BECHIS CARVALHO ADVOGADOS BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A MP 664/2014 E SEU IMPACTO NA PENSÃO POR MORTE E AUXÍLIO DOENÇA 1

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1 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A MP 664/2014 E SEU IMPACTO NA PENSÃO POR MORTE E AUXÍLIO DOENÇA 1 1. Por meio da Medida Provisória nº 664/2014, editada ao findar do ano de 2014, quando a mídia focou seus holofotes em outras causas, a Presidente da República foi autora de um dos maiores retrocessos sobre direitos sociais já cometidos no Brasil. 2. A tal Medida Provisória visa restringir o acesso de viúvas e viúvos ao direito à pensão por morte, tanto na esfera da Previdência Social quando no Regime de Previdência dos Servidores Públicos, pois, atinge e modifica, de modo nefasto, artigos da Lei 8.213/91 (Previdência Social) e da Lei 8.212/90 (Regime de Previdência do Servidor Público). 3. Entre as principais alterações, que serão todas elas, detalhadamente expostas em tabelas à seguir, destaca-se (i) a carência do provedor (a), (segurado), que necessitará de 24 (vinte e quatro) contribuições ao sistema a que estiver vinculado e (ii) o prazo mínimo de casamento, de 24 (vinte e quatro meses) entre os cônjuges, para que o supérstite tenha direito ao recebimento da pensão por morte. 4. Assim, os requisitos acima citados são cumulativos, ou seja, a partir de 1º de março de 2015, com a vigência da MP 664/2014, para o acesso ao direito à pensão por morte, o beneficiário deverá cumular dois requisitos: (24) vinte e quatro meses de casamento ou união estável e o morto haver tido 24 (vinte e quatro) contribuições ao regime de previdência a que estiver vinculado. 5. No que tange ao valor da pensão por morte, se o beneficiário for apenas o cônjuge supérstite, terá direito à 50% (cinquenta por cento) do salário de aposentadoria do falecido, em caso de aposentado por tempo de contribuição ou por invalidez ou ainda, do salário a que teria 1. JOEL BECHIS COELHO, Advogado, graduado em direito pela FADIVA e Pós Graduado em Direito Constitucional Aplicado pela EJEF (Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes) do TJMG em parceria com a FADIVA (Faculdade de Direito de Varginha). 1

2 direito se aposentasse no momento da morte. Este percentual será acrescido de 10% (dez) por cento, por dependente do segurado, ou seja, filhos até os 21 anos de idade ou que tenham incapacidade permanente, até o limite de cinco. 6. Outra regra quebrada, que era a vitaliciedade do beneficio, passa por restrições, que poderá variar de acordo com a idade do beneficiário, cujo prazo de duração da pensão por morte terá variação de três anos até chegar á ser vitalício, sempre levando em conta a expectativa de vida do Beneficiário, ditada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 7. Outra categoria de benefícios alterada foi a que abrange os incapacitados para o trabalho, ou seja, o Auxilio Doença, cujo cálculo para o valor da RMI (Renda Mensal Inicial) é a medida aritmética simples das doze últimas contribuições, contrariando o anteriormente disposto, que era a média das 80% (oitenta por cento) maiores contribuições. A nova sistemática derrubará a renda mensal inicial do beneficiário. 8. Ainda no que diz respeito ao Auxílio Doença, na regra anterior, o empregador (empresa) era responsável pelo pagamento dos primeiros quinze dias de afastamento do empregado. Agora, com a entrada em vigor da MP, a empresa passará à responder pelo pagamento dos primeiros trinta dias de afastamento, regra esta que irá onerar os empregadores, aumentando, um pouco mais o tão já inflado Custo Brasil. 9. Além de todas estas nefastas maquinações contra os Direitos Sociais já conquistados pelos brasileiros, impõe traçar linhas gerais sobre a inconstitucionalidade da referida Medida Provisória. 10. A principal inconstitucionalidade é a que fere o próprio artigo 62 da Constituição Federal, que dispõe: Art. 62. Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (grifos nossos). 2

3 11. Vejamos que o caput do art. 62 é claro ao dispor que o Presidente poderá adotar medidas provisórias com força de Lei somente em caso de relevância e urgência. 12. O primeiro dos requisitos, relevância, está longe de ser atendido com tal medida, pois, o ataque a direitos sociais, que atendem justamente a população pobre e de classe média, principalmente a classe trabalhadora, não é relevante para conter a crise econômica nacional, ou seja, quando deveria cortar gastos públicos e seguir rigorosamente a lei de responsabilidade fiscal, burlada pelo governo com o apoio do famigerado congresso, o governo reduz benefícios previdenciários conquistados a duras penas e mediante contribuições dos trabalhadores. 13. O segundo requisito, urgência, está ainda mais distante, eis que, há muitos anos, a previdência sofre déficit, mas não por causa dos benefícios a que garante ao cidadão e sim pela má gestão pública, pela sonegação de impostos devido à falta de fiscalização eficiente e principalmente pela corrupção. Desta forma, não atendidos estes requisitos, mostra-se a afronta direta à constituição, motivos pelos quais a Medida Provisória não deve ser convertida em Lei pelo Congresso e se assim o for, que seja declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. 14. Além destes vícios formais de inconstitucionalidades, a MP 664/2014 incorre em diversas outras inconstitucionalidades, tais como a violação do principio de proibição ao retrocesso dos direitos sociais, violação aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da dignidade dos idosos e tantos outros, que, seriam intermináveis caso fossemos expressá-los. 15. Assim, para concluir estas considerações, colacionamos algumas tabelas para demonstrar na prática os requisitos e desdobramentos da a aplicação da MP caso seja convertida em Lei pelo Congresso Nacional. 3

4 Requisitos Antes da MP 664/2014: NÃO havia APÓS a MP 664/2014: SIM Uma das principais características da pensão por morte era a que se tratava de um benefício que não dependia de carência para ser concedido. A MP 664/2014 determinou que a concessão da pensão por morte depende, agora, em regra, de um período de carência de 24 contribuições mensais. Exceção 1: não será exigida carência se o segurado estava em gozo de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez. Exceção 2: não será exigida carência se a morte decorreu de acidente do trabalho, doença profissional ou do trabalho. Valor da Pensão Antes da MP 664/2014 APÓS a MP 664/2014 Art. 75. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto no art. 33 desta lei. Art. 75. O valor mensal da pensão por morte corresponde a cinquenta por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, acrescido de tantas cotas individuais de dez por cento do valor da mesma aposentadoria, quantos forem os dependentes do segurado, até o máximo de cinco, observado o disposto no art º A cota individual cessa com a perda da qualidade de dependente, na forma estabelecida em regulamento, observado o disposto no art º O valor mensal da pensão por morte será acrescido de parcela equivalente a uma única cota individual de que trata o caput, rateado entre os dependentes, no caso de haver filho do segurado ou pessoa a ele equiparada, que seja órfão de pai e mãe na data da concessão da pensão ou durante o período de manutenção desta, observado: I o limite máximo de 100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento; e 4

5 II o disposto no inciso II do 2º do art º O disposto no 2º não será aplicado quando for devida mais de uma pensão aos dependentes do segurado. Tempo de Duração da Pensão 5º O tempo de duração da pensão por morte devida ao cônjuge, companheiro ou companheira, inclusive na hipótese de que trata o 2º do art. 76, será calculado de acordo com sua expectativa de sobrevida no momento do óbito do instituidor segurado, conforme tabela abaixo: Expectativa de sobrevida à idade x do cônjuge, companheiro ou companheira, em anos (E(x)) Duração do benefício de pensão por morte (em anos) 55 < E(x) 3 50 < E(x) < E(x) < E(x) < E(x) E(x) 35 vitalícia Regras para Auxilio Doença Antes da MP 664/2014: 15 dias ATUALMENTE: 30 dias Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias Art. 59 (revogado) 5

6 consecutivos. Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado que ficar incapacitado para seu trabalho ou sua atividade habitual, desde que cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei: Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. I - ao segurado EMPREGADO, a partir do trigésimo primeiro dia do afastamento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, se entre o afastamento e a data de entrada do requerimento decorrerem mais de quarenta e cinco dias; e II - aos demais segurados, a partir do início da incapacidade ou da data de entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias. 1º Quando requerido por segurado afastado da atividade por mais de 30 (trinta) dias, o auxílio-doença será devido a contar da data da entrada do requerimento. 1º (revogado) Esse tema passou a ser tratado no inciso II do art. 60 (veja acima). 3º Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. 3º Durante os primeiros trinta dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença ou de acidente de trabalho ou de qualquer natureza, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correpondentes ao período referido no 3º, somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias. 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no 3º e somente deverá encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar trinta dias. Não havia. 5º O INSS a seu critério e sob sua supervisão, poderá, na forma do regulamento, realizar perícias médicas: I - por convênio ou acordo de cooperação técnica com empresas; e 6

7 II - por termo de cooperação técnica firmado com órgãos e entidades públicos, especialmente onde não houver serviço de perícia médica do INSS. Não havia 6º no art. 60. No entanto, essa idêntica redação era prevista pelo parágrafo único do art. 59, que foi revogado. Logo, não houve novidade. 6º Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão 7