Aula 01. Quando o processo envolver interesse apenas de particulares, a competência é da justiça estadual, em geral da vara empresarial.

Transcrição

1 Turma e Ano: Propriedade Industrial (2015) Matéria / Aula: Introdução / 01 Professor: Marcelo Tavares Monitora: Laryssa Marques Aula 01 Noções introdutórias 1. Jurisprudência e bibliografia STF; STJ; TRF-2ª Região; BARBOSA, Denis. Uma introdução à Propriedade Industrial. Lumen Juris. 1997; CERQUEIRA, Jose da Gama. Tratado de Propriedade Industrial/ Rio de Janeiro: Lumen Juris; IDS. Comentários à Lei de Propriedade Industrial. São Paulo: Renovar, Competência Quando houver interesse do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), isto é, quando houver ataque a um de seus atos administrativos, a competência é da justiça federal, vez que o INPI é autarquia. Aplicando-se, portanto, a inteligência do art. 109, I da CRFB/88. Quando o processo envolver interesse apenas de particulares, a competência é da justiça estadual, em geral da vara empresarial. A título de exemplo, imagine o caso de uma empresa, que é titular de uma marca, que é copiada por outra. Ninguém está discutindo o ato administrativo do INPI que registrou a primeira empresa. Na verdade, esta ataca a segunda, por estar copiando sua marca.

2 3. Propriedade Intelectual Direito Imaterial Propriedade Industrial Bens imateriais de interesse da indústria e do comércio (econômico, de desenvolvimento). ex.: desenho como marca de empresa; aplicado a um tênis Adquire-se com o registro ou com a patente (ato constitutivo) Propriedade Intelectual - Espécies Direitos do Autor Vinculados ao direito civil. Adquiridos por ato declaratório, não há necesidade de registro. Regime de Proteção sui generis Ligados à cultura; feitos para o prazer humano. Ex.: desenho. Fundamento constitucional da Propriedade Intelectual: art. 5º, XXII, XXIII, XXVII, XXIX: É garantido o direito de propriedade; A propriedade atenderá sua função social; Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresa e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento econômico do país. Princípios da Ordem Econômica art. 170, CRFB: Propriedade privada; Função social da propriedade; Livre concorrência; Defesa do consumidor. Portanto, toda propriedade industrial está baseada na livre concorrência e na defesa do consumidor. Quando uma empresa imita a marca de outra, está agredindo a livre concorrência,

3 pois pretende se aproveitar da clientela de uma empresa, que teve muito trabalho para obtê-la. E também a defesa do consumidor, que pode ser ludibriado e adquirir produto distinto do que queria. aspectos: Portanto, a propriedade intelectual divide-se em três espécies, que possuem como principais Direito Autoral Propriedade Industrial Proteção sui generis Direitos do Autor Marca Topografia de circuito integrado Direitos Conexos Patente Cultivar Programa de Computador Desenho Industrial Conhecimento Tradicional Indicação Geográfica Segredo industrial e repressão à concorrência desleal O nosso curso se ocupará apenas da propriedade industrial (em vermelho). Proteção da Invenção e do modelo de utilidade -> patente; Proteção da marca; do desenho industrial; indicação geográfica -> registro. 4. Propriedade industrial a) Definição Sua definição tem guarida no art. 2º da Lei 9.279/1996 (LPI). Trata-se do ramo do direito que visa assegurar a proteção legal às invenções industriais; aos modelos de utilidade; aos desenhos industriais; às marcas de produto, serviço, certificação e coletivas; aos segredos industriais e às indicações geográficas.

4 b) Natureza jurídica Há um debate: direito real de propriedade x Exclusividade. Para quem defende que a natureza é de exclusividade, a justificativa é que: não se adquire propriedade, você pode usar durante um prazo. Caso fique 5 anos sem utilizar, por exemplo, ocorre a caducidade. c) Legislação CRFB/88; Lei 9.279/96 (LIP); CUP Convenção da União de Paris Decreto /1975 (versão Estocolmo 1967); o É vinculante. Uma empresa pode alegar direito subjetivo com base na CUP. Sendo convenção, gera direito indicidual. Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio - ou seja, de propriedade industrial (TRIPS Agreement) Decreto 1.355/94. o É um tratado para Estados. Não gera direitos subjetivos para o particular. 4.1 Indicações geográficas Legislação -> LPI (arts. 176 a 182); art. 10 da CUP; arts. 22 a 24 de TRIPS. Mediante registro no INPI, de natureza declaratória. Diferente do que ocorre com a marca e com o desenho industrial, que tem natureza constitutiva. Impede o uso como marca. o Indicação de procedência Nome gráfico de país, região ou cidade que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de produto ou prestação de serviço. Exs.: Alta Mogiana (café SP); Monte Belo (vinhos RS); Região da Serra da Mantiqueira (café); Paraty (aguardente); etc. o Denominação de origem Nome gráfico de país, região ou cidade que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devem exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores humanos ou naturais. Algo peculiar que só existe naquela região.

5 Ex.: vinho Bordeaux (França); Camarões da Costa Negra (CE); Arroz do litoral norte gaúcho (RS); Café da região do cerrado mineiro (MG); roquefort (FR). Se tornar-se comum não será considerado. Ex.: queijo minas. Se não se constituir indicação geográfica poderá servir de elemento característico de marca. Uso restrito aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local. No que se refere a denominação de origem, exige-se atendimento de requisitos de qualidade. Quem pode requerer? A entidade representativa da coletividade que atua na produção do bem ou na prestação do serviço. Pode ser protegido tanto o nome da área geográfica com o produto ou serviço produzido. Casos: o STF, 2ª turma, RE (1963) -> Empresa brasileira colocou como nome de sua marca Borgonha -> a marca Borgonha destina-se a fraudar a lei, que não permite se designe por Borgonha vinho produzido no Brasil. o TJ SP, Apelação Cível (1994) - Propriedade industrial abstenção do uso da marca e da expressão Lindóia como indicação de procedência. Expressão que não é registrável como marca. Pertence a todos os concessionários de lavra estabelecidos em Águas de Lindóia (art. 65, IX, lei 5772/71). o TRF2 EIAC (2008) -> Propriedade industrial. Impossibilidade absoluta de registro de indicação geográfica como marca. Vedação legal expressa e incondicional. Bordeaux. Centro produtor de vinhos. As indicações geográficas, assim como o brasão, as armas e a bandeira, não podem ser registráveis como marca, a teor do contido no item 9, do art. 65, da Lei nº 5.772/71, proibição que foi renovada na atual Lei de Propriedade Industrial, nos termos do art. 124, inciso IX, da Lei n /1996. A indicação geográfica tem proteção absoluta no direito da propriedade industrial, não sendo passível de registro. Ainda que se entendesse relativa a proteção de indicação geográfica, padeceriam de nulidade registros de marcas utilizando a expressão BORDEAUX para distinguir serviços de bufê, gelo e substâncias para gelar, na medida em que se verifica afinidade de tais produtos/serviços com a atividade vinícola através da qual a região de BORDEAUX, na França, se tornou mundialmente conhecida. Embargos infringentes conhecidos e improvidos.

6 o TRF2 - AC > NPI. NULIDADE DE REGISTRO DE MARCA. INDICAÇÃO GEOGRÁFICA - Apelação interposta em face de sentença que julgou procedente o pedido, para declarar a invalidade e desconstituição do registro do INPI da marca Módena, para o segmento de veículos, por consistir em indicação geográfica; e para condenar a Ré a cessar o uso de tal expressão. - Considerando-se que Módena é uma indicação de procedência geográfica, não poderia ter sido registrada como marca pela Ré: artigos 124, incisos IX e X, 177 e 182 da Lei nº 9.279/96. - Competência da Justiça Federal, eis que, ao julgar procedente o pedido, para desconstituir o registro da marca Módena, a consequência lógica de tal determinação é que a parte sucumbente se abstenha do uso da referida marca: artigo 173 da Lei 9.279/ Proteção contra a concorrência desleal Art. 195, 209, LPI; art. 10 bis, CUP; Conceito: toda ação de concorrente que se aproveita indevidamente de criação ou de elemento integrante de aviamento (valor de mercado) alheio, para captar, sem esforço próprio, a respectiva clientela. A essência da concorrência desleal está na situação de se procurar vencer no mercado, não por sua própria contribuição, mas explorando contribuições alheias. Problema do Trade Dress configuração de produtos e a impressão visual de estabelecimentos: o Distintividade o Possibilidade de confusão ou associação. Ex.: Livraria Leitura -> idêntica à Saraiva (amarelo e preto; iluminação; disposição de livros). Trade Dress -> é irregistrável, mas a Saraiva pode ajuizar ação em face da Leitura na Justiça Estadual, apenas com base na concorrência desleal. Obs.: gilete -> a marca quase virou o próprio produto. Dominar o mercado 100% é ruim. A concorrência é necessária.