Andrade, M. Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos.

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1 Sobre o ouro das rochas graníticas de Angola Autor(es): Publicado por: URL persistente: Andrade, M. Montenegro de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Geológicos Accessed : 24-Jul :01:31 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt

2 PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA N. 31 Memórias e Notícias SUMÁRIO J. M. Cotelo Neiva Minérios de ferro portugueses. M. Montenegro de Andrade Sobre o ouro das rochas graníticas de Angola. G. Henriques da Silva Formações detríticas dos arredores de Aveiro. G. Soares de Carvalho Os depósitos detríticos e a morfologia da região de Aveiro. A. Barata Pereira Temperatura do terreno. 1951

3 Sobre o ouro das rochas graníticas de Angola por M. Montenegro de Andrade Assistente da Universidade de Coimbra Na primeira notícia que redigimos sobre a ocorrência de ouro nativo em algumas rochas de Angola ( 1 ), entre as quais figurava um granito, cujo estudo permenorizado foi pouco depois publicado ( 2 ), admitimos a hipótese do ouro vir a ser encontrado em amostras de granitos de outras regiões, baseando-nos em considerações de natureza mineralógica e química. Grande foi, portanto, a satisfação que sentimos quando, pouco depois, vimos confirmadas as nossas previsões em amostras de rochas graníticas de regiões muito afastadas umas das outras. Presentemente a percentagem das lâminas com mineralização aurífera é de 9% do total das estudadas, resultado sem dúvida surpreendente se atentarmos na escas- ( 1 ) M. Montenegro de Andrade Algumas rochas auríferas de Angola. «Bol. do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Lisboa», n. 17, ( 2 ) M. Montenegro de Andrade e J. Brak-Lamy Vm granito aurífero do Lépi {Angola). «Bol. do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Lisboa», n

4 17 sez de dados sobre o assunto e na fraca probabilidade que uma lâmina delgada nos ofereceria se a disseminação do ouro não fosse tão geral como somos levados a supô-la. As condições em que o minério ocorre lembram as inclusões líquidas do quartzo, encontrando-se em pequenas partículas geralmente alinhadas, formando vénulas que atravessam os minerais da rocha e localizando-se de preferência nos sálicos, sendo geralmente interrompidos pelos componentes fémicos, principalmente biotite e minérios negros de ferro. Lacroix cita idêntica disseminação aurífera em rochas metamórficas do «Complexo Cristalofilino» de Madagáscar ( 1 ) «à l état d extreme dilution», facto também constatado por nós, como já tivemos ocasião de referir, em rochas metamórficas do «Complexo» de Angola. As conclusões de Lacroix sobre a origem do ouro das rochas metamórficas e, dum modo geral, do que tem sido explorado naquela ilha, são que «son origine primaire doit être cherchée dans le magma granitique» como igualmente sucede no território de Angola, onde se comprova de maneira irrefutável tal dependência, dada a ocorrência do ouro nas próprias rochas graníticas. Deve-se acentuar que o grande sábio francês escreveu que «les gisements d or dans les roches granitiques sont peu nombreux». Certo é que, de facto, nenhum caso de ouro macroscopicamente visível foi até agora encontrado por nós nas rochas graníticas de Angola, mas uma ampliação conveniente bastou para o reconhecermos, tendo sido confirmada a sua natureza não só òpticamente como (1) A. Lacroix Minéralogie de Madagascar. Tome II.

5 18 também por ensaios microquímicos e com microscópio metalográfico ( 1 ). O que se passa era Angola a respeito do ouro podia ter sido suspeitado era face do que se passa nos territórios vizinhos da África do Sul, da Rodésia e no próprio Brasil. Com efeito, quer nos territórios africanos quer além Atlântico as principais mineralizações auríferas dependem directa ou indirectamente dos granitos intrusivos nos «Complexos Cristalofilinos» das referidas regiões. Bastaria, portanto, assegurar a correspondência das formações graníticas angolanas com as suas congéneres daqueles territórios e logo ficaríamos em posição de extrapolarmos conclusões com grande probabilidade de sairem certas. Vejamos pois o que a respeito daqueles territórios nos interessa invocar sobre este assunto: Escreveu Du Toit ( 2 ), por exemplo, a propósito do ouro da África do Sul:...«the bulk of the ore-deposits of South-Africa are genetically connected with the Old granites, ocurring either as lodes within the latter or more commonly as veins and replacements within the Primitiv Systems into wich these rocks are intrusive. Indeed, pratically all the gold produced outside the Witwatersrand has had such origin». A confirmar-se a «placer theory» sobre o ouro do «Witwatersrand System», então a primitiva origem dele ( 1 ) Agradecemos ao Prof. Cotelo Neiva ter examinado algumas superfícies pulidas e confirmado a presença do ouro. ( 2 ) A. L. Du Toit Gcology of South Africa. 2. a edição, 1939.

6 19 estará também dependente dos mesmos granitos, o que generaliza ainda mais a questão. É ainda Du Toit quem, a propósito do que se passa na Rodésia, escreveu o seguinte: «The detailed study of the various kinds of gold-bearing reefs in Rhodesia, for example, is serving to indicate more and more the dependency of mineralisation at this remote epoch upon igneous intrusion mainly of granite, quartz-porphyry and felsite». Por sua vez, Djalma Guimarães (1) escreveu sobre o Brasil: «Do ponto de vista da geologia económica do ouro as formações mais importantes do Brasil são as pre-cambrianas (cryptozoicas)», designadas geralmente sob a rubrica do «Complexo Cristalino Brasileiro». Em relação a Angola podemos escrever, igualmente, que o ouro depende não apenas das formações do «Complexo», as quais foram mineralizadas pelo granito, mas, em última análise, do próprio granito, que desempenha importante papel na constituição geológica deste vasto território português. Embora referindo-nos já por diversas vezes às «rochas graníticas» de Angola, não especificamos ainda os tipos litológicos que delas fazem parte, o que julgamos vir neste momento muito a propósito depois de invocadas as conclusões sobre o ouro que acabamos de transcrever. (1) Djalma Guimarães Contribuição à Metallogénese do Massiço Brasileiro. «Boletim do Serviço de Fomento da Produção Mineral». n. 16, 1937.

7 20 Os «Old granites and gneisses» da África do Sul, cuja rubrica Du Toit torna extensiva ao território da Rodésia, de Moçambique ( 1 ), e às formações granito-gneissicas do sudoeste de Angola, não são apenas granitos no sentido restrito do termo mas principalmente granodioritos e quartzodioritos, caracterizados pela ausência de qualquer horneblenda, salvo algumas excepções explicadas por fenómenos de assimilação. Também das formações graníticas de Angola fazem parte não só granitos, de que os monzonitos são a grande maioria, mas também termos granodioríticos e quartzodioríticos. Em relação com o caso do ouro basta dizer que metade das lâminas auríferas são de quartzodioritos, ou melhor, de tonalitos, dado que o elemento fémico por excelência é a biotite. Mas parecem ser mais estreitas as afinidades entre as rochas graníticas de Angola e as da Rodésia, cujas biotites apresentam policroísmo em tons castanho-esverdeados, ao contrário da biotite dos «Old granites» da África do Sul que se revela policróica em tons castanhos. Apesar da escassez dos dados químicos que possuimos sobre as rochas graníticas de Angola, confirma-se tal tendência em face dos valores de Niggli tomados em relação a si. Com respeito aos granitos e gneisses do «Complexo» brasileiro bastará dizer, para não nos alongarmos em considerações que atrazariam o propósito com que escrevemos estas linhas, que as descrições dadas por Djalma Guimarães destas rochas podem aplicar-se por vezes quase textualmente às de Angola, mesmo em certos pormenores, permitindo assim tornar extensivas a um e (1) As conclusões a que chegamos a respeito de Angola devem ser extensivas ao «Complexo granito-gneissico» de Moçambique.

8 21 outro lado do Atlântico as linhas gerais do processo que presidiu aos fenómenos de granitização. Levados pelas informações que lemos sobre a afinidade entre «Old granites» da África do Sul e os felsitos quártzicos que ocorrem no granito da região entre Joanesburgo e Pretória, e também pela passagem «igneous intrusion mainly of granite, quartz-porphyr and felsite» (o sublinhado é nosso) das conclusões de Du Toit sobre a Rodésia, já atrás transcritas, lembramo-nos de antecipar o estudo das rochas da grande mancha vulcânica de Cassinga, que a Carta Geológica de Angola, de 1933, da autoria de F. Mouta e H. O Donnell, subordina à rubrica «Granites, porphyres, porphyrites» e cuja região, como se sabe, é aurífera. O resultado excedeu as espectativas mais optimistas. Não só encontramos o ouro que procurávamos, e nas mesmas condições de ocorrência em que nos aparece nos granitos, como nos permite emitir a hipótese da mancha de Cassinga estar genèticamente relacionada com os granitos. Na verdade, as amostras mais auríferas apresentam a mesma composição mineralógica com, por vezes, aspectos texturais idênticos das formações graníticas, chegando-se ao ponto de certas particularidades, como por exemplo a presença da fluorite, se encontrarem nas rochas das duas formações. Quanto à fluorite deve notar-se que este mineral aparece também nos «Old granites» da África do Sul e nos felsitos da região entre Joanesburgo e Pretória, sendo a sua presença, nestas rochas, uma das razões alegadas em prol da sua comunidade genética.

9 22 Com respeito à mancha de Cassinga é, portanto, muito natural que, durante o largo período em que se deu a intrusão e solidificação do magma granítico, porções ainda líquidas deste magma fossem injectadas através de fracturas, originando os pórfiros e as extrusões de felsitos ao mesmo tempo que diques de granito mais moderno se teriam formado bem como filões mineralizados de quartzo, os quais são vulgares nesta região. As mesmas causas que motivaram a mineralização do granito teriam mineralizado também os seus equivalentes hipabissais e vulcânicos, e devem estar dependentes dos últimos estádios da evolução que, a longo prazo, originou as formações granito-granodiorito-quartzodioríticas e a mancha de pórfiros, felsitos e riolitos, etc. (1) da região de Cassinga. Não daremos por terminadas estas linhas sem fazermos algumas considerações sobre o aspecto económico do problema relacionado com a presença do ouro nas rochas de Angola que acabámos de citar. Até agora, nesta província portuguesa, o ouro nativo tem sido o único minério de ouro explorado, e a sua (1) O estudo petrográfico detalhado desta formação aguarda ocasião de ser publicado em trabalho que tencionamos apresentar, brevemente, sobre as rochas ígneas de Angola, onde desenvolveremos também o assunto exposto na presente notícia.

10 23 produção tem estado Pràticamente dependente de aluviões ou eluviões, cujo ouro provém da desagregação das «rochas graníticas» ou metamórficas mineralizadas pelo magma granítico. Dado o carácter pouco extenso, sujeito a rápido esgotamento, destas formações detríticas, não têm sido possíveis instalações mecanizadas em grande escala e, por isso, só uma exploração reduzida, digamos individual, tem sido realizada, da qual tem dependido a produção aurífera de Angola. Como os jazigos «in situ» são os mais importantes, necessário será, portanto, proceder-se ao seu estudo, com vista às suas possibilidades económicas, e, neste sentido, já são encorajadores alguns teores conseguidos em diversas amostras da grande mancha de Cassinga, aguardando-se do prosseguimento destes estudos mais elementos para a resolução do problema que acabamos de esboçar nestas poucas linhas. SUMMARY Gold in granitic rocks of Angola Gold occurs in dots lined along small veins which cross salic minerals and, sometimes, the femics of rocks; this suggests that some substitution occurs. Granites, granodioritos, and tonalites, the latter existing in larger quantities, all come under the heading of granitic rocks. Gold also occurs in porphyrite rocks of the great Cassing outcrop in the same conditions, and the great majority of the gold samples are mineralogically referable to those rocks. Some samples have shown contents of gold which are acceptable under an economical point of view.