DESviANTES: EXPERIMENTANDO A LINGUAGEM DO VIDEO NO ESPAÇO URBANO*

Transcrição

1 DESviANTES: EXPERIMENTANDO A LINGUAGEM DO VIDEO NO ESPAÇO URBANO* NETO, José Joaquim Gomes 1 ; PEREIRA, Alda Gonçalves da Costa 2 Palavras-chave: Videoarte; cidade; intervenção urbana. Introdução A linguagem do vídeo exprime uma potência singular no cenário em que vivemos. No atual contexto das artes visuais a presença da linguagem videográfica já é um fato consumado, porém o vídeo pode ainda continuar sendo explorado, sobretudo se levarmos em consideração as infinitas possibilidades de intercruzamentos de campos do conhecimento e de linguagens presentes hoje na arte contemporânea. Para traçar um itinerário é necessário compreendermos o vídeo para além dos campos de representação assumidos pelo cinema e pela televisão. Isso nos leva a uma questão fundamental: qual o espaço do vídeo dentro da temporalidade que demarca e delineia a arte contemporânea? Para tentar responder a esta questão, utilizamos textos e teorias formulados por Arlindo Machado e Cristine Mello, duas referências no que diz respeito aos estudos videográficos ligados às artes visuais no Brasil. Cristina Mello (2008 p. 25) afirma que o vídeo é uma espécie de processo de descentralização de linguagens, como meio que expande as suas próprias especificidades. A capacidade adaptativa do vídeo transcendeu outros tipos de expressão, tanto pelo seu caráter híbrido e semiótico, quanto pela capacidade de romper espaços fronteiriços entre vídeo, performance e instalação, por exemplo. As imagens projetadas tornam dissolutas as barreiras de representação, possibilitando um diálogo com espaços, formatos e construtos novos. Podem ser formas, formatos e/ou formações muito mais potentes do que aquela circunscrita nas molduras das telas cinematográficas ou do cubo televisivo. Portanto, a base de estudos e Resumo revisado pelo Coordenador da Ação de Extensão Grupo de Estudos: Midiateca Arte na Escola, código FAV-216. Nome do coordenador: Manoela dos Anjos Afonso. 1 Acadêmico do curso Artes Visuais Habilitação em Artes Plásticas FAV/UFG. jjgneto@gmail.com 2 Acadêmica do curso Artes Visuais Habilitação em Artes Plásticas FAV/UFG. aldagc74@hotmail.com

2 experimentações em vídeo que assumimos contempla mais as possibilidades e potencialidades dessa linguagem, bem como a capacidade de sensibilizar de múltiplas formas os espectadores, do que a conceituação a priori do seu papel nas artes. Percebemos nessa descentralização uma abertura para a inserção de elementos experimentais que podem trazer novas possibilidades de diálogo, traçar novos círculos de discussão, em que o espaço, o público, o artista e a obra configuram novas convergências. Se for possível encontrar no campo da produção, distribuição e recepção formas descentralizadas de apresentação do vídeo, tornase necessário incluirmos também essas mesmas abordagens descentralizadas do vídeo no campo da teoria, da história e da crítica de arte. (Mello, 2008, p.27). O vídeo encontra pontos de convergência para além da técnica da própria imagem projetada. O espaço interfere na concepção da obra e na sua recepção pelo espectador, círculo de relações múltiplas que no projeto intitulado DESviANTES surgiram como fundamento. Este projeto surgiu de inquietações coletivas de alguns estudantes do curso Artes Visuais Habilitação em Artes Plásticas, da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG), alunos que começaram a experimentar a linguagem videográfica em suas produções poéticas. A partir da percepção de que as novas possibilidades e a descentralização no uso desta linguagem não encontrava um espaço de discussão tão coeso em Goiânia, resolvemos propor a criação de um grupo de estudos em videoarte, tanto para estudos teóricos quanto para práticas artísticas em vídeo, tendo como finalidade estudar essa linguagem no que tange às literaturas já editadas, bem como pesquisar outras produções e o que mais tem sido feito sobre o assunto no cenário brasileiro e internacional. O DESviANTES tornou-se um rico ambiente de reflexão e produção em videoarte, o qual culminou, num primeiro momento, na I Mostra de Videoarte DESviANTES, realizada nos dias 29 e 30 de novembro e 1 de dezembro de O que tornou essa mostra singular foi o fato de nos propomos a levar o vídeo à cidade, ao cotidiano urbano, às pessoas em trânsito. A intenção da mostra foi dissolver a dinâmica da galeria tradicional. Buscamos o espaço ordinário, em meio ao nosso cotidiano, para a inserção dos vídeos produzidos. Os vídeos transformaram os espaços nos quais foram inseridos, mesmo que por um breve momento, propondo contaminar o cotidiano das pessoas com uma experiência com a arte. Ônibus,

3 bares, lanchonetes converteram-se em espaços de mostra onde os vídeos produziram possibilidades de interação. Além das mostras itinerantes, o evento proporcionou um espaço para oficinas de videoarte. Laboratórios de corpos em movimento, intenções, inquietações, todos ligados à linguagem do vídeo. Buscamos diluir ao máximo as fronteiras entre processo e obra, buscando coletar nas experiências vivenciadas em grupo os elementos e argumentos para nossas problematizações futuras nas atividades do grupo de estudos. Os principais objetivos deste grupo de estudos são criar espaços de reflexão e debate sobre a produção de videoarte, bem como proporcionar e fomentar produções de obras em vídeo, videoinstalação, videoperformance, videotexto e tantas outras experiências que utilizam o vídeo como meio, processo e/ou fim. Pretendemos fazer com que o DESviANTES proporcione cada vez mais diálogos entre todos os interessados em aprofundar seus estudos e práticas ligados às produções artísticas em videoarte, abrindo desta forma os caminhos na FAV/UFG para esta possibilidade de pesquisa em poéticas visuais, colocando alunos, professores, egressos, bem como artistas de diversos locais em contato. Metodologia O grupo de estudos foi formado em agosto de Por meio de reuniões semanais os participantes iniciaram estudos sobre a literatura acerca da produção em vídeo ligada às artes visuais no Brasil, assistindo algumas das produções genealógicas e atuais da produção em videoarte, discutindo aspectos técnicos da produção e edição de vídeo, bem como debatendo as multiplicidades de questões que podemos abraçar por meio do uso dessa linguagem. A perspectiva de criação de uma mostra de videoarte itinerante, em espaços da cidade, alicerçou um incentivo à nossa produção artística, criando um ambiente de perene debate entre os membros do grupo, os quais estiveram empenhados em produzir obras videográficas com duração máxima de 5 minutos para a mostra que estávamos organizando. Experimentação artística foi a expressão-chave que orientou todo este processo. Resultados e discussão

4 O resultado da I mostra de videoarte DESviANTES pode ser acessado nos endereços e Realizada nos dias 29 e 30 de novembro e 1 de dezembro de 2011, a mostra apresentou obras em vídeo de 17 artistas: Alda Costa Título: Desordenados Ano: 2011 Duração: 2 min e 52 seg Aline Bueno Título: Sem título Ano: 2011 Duração: 4 min. e 34 seg Anna Behatriz Azevêdo Título: Carne quebrada, o que coso... entre o que se sabe e o morto Ano: 2011 Duração: 5 min e 41 seg Antônio Custódio Título: Saudoso Caminho Ano: 2011 Duração: 2 min e 21 seg Bruno Melo Título: Huno Ano: 2011 Duração: 2 min e 39 seg Cristiane Alves e Thaís Ferraz Concepção: Cristiane Alves e Thaís Ferraz Título: Devaneios de Greda Ano: 2010 Duração: 3 min e 51 seg DUPLICATA17 Título: Tabelionato de Ações Ordinárias - Institucional Ano: 2011 Duração: 3 min. e 54 seg Flávio Yoshida e Heloá Fernandes Título: Deleite Ano: 2011 Duração: 1 min. e 06 seg Fransuel Becker Título: Sangue Lama no Capitalismo Ano: 2011 Duração: 4 min e 27 seg Giovani Lorenztti Título: Mercado da Carne Ano:? Duração: 1 min e 12 seg Glayson Arcanjo Título: Sobre ruínas e outras demolições Ano: 2011 Duração: 2 min e 49 seg Glayson Arcanjo Performance: Anna Behatriz Azevêdo Título: Ruínas Circulares Ano: 2009 Duração: 5 min e 26 seg Heloá Fernandes Título: Maquiangem Ano: 2011 Duração: 4 min e 46 seg Ian Alves Título: Exaustão Ano: 2011 Duração: 1 min e 22 seg José Gomes Título: Furrigem Ano: 2011 Duração: 1 min. e 49 seg José Gomes Título: Monólogo Ano: 2011 Duração: 2 min. e 35 seg Julliana Oliveira Título: Processo Masturbatório Ano: 2011 Duração: 4 min e 21 seg Krika - Vivianni Nunes Título: Linhas em crise Ano: 2011 Duração: 4 min. e 21 seg Renato Pirei Título: Delícia Ano: 2008 Duração: 5 min e 14 seg Os locais utilizados para exibição dos vídeos foram: Bar do Gurupi (Pamonharia da UFG), Bar Woodstock, Bistrô Comer e Arte, Transporte Coletivo Rota 1 Campus/Praça A e Rota 2 - Praça A/Praça da Bíblia. Além das exibições dos vídeos, aconteceram três oficinas realizadas no espaço de produção do Coletivo Cinza, coletivo composto pelos artistas e egressos da FAV/UFG, Dalton Paula, Anna Behatriz Azevêdo e Yara Pina. O Coletivo Cinza, juntamente com o Coletivo Bunker (composto pelos artistas Ian Alves, José Gomes e Julliana Oliveira) e o DUPLICATA17 (composto por

5 Manoela dos Anjos Afonso e Wolney Fernandes) foram os proponentes das oficinas. Cada grupo de artistas trouxe uma proposta que pudesse convergir para uma produção em videoarte. Foram realizados experimentos sensoriais, poéticos e de interação com a cidade. Após a execução de cada proposta aconteceu um bate papo entre todos os participantes das oficinas, com a finalidade de discutirmos aspectos relevantes dessa produção coletiva em vídeo, que se inicia com o projeto DESviANTES.. A II mostra de videoarte ocorrerá na segunda quinzena de setembro de 2012 e as inscrições para aqueles que desejam participar da mostra podem ser feitas no blog de 20/03 a 30/06. O grupo se propõe a continuar seus trabalhos de estudos, pesquisas, produção e experimentação em vídeo, com foco na produção artística em artes visuais. Referencias MACHADO, Arlindo (org). Made in Brazil: três décadas de vídeo no Brasil, São Paulo: Itaú Cultura, MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Editora Senac, MORALES, Wagner. Coco Fusco: I Like Girls in Uniform. [Filme-vídeo], produção de Associação Cultural Videobrasil; direção de Wagner Moreles. São Paulo, Associaçao Cultural Videobrasil. Tempo 48'31, Brasil, WERNECK, Fabiana; FIOL, Marco Del. Mau Wal Encontros traduzidos [Filmevídeo]. Produção de Associação Cultura Videobrasil. São Paulo: Associação Cultural Videobrasil, 52 41, Brasil, GUIMARÃES, Cao; LOBATO, Pabro. Acidentes. 2008, disponível em VIDEOBRASIL.