PERIGOS DOS SOLVENTES

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1 PERIGOS DOS SOLVENTES João Luís Farinha Antunes Instituto Politécnico de Tomar Departamento de Arte, Conservação e Restauro sumário Toxicidade Modos de intoxicação Tipos de intoxicantes Parâmetros de toxicidade Flamabilidade Parâmetros de flamabilidade Máscaras e filtros 2 1

2 TOXICIDADE É a capacidade de uma substância produzir lesões, sejam elas físicas, químicas, genéticas ou neuropsíquicas com repercussões comportamentais. Perigo Propriedade intrínseca de um agente químico com potencial para provocar danos. (in Doc 1409/01/03-PT, Directrizes [ ] químicos no trabalho) Toxicidade aguda (imediata) É aquela produzida por uma única dose, seja por via oral, dermal ou pela inalação dos vapores. E os sintomas aparecem nas primeiras 24 horas após a exposição às substâncias. (sintomas: náusea, sonolência, euforia, dor de cabeça, ardor,, morte.) Toxicidade crónica É aquela que resulta da exposição contínua a uma substância. Os sintomas aparecem depois das primeiras 24 horas, ou mesmo semanas ou meses após a exposição às substâncias. 3 Modos de intoxicação Por inalação (de gases, vapores ou partículas sólidas) Por ingestão (de líquidos ou sólidos) Por absorção através da pele Algumas substâncias produzem efeito no local de contacto ou entrada no corpo, enquanto outros têm efeitos sistémicos (são transportados dentro do corpo e produzem o efeito noutro lado) 4 2

3 Tipos de intoxicantes Irritantes Produzem uma reacção local do organismo (p.ex. inflamação ou queimadura) Sensibilizantes (alergenos) Tornam o organismo muito sensível ao tóxico. Após a sensibilização o organismo reage de forma muito mais violenta do que normalmente aconteceria sem a sensibilização. Asfixiantes Interferem com o mecanismo de aquisição de oxigénio pelo organismo. A simples deficiência de oxigénio no ar pode causar anóxia. Uma concentração abaixo de 18 % pode causar a morte (a concentração normal é 21%). 5 Tipos de intoxicantes (cont) Anestesiantes e narcóticos Actuam sobre o sistema nervoso central (Ex: hidrocarbonetos e derivados halogenados) Venenos sistémicos Produzem efeitos longe do sítio de contacto. Os órgãos críticos são os rins, fígado, sangue e medula dos ossos. Fibrogenos respiratórios Particulas sólidas que se instalam no sistema respiratório Carcinogénicos Substâncias produtoras de cancro 6 3

4 Parâmetros de toxicidade por inalação TLV - Threshold Limit Values Valores propostos pela ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygenists, USA, desde 1946, e revistos anualmente. São valores seguidos na Europa com outros nomes. VLE Valores Limite de Exposição normas portuguesas NP 1796 (IPQ Instituto Português da Qualidade) A norma portuguesa (NP 1796) diz, explicitamente, que segue os TLV. São concentrações de substâncias a que se considera que o trabalhador normal pode estar sujeito, repetidamente, dia após dia, sem efeitos adversos para a saúde. 7 Alguns outros parâmetros São exemplos de muitos mais. São todos muito semelhantes entre si, apenas mudam os nomes e alguns detalhes e limites. MAC OEL PEL VLA Maximum Allowable Concentration (IUPAC - International Union of Pure and Applied Chemistry, entre outros) Occupational Exposure Limits (normas inglesas - HSE) Permissible Exposure Limit (NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health USA) Valor Limite Ambiental (Espanha) Todos os parâmetros são expressos em ppm (no caso dos vapores e gases) ou mg/m3 (no caso de partículas) Conversão de ppm em mg/m3 VLE( ppm) x Mr VLE ( mg / m3) = 24,45 Mr é a massa relativa do composto 8 4

5 Há 3 categorias de TLV (e VLE): TLV - TWA VLE - MP Categorias de TLV (e VLE) (Threshold Limit Value - Time-weighted average) (Valor limite de exposição - Média ponderada) Concentração média de substância a que o trabalhador pode estar sujeito, dia após dia, por um período de 8 horas de trabalho e quarenta horas semanais, sem efeitos adversos para a saúde. TLV - STEL VLE - CD (Threshold Limit Value - Short Term Exposure Level) (Valor limite de exposição - Curta duração) Concentração média que não deve ser ultrapassada, em períodos de 15 minutos, mesmo que a média de 8 horas esteja dentro do limite. Os valores de STEL (CD) são indicados para substâncias que têm risco de toxicidade aguda, como irritação ocular, alergias, etc TLV - C (Threshold Limit Value - Ceiling ) VLE - CM (Valor limite de exposição - Concentração máxima ) Concentração que nunca deve ser excedida. 9 Perigosidade relativa Um solvente é tanto mais perigoso quanto mais tóxico e mais volátil for, em simultâneo. Toxicidade VLE Valor limite de exposição Quanto mais baixo for o VLE mais perigoso é o solvente Volatilidade Ev Taxa de evaporação relativa Tempo de evaporação comparada ao tempo de evaporação do éter dietílico (Ev éter = 1). Quanto mais baixo for o Ev mais volátil é o composto. Perigosidade Relativa PeR = VLE x Ev O solvente mais perigoso é aquele que tiver, em simultâneo, um valor baixo de VLE e de EvRel, por isso, quanto mais baixa é a PeR mais perigoso é o solvente. 10 5

6 Exemplos de tabelas de TLV Cópia de parte de uma tabela de TLV (ACGIH) Substance Barium and soluble compounds, as Ba Adopted Values TWA STEL/C Notations Mol Wgt 0.5 mg/mg³ A TLV Basis Critical Effect(s) Irritation; GI; burns; muscle toxin Benzene 0.5 ppm 2.5 ppm Skin; A1; BEI Cancer Cópia de parte de uma tabela de VLE (NP 1796) Substância Bário e compostos solúveis, expressos em Ba VLE MP CD Notação Mr Base do VLE Irritação ocular, 0.5 mg/m³ A cutânea, GI; estimulação muscular Benzene 0.5 ppm 2.5 ppm P; A1; IBE Leucemia Sarin CM mg/m3 11 Parâmetros de flamabilidade Temperatura de inflamabilidade (Flash Point) Temperatura mínima a que uma substância liberta vapores combustíveis em quantidade suficiente para formar com o ar e na presença de uma fonte de ignição uma mistura inflamável, que se extingue logo que esta seja retirada, por insuficiência de vapores. Temperatura de combustão (Fire point) Temperatura mínima necessária para que uma chama ou faísca colocada por cima de um líquido o inflame, mantendo-se a combustão quando a chama é retirada (pelo menos durante 5 segundos). Temperatura de (auto-)ignição (Ignition point) Temperatura mínima a que uma substância liberta vapores combustíveis que em mistura com o ar e sem a presença de uma fonte de ignição, se inflamam. Limites mínimo e máximo de inflamabilidade (ou explosão) São as quantidades mínima e máxima de gás (ou vapor) combustível que misturadas com o ar formam uma mistura inflamável. Abaixo do limite há falta de combustível, acima há Combustível Limite Mínimo Limite Máximo excesso. Acetona 2,5 % 13 % exemplos Álcool etílico 3,5 % 15 % Gasolina 1,3 % 6,3 %, 12 6

7 Exemplos de valores de VLE e flash point Valores de VLE, perigosidade relativa (Per) e flash point de alguns solventes comuns em restauro VLE-MP/ppm EvRel Flash point/ºc Per (1) (2) (3) Etanol Isopropanol Acetona Metil etil cetona -6 Hexano 50 (n-hex); Tolueno Xileno DMF White Spirit Acetato de etilo 13 Ácido 0,5 sulfúrico Não inflamável (1) Instituto Português de Qualidade, pr NP IPQ, (2) EvRel Evaporação relativa. COLADONATO, M. -- Il rischio chimico nel cantiere e nel laboratorio di restauro. Italia: Istituto Centrale per il Restauro, (excepto em itálico) Cheremisinoff, N. P. -- Handbook of Hazardous Chemical Properties. Boston: Butterworth, Máscaras e Filtros As mascaras com filtros são usadas quando não é possível manter as concentrações das substâncias nos seus limites de segurança tóxica. Classificação dos filtros Tipo Protege de Cor A AX Vapores orgânicos de p. eb. > 65ºC (p.ex: hidrocarbonetos) Gases e vapores orgânicos de baixa ebulição (p.ex. acetona, IMS- Industrial metilated spirits) Castanho Castanho B Gases e vapores inorgânicos Cinzento E Gases e vapores ácidos Amarelo K Amoníaco e certas aminas Verde HG Mercúrio Vermelho P Partículas sólidas e líquidas (P1, P2 e P3) Branco Podem formar-se associações de filtros. P.ex. ABEK Em cada tipo temos ainda Classe 1 < 1000 ppm; Classe 2 < 5000 ppm. 14 7

8 Exemplo de tabela de recomendações para uso de filtros In Protecção respiratória, Sandstron, fim 16 8