A DIVERSIDADE DE MORCEGOS CONHECIDA PARA O CERRADO. Palavras-Chave: distribuição geográfica, morcegos, biodiversidade, conservação

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1 A DIVERSIDADE DE MORCEGOS CONHECIDA PARA O CERRADO Ludmilla Moura de Souza Aguiar 1, Marlon Zortéa 2 (Laboratório de Ecologia de Vertebrados, Núcleo de Recursos Naturais, Embrapa Cerrados - BR 020 km 18, Cx. P CEP , Planaltina, DF, ludmilla@cpac.embrapa.br 1, Universidade Federal de Goiás, Campus Avançado de Jataí 2 ) Palavras-Chave: distribuição geográfica, morcegos, biodiversidade, conservação Introdução Morcegos compõem o segundo mais numeroso grupo de mamíferos na Região Neotropical. No entanto, poucos são os trabalhos publicados com esse grupo no Cerrado e esses tratam da polinização (Gribel & Hay 1993); dispersão de sementes (Bizerril & Raw 1997, 1998); sistemática e descrição de espécie nova para a ciência ou para o bioma (Bezerra et al. 2005), levantamento de espécies em cavernas (Bredt et al. 1999), listas de observações pontuais de espécies (Gargaglioni et al. 1998), lista para o bioma (Marinho-Filho et al. 2002). Dados de reprodução são encontrados nos trabalhos de Baumgarten & Vieira (1994) e Zortéa (2003). Estudo com parasitas de morcegos em Graciolli & Aguiar (2002). O objetivo desse trabalho é atualizar a distribuição das espécies de morcegos para a região do Cerrado brasileiro. Material e Métodos Foi elaborado, com dados levantados na literatura, dissertações, relatórios técnicos, teses e museus, nos últimos anos, um banco de dados com 6000 entradas sendo 685 para morcegos no Cerrado. Os estudos identificados mostram uma grande variação no número de espécies coletadas e no tipo de hábitat amostrado. A nomenclatura das espécies está de acordo com Gardner (2008) e as fitofisionomias estão denominadas de acordo com Ribeiro & Walter (1998). Resultados e Discussão No total foram levantadas 103 espécies de morcegos pertencentes a nove famílias (Tabela 1). As espécies mais comuns nesses estudos foram Desmodus rotundus, Glossophaga soricina, Carollia perspicillata, Phyllostomus hastatus, Artibeus lituratus, Platyrrhinus lineatus, Sturnira lilium e Anoura caudifer em ordem decrescente de ocorrência. As ocorrências mais raras foram citadas por apenas um autor, ou descritas e coletadas em áreas de transição.

2 Tabela 1. Lista de espécies de morcegos do Cerrado, com dados de medida de antebraço (AB) e hábito conhecido (H). Famílias Espécies Antebraço Hábito Emballonuridae Centronycteris maximiliani IA Peropteryx kappleri IA Peropteryx leucoptera IA Peropteryx macrotis IA Rhynchonycteris naso IA Saccopteryx bilineata IA Saccopteryx canescens IA Saccopteryx leptura IA Phyllostomidae Desmodus rotundus H Diaemus youngi H Diphylla ecaudata H Anoura caudifer N, I Anoura geoffroyi N, I Choeroniscus minor N, I Glossophaga soricina N, I, F Lionycteris spurrelli N Lonchophylla bokermanni N Lonchophylla dekeyseri N, I, F Lonchophylla mordax N Xeronycteris vieirai N Chrotopterus auritus C Glyphonycteris behnii IC Lampronycteris brachyotis IC Lonchorhina aurita IC Lophostoma brasiliense IC Lophostoma carrikeri 48 IC Lophostoma silvicolum IC Macrophyllum macrophyllum IC Micronycteris megalotis IC Micronycteris minuta IC Micronycteris sanborni IC Mimon bennettii 54 IC Mimon crenulatum IC Phylloderma stenops IC Phyllostomus discolor IC Phyllostomus elongatus GI Phyllostomus hastatus GI Tonatia bidens GI Tonatia saurophila GI Trachops cirrhosus GI Vampyrum spectrum C Carollia perspicillata F Rhinophylla pumilio F Sturnira lilium F Artibeus anderseni F Artibeus cinereus F

3 Artibeus concolor F Artibeus gnomus F Artibeus planirostris F Artibeus lituratus F Artibeus obscurus F Chiroderma doriae F Chiroderma villosum F Mesophylla macconnelli F Platyrrhinus helleri F Platyrrhinus lineatus F Pygoderma bilabiatum F Uroderma bilobatum F Uroderma magnirostrum F Vampyressa pusilla F Mormoopidae Pteronotus davyi IA Pteronotus gymnonotus IA Pteronotus parnelli IA Pteronotus personatus IA Noctilionidae Noctilio albiventris IC Noctilio leporinus PI Furipteridae Furipterus horrens IC Thyropteridae Thyroptera devivoi IC Thyroptera discifera IC Natalidae Natalus stramineus IC Molossidae Cynomops abrasus IA Cynomops greenhalli IA Cynomops planirostris IA Eumops auripendulus IA Eumops bonariensis IA Eumops dabbenei Eumops glaucinus IA Eumops hansae IA Eumops maurus IA Eumops perotis IA Molossops mattogrossensis IA Molossops temminckii IA Molossus coibensis IA Molossus molossus IA Molossus pretiosus IA Molossus rufus IA Nyctinomops laticaudatus IA Nyctinomops macrotis IA Promops nasutus IA Tadarida brasiliensis IA Vespertilionidae Eptesicus brasiliensis IC Eptesicus diminutus IC Eptesicus furinalis IC Lasiurus blossevilli IC

4 Lasiurus cinereus IC Lasiurus ega IC Lasiurus egregius IC Roghessa io IC Histiotus velatus 46 IC Myotis albescens IC Myotis keaysi IC Myotis nigricans IC Myotis riparius IC Grandes lacunas de conhecimento existem na porção norte do Cerrado, nos estados de Tocantins, sul do Maranhão e Piauí e oeste da Bahia. Outra grande lacuna existe no Mato Grosso, Rondônia e noroeste de Minas Gerais. Estudos com os morcegos no Cerrado são bastante escassos e mal distribuídos ao longo do bioma, o que impede a realização de análises mais aprofundadas. As espécies recentemente descritas para a área de transição entre caatinga/cerrado (Xilonycteris vierai) e para cerrados incrustados na caatinga (Micronycteris sanborni) evidenciam a necessidade de maiores estudos com o grupo nessa região. Conclusão O inventário da biodiversidade do Cerrado e a análise de seus padrões de distribuição correspondem são essenciais para a definição de linhas de ação e prioridades de conservação das áreas remanescentes. Mesmo sendo considerados animais de amplas distribuições, associadas a sua grande capacidade de deslocamento, o que resulta em níveis relativamente baixos de endemismo, o Cerrado abriga duas espécies endêmicas, Lonchophylla dekeyseri e Gliphonycteris behnii e outras endêmicas ao país: Lonchophylla bokermanni, Xilonycteris vierai, e Micronycteris sanborni, que foram descritas recentemente. Algumas já são consideradas como ameaçadas de extinção pela IUCN (2007), e pela lista oficial de espécies brasileiras ameaçadas de extinção. Considerando que o país é minimamente inventariado para morcegos, esses endemismos podem ser efeito da falta de dados, ou realmente existir um número de formas características do corredor chaco - cerrado caatinga. Se considerarmos que 55% da área do bioma Cerrado já foram convertidos em pastagens cultivadas e lavouras diversas (Machado 2004), cidadãos, tomadores de decisões e governantes devem cada vez mais prover uma atenção especial à proteção do patrimônio biológico ainda representado no Cerrado, mesmo ainda pouco conhecido.

5 Referências bibliográficas BAUMGARTEN, J.E.; VIEIRA, E.M. (1994) Reproductive seasonality and development of Anoura geoffroyi (Chiroptera: Phyllostomidae) in central Brazil. Mammalia, v. 58, p , 1994 BEZERRA, A. M. R.; TAVARES, F. E.; MARINHO-FILHO, J. First record of Thyroptera discifera (Chiroptera: Thyropteridae) in the cerrado of central Brazil. Acta Chiropterologica, Polonia, no prelo, BIZERRIL, M.X.A.; RAW, A. Feeding specialization of two species of bats and the fruit quality of Piper arboreum in a Central Brazilian gallery forest. Revista de Biologia Tropical, v. 45, p , BREDT, A., UIEDA, W.; MAGALHÃES, E.D. Morcegos cavernícolas da região do Distrito Federal, centro-oeste do Brasil (Mammalia, Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia, v. 16, p , GARGAGLIONI, L.H.; BATALHÃO, M.E.; LAPENTA, M.J.; CARVALHO, M.F.; ROSSI, R.V.; VERULI, V.P. Mamíferos da Estação Ecológica de Jataí, Luiz Antônio, São Paulo. Papéis Avulsos de Zoologia, v. 40, p , GRACIOLLI, G. & AGUIAR L. M. S. Ocorrência de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera) no Cerrado de Brasília, Distrito Federal, Brasil v. 19, n. 1, p , GRIBEL, R.; HAY, J.D. Pollination ecology of Caryocar brasiliense (Caryocaraceae) in central Brazil Cerrado vegetation. Journal of Tropical Ecology, v. 9, p ,1993. IUCN Red List of Threatened Species. GARDNER, A.L. Mammals of South America: Marsupials, Xenarthrans, Shrews and Bats. The University of Chicago Press, Chicago & London MACHADO R. B.; M.B.R. NETO; P.G.P. PEREIRA; E.F. CALDAS; D.A. GONÇALVES; N.S. SANTOS; K. TABOR; M. STEININGER. Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro. Relatório técnico não publicado. Brasília: Conservação Internacional. 10p Estimativas de perda da área do Cerrado Brasileiro. Relatório Técnico não publicado. Conservação Internacional, Brasília, DF. 26 p

6 MARINHO FILHO, J.; RODRIGUES, F. H. G.; JUAREZ, K. M. The Cerrado mammals: diversity, ecology and natural history. In: OLIVEIRA, P. S.; MARQUIS, R. J. The Cerrados of Brazil: Ecology and Natural History of a Neotropical Savanna. New York. p , RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In Sano, S. M.; Almeida, S. P. Cerrado: ambiente e flora. Embrapa Cerrados, Planaltina, DF. p , ZORTÉA, M. Reproductive patterns and feeding habits of three nectarivorous bats (Phyllostomidae: Glossophaginae) from the Brazilian Cerrado. Brazilian Journal of Biology, v. 63, n. 1, p , 2003.