Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Remix ensemble casa da música 27 ABR :00 SALA SUGGIA
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- Márcio Barreto Porto
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1 27 ABR :00 SALA SUGGIA 1ª Parte Remix ensemble casa da música Peter Rundel direcção musical Victor Pereira clarinete Claude Debussy/Benno Sachs Prelúdio à sesta de um fauno [ ; arranjo para 11 instrumentos: 1920; c.10min.] Pierre Boulez Domaines, para clarinete solo e 21 instrumentos em 6 grupos [1961/1968; c.30min.] 2ª Parte orquestra sinfónica do porto CASA DA MÚSICA Emilio Pomàrico direcção musical Claude Debussy Jeux, poème dansé [1912/1913; c.18min.] Richard Wagner Tannhäuser Abertura e Monte de Vénus (versão de Paris) [ ; c.21min.] frança 2012 portrait pierre boulez iv Notas ao programa disponíveis em na página do concerto ou no separador downloads. Próximos Concertos 28 Abril Remix Ensemble Casa da Música & Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música 01 Maio Jonathan Ayerst 25 Abril -01 Maio Erik Satie: Vexations (Concerto/Instalação) MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA
2 Peter Rundel direcção musical Emilio Pomàrico direcção musical Michele Maggiali Peter Rundel nasceu em Friedrichshafen, Alemanha, e estudou violino com Igor Ozim e Ramy Shevelov em Colónia, Hanôver e Nova Iorque, e direcção com Michael Gielen e Peter Eötvös. Frequentou, ainda, em regime privado, aulas com o compositor Jack Brimberg em Nova Iorque. Entre 1984 e 1996, integrou como violinista a formação do Ensemble Modern, com o qual mantém uma relação próxima como maestro. Na área da música contemporânea tem desenvolvido relações duradouras com o ensemble recherche, Ensemble Resonanz, Asko Ensemble e Klangforum Wien, trabalhando ainda regularmente com o Ensemble intercontemporain em Paris e musikfabrik em Colónia. É convidado regularmente para dirigir a Orquestra da Rádio Bávara, Orquestra Sinfónica Alemã e Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, Sinfónica da Rádio de Estugarda, Sinfónica WDR de Colónia e orquestras das rádios de Hamburgo, SWR de Baden Baden, Frankfurt, Saarland, ORF de Viena e Orquestra Nacional da RAI de Turim. No âmbito do teatro musical, dirigiu produções na Ópera do Estado da Baviera, Festwochen de Viena, Ópera Alemã de Berlim e Festival de Bregenz, trabalhando com encenadores prestigiados como Peter Konwitschny, Philippe Arlaud, Reinhild Hoffmann, Carlos Padrissa (La Fura dels Baus) e Joachim Schlömer. O seu trabalho na ópera inclui o repertório tradicional e também produções teatrais de música contemporânea inovadora. Em 2005 tornou se maestro titular do Remix Ensemble no Porto esta colaboração frutuosa é documentada pelo grande sucesso das apresentações em importantes festivais europeus. Maestro e compositor italiano, Emilio Pomàrico nasceu em Buenos Aires e estudou com Franco Ferrara (Siena, Itália) e Sergiu Celibidache (Munique, Alemanha). Desde o início da sua bem sucedida carreira internacional, tem sido convidado regularmente para dirigir as orquestras europeias mais notáveis tais como a Orquestra Sinfónica da Rádio Bávara, Sinfónica WDR de Colónia, Orquestra da Accademia di Santa Cecilia em Roma, Filarmónica do Scala, Orquestra Filarmónica da Radio France, Sinfónica de Bamberg, Orquestra Sinfónica Escocesa da BBC, Sinfónicas das Rádios de Hamburgo (NDR), Estugarda (SWR) e Viena (RSO) e Filarmónica da Rádio Holandesa, e em teatros como Ópera de Paris, Teatro alla Scala de Milão, Ópera de Roma, La Fenice de Veneza, Teatro São Carlos de Lisboa, NYE Opera de Bergen, Ópera de Oslo e Ópera de Graz. É convidado regularmente pelos festivais internacionais mais importantes, tais como o Festspiele de Salzburgo, Festival Internacional de Edimburgo, Festival d Automne e Agora em Paris, Wiener Festwochen e Wien Modern em Viena, Berliner Festspiele, Musica Viva em Munique, La Biennale Musica em Veneza, Donaueschinger Musiktage, Musik der Zeit e Musik Triennale em Colónia, Musica em Estrasburgo, etc. Compromissos próximos levam no à Sinfónica WDR de Colónia, Filarmónica da Rádio Alemã de Saarbrücken, Sinfónica da Rádio Bávara em Munique, Sinfónica SWR de Baden Baden e Freiburg, Filarmónica de Câmara da Rádio Holandesa e Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Sendo também compositor, Emilio Pomàrico dedica muitas das suas energias à interpretação de música contemporânea, colaborando com os principais ensembles europeus tais como o Asko Schönberg, Ensemble intercontemporain, Klangforum Wien, Musikfabrik, Remix Ensemble, Ensemble Resonanz e ensemble recherche.
3 Victor Pereira clarinete Depois de estudar na Academia de Música de Castelo de Paiva, Victor Pereira continuou a sua formação na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto, onde concluiu a Licenciatura na classe de António Saiote, tendo lhe sido atribuído o Prémio Fundação Eng. António de Almeida. Detém ainda, desde 2006, o grau de Mestre em Performance Musical pela Universidade de Aveiro, onde trabalhou com Alain Damiens. Paralelamente, efectuou masterclasses com Perez Piquer, Michel Arrignon, Paul Meyer, Alain Damiens, Howard Klug, Phillipe Cupper, Guy Chadash e Guy Deplus. Foi premiado em vários concursos dos quais se destacam: o 1º Prémio no II Concurso Nacional de Jovens Clarinetistas (nível superior), organizado pela Associação Portuguesa do Clarinete; 3º Prémio no I Concurso Internacional de Clarinete do Porto, no qual lhe foi também atribuído o Prémio do Público, 3º Prémio no Concurso Jovens Músicos (nível superior) da RDP, 2º Prémio na categoria de música de câmara (nível superior) no Concurso Jovens Músicos da RDP e finalista no 3 rd Osaka International Chamber Music Competition & Festa, no Japão. Victor Pereira é solista do Remix Ensemble Casa da Música e é professor de clarinete e música de câmara na Academia de Música de Castelo de Paiva e na Escola Profissional de Música de Espinho. remix ensemble casa da música Peter Rundel maestro titular Desde a sua formação em 2000, o Remix Ensemble apresentou em estreia absoluta mais de setenta obras e foi dirigido pelos maestros Stefan Asbury, Ilan Volkov, Kasper de Roo, Pierre André Valade, Rolf Gupta, Peter Rundel, Jonathan Stockhammer, Jurjen Hempel, Matthias Pintscher, Franck Ollu, Reinbert de Leeuw, Diego Masson, Emilio Pomàrico e Paul Hillier, entre outros. No plano internacional, apresentou se em Valência, Roterdão, Huddersfield, Barcelona, Estrasburgo, Paris, Orleães, Bourges, Reims, Antuérpia, Madrid, Budapeste, Norrköping, Viena, Witten, Berlim, Amesterdão e Bruxelas. Em 2011 apresentou se no Wiener Festwochen (Viena) e no Festival Agora (IRCAM Paris). Entre as obras interpretadas em estreia mundial incluíram se duas encomendas a Wolfgang Rihm, Compositor em Residência 2011 na Casa da Música. No último trimestre do ano, o projecto The Ring Saga, com música de Richard Wagner adaptada por Jonathan Dove, levou o Remix Ensemble ao Festival Musica de Estrasburgo, Cité de la Musique em Paris, Saint Quentin en Yvelines, Théâtre de Nîmes, Le Théâtre de Caen, Grand Théâtre du Luxembourg e Grand Théâtre de Reims. Em 2012 apresenta se na Fundação Gulbenkian em Lisboa, no Berliner Festspiele/MaerzMusik e toma parte no programa de encerramento do Festival Musica de Estrasburgo. O Remix tem oito discos editados com obras de Pauset, Azguime, Côrte Real, Peixinho, Dillon, Jorgensen, Staud, Nunes, Bernhard Lang, Pinho Vargas e Wolfgang Mitterer. orquestra sinfónica do porto casa da música Christoph König maestro titular A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música trabalha regularmente com reputados maestros e solistas, destacando se em 2012 as estreias de Stefan Blunier, Antoni Wit, Jérémie Rohrer, Felicity Lott e Cyprien Katsaris. Tem também colaborado com importantes compositores como Emmanuel Nunes, Jonathan Harvey, Kaija Saariaho, Magnus Lindberg e Pascal Dusapin, no âmbito das Residências Artísticas promovidas pela Casa da Música. Para além dos ciclos de concertos na Casa da Música, a Orquestra tem vindo a incrementar as actuações fora de portas: nas últimas temporadas estreou se em Viena, Luxemburgo, Bélgica, Holanda e no Brasil, e regressou a Santiago de Compostela e Lisboa. A acção da Orquestra estende se ao universo do jazz, fado ou hip hop, ao acompanhamento de projecção de filmes e aos concertos comentados. O compromisso com a área educativa deu origem ao projecto A Orquestra vai à escola, a workshops de composição para jovens compositores e a masterclasses de direcção com o maestro Jorma Panula. A interpretação da integral das sinfonias de Mahler marcou as temporadas de 2010 e Em 2011 gravou os concertos para piano de Lopes Graça para a editora Naxos, e foram também editadas obras de Grieg, Kodály e Bartók, realizadas ao vivo na Casa da Música. A origem da Orquestra remonta a 1947, ano em que foi constituída a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto, que desde então passou por diversas designações. Engloba um número permanente de 94 instrumentistas, o que lhe permite executar todo o repertório sinfónico desde o Classicismo ao Século XXI. É parte integrante da Fundação Casa da Música desde Julho de
4 REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA 4 Violino Angel Gimeno José Pereira Viola Trevor McTait David Lloyd Violoncelo Oliver Parr Filipe Quaresma Contrabaixo António A. Aguiar Flauta Stephanie Wagner Oboé José Fernando Silva Clarinete Victor J. Pereira Ricardo Alves Fagote Roberto Erculiani Trompa Nuno Vaz Trompete António Silva Trombone Filipe Alves José Cardoso Vítor Faria Filipe Queirós Saxofone Romeu Costa Percussão Mário Teixeira Manuel Campos Nuno Aroso Piano/Harmónio Jonathan Ayerst Vítor Pinho Harpa Carla Bos Guitarra Júlio Guerreiro orquestra sinfónica do porto casa da música Violino I James Dahlgren* Radu Ungureanu Vadim Feldblioum Andras Burai Vladimir Grinman Ianina Khmelik Roumiana Badeva Arlindo Silva Emília Vanguelova José Despujols Zoltan Santa Maria Kagan Evandra Gonçalves Alan Guimarães Heloisa Ribeiro* Violino II Jossif Grinman Nancy Frederick Tatiana Afanasieva Lilit Davtyan Francisco P. de Sousa José Paulo Jesus Paul Almond Domingos Lopes Pedro Rocha José Sentieiro Mariana Costa Germano Santos Nikola Vasiljev Vítor Teixeira Viola Ryszard Wóycicki Joana Pereira Anna Gonera Jean Loup Lecomte Mateusz Stasto Luís Norberto Silva Hazel Veitch Biliana Chamlieva Francisco Moreira Rute Azevedo Theo Ellegiers Emília Alves Sara Barros* Violoncelo Vicente Chuaqui Feodor Kolpachnikov Gisela Neves Bruno Cardoso Michal Kiska Aaron Choi Hrant Yeranosyan Américo Martins* Vanessa Pires* Vasco Alves* Contrabaixo Slawomir Marzec Florian Pertzborn Joel Azevedo Jean Marc Faucher Tiago Pinto Ribeiro Nadia Choi Altino Carvalho Angel Luis Martinez* João Fernandes* Flauta Paulo Barros Ana Maria Ribeiro Carla Rodrigues* Alexander Auer Oboé Aldo Salvetti Tamás Bartók Eldevina Materula Jean Michel Garetti Clarinete António Rosa Gergely Suto Fagote Gavin Hill Robert Glassburner Vasily Suprunov Pedro Silva Trompa Bohdan Sebestik Hugo Sousa* José Bernardo Silva Eddy Tauber Trompete Sérgio Pacheco Ivan Crespo Luís Granjo Rui Brito Trombone Severo Martinez Dawid Seidenberg Nuno Martins Tuba Sérgio Carolino Tímpanos Jean François Lézé Bruno Costa Percussão Paulo Oliveira Nuno Simões André Dias* Renato Peneda* Harpa Ilaria Vivan Emanuela Nicoli* Celesta Raquel Cunha* *instrumentistas convidados PATROCINADOR FRANÇA 2012 APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PROGRAMAS DE SALA MECENAS EDIÇÕES CASA DA MÚSICA A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE
5 Claude Debussy saint german en laye, 22 de agosto de 1862 paris, 25 de março de Prelúdio à sesta de um fauno (arranjo para 11 instrumentos de Benno Sachs) O arranjo para 11 instrumentos (flauta, oboé, clarinete, piano, harmónio, crótalos, 2 violinos, viola, violoncelo e contrabaixo) do Prelúdio à sesta de um fauno foi feito por Benno Sachs, sob os auspícios de Arnold Schönberg, para um concerto da Sociedade para a execução privada de música (Verein für musikalische Privataufführungen), uma sociedade fundada em 1918 por Arnold Schönberg, com a finalidade de dar a ouvir as mais recentes composições musicais, num ambiente livre de críticos de música e de público não especialista em música moderna. Só podiam entrar membros registados na Sociedade e era proibido tanto vaiar como aplaudir as execuções musicais. À porta dos concertos afixava se um letreiro com a inscrição Kritikern ist der Eintritt verboten [ Entrada proibida aos críticos de música ]. Nos três anos de actividade da Sociedade ( ) realizaram se 117 concertos, nos quais se tocaram 154 peças de música composta já no século XX, incluindo compositores como Igor Stravinski, Alexander Scriabine, Gustav Mahler, Ferruccio Busoni, Alexander von Zemlinsky, Karol Szymanovski, Béla Bártok, Richard Strauss, Claude Debussy, Maurice Ravel, Anton Webern e Alban Berg. Por decisão do próprio Schönberg, nenhuma obra sua foi tocada nos primeiros dois anos da Sociedade. Musicalmente pretendia se apresentar obras recentes com o máximo de clareza e compreensibilidade possível. Para isso preferiam se versões estruturais das obras, reduzidas à sua essência profunda, livres de decorações colorísticas ou de massas sonoras excessivas. Os ensaios eram abertos aos sócios e muitas vezes as peças eram tocadas duas vezes no mesmo concerto. A transcrição do Prélude à l après midi d un faune foi preparada para Outubro de O arranjo foi durante muitos anos atribuído a Schönberg e, posteriormente, a Hans Eisler, mas provas documentais recentes apontam para a autoria de Benno Sachs, um aluno de Schönberg. Incluindo um número apreciável de instrumentos, este arranjo não se afasta muito do original de Debussy, entregando ao piano (complementado pelo harmónio) as partes das harpas e das trompas. O naipe de madeiras é coberto pelo trio de flauta, oboé e clarinete, e as cordas são entregues a um sólido quinteto de cordas. Inteligentemente, Sachs soube manter os crótalos antigos no fim da peça, sonoridade muito especial e insubstituível que garante uma coloração pastoral final. O Prélude à l après midi d un faune é normalmente visto como a primeira tentativa de Debussy de fazer algo verdadeiramente novo no campo da instrumentação e da forma. Segundo Pierre Boulez, «sem a obra de Debussy seria impossível entender não só Ravel como também Edgard Varèse ou Olivier Messiaen; foi Debussy quem, ao romper com a forma clássico romântica do seu tempo, descobriu uma linguagem musical nova, livre, oscilante, aberta a outras possibilidades». Debussy pretendia compor uma obra orquestral em três andamentos baseada no famoso poema de Stéphane Mallarmé L après midi d un faune. Este poema, publicado em 1876, é uma referência fundamental do movimento simbolista francês, descrevendo as experiências sensuais dum fauno que acaba de despertar da sesta e reflecte sobre os encontros que teve naquela manhã com várias ninfas: «Estas ninfas, desejo perpetuar / Será que amei um sonho?» Inicialmente Debussy pensava num título ao estilo de César Franck: Prélude, Interlude et Paraphrase pour l après midi d un faune, mas posteriormente decidiu compor apenas o Prelúdio, que seria estreado a 22 de Dezembro de Stéphane Mallarmé escreveu numa carta a Debussy que a sua música não entrou nunca em dissonância com o meu poema, tendo, bem pelo contrário, aprofundado a ansiedade e a procura de luz com fineza, melancolia e riqueza de invenção. Pierre Boulez montbrison, 26 de março de 1925 Domaines, para clarinete solo e 21 instrumentos em 6 grupos As possibilidades oferecidas pelo trabalho com formas abertas constituíram uma importante fonte de inspiração para Pierre Boulez na segunda metade dos anos 1960, sendo Domaines uma das peças emblemáticas da chamada forma semiaberta. Domaines consiste em doze secções, tocadas em dois grupos de seis. O palco é ocupado por seis grupos instrumentais de formações heterogéneas (desde um sexteto de cordas até um duo de marimba e contrabaixo), com uma partitura inteiramente escrita, na forma de seis folhas independentes para a ida da peça (ou original ) e outras seis folhas independentes para a volta (ou espelho ). Por outro lado, o solista (clarinete) tem outras seis mais seis folhas ( cahiers, provenientes da primeira versão de Domaines, composta em 1961 para clarinete solo), que tocará numa sequência decidida por si no momento do concerto. Isto para a ida. Para a volta cabe ao maestro decidir a ordem de sucessão das folhas. Além disso, a espacialização dos grupos no palco tem uma outra função estrutural: o clarinetista move se de um grupo para outro ao longo da peça. Na ida coloca se diante de um grupo e toca a sua folha de música, cabendo ao grupo tocar uma resposta. Na volta são os grupos que inspiram o solista, que, por sua vez, lhes responde. Boulez serve se, pois, de técnicas antifónicas, assentes na ideia de comentário musical a uma estrutura dada. Estabelece se um diálogo constante entre solista e grupos instrumentais. Quanto ao título, Pierre Boulez prefere não lhe dar um sentido único e específico, antes falando das inúmeras conotações do termo domínio :
6 propriedade, património, âmbito, zona, alcance, mas também território, poderio, controlo, conhecimento. Domaines foi estreada em Bruxelas no dia 20 de Dezembro de 1968, no quadro do festival Reconaissance des Musiques Modernes. Claude Debussy Jeux, poème dansé A 29 de Maio de 1913, a história da música viveu um dos seus últimos grandes e verdadeiros escândalos públicos, no Teatro dos Campos Elíseos, em Paris: a estreia do bailado A Sagração da Primavera de Stravinski, dançado pela companhia Ballets Russes, com coreografia de Vaslav Nijinski, sob a direcção musical de Pierre Monteux. O impacto cultural, artístico e social desta estreia ofuscou completamente a recepção de outro bailado, estreado exactamente duas semanas antes, no mesmo local e pelos mesmos intervenientes: Jeux, poème dansé de Debussy, um bailado instigado pelo empresário Sergei Diaghilev, com tema e coreografia de Nijinski, e com Pierre Monteux a dirigir a orquestra. Tanto A Sagração da Primavera como Jeux, poème dansé viriam a ter um grande futuro, sendo, porém, muito mais tocadas nas salas de concertos do que encenadas enquanto bailados. Em certa medida, o carácter explosivo e provocador dos guiões dos bailados de Nijinski acabou por perder força com o passar do tempo, tendo sido ultrapassado pela intensa força musical das composições de Stravinski e Debussy. Nijinski tinha apresentado, em 1910, uma coreografia arrojada para o Prelúdio à sesta de um fauno e, juntamente com Sergei Diaghilev, propôs a Debussy a escrita de uma música de bailado para um novo argumento, envolvendo elementos eróticos explícitos. Debussy hesitou bastante, mas acabou por ceder quando Diaghilev duplicou os honorários que lhe tinha oferecido previamente. De acordo com os Diários de Nijinski, a ideia original de Diaghilev (que buscava enredos escandalosos como forma de publicitar a sua companhia) era a de descrever um encontro homossexual de três jovens num parque de Paris. A versão final envolve um jovem, duas raparigas lascivas e um jogo de ténis. O jovem observa as duas raparigas quando uma bola de ténis escapa do court; juntos começam a procurá la; a luz artificial do court cria uma atmosfera irreal, sugerindo lhes a ideia de jogo infantil: começam a jogar ao esconde e o jovem seduz uma das raparigas, depois a outra; a noite está quente e a luz serena do céu nocturno convida os a outros jogos; após alguns amuos acabam por dançar um pas de trois abraçando se e beijando se apaixonadamente a três; repentinamente, outra bola de ténis cai no court, vinda não se sabe de onde; o rapaz e as raparigas fogem rapidamente, desaparecendo de vista. A coreografia de Nijinski foi especialmente difícil para o público (e para Debussy, que se distanciou publicamente dela), incluindo uma confusa mistura de movimentos modernos (inspirados no ténis, no golfe e nas teorias de Jacques Dalcroze) com dança académica (as raparigas dançam em pontas, mas com os pés paralelos). A recepção do bailado foi fria e só a música de Debussy obteve alguns favores da crítica. No próprio dia da estreia, Debussy escreveu um artigo no jornal Le Matin no qual manifestou o seu fascínio pelos Ballets Russes («Parece me que os Russos abriram uma janela para o campo e para a natureza na nossa triste sala de estudos onde o mestre é tão severo»), ao mesmo tempo que confessou o seu desconforto com a coreografia do bailado: «Porque razão eu, um homem tranquilo, me lancei nesta aventura de pesadas consequências? Porque é preciso tomar o pequeno almoço, e porque um dia tomei o pequeno almoço com o Sr. Sergei Diaghilev, homem terrível e charmoso que faria dançar até as pedras. Ele falou me dum cenário imaginado por Nijinski, no qual haveria um parque, um court de ténis, o encontro fortuito de duas jovens raparigas e de um rapaz, a procura de uma bola de ténis, uma paisagem nocturna, misteriosa, com algo indefinível mas cheio de malícia, saltos, voltas, passagens caprichosas nas danças, enfim, tudo o que é necessário para fazer nascer o ritmo numa atmosfera musical». Stravinski, amigo de Debussy e que vivia em Paris nessa altura, não hesitou em criticar abertamente Jeux, a última obra orquestral de Debussy, na qual identificava uma insuficiência da substância musical para uma tão ampla duração. Já Pierre Boulez várias vezes se mostrou fascinado por esta obra, especialmente devido ao facto de Debussy conseguir aqui, «pela primeira vez, construir uma longa peça numa forma de absoluta continuidade, sem cortes, fragmentos ou secções distintas». Richard Wagner lípsia, 22 de maio de 1813 veneza, 13 de fevereiro de 1883 Tannhäuser Abertura e Monte de Vénus Tannhäuser e o Torneio de Trovadores de Wartburg é o título completo da ópera em três actos de Wagner composta entre 1843 e 1845, e estreada em Dresden em Outubro de O libreto, da autoria do próprio Wagner, foi escrito em Paris, em , e consiste na fusão de duas lendas medievais distintas. Uma, baseada em dados históricos do século XIII, envolve as tensões dos Minnesänger (os cantores de amor) e passa se no castelo de Wartburg, próximo da cidade de Eisenach, na Turíngia. A outra é uma lenda popular do século XIV, a lenda de Vénus e Tannhäuser, conhecida de Wagner através dum conto de Tieck e de um pequeno poema de Arnim e Brentano publicado na colectânea da Trompa Mágica do Rapaz. Wagner coloca no centro do enredo a luta eterna entre o amor sagrado e o amor profano, com a redenção final a acontecer através do amor, um tema recorrente noutras óperas suas. Ao fundir personagens históricas, tais como os trovadores Wolfram von Eschenbach e Walther von der Vogelweide, com seres mitológicos (a deusa do amor Vénus) e com a personalidade mista (tanto histórica como mitológica) de Tannhäuser, Wagner cria um contexto intrincado, que vem a ser situado em dois mundos: no castelo Wartburg, real e concreto, e no mitológico Monte de Vénus, uma montanha habitada por criaturas mitológicas, enigmático mas extremamente sensual. 6
7 O início da ópera desenrola se no Monte de Vénus. Vénus e Tannhäuser estão abraçados, jogando sensualmente um com o outro, no meio de sátiros, bacantes e outros casais de amantes entregues a uma orgia selvagem e totalmente depravada. Ao longe ouve se o canto das Sirenes. O jovem Tannhäuser, exausto de tanto amor e luxúria, pretende regressar ao mundo, tentando afastar se da deusa inebriada que não o deixa escapar do seu lascivo jugo. Prometendo cantar a glória de Vénus no mundo terreno, e depois de entoar um hino em sua honra, Tannhäuser, procurando penitência, invoca o nome da Virgem Maria. O reino de Vénus entra em colapso, cai num abismo e Tannhäuser encontra se num pequeno vale tranquilo, onde um pastor trauteia uma singela melodia exprimindo satisfação pelo regresso da Primavera. Este é o enredo do início da ópera, a parte que coincide com a Abertura e com o Monte de Vénus (Venusberg). A Abertura é a última introdução sinfónica de uma obra de Wagner a utilizar esta designação, que seria posteriormente substituída por Prelúdios. De acordo com o dualismo central da ópera, ela tem uma estrutura em duas partes, com secções em Andante maestoso e em Allegro, incluindo o coro dos peregrinos e o tema do bacanal desenfreado. O Monte de Vénus, livre de qualquer convenção estilística, revela uma orquestra de grande eficácia expressiva, culminando na visão flamejante do erotismo puro do Monte de Vénus, propondo em música as vibrações físicas dos corpos em transe. 7 paulo de assis
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