O EFEITO DA IDADE RELATIVA NO VOLEIBOL FEMININO BRASILEIRO

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1 ARTIGO ORIGINAL O EFEITO DA IDADE RELATIVA NO VOLEIBOL FEMININO BRASILEIRO ISSN: The effect of relative age on Brazilian female volleyball Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 Fábio Angioluci Diniz Campos 1,3, Thiago Augusto Rochetti Bezerra 1, Leandra Cristina Benetti Campos 1,2,3, Ídico Luiz Pellegrinotti 2 RESUMO O ano de nascimento é utilizado como critério para o agrupamento de categorias competitivas em vários esportes de base. Desta forma, há uma grande chance de crianças e jovens nascidos nos primeiros meses do ano em se beneficiar, em função da possibilidade de estarem em estágios mais avançados de maturação biológica. Entretanto, pouco se sabe se este fenômeno é observado na categoria adulta no voleibol feminino brasileiro. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de idade relativa na Superliga Brasileira de Voleibol, temporada 2016/2017. A amostra foi composta de 178 atletas pertencentes de 12 diferentes equipes. Para uma melhor compreensão deste efeito, as atletas foram distribuídas de acordo com a posição de jogo: 34 levantadoras, 56 atacantes de ponta, 48 atacantes de meio, 19 atacantes opostas e 21 líberos. Os dados referentes à data de nascimento foram coletados e separados em semestres e quartis: S1 (março a junho), S2 (julho a dezembro), Q1 (janeiro a março), Q2 (abril a junho), Q3 (julho a setembro) e Q4 (outubro a dezembro). Realizou-se um teste de ajuste do qui-quadrado para determinar se a distribuição observada por trimestre divergia significativamente da distribuição teórica esperada. Os resultados mostraram que não houve diferenças estatísticas significativas, exceto na posição de líbero (semestres e quartis). Conclui-se que, embora em categorias de base este seja um efeito existente, em categorias adultas de voleibol feminino brasileiro este efeito não apresenta impacto. Palavras - Chave: Efeito da Idade Relativa, Esportes, Feminino, Adulto. ABSTRACT The year of birth is used as a criterion for the grouping of competitive categories in several basic sports. In this way, there is a high chance that children and young people born in the first months of the year will benefit, due to the possibility of being in more advanced stages of biological maturation. However, little is known about whether this phenomenon is observed in the adult category in Brazilian female volleyball. The objective of this study was to evaluate the relative age effect in the Brazilian Volleyball Superliga, 2016/2017 season. The sample consisted of 178 athletes from 12 different teams. For a better understanding of this effect, the athletes were distributed according to game position: 34 setters, 56 spiker attackers, 48 middle attackers, 19 opposites, and 21 liberos. Data on the date of birth were collected and separated into semesters and quartiles: S1 (March to June), S2 (July to December), Q1 (January to March), Q2 (April to June), Q3 (July to September), and Q4 (October to December). A chi-square goodness of fit test was performed to determine if the quarterly distribution diverged significantly from the expected theoretical distribution. The results showed that there were no statistically significant differences except in the position of libero (semesters and quartiles). It is concluded that, although in basic categories there is an existing relative age effect; in adult categories of Brazilian female volleyball this effect has no impact. Keywords: Relative age effect, Sports, Female, Adult. Autor de correspondência: Fábio Angioluci Diniz Campos Alameda dos Oitis, Academia da Força Aérea, Pirassununga, SP. 2 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba, SP 3 Centro Universitário Anhanguera, Leme, SP. CEP Pirassununga SP, Brasil fabiocampos06@gmail.com

2 INTRODUÇÃO A identificação, seleção e promoção de jovens atletas de diferentes modalidades esportivas tem sido alvo de análises e investigações nos últimos anos. O ano de nascimento é utilizado como critério nas categorias competitivas de base em diversas modalidades esportivas, incluindo o voleibol. Tradicionalmente, nesta modalidade esportiva, as separações nas categorias de base são divididas a cada dois anos. Assim, este sistema de divisão apresenta diferenças importantes na idade, pois dois jovens atletas que competem na mesma categoria podem ter 23 meses de diferença na idade, enquanto aqueles que nascem no mesmo ano podem possuir 11 meses de diferença na idade, 1 sendo denominado efeito da idade relativa (EIR). Desta forma, jovens atletas nascidos nos primeiros meses do ano podem se beneficiar, uma vez que têm uma maior idade cronológica e, consequentemente, podem estar mais propensos a encontrar-se em estágios mais avançados de maturação biológica em um período critico de desenvolvimento: a puberdade. 2 Em geral, jovens com maior idade cronológica podem apresentar vantagens de crescimento, relacionadas às características antropométricas (como exemplo: estatura, desenvolvimento ósseo, massa muscular), habilidades condicionais (fundamentais e esportivas), conhecimento cognitivo e capacidade psicológica. 3 Diante do exposto, o desenvolvimento físico é relacionado a outras variáveis importantes no treinamento esportivo, incluindo melhores condições de treinamento, aumento da prática na modalidade e melhores profissionais, aspectos essenciais para a melhoria do rendimento. 4,5 Consequentemente, os atletas que nascem na segunda metade do ano e/ ou apresentam maturação tardia tendem a ser marginalizados ou totalmente excluídos do processo, não tendo condições de jogar em condições iguais nos torneios esportivos, mesmo dentro de uma mesma categoria competitiva. 6 Em categorias de base, este aspecto foi analisado com comprovada existência deste efeito em diversas modalidades esportivas coletivas, incluindo o futebol, 7 futsal, 8,9 rugby, 10 e voleibol. 11,12 Em categorias de base, analisando a Copa Libertadores Sub 20 de futebol foi destacado que houve EIR para as diferentes posições de jogo (defensores, meio-campistas e atacantes), exceto para a posição de goleiro. Assim, no futebol o mês de nascimento parece influenciar positivamente na seleção de atletas para as principais competições de base. 7 Em estudos envolvendo competições internacionais na categoria adulta, os resultados do EIR são controversos. A existência do EIR Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 2

3 em Copas do Mundo de Futebol Masculino ( ) foi diagnosticada em apenas quatro edições considerando que, ao chegar ao mais alto nível de exigência, como é o caso da Copa do Mundo, o EIR tende a diminuir ou simplesmente não existir. 13 No basquetebol, o EIR foi pesquisado nos Jogos Olímpicos de De acordo com os resultados, não foi observado o EIR ao considerar a amostra como um todo, nas análises por sexo e por continente. Houve efeito apenas em atletas franceses com maior representação de atletas nascidos no segundo trimestre em comparação com os outros quartis.14 Além disso, não houve associação entre o EIR e medalhas vencedoras. Desta forma, a vantagem da idade relativa esta relacionada principalmente à maturação física precoce, relacionando assim o sucesso desportivo nas categorias de base, principalmente nos esportes em que há preferência por indivíduos com diferentes estruturas corporais. 15 Analisando os campeonatos mundiais de voleibol no ano de 2015, foi observado que o EIR ocorre em todas as categorias de base e também na categoria adulta no contexto masculino. 12 Analisando o futsal brasileiro, houve o EIR na seleção de atletas masculinos de futsal em todas as categorias de base e no profissional, independente da posição de jogo e do resultado das equipes na classificação final do torneio. 9 No contexto feminino, há uma carência de estudos a respeito desta temática. Analisando o futebol feminino, não foi identificado o EIR quando analisado a Copa do Mundo Sub 17 de seleções, apresentando uma distribuição similar dos nascimentos das atletas ao longo do ano.16 Corroborando a estes achados, quando analisados a Copa do Mundo de Futebol Feminino Sub 20 e adulta, também não foram encontradas diferenças significativas entre os meses de nascimento. 17 Alguns aspectos são destacados para este fato. Primeiramente as mulheres apresentam falta de vivência formal nos esportes (especificamente no futebol), bem como não há acesso a praticas esportivas qualificadas que influenciam no sucesso da praticante. Outro aspecto refere-se ao número de praticantes no contexto brasileiro, ser muito superior no gênero masculino contrapondo o feminino17 com resultados iniciais superficiais no feminino1. Embora o número de estudos investigando o EIR provavelmente tenha aumentado nos últimos anos, ainda não esta claro porque os esportes femininos recebem pouca atenção na literatura. 18 Para nosso conhecimento, nenhum estudo examinou a EIR em atletas de voleibol feminino adulto (clubes) que participam de competições nacionais no Brasil. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos da idade relativa na Superliga Nacional de Voleibol Feminino na Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 3

4 temporada Nossa primeira hipótese foi que haveria EIR em atletas de voleibol, especialmente devido ao nível competitivo do torneio, e a segunda hipótese era que haveria uma EIR em todas as posições de jogo no voleibol: levantadora, atacante de ponta, atacante de meio, atacante oposta e líbero. MÉTODOS Amostra A amostra foi composta por 178 atletas de voleibol feminino, pertencentes as 12 equipes que participaram da Superliga de Voleibol Feminino, temporada 2016/2017. As atletas foram distribuídas de acordo com a posição de jogo: 34 levantadoras, 48 atacantes de meio, 19 atacantes opostas e 21 líberos. Procedimentos Os dados foram transcritos diretamente do site oficial da Confederação Brasileira de Voleibol, disponível em O site da competição fornece informações a respeito da jogadora como nome completo de cada atleta, posição de jogo, data de nascimento, estatura e massa corporal. Para a coleta dos dados coletados, os meses de nascimento das atletas foram calculados de duas maneiras: primeiramente em semestres em que S1 foram considerados as datas de nascimento entre Janeiro a Junho e S2 as datas de nascimento entre Julho e Dezembro. Posteriormente, utilizou-se também a divisão por meio de quatro quartis, sendo Q1 atletas nascidas entre Janeiro e Março, Q2 atletas nascidas entre Abril e Junho, Q3 atletas nascidas entre Julho e Setembro e Q4 atletas nascidas entre Outubro e Dezembro. Análise de dados A EIR foi identificada quando foi encontrada uma diferença entre o número teórico esperado de jogadores nascidos por mês ou trimestre e o número observado das jogadoras.3 Realizou-se um teste de ajuste do qui-quadrado para determinar se a distribuição observada por trimestre divergia significativamente da distribuição teórica esperada. Tradicionalmente, a distribuição esperada é baseada na distribuição real de nascimentos na população global do país estudado para os anos correspondentes. Esta metodologia de análise já foi estudada em estudos prévios. 12,19,20 Os dados foram analisados utilizando o software SPSS Versão 21.0 (SPSS, Inc., Chicago, IL, EUA), com um nível de significância de P<0,05. RESULTADOS E A Tabela 1 apresenta a distribuição de atletas jovens por semestres de nascimento. Vale Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 4

5 ressaltar que houve uma maior frequência de jogadores nascidos no primeiro semestre do ano e uma menor frequência no segundo semestre do ano. No entanto, observa-se que, os dados de todas as jogadoras ou mesmo quando separadas de acordo com as posições de jogo, não houve o EIR (P>0,05), exceto na posição de líbero (P<0,05). Tabela 1 - Distribuição dos jogadores por posição Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 5

6 de acordo com o semestre de nascimento. Os resultados revelaram que as distribuições foram semelhantes em todas as posições: levantadoras (χ2=2,941; P>0,05), atacantes de ponta (χ2=1,571; P>0,05), atacantes de meio (χ2=5,833; P>0,05), atacantes opostas (χ2=4,789; P>0,05) exceto as jogadoras que atuam na posição de líberos (χ2=8,524; P<0,05). Pode-se verificar também que analisando todo o grupo de atletas, não foi verificado o EIR (χ2=2,270; P>0,05). DISCUSSÃO Neste estudo, observamos distribuição simétrica de datas de nascimento nas atletas que participaram da Superliga Brasileira de Voleibol Feminino, temporada , com a mesma distribuição da data de nascimento das atletas durante todo o ano, exceto quando analisado a posição de líbero, em que foi identificado um maior número de jogadoras que nasceram no inicio do ano (P<0,05; χ ). De acordo com estes resultados, não foi confirmada a primeira hipótese do presente estudo, de que haveria o EIR em atletas de voleibol feminino, bem como não foi confirmada plenamente a segunda hipótese, justamente porque só foi identificado o EIR na posição de líbero. De um modo geral, os resultados do estudo em atletas de voleibol da categoria adulta feminina são semelhantes aos encontrados em outros estudos analisando categorias adultas 1,17,20 e contrários a alguns estudos também relacionando a categoria adulta. 21 O EIR é geralmente explicado com base na maturidade física. Geralmente, os jogadores que nasceram nos primeiros meses tendem a ter maior estatura, mais fortes, mais rápidos, têm maior desenvolvimento cognitivo e psicológico e mais experiência, devido ao aumento do tempo de prática na modalidade esportiva ao longo de todo o processo. 3,23 Há algumas explicações na literatura sobre esse fato. Durante a fase inicial dos atletas, as características físicas, fisiológicas, psicológicas e motoras são identificadas como determinantes na seleção e retenção de um jovem em uma equipe esportiva. É bem sabido que, mesmo no mesmo ano de nascimento, há diferenças de maturação que diferem entre os jovens nascidos nos primeiros meses do ano e nos últimos meses do ano. 3 Os resultados analisando o EIR nos esportes femininos, mesmo nas categorias de base parecem ser controversos. 20,21 No voleibol feminino japonês, Nakata e Sakamoto 21 investigaram o EIR em atletas adultas de elite Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 6

7 japonesas em seis esportes: softbal, futebol, voleibol, basquetebol, badminton e atletismo. A distribuição das datas de nascimento mostrou o EIR apenas no voleibol, não sendo observado nos outros esportes. Os autores destacam que a popularidade do voleibol no Japão e as demandas físicas podem explicar a ocorrência do efeito nas atletas japonesas. Apesar de ser identificado o EIR em jovens atletas de voleibol, participantes em campeonatos mundiais de categorias de base quando analisado a categoria adulta, o EIR foi menos consistente que nas categorias inferiores. 12 A maturação física precoce na aptidão física, principalmente relacionada à estatura e a massa muscular, pode facilitar o desempenho esportivo nas categorias de base. 3 Por tratar se de atletas que já atingiram a sua maturação biológica o EIR não significa uma vantagem física, e sim uma consequência da seleção em categorias anteriores. Há uma tendência dos adultos jovens para manter as vantagens proporcionadas por esses fatores em idades anteriores, ou seja, é possível que haja uma influência da idade relativa em torneios de adultos. 24 No entanto, estas informações não foram conclusivas nos efeitos da idade relativa observados em categorias mais jovens, comparando-as com torneios de adultos. CONCLUSÃO OS resultados do presente estudo não confirmam que ocorre o EIR no voleibol feminino brasileiro, especificamente analisando a temporada 2016/2017 da Superliga Nacional. Podemos supor que no contexto da amostra estudada, a data de nascimento não diferencia as atletas que chegam ao alto nível, corroborando com outros estudos que identificaram que na idade adulta não há o EIR. Considera-se necessário analisar as categorias de voleibol feminino de base, verificando se ocorre durante os torneios o EIR, privilegiando assim as atletas que nascem nos primeiros meses do ano. Outro ponto a considerar refere-se à necessidade de verificar se ocorre o EIR em estudos longitudinais no voleibol feminino brasileiro, e não apenas em uma coorte transversal conforme foi no presente estudo. REFERÊNCIAS 1- Delorme, N., Boiché, J., e Raspaud, M. (2010). Relative age effect in female sport: a diachronic examination of soccer players. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 20(3), Malina, R. M., Bouchard, C., e Bar-Or, O. (2004). Growth, maturation, and physical activity.human Kinetics, Musch, J., e Grondin, S. (2001). Unequal competition as an impediment to personal development: A review of the relative age effect in sport. Developmental review, 21(2), Folgado, H., Caixinha, P., Sampaio, J., e Maçãs, V. (2006). Efeito da idade cronológica na distribuição dos futebolistas por escalões de formação e pelas Revista CPAQV Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida Vol. 10 Nº. 2 Ano 2018 p. 7

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