Modernidade e modernidade tardia
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- Renato de Almada Lage
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1 Modernidade e modernidade tardia Caroline Kraus Luvizotto SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LUVIZOTTO, CK. As tradições gaúchas e sua racionalização na modernidade tardia [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, p. ISBN Available from SciELO Books < All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.
2 2 Modernidade e modernidade tardia Em Ciência e política: duas vocações, Max Weber (1968) definiu o advento da modernidade como um processo crescente de racionalização intelectualista, que estava ligado intimamente ao desenvolvimento científico. Habermas (1992) comenta Weber no seu texto Modernidade: um projeto inacabado: Max Weber caracterizou a modernidade cultural, mostrando que a razão substancial expressa em imagens de mundo religiosas e metafísicas se divide em três momentos, os quais apenas formalmente ainda podem ser mantidos juntos. Uma vez que as imagens de mundo se desagregam e os problemas legados se cindem entre os pontos de vista específicos da verdade, da justeza normativa, da autenticidade ou do belo, podendo ser tratados, respectivamente como questão de conhecimento, como questão de justiça e como questão de gosto, ocorre nos tempos modernos uma diferenciação de esferas de valor: ciência, moral e arte. (Habermas, 1992, p ) De acordo com Habermas, Weber concebe a modernidade como o próprio mundo racionalizado da economia capitalista, das esferas de valor, do Estado burocrático moderno, da arte, da moral e da ciência. Além disso, esse mundo racionalizado é definido pela
3 54 CAROLINE KRAUS LUVIZOTTO formação de uma estrutura baseada na conduta de vida metódico racional, sendo um fenômeno típico do Ocidente. Consoante a isso, Anthony Giddens aponta que a modernidade refere se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII, e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência (Giddens, 1991, p.11). Nesse processo, além do modo de vida e formas de organização, tem se também a ciência e a técnica transformadas na principal força produtiva no campo do agir, comandado pelo desenvolvimento das forças produtivas. De acordo com Habermas (1990), umas das consequências desse processo é a colonização do mundo da vida pela razão instrumental, uma racionalidade que, embora não definida como instrumental, já no início do século passado foi observada por Max Weber (1983) como a gênese do agir dos indivíduos remetidos ao destino social, ao tributar à razão e liberdade a possibilidade de transformação da sociedade. Pensando nesse contexto, chega se ao mundo objetivo de Habermas (1987, p.30): o mundo apenas cobra objetividade em virtude de ser reconhecido e considerado como único e o mesmo mundo por uma comunidade de sujeitos capazes de linguagem e ação. Isso representa a condição para que os indivíduos possam se entender por meio de uma ação comunicativa intersubjetiva, refletindo sobre o que acontece no mundo ou o que há de acontecer no mundo. Baseado nesse conceito de mundo objetivo, Boaventura de Sousa Santos (1997) acredita que os diferentes atores agem na sociedade moderna conforme o sentido dos dois pilares da racionalidade presentes no projeto sociocultural da modernidade: um deles é o da emancipação, e o outro, o da regulação. O projeto de modernidade de Habermas Habermas ressalta o que ele chama de projeto da modernidade e que tem sido discutido nos dias de hoje. Segundo Harvey, mesmo
4 AS TRADIÇÕES GAÚCHAS E SUA RACIONALIZAÇÃO 55 sendo o termo moderno utilizado há tempos, o que Habermas chama de projeto da modernidade começou a vigorar durante o século XVIII. Para Harvey, esse projeto corresponde a um grande esforço intelectual dos pensadores iluministas para desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a lei universais, a arte autônoma nos termos da própria lógica interna destas, objetivando a emancipação humana a partir do acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas trabalhando livre e criativamente (Harvey, 1992, p.23). Ao refletir a respeito da origem da modernidade, Habermas a associa ao surgimento de uma consciência temporal que confronta o moderno ao antigo e cria uma concepção histórica processual da vida, cujo horizonte é um futuro que não pode ser previsto. Para o autor, a modernidade é um projeto inacabado, no qual se deve aprender com os desacertos que acompanham o projeto (Habermas, 1992). A teoria da modernidade de Habermas integra a teoria da ação comunicativa. Essa teoria procura explicar a origem da moderna sociedade ocidental, diagnosticar seus problemas e propor correção. Para tal, baseia se em um conceito de sociedade que associa a perspectiva subjetiva do mundo vivido à perspectiva objetiva e do resgate de um conceito de racionalidade. Pode se assim entender a modernidade como o fracionamento dos modelos estabelecidos no passado, construídos em unidades fechadas e que agora se abrem direcionadas ao desconhecido. Pode ser encarada como a emancipação da razão ou a forma de (re)inventar novos caminhos de pensamento que deem conta dos novos questionamentos. São as novas leituras de mundo. Diante das inúmeras forças de desintegração que estão dentro e fora das sociedades nacionais, ressalta se o fato de que todas as sociedades estão inseridas em uma comunidade de riscos partilhados percebidos como desafios para a ação política cooperativa (Habermas, 1995). Os indivíduos só poderão conter o avanço desses riscos se estiverem munidos de uma formação discursiva da opinião e da vontade, objetivando a racionalização do mundo da vida. Nesse contexto, a racionalidade é encarada como uma força produtiva importante para os desafios da modernização reflexiva (Habermas, 2001).
5 56 CAROLINE KRAUS LUVIZOTTO Em relação à imprevisibilidade, sabe se que o mundo de hoje é tão previsível quanto era antes. Entretanto, atualmente, ocorrem situações de risco que as gerações passadas não tiveram que enfrentar. A ciência e a tecnologia são as responsáveis pelo surgimento desses novos riscos, que incluem desde os nossos corpos até as grandes mudanças na estrutura da sociedade. Sendo assim, não há como escapar da imprevisibilidade que integra o mundo em que vivemos. Essa imprevisibilidade é estrutural também no sentido de que um retorno ao passado não é concebível. A solução para esse impasse é encontrar um novo tipo de equilíbrio entre o risco e a segurança. Uma consequência da incerteza, da imprevisibilidade, é a individualização, que passa a ser sofrida pelas pessoas que se encontram cada vez mais longe das instituições que davam segurança à sociedade industrial, como a família. Esse processo de individualização obriga as pessoas a tomar decisões cotidianas que implicam risco pessoal e faz surgir uma infinidade de opiniões sobre os mais variados assuntos, tornando a sociedade de risco uma sociedade autocrítica. Esse contexto, segundo Beck, deu origem à modernização reflexiva, um processo contínuo, imperceptível, quase autônomo de mudança que atinge as bases da sociedade industrial. A modernização reflexiva ou modernidade tardia de Ulrich Beck e Anthony Giddens Conjugando o pensamento de Habermas e concebendo as sociedades modernas num estado de alta ou radicalizada modernidade que apresenta como característica dominante um elevado grau de reflexividade, Beck prefere a expressão modernidade reflexiva, pois acredita que a modernização reflexiva possibilita o entendimento e a criação de interpretações que possam responder às descontinuidades da modernidade, geradas a partir das mudanças da vida moderna. O autor acredita que esse processo favorece o potencial destrutivo envolvido na relação dos homens com a natureza
6 AS TRADIÇÕES GAÚCHAS E SUA RACIONALIZAÇÃO 57 e dos homens entre si, aumentando o nível de perigo vivenciado na vida coletiva. De acordo com Beck (1997), a sociedade passa a ser reflexiva quando se torna um tema e um problema para si própria. As so ciedades reflexivas precisam encontrar soluções por si para os problemas criados sistematicamente pela modernização social, principalmente no âmbito político. Uma sociedade dotada de reflexividade é marcada pela redescoberta e pela dissolução da tradição, bem como pela destruição daquilo que sempre pareceu ser uma tendência estabelecida. Isto não significa que o mundo se torne imune às tentativas humanas de controle. Essas tentativas de controle, principalmente no que diz respeito aos riscos de grandes consequências, permanecem necessárias. Entretanto, é necessário reconhecer que essas tentativas estarão sujeitas a muitas rupturas. Pode se assim abordar a questão do risco. Segundo Beck, Qualquer um que conceba a modernização como um processo de inovação autônoma deve contar até mesmo com a obsolescência da sociedade industrial. O outro lado dessa obsolescência é a emergência da sociedade de risco. Este conceito designa uma fase no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituições para o controle e a proteção da sociedade industrial. (Beck, 1997, p.15) Beck completa esse pensamento afirmando que a sociedade de risco não é uma opção a ser escolhida ou rejeitada no calor das lutas políticas. Ela surge no decorrer dos processos de modernização autônoma que produzem ameaças que questionam e destroem as bases da sociedade industrial. Habermas (1990) acredita que a reflexividade criada pela coletividade deve ser uma reflexividade substancialmente política e deve estar fundamentada num modelo ético universalista. Para Beck (1997),
7 58 CAROLINE KRAUS LUVIZOTTO O conceito de política na modernidade simples é baseado em um sistema de eixos, em que uma coordenada passa entre os polos da esquerda e da direita e a outra, entre o público e o privado. Nesse caso tornar se político significa deixar a esfera privada e caminhar em direção à esfera pública, ou, ao contrário, permitir que as exigências dos partidos, da política partidária ou do governo proliferem em todos os nichos da vida privada. Se o cidadão não vai para a política, a política vem para o cidadão. (Beck, 1997, p.60) Na visão de Beck, a modernização reflexiva necessita de uma reforma da racionalidade, uma vez que a racionalidade da ciência e seus padrões e métodos explicativos não são capazes de controlar o fluxo contínuo de novas ameaças e riscos vivenciados nas sociedades atuais. Por consequência, o autor acredita que a racionalidade científica deve ser substituída por uma ética reflexiva, que se baseie na evidência de que o microcosmo da conduta da vida pessoal está inter relacionado com o macrocosmo dos problemas globais, terrivelmente insolúveis (Beck, 1997, p.61). Ainda, as sociedades modernas encontram se em um momento em que são obrigadas a refletir sobre si e, ao mesmo tempo, desenvolvem a capacidade de refletir retrospectivamente sobre si; isso caracteriza a chamada modernização reflexiva ou a modernidade tardia para Giddens (1997). Nesse contexto, na busca dos indivíduos por fontes de segurança, o conhecimento científico vem substituindo a tradição. O mecanismo que enfrenta a insegurança produzida pelas transformações sociais e a ruptura das estruturas tradicionais é a absorção de sistemas abstratos de conhecimentos, que são teorias, conceitos e descobertas, e, segundo Giddens, em todas as sociedades, a manutenção da identidade pessoal, e sua conexão com identidades sociais mais amplas, é um requisito primordial de segurança ontológica 1 (Giddens, 1997, p.100). 1. Giddens refere se a segurança ontológica como um sentido de ordem e continuidade a respeito das experiências do indivíduo. Argumenta que isto é dependente
8 AS TRADIÇÕES GAÚCHAS E SUA RACIONALIZAÇÃO 59 O autor observa que vivemos uma época na qual estão presentes de modo muito marcante a desorientação e a sensação de que não compreendemos completamente os eventos sociais e que, por isso, perdemos o controle. Entre as mudanças trazidas pela modernidade, evidencia se a transformação das relações sociais e também a percepção dos indivíduos e coletividades sobre os perigos e riscos do viver, bem como sobre a segurança e a confiança: A modernidade, pode se dizer, rompe o referencial protetor da pequena comunidade e da tradição, substituindo as por organizações muito maiores e impessoais. O indivíduo se sente privado e só num mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido de segurança oferecidos em ambientes mais tradicionais. (Giddens, 2002, p.38) A modernidade tardia indica uma mudança no modo de vivenciar as relações, a partir da identificação da razão como o elemento ordenador que produz confiança e elimina ou minimiza os riscos. Ao indivíduo moderno, cabe confrontar seus exageros, assumir se como objeto de reflexão e exercer uma crítica racional sobre o próprio sistema, tornando se um tema e um problema para si. Esse indivíduo reflete sobre o mundo em que vive e exerce uma análise racional das consequências de fatos passados, as condições atuais e a probabilidade de perigos futuros, procurando, assim, minimizar os perigos à medida que esse futuro vai se tornando presente. Para alcançar a segurança ontológica, a modernidade teve que (re)inventar tradições e se afastar de tradições genuínas, isto é, aqueles valores radicalmente vinculados ao passado pré moderno. Este é um caráter de descontinuidade da modernidade, a separação entre o que se apresenta como o novo e o que persiste como herança do velho. da habilidade da pessoa de dar sentido a sua vida. O significado que é achado em experimentar emoções estáveis positivas e por evitar o caos e a ansiedade.
9 60 CAROLINE KRAUS LUVIZOTTO Esse caráter de descontinuidade, percebido sobretudo entre as ordens sociais tradicionais e as instituições sociais modernas, tem como principais características o ritmo da mudança que a modernidade coloca em movimento e o escopo dessa mudança, isto é, a sua abrangência global e a natureza das instituições modernas. Giddens (1991) afirma que uma importante característica da mo dernidade tardia é o seu dinamismo, derivado de três fontes do minantes: a separação entre tempo e espaço, o desenvolvimento de mecanismos de desencaixe e a apropriação reflexiva do conhecimento. No que concerne à separação entre tempo e espaço, pode se dizer que ela provoca as relações entre indivíduos, grupos ou instituições ausentes, em que os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles (Giddens, 1991, p.22). A separação entre tempo e espaço é a principal condição para o processo de desencaixe das instituições sociais e desencaixe para ele é o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo espaço (Giddens, 1991, p.24). O autor distingue dois tipos de mecanismos de desencaixe ligados ao desenvolvimento das instituições sociais modernas: as fichas simbólicas e os sistemas peritos. Por fichas simbólicas quero significar meios de intercâmbio que podem ser circulados sem ter em vista as características específicas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular. Vários tipos de fichas simbólicas podem ser distinguidos, tais como os meios de legitimação política; devo me concentrar aqui na ficha do dinheiro. (Giddens, 1991, p.25) Os sistemas peritos estão presentes em todos os aspectos da vida social nas condições de modernidade e, segundo o autor, são mecanismos de desencaixe porque:
10 AS TRADIÇÕES GAÚCHAS E SUA RACIONALIZAÇÃO 61 Os sistemas peritos são mecanismos de desencaixe porque, em comum com as fichas simbólicas, eles removem as relações so ciais das imediações do contexto. Ambos os tipos de mecanismo de desencaixe pressupõem, embora também promovam, a separação entre tempo e espaço como condição do distanciamento tempo espaço que eles realizam. Um sistema perito desencaixa da mesma forma que uma ficha simbólica, fornecendo garantias de expectativas através de tempo espaço distanciados. Este alongamento de sistemas sociais é conseguido por meio da natureza impessoal de testes aplicados para avaliar o conhecimento técnico e pela crítica pública (sobre a qual se baseia a produção do conhecimento técnico), usado para controlar sua forma. (Giddens, 1991, p.31) A terceira fonte dominante que atribui à modernidade um caráter de dinamismo é a apropriação reflexiva do conhecimento. Segundo Giddens (1991, p.51), a produção de conhecimento sistemático sobre a vida social torna se integrante da reprodução do sistema, deslocando a vida social da fixidez da tradição. Pensando em conjunto essas três características, o autor resume: Tomadas em conjunto, estas três características das instituições modernas ajudam a explicar por que viver no mundo moderno é mais semelhante a estar a bordo de um carro de Jagrená 2 em disparada [...] do que estar num automóvel a motor cuidadosamente controlado e bem dirigido. A apropriação reflexiva do conhecimento, que é intrinsecamente energizante mas também necessariamente instável, se amplia para incorporar grandes extensões de tempo espaço. Os mecanismos de desencaixe fornecem os meios desta extensão retirando as relações sociais de sua situacionalidade em locais específicos. (Giddens, 1991, p.51 2) 2. Segundo Giddens (1991, p.118), o termo vem do hindu Jagannalh, senhor do mundo, e é um título de Krishna; um ídolo desta deidade era levado anualmente pelas ruas num grande carro, sob cuja rodas, conta se, atiravam se seus seguidores para serem esmagados.
11 62 CAROLINE KRAUS LUVIZOTTO Posto isso e direcionando o foco para o indivíduo no cenário da modernidade, faz se necessário tecer considerações sobre a questão da identidade. De acordo com Giddens (2002), nas sociedades tradicionais, é a tradição, o parentesco e a localidade que limitam a identidade social dos indivíduos. Na sociedade moderna, caracterizada como uma ordem pós tradicional, que rompe com as práticas e preceitos preestabelecidos, pode se identificar a ênfase ao cultivo das potencialidades individuais, possibilitando ao indivíduo uma identidade móvel, mutável. Nesse sentido, segundo Dias (2005, p.87), na modernidade, o eu torna se, cada vez mais, um projeto re flexivo, pois aonde não existe mais a referência da tradição, descortina se, para o indivíduo, um mundo de diversidade, de possibilidades abertas, de escolhas. O indivíduo passa a ser responsável por si mesmo e o planejamento estratégico da vida assume especial importância. Sem dúvida, uma grande característica desse projeto reflexivo é estar relacionado a um mundo cada vez mais constituído de informação e procurar negar modos preestabelecidos de conduta, conduzindo o indivíduo a realizar escolhas sucessivas, permitindo que este componha a sua narrativa de identidade, sempre aberta a revisões. Para Giddens (1991, p.39), a reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter. Em relação ao caráter de reflexividade da modernidade tardia, Dias (2005, p.87) afirma: Nas condições da alta modernidade, sensações de inquietude e ansiedade podem se infiltrar na experiência cotidiana dos indivíduos, pois a narrativa da autoidentidade torna se inerentemente frágil diante das intensas e extensas mudanças que a modernização pro
12 AS TRADIÇÕES GAÚCHAS E SUA RACIONALIZAÇÃO 63 voca. Entretanto, ainda que a modernidade seja inerentemente suscetível à crise, favorece, por outro lado, a apropriação de novas possibilidades de ação ao indivíduo, oferecendo oportunidades de revisão de hábitos e costumes tipicamente tradicionais. Giddens (2002) considera a reflexividade da modernidade uma das maiores influências sobre o dinamismo das instituições modernas. É essa reflexividade que permite compreender de que forma a modernidade altera a natureza da vida social cotidiana. É por essa razão que, nesta pesquisa, a modernidade tardia é o pano de fundo para as relações sociais vivenciadas no CTG e para a manifestação de tradições culturais nesse cenário. Isto posto, podem se apresentar as considerações concernentes às tradições.
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