Andrade, Miguel Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos.

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1 Novo granito hiperalcalino de Angola Autor(es): Publicado por: URL persistente: Andrade, Miguel Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos Accessed : 3-Oct :41:35 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt

2 PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA N. 28 Memórias e Notícias

3 NOVO GRANITO HIPERALCALINO DE ANGOLA POR Miguel Montenegro de Andrade Assistente da Faculdade de Ciências de Coimbra e Bolseiro do Instituto para a Alta Cultura Até hoje apenas se conhecia em Angola um único afloramento de granito com riebeckite e egirite. Referimo- -nos ao granito de Nóqui, pela primeira vez assinalado, em 1913, pelo Prof. Pereira de Sousa (3), graças a uma colheita efectuada na referida região pelo Coronel Freire de Andrade. Uma amostra da mesma colheita, proveniente do km. 16 da antiga estrada de Nóqui para S. Salvador, foi descrita detalhadamente pelo Prof. A. Holmes (1 ). Recentemente, em 1949, o cientista belga G. Mortelmans (2) publicou um estudo do mesmo granito em que descreve novas variações petrográficas e discute a sua origem e idade. Estudos que temos estado a realizar de rochas de Angola levou-nos à descoberta de dois novos afloramentos de granitos com riebeckite e egirite. É o estudo dum deles, do posto de Cambulo (Lunda), que constitui o assunto da presente comunicação, que só agora foi possível dar a lume graças ao despacho de 18 de Maio do corrente ano, de Sua Excelência o Ministro das Colónias, Sr. Capitão Teófilo Duarte, em que fomos autorizados a publicar os nossos estudos sobre Angola. A Sua Excelência aqui deixamos consignado profundo reconhecimento. As amostras da rocha aqui descrita pertencem a duas ( 1 ) Holmes (a.) A Contribution to the Petrology of North- -Western Angola. «Geological Magazine», n. v, p. 228, May, ( 2 ) Mortelmans (cl) Le Granite de Nóqui et ses Phénomènes de Contact. «Bulletin de la Société Belge de Géologie, de Paléontologie et D Hydrologie», tom. LVII, fasc. 3, p. 513, ( 3 ) Pereira de sousa (f.l) Contribution à l Étude Pétrographique du Nord d Angola. «Compt. Rend. Acad. Sc». Paris, tom. 157, p. 1450, séance du 22 Déc

4 10 colheitas distintas realizadas pelos Eng. os Fernando Mouta e Alambre no mesmo local. Pouco nos podemos informar sobre as condições em que aflora este granito e muito menos das suas relações com outras rochas da região. Apenas a indicação da sua procedência nos foi possível obter com exactidão, tratando-se dum pequeno morro a oeste da estrada que passa pelo posto administrativo da povoação de Cambulo e a curta distância deste. É também do nosso conhecimento que juntamente com este granito afloram rochas metamórficas, algumas das quais granatíferas. Macroscopia Rocha de estrutura granosa, de grão médio, com tendência para fino, e de tom róseo-esverdeado. Notam-se cristais de feldspato avermelhado, mais ou menos idiomórficos, dois minerais ferromagnesianos, um esverdeado e outro negro e brilhante, e pequenos grãos de quartzo. Não se verifica qualquer tendência para uma orientação dos seus constituintes. Microscopia Sob o ponto de vista da textura o granito hiperalcalino de Cambulo caracteriza-se pela tendência dos cristais de feldspato a apresentarem contornos cristalográficos, feição particularmente evidente na amostra mais rica em egirite, em relação à qual esta tendência mais se nota. Separando os cristais micropertíticos uns dos outros, observam-se os restantes componentes, com o predomínio dum agregado granular, em mosaico, dominantemente constituído por quartzo cataclástico, como sucede no granito de Nóqui. Este agregado ora se insinua, exíguamente, entre as plagas dos feldspatos ou dos outros constituintes, ora constitui áreas desenvolvidas, denotando sempre extinções ondulantes pronunciadas e apresentando uma

5 11 ou outra pequena secção de ortose pertítica ou cristal de albite, sobretudo junto dos fenocristais do primeiro, dos quais certamente derivaram por fragmentação. O feldspato essencial desta rocha é uma ortose micropertítica, bastante albitizada. Um ou outro cristal apresenta a geminação de Carlsbad. Algumas das suas fracturas foram alargadas e penetradas pelo agregado granular de quartzo, ao qual se associa também alguma egirite. Todos os cristais de ortose se apresentam salpicados por abundantes inclusões de riebeckite, em que predominam as aciculares, acompanhadas de algumas inclusões de egirite. A distribuição destas inclusões não é arbitrária, notando-se uma orientação predominante que nalgumas pertites é a mesma da lamelação albítica. Observa-se ainda na ortose uma pigmentação ferroginosa castanho-avermelhada, que pode converter-se em pequenas manchas ou marcar algumas fracturas não só da ortose como também doutros minerais nomeadamente da egirite e do quartzo. Dissemos já que a ortose se apresenta contornada por faces cristalográficas, sobretudo na amostra mais rica em egirite, em relação à qual é que a sua idiomorfia mais se manifesta. Porém, constata-se já uma certa irregularidade quando o feldspato contacta com o quartzo, embora seja ainda notória a sua automorfia primitiva. Já na amostra mais rica em riebeckite, e onde os esmagamentos são mais acentuados, certamente devido a estes os contornos da ortose não são tão perfeitos. Nesta última amostra também o quartzo exibe inclusões aciculares que, nalguns casos, parecem irradiar da riebeckite, da qual certamente derivam, as quais denunciam algumas fracturações e encurvamentos. A albite das amostras desta rocha tem um carácter de substituição e encontra-se dum modo geral associada à ortose, substituindo-a, por vezes, quase totalmente, mostrando-se algumas lamelas hemitrópicas terminando bruscamente em cunha noutro indivíduo, um dos aspectos peculiares deste tipo de pseudomorfose. O teor em anor-

6 12 tite da molécula albítica deve ser bastante baixo, a ajuizar pelo valor da extinção, de 17, das lamelas albíticas, obtido em secções da zona simétrica. Constatou-se a natureza positiva do seu sinal óptico e os índices de refracção correspondentes a np e ng mostram-se, relativamente ao bálsamo, respectivamente inferior e igual. Estamos, portanto, em face duma albite pura. O quartzo é de todos os minerais o que mais pronunciadamente acusa as actuações dinâmicas. Faz parte essencial do agregado granular, em mosaico, e os diferentes grãos interferem mútuamente uns nos outros, desenhando contactos suturados, em que as recristalizações estão bem patentes A riebeckite apresenta dimensões muito variáveis, como no granito de Nóqui. A sua percentagem em ambas as amostras do granito de Cambulo varia entre 3 e 13%. O seu hábito cristalográfico é, no geral, bastante irregular, aparecendo, no entanto, algumas secções com contornos correspondentes às faces do prisma e do clinopinacóide. Observa-se também algumas vezes uma tendência fibrosa e outras uma estrutura grosseiramente esponjosa devida à perfuração e descontinuidade de alguns dos seus cristais. A sua associação íntima e assídua com a egirite, em que ambos, por vezes, intercrescem, sugere-nos a procedência da anfíbola da egirite. Esta interdependência genética é melhor constatada na amostra em que a riebeckite predomina. O policroísmo da riebeckite é variável, podendo-se caracterizar por um tom de azul escuro segundo X (aproximadamente c), castanho-amarelado segundo V(aproximadamente e cinzento-escuro segundo Z (aproximadamente b). Em posições intermediárias entre X e Y observam-se também tons violetas. A birrefringência é baixa e o ângulo de extinção A não ultrapassa os 5 o. O plano dos eixos ópticos parece bissectar, como sucede também com a riebeckite dos granitos de Nóqui e de Quincy, o ângulo agudo das clivagens m m', o que seria, portanto, paralelo a (100).

7 M. Montenegro de Andrade Novo Granito Hiperalcalino de Angola Est. I

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9 13 A egirite é, igualmente, de morfologia mui irregular, xenomórfica, mas podem ocorrer alguns pequenos prismas terminando em ângulo obtuso. Observa-se vulgarmente certa descontinuidade no mesmo indivíduo. Algumas secções apresentam os dois sistemas da clivagem prismática, fazendo entre si o ângulo típico das piroxenas. O policroísmo consta de verde erva, segundo X, verde-amarelado segundo Y e verde-amarelado, pálido, segundo Z. O ângulo de extinção que a bissectriz aguda X faz com o eixo c não ultrapassa os 5 o. O zircão mostra se em pequenos cristais xenomórficos ou em agregados de minúsculos grânulos, localizando-se, de preferência, junto da egirite. Embora provenientes do mesmo morro, bastou o simples facto das amostras estudadas pertencerem a duas colheitas diferentes para se constatar uma importante variação nas respectivas composições reais. Chamamos a atenção particularmente para os valores correspondentes à anfíbola e à piroxena, em que se nota uma grande variação relativa, a par duma quase constância na sua soma, fixada entre os limites 20 e 24, entrando também em consideração, a título comparativo, com o «modo» do granito hiperalcalino de Nóqui, calculado por A. Holmes.

10 14 Quimismo No quadro que se segue damos a conhecer a análise química da amostra mais rica em egirite do granito de Cambulo e a título comparativo juntam-se-lhe as três análises do granito de Nóqui. A análise da amostra de Cambulo foi efectuada, a nosso pedido, no Instituto Superior Técnico sob a direcção do Prof. Herculano de Carvalho e por conta dos Serviços de Geologia e Minas de Angola. Comparando as análises químicas dos granitos de Nóqui (análise do Prof. Holmes) e de Cambulo, de que existem também os respectivos modos, observam-se notáveis discrepâncias que não queremos deixar sem uma breve apreciação.

11 15 Para melhor elucidação deste assunto elaborámos o quadro seguinte : As divergências observadas incidem sobre os valores dos compostos de ferro e dos álcalis e são o resultado da desigual percentagem, em ambas as amostras, da riebeckites e da egirite. Com efeito, o granito de Nóqui, sendo o mais rico em riebeckite (16 % do volume total da rocha), é o que apresenta o valor mais elevado de Fe O, o mesmo se notando quanto ao K 2 O, que varia na ordem directa do primeiro óxido. Também o teor de Zr O 2 é mais alto no granito de Nóqui do que no de Cambulo. Uma vez que o zircão existe em proporções aproximadamente iguais

12 16 em ambas as rochas é natural admitir-se na riebeckite o justificativo desta desigualdade. Com o elevado predomínio do Fe 2 O 3 do granito de Cambulo está a percentagem mais alta da-egirite nesta rocha e, inversamente, o baixo teor de Fe e de K 2 O. O reflexo dos valores discrepantes dos óxidos ferroso e férrico no cálculo do modo são também evidentes, conforme pode ver-se no quadro anterior. O cálculo da norma e dos números de Niggli conduziu aos seguintes resultados:

13 17 Os parâmetros de Niggli permitem filiar o quimismo dos dois granitos no tipo de magma evisítico, de quimismo atlântico (Fig. 1). Com especial referência à rocha de Cam-

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15 19 bulo, os números de Niggli condizem mais particularmente com os números do Aegirinriebeckitgranit de Ampasibitika, Madagáscar, um dos diversos exemplos com que Niggli ilustra o referido magma-tipo. RÉSUMÉE Le travail présent offre une description minéralogique, acompagnée d une analyse chimique et des compositions réel et virtuelle, d une nouveau granite hiperalcaline, à aegyrine et riebeckite, dont les échantillons ont été récoltés à Cambulo (Lunda-Angola) par les engénieurs F. Mouta et Alambre. On compare les résultats obtenus à ceux que P. Sousa, A. Holmes et G. Mortelmans ont déterminé pour le granite de NoquL La méthode de Niggli s est montré très utile dans cet étude, donnant une bonne illustration graphique des relations entre les deux granités et le magma evisitique de Niggli. Coimbra, Dezembro, 1949.