERFIL DO ELEITORADO 03 DE NOVEMBRO DE 2010 Os resultados apurados até o momento indicam baixa participação de minorias nas eleições nos EUA em Pesquisas atribuíram 10% dos votos gerais aos eleitores negros, contra 13% em 2008: nove em cada dez decidiram pelos Democratas. Entre os latinos, 8% compareceram às urnas - um ponto percentual a menos do que nas últimas eleições- embora 66% favoráveis aos democratas. Pessoas com menos de 30 anos também privilegiaram o partido no poder, apesar da queda na participação de 18% em 2008 para 11% em 2010, um índice considerado normal para eleições de meio de mandato. O estrato acima de 65 anos apresentou comportamento inverso, com 24% de participação contra 16% nas eleições anteriores, sendo 59% para os Republicanos. Estes receberam voto maciço dos protestantes e o inesperado suporte dos católicos. Dentre as minorias, as mulheres foram decisivas, com 57% sobre o total de eleitores, sendo 49% para o Partido Republicano. No caso de eleitores brancos, o percentual de participação subiu de 74% para 78%, com seis em cada dez optando pelos Republicanos. As altas taxas de desemprego e os reflexos da crise imobiliária, que incidem mais fortemente em negros e latinos, e o impacto da redução no orçamento familiar nas mulheres explicam, em parte, os números finais. Para a imprensa, os resultados poderiam ter sido diferentes se a campanha tivesse sido voltada para esses eleitores. O presidente Barack Obama, no entanto, assumiu a responsabilidade pelo que classificou como distanciamento do povo. 2

3 REPUBLICANOS AVANÇAM NO CONTROLE ESTADUAL 02 DE NOVEMBRO DE 2010 As eleições legislativas estaduais apresentaram números muito significativos no dia 2 de novembro, apesar de ofuscadas pelos resultados no Congresso. O Partido Republicano conquistou 680 vagas nas legislaturas estaduais, superando o recorde anterior de 628 nas eleições que sucederam o escândalo de Watergate em Até o estágio atual de apuração, os Republicanos obtiveram a maioria em 14 assembleias estaduais, passando a controlar ambas as casas em 26 estados. A vitória ocorreu no momento oportuno do recenseamento demográfico de 2010, quando o partido majoritário nas Câmaras estaduais consegue redefinir as fronteiras dos distritos eleitorais de acordo com seus interesses e de seus candidatos. Em quinze estados, os Republicanos fecharam a trinca de poder com o controle das duas casas legislativas e do governo estadual; em Nebraska, a câmara única e o governo. Na Carolina do Norte, onde os Democratas haviam conseguido redistribuir mais eleitores a seu favor anteriormente, os Republicanos vão dominar o Legislativo sem que o governador democrata possa vetar a redefinição. Apesar de ter amargado muitas derrotas, o partido de Barack Obama ainda conta com a trinca em oito estados, número superior ao da última mudança em Para o cargo de governador foram realizadas votações em 37 estados, cujo saldo modificou a configuração anterior de 26 estados democratas e 24 republicanos para 19 contra 29. O quadro se completa com a vitória do independente Lincoln Chafee em Rhode Island e a possibilidade de mais um governo democrata em Minnesota, onde a apuração não havia terminado até o momento da redação. PRETENSÕES DO TEA PARTY REVELAM TENSÕES NO PARTIDO REPUBLICANO 08 DE NOVEMBRO DE 2010 Michele Bachmann (R-MN), membro do Tea Party, anunciou sua candidatura à presidência da Conferência Republicana da Casa, quarta posição na hierarquia do partido na Câmara dos Representantes. Ela se apresenta como uma conservadora constitucional, qualidade que não vê nos republicanos, John Boehner (OH), Eric Cantor (VA) e Kevin McCarthy (CA), três prováveis líderes do partido na Câmara. Embora a vitória de Bachmann seja improvável, sua candidatura ilustra a tensão central a ser enfrentada pelos republicanos: equilibrar as demandas dos novos legisladores, alguns dos quais fizeram campanha contra as bases do partido e defenderam uma posição de não-cooperação com os democratas, com a necessidade de apresentar melhorias na situação econômica. Mesmo que a liderança republicana almeje fundir a visão do grupo à sua, os conflitos serão praticamente inevitáveis. Com o controle da Câmara, o partido terá que deliberar sobre orçamento e elaborar legislações sem a certeza do apoio de cerca de 40 legisladores aliados ao Tea Party, número fundamental para exercer o controle de fato. A eventual votação do aumento no limite do déficit em 2011 seria um dos exemplos de dificuldade imposta pelo Tea Party a ser contornada pela liderança. Os veteranos do partido reconhecem os desafios, mas afirmam ser possível superá-los, já que compartilham muitos dos objetivos dos novatos. Boehner 3

4 conta, inclusive, com a simpatia do Tea Party, que reconhece o apoio dado pelo congressista ao movimento e o seu empenho pela revogação da reforma do sistema de saúde. DEMOCRATAS SEGUEM EM CAMPANHA INTERNA 09 DE NOVEMBRO DE 2010 Membros do Partido Democrata seguem em campanha mesmo depois de encerradas as eleições. A disputa é por cargos importantes no partido quando o novo Congresso for empossado em janeiro. Nancy Pelosi, que perderá a função de porta-voz da Câmara com a retomada da maioria pelos Republicanos, anunciou a intenção de concorrer à vaga de líder da minoria na Casa. Heath Shuler (D-NC), da coalizão conservadora Blue Dog, ameaçou brigar pelo posto para tentar dissuadi-la. A decisão da parlamentar irritou muitos correligionários e precipitou a corrida por postos inferiores. A principal delas envolve o atual líder da maioria democrata, Steny Hoyer (D-MD), e o majority whip, James Clyburn (D-SC). Ambos almejam ser o próximo minority whip, segundo cargo mais importante. A tradução literal de whip - chicote - esclarece a função de seu nomeado como disciplinador partidário. Hoyer tem o apoio dos moderados, e Clyburn, do Caucus Negro, bloco progressista e leal ao partido. Fontes em Washington afirmam que Pelosi pretende administrar a crise apoiando Hoyer e oferecendo a Clyburn a presidência do Caucus Democrático, maior agrupamento do partido. A composição, no entanto, deixaria sem posto e sem liderança o atual presidente do Caucus, John Larson (D-CT). A corrida acontece em fase de divergência interna em função da derrota nas urnas e do desgaste na imagem de Pelosi. As eleições para lideranças partidárias ocorrerão na próxima semana, quando os congressistas retornarão à atividade para as sessões "lame duck", ou período de fim de mandato para aqueles que não se candidataram ou não se reelegeram. REPUBLICANOS DE OLHO NO APOIO DOS BLUE DOGS 10 DE NOVEMBRO DE 2010 Nancy Pelosi, atual líder da maioria, atribuiu a derrota democrata na Câmara à falta de apoio dos Blue Dogs à plataforma do partido, o que teria desagradado o eleitorado. Blue Dogs são os representantes de posição moderada, considerados pelos eleitores mais progressistas como falsos democratas. Em 1995, o grupo iniciou com 23 membros, tendo chegado a 54 nas eleições de 2008 ao conquistar votos em distritos conservadores. Em 02 de novembro, metade de suas cadeiras na Câmara foi perdida para candidatos republicanos ou em função de aposentadoria. Dentre as perdas, destacaram-se os dois principais líderes, Stephanie Sandlin (D-SD) e Baron Hill (D-IN), cujas vagas deverão ser preenchidas por Heath Shuler (D-NC) e Jim Matheson (D-UT). Apesar de seu enfraquecimento, a ala moderada poderá representar um papel central nas discussões em função da polarização da Casa após as eleições. O Partido Republicano possui maioria folgada, mas encontra nos congressistas do ultraconservador Tea Party - cujos votos são cruciais para pas- 4

5 sar suas propostas ou vetar as democratas - um elemento de discordância interna. Caso essa tendência se confirme, os Republicanos terão que recorrer aos 27 votos já definidos para os Blue Dogs, podendo inclusive tentar influenciar democratas moderados a mudar de partido, a exemplo de seu cofundador, Billy Tauzin (R-LA), há 15 anos. Em relação ao próprio partido, os moderados também podem fazer diferença. A maior prova são as demonstrações de desagrado com a candidatura de Nancy Pelosi (D-CA) à liderança da minoria na Casa, pretensão que pretendem bloquear. INCERTA A VAGA DO ALASKA PARA O SENADO 04 DE NOVEMBRO DE 2010 Com o término das eleições parlamentares, a única cadeira do Senado que permanece indefinida é a do estado do Alaska. O período de primárias do Partido Republicano no estado já havia sido conturbado, quando a atual senadora Lisa Murkowski acabou perdendo a indicação para Joe Miller, ligado ao movimento ultraconservador Tea Party. Miller tem o apoio da ex-governadora Sarah Palin, grande adversária política de sua concorrente. Este arranjo transformaria o candidato democrata, Scott McAdams, no maior obstáculo para uma vitória republicana, não fosse a decisão da senadora de concorrer como write-in - candidato cujo nome não consta oficialmente da cédula, podendo, no entanto, ser livremente adicionado pelo eleitor. Desacreditada por muitos, sem apoio do próprio partido e com a verba de campanha debilitada pelos gastos nas primárias, a Senadora enfrentou o desafio de ensinar a grafia correta de seu nome ao eleitorado para que os votos não fossem invalidados Como única figura de grande expressão nessa modalidade, Murkowski tem chance de manter a cadeira no Senado, apesar da pitoresca candidatura. Pela primeira vez em 50 anos, a soma dos votos para candidatos fora da cédula vem superando a dos demais candidatos. O início da apuração desses votos estava previsto para 18 de novembro, quando terminaria o prazo para recebimento dos votos em trânsito enviados via postal. Há, no entanto, a possibilidade de que a apuração comece na segunda semana de novembro diante da possibilidade de que os write-in decidam o resultado final. GUERRAS PASSAM DESPERCEBIDAS DURANTE CAMPANHA 29 DE OUTUBRO DE 2010 A atuação dos EUA nas guerras do Afeganistão e do Iraque, e as suas consequências econômicas, vêm sendo ignoradas tanto pelo partido republicano como pelo democrata, e estiveram fora dos debates das campanhas eleitorais de Diferentemente das eleições anteriores, quando o assunto foi decisivo para a configuração do resultado final. Em 2006, os democratas obtiveram a maioria no Congresso com um discurso contra a política de Bush na guerra do Iraque. A centralidade do Iraque foi criticada nas eleições seguintes pelo então candidato, Barack Obama, que julgava o conflito no Afeganistão de maior interesse nacio- 5

6 nal. Segundo Peter D. Feaver, conselheiro de Segurança Nacional de George W. Bush, A economia define como o povo dos EUA pensa a guerra, o que explica o fato da crise econômica e o desemprego terem se tornado prioridade nas discussões atuais. Outra razão seria a inexperiência da maioria dos candidatos em relação a questões de segurança, que também não arriscariam discutir o tema em clima de divergência interna, principalmente entre os democratas. John McCain (R-AZ), candidato à reeleição no Senado, evita debater os gastos atuais ou a elevação de taxas para cobrir os esforços de guerra, apesar de apoiar o envolvimento do país no Iraque e no Afeganistão. Desde 2001, ambos os partidos aprovaram orçamentos em torno de US$ 1 trilhão para os dois conflitos. O tema deve recuperar sua relevância nas eleições de 2012, quando será possível avaliar as consequências das retirada dos dois contingentes, previstas para conclusão até o final de DIMINUEM AS CHANCES PARA A LEGISLAÇÃO CLIMÁTICA NO SENADO 03 DE NOVEMBRO DE 2010 Ao assumir a presidência em 2008, Barack Obama prometera mudar a política energética do país e liderar a transformação verde no mundo. Durante os dois primeiros anos com domínio democrata no Congresso, pouco ou quase nada foi alcançado. As perspectivas diminuíram com o resultado das últimas eleições, que deu ao Partido Republicano mais vagas no Senado, embora os Democratas tenham preservado a maioria e o poder de determinar a agenda. A proposta de legislação climática introduzida em maio de 2010 pelo senador democrata, John Kerry (D-MA), e pelo independente, Joe Lieberman (I-CT), tem pouca chance de ser votada durante o lame duck, período entre as eleições de novembro e a ocupação do cargo pelos eleitos em janeiro. A votação da iniciativa Kerry-Lieberman será adiada para 2011 caso a dupla reúna 60 votos favoráveis, para o que precisariam obter o apoio de todos os democratas e de nove republicanos. Segundo declarações de muitos congressistas, poucos pretendem apoiar projetos governamentais como o regime capand-trade sobre quotas e comércio de emissão de carbono, a autonomia da Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) para regular as emissões ou os subsídios à energia alternativa. O Senado poderá aprovar medidas modestas para melhorar o índice de eficiência energética, promover o uso de energia renovável e aumentar investimentos em pesquisa. Contra o bloqueio legislativo, o Executivo dispõe de alguns poderes, mas não deverá utilizá-lo para não arriscar uma possível reeleição de Obama em

7 LEI AMBIENTAL PRESERVADA EM REFERENDO NA CALIFÓRNIA 02 DE NOVEMBRO DE 2010 Os defensores do clima e do meio ambiente tiveram bons motivos para comemorar o resultado da votação na Califórnia. Concomitantemente às eleições legislativas, um referendo popular rejeitou a Proposição 23, medida que visava condicionar a vigência da atual legislação ambiental AB 32 à manutenção do nível de desemprego em até 5,5% por quatro trimestres seguidos. Os números mostraram que 48% dos eleitores disseram não à proposta, 37% foram a favor e 15% não souberam opinar. Outro fator de comemoração entre os ambientalistas foi a vitória do candidato democrata, Jerry Brown, para o cargo de governador. Brown planeja ampliar as políticas verdes introduzidas por seu antecessor, o republicano Arnold Schwarzenegger, fazendo com que 33% da energia no estado provenham de fontes renováveis. Especialistas ligados a pesquisas e desenvolvimento de energia limpa, acreditam que o governador eleito irá comandar uma transformação no setor energético estadual. Para os defensores da Proposição 23, a sua aprovação impediria que os custos de energia aumentassem em tempos de recessão e crise financeira. Com o resultado nas urnas, gigantes do Silicon Valley darão continuidade aos planos de investimento no setor. SunPower, Microsoft, Google e Intel contribuíram com boa parte dos US$25 milhões arrecadados pelo grupo contrário à proposta. A soma foi bem superior aos US$ 10 milhões angariados pelos defensores da Proposição 23 com apoio do setor fóssil. 7