EM LOUVOR DA SANTA SENHORINHA PORTUGUESA LOA

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Washington Camarinho Canário
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1 EM LOUVOR DA SANTA SENHORINHA PORTUGUESA LOA Nobre cena um Pobre Rato Como aquele que Horácio pinta Que é muito ridículo parto De uma prenhez bem altiva. À vossa cena um Rato Vem com a sua figurilha Que às cenas os ratos Eles por si se convidam. Vós, pois, gente estranha e própria, Que toda sois peregrina, Vós galas e vós Damas, Digo, vós Faunos e Ninfas. Vós casadas, vós solteiras, Viúvas, rapazes, meninas, Mas basta que um Rato nobre, Não repara em ninharias. Ouvi do Rato um rato A Loa mais esquisita; É uma coisa de outro mundo Que afinal é da Baía. Suas mercês muito calam Suas mercês nada digam, Pois mais urbana a minha Musa Se lho pede em cortesia. A Loa pois se consagra, A uma santa esclarecida, Pelo seu sangue Senhoraça Pela sua virtude Senhorinha. Venceu, nascendo de Condes, A sua virtude a sua família Santa foi por excelência, Foi nobre por Senhorinha. Se desejais o seu retrato Encontrareis que parecia A mais linda entre as Santas A mais santa entre as lindas.

Vós, pois, gente estranha e própria, Que toda sois peregrina, Vós galas e vós Damas, Digo, vós Faunos e Ninfas.

2 Todo esplendor seu cabelo Com coroa repetida, Quando por bela lhe adorna, Por Santa a Canoniza. Luzia uma Alba na sua frente, Que desfeita em pérolas finas, À beleza se chorava À virtude se ria. Mente quem ao da velha Arco do Céu apelida Porque os arcos do Céu São duas sobrancelhas desta menina. Um sol dormia nos seus olhos, Já cansados de vigílias, Mas ao céu madrugava, Quando a terra dormia Como se fora virtude, O nariz no meio habita, Mas jaz no meio do rosto Extremo de bizarria. Cândidas e vergonhosas As flores nas suas bochechas, Quando as virtudes misturavam, Formosas confundiam. Não pode a Virgem Rosa Vendo a sua boca divina, Nem por Rosa nem por Virgem, Dizer: «Esta boca é minha.» Porque a sua divina boca À Rosa, que mais brilha, Se rezar, num credo mata, Se calar, num ponto abisma. É um girassol de neve O seu pescoço, que Pharo inveja, Pois sempre ao céu se eleva, Mesmo quando ao solo se humilha. O número de cristais, Que as suas belas mãos cifram, Se há dedos porque se contam, Não há mãos porque se meçam. Em qualquer coisa que entrem Estas mãos cristalinas, Se ao entrar são açucenas Ao sair são maravilhas.

Um sol dormia nos seus olhos, Já cansados de vigílias, Mas ao céu madrugava, Quando a terra dormia Como se fora virtude, O nariz no meio habita, Mas jaz no meio do rosto Extremo de bizarria.

3 Em pouco pé muita neve Toca a terra inimiga, Que pouco a terra toca, Quem muito a terra pisa. Fim do Retrato: Louvado seja Deus, Que a Musa que me inspira, Neste mar de beleza, Já tomou pé de cantiga. Um Conde de Real Sangue O seu Himeneu solicita, Mas se ele busca matrimónio, Ordem ela pretendia. Com Deus quis desposar-se Fosse a ser Freira Beneditina, Para fazer-se depois negra, De quem antes foi cativa. Junto ao Ave, ilustre rio Ao seu Jesus se dedica, Que muito buscasse ao Ave, Quem adorava a Maria. Neste Jardim do Céu Fez as suas flores mais ricas, Jasmim só nos desmaios, Rosa só nas espinhas. De uma flor em outra flor A Santa se convertia, Era Cravo no sangue, Perpétua na disciplina. Do Ave ao Basto passo, Com que dois Rios se miram, Tão perenes com a sua fama, Como claros com a sua vista. Das terras, das águas, Ó meu Rio, ó Pátria minha, Por tal sorte e por tal Santa, Não és Basto, és manilha. Os milagres que aqui fez, É bom que um Rato os diga, Porque quando os numera, Então os retifica. Mas, qual primeiro há de ser? Isto o diz o enigma, Seja de farinha o primeiro, Porque oremus est farinam.

Com Deus quis desposar-se Fosse a ser Freira Beneditina, Para fazer-se depois negra, De quem antes foi cativa.

4 Farinha para o sustento, Faltava-lhe à Senhorinha E fazendo farinha tão boa, Foi faltar-lhe o que fazia. Os olhos pôs no céu, E como têm duas meninas, Que como duas meninas choram, Como duas velhas enfeitiçam, Ouviu as suas lágrimas Deus, E chamando hierarquias, Ordenou que os salvados Se ocupassem com a farinha. Os Anjos lhe serviram Moendo, mas sem fadiga, A farinha, que desejava, Com a água que vertia. Mais sacos de farinha cheios Deus lhe deu, que ela pedia, Que Deus sabe dar a sacos, O que os homens a sacos quitam. Vá prodígio segundo, Em que a Santa castiga As rãs, por ditadoras, E por ditadoras frias. Entre Ratos e Rãs (Homero o testifica) Houve uma batalha grega, Sem armas, mas com feridas. A guerra a dois elementos Ocupava, pois se faziam, Pela água as entradas Pela terra as saídas. Nós por água, elas por terra, Já com sorte e com desdita, As púnhamos de lodo, E o pó nos sacudiam. Com mais terra e com mais água, Por instantes socorriam Ratisbona aos Ratões, E Veneza às Rãs. Vencemos tandem, e com isto, A batalha tão renhida Leve a água rio abaixo Deixa o campo terra acima.

a farinha. Os Anjos lhe serviram Moendo, mas sem fadiga, A farinha, que desejava, Com a água que vertia.

5 Sabendo, pois a nossa Santa, Pela sua muita astrologia, (Que desde menina sempre pôs no Céu a sua mira) Que um Rato muito seu lacaio Hoje a louvar-lhe vénia, Brindando, e não sem razão, Com a sua graça a vossa graça, As Rãs emudeceu De Ratões inimigos, Porque rezando ela baixo, Elas forte respondiam. Calou o torpe canalha Com ronca e sem valentia, Música sim, mas não doce, Lavada sim, mas não limpa. Da água ao vinho me passo, Na terceira maravilha, Bem que não é o vinho aguado, Porque é pura Senhorinha. Vendo a água tão culpada Nossa Santa peregrina, Quis transformá-la em vinho, Só para convertê-la. Veio ao vinho muito devota, A sede com hidropisia, Bebia-o por almudes Tomava-o por relíquias. Mil vezes obrou o milagre, Quando vinho não tinha, E da fonte de Basto Fez fonte da pipa. Era o vinho milagroso, Pois, para a eterna vida, Os varões se arrobaram, As mulheres se encendiam. Com muito grande prontidão, E com maior alegria, Serviam-lhe ambos os sexos, Mas a secas não serviam. Se segue o quarto prodígio, Mas deixemos esta lista, Que, pois, os faz sem número, Sem número se repitam.

Calou o torpe canalha Com ronca e sem valentia, Música sim, mas não doce, Lavada sim, mas não limpa.

6 Mesmo cego, que ao seu sepulcro, Se não o vê, o visita, Concedeu vista tão clara, Que aos olhos se vinha. Sara um mudo, sara um surdo, E com dupla maravilha, Põe a boca na orelha, Pois uma solta, outra livra. Sara coxos, sara mancos, Com celestial medicina, E os deixa tão contentes, Que dão de patas acima. Com a sua terra faz milagres, E mais que a terra mesma, Que pode fazer com o Céu, Quem com a terra dá vida. Sara todos os doentes, Muitos mortos ressuscita, Dá mil filhos a mulheres, Melhor lhes dera mil filhas. Os hidrópicos, os presos, Mas basta, porque não digam, Que Ratões às Rãs Nos seus palreios imitam. Por demais, que já minha memória, Do meu sustento impedida, Vai ficando a boas noites, Com o queijo destes dias. Hoje, pois consagro à Santa, A Comédia, que publica, Só o piedoso é meu filho, Porque a Santa é muito pia. E vós hóspedes sublimes, A cuja grande fidalguia, Todas as festas são justas, Porque todas são devidas. Vós, que no bruto, mas feroz, À gineta, à brida, Ostentais ditosamente Ser maestro de duas Cadeiras. Vós, cuja varonil gala, Em cada qual nos avisa Ou que Jacinto não está morto, Ou que Adonis ressuscita.

Sara coxos, sara mancos, Com celestial medicina, E os deixa tão contentes, Que dão de patas acima.

7 Os meus defeitos perdoem, Mas vós, ó gente minha, Que poderíeis ser de Roma, Mais que de Basto patrícia. Meus acertos aplaudi Porque sem culpa, e com dita, Uns perdões me chovam, Outros as graças me rendam. Poema traduzido por Joana Sofia Carneiro, futura missionária Comboniana.

Meus acertos aplaudi Porque sem culpa, e com dita, Uns perdões me

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