Considerações da Parashat Pin has Por Sha ul Bensiyon

Transcrição

1 Considerações da Parashat Pin has Por Sha ul Bensiyon 1) Resumo da Parashá Esta Parashá conclui a história da tentativa de Balaq de destruir os filhos de Israel, e em seguida narra os preparativos para a entrada na terra da promessa. Capítulo 25: Fim da Praga Começando no meio do capítulo 25, a Torá narra o fim da praga que decorreu do pecado de Israel em Ba`al Peor. O Eterno recompensa Pin has (Finéias) por seu zelo e lealdade ao matar Zimri e Kosbi, e em seguida instrui Moshé a guerrear contra os midianitas que incitaram Israel a pecar. Capítulo 26: Censo Registro do senso realizado, família por família, para partilhar a terra de Israel uma vez que fosse conquistada. Capítulo 27: As Filhas de Selofe had e Yehoshua` As filhas de Selofe had pedem a Moshé para herdar a herança de seu pai na terra de Israel, algo que não estava previsto na Torá. O Eterno aceita o pedido, e o 1

2 caso se torna referência para situações semelhantes. O Eterno então instrui Moshé a se preparar para a sua morte, e Moshé transmite a liderança do povo para Yehoshua` (Josué), filho de Nun. Capítulos 28 e 29: Ofertas Descrição das ofertas queimadas a serem trazidas, bem como ofertas adicionais trazidas no Shabat, no Rosh Hodesh (Lua Nova) e em cada uma das festividades. Capítulo 30 Moshé conclui a instrução do sacrifício aos filhos de Israel. 2

3 Pecado e Praga Na parashá da semana passada, vimos que a Bil`am (Balaão) sabia que a única forma dos filhos de Israel serem amaldiçoados era se cometessem pecado terrível diante do Eterno. Seu plano, transmitido a Balaq, incluía a prática de prostituição ritual, em um rito de magia empática. No Oriente Médio antigo, além da total degradação da mulher, a prostituição ritual frequentemente incluía também o sacrifício dos bebês gerados em tais ritos, às divindades adoradas. Muito mais do que um simples ato de abandono do Eterno, a prática traria consequências terríveis para toda a sociedade israelita, pondo em risco a vida de todas as gerações dos filhos de Israel. Como o pecado continuou ocorrendo mesmo durante a praga, o rabino Moshe Shamah faz a seguinte indagação: Vinte e quatro mil já tinham morrido na praga, a manifestação de Sua ira, mas o pecado tinha continuado enquanto a praga estava ocorrendo. Acaso a tentação 3

4 ofuscou tanto o pensamento dos israelitas que eles não associaram [uma coisa à outra]? (Parashat Pinehas Part I) Uma possível resposta a isso pode estar na gradatividade do ato. Embora a Torá não traga detalhes do ocorrido, é razoável imaginar que a prática tenha começado com algumas pessoas, e tenha se alastrado gradualmente ao restante dos filhos de Israel. Assim pode também ocorrer com qualquer prática pecaminosa. O perigo de se desviar gradativamente do Criador está justamente em não associar a transgressão com suas consequências. Por essa razão, a punição dos filhos de Israel precisou ser dramática e severa. 4

5 O que foi diferente? O que torna esta praga diferente das outras, nas quais Moshé (Moisés) orou pelo povo? Alguém pode se indagar quanto ao contraste com o outro caso de apostasia [coletiva] na Torá, aquela do bezerro de ouro trinta e nove anos antes. Na ocasião, o Eterno expressara a intenção de destruir os israelitas e começar uma nova nação com Moisés, mas indicou que uma oração poderia levá-lo a se abster de tal curso de ação. Moisés orou e o Eterno se compadeceu. Aqui, contudo, Ele não deu qualquer abertura do tipo. É claro que é entendido que a oração sempre tem valor e que Moisés tinha o precedente daquele episódio anterior (tal como todas as outras instâncias nas quais a oração tinha sido eficaz, tais como aquela associada ao pecado dos espias). Sem dúvida, ele orou. Mas parece que neste caso, lidando com a nova geração e levando em conta a experiência de quarenta anos com a nação, o Eterno considerou apropriado 5

6 tomar uma abordagem diferente. Agir para com a nação da mesma maneira poderia levar aos mesmos resultados insatisfatórios. Dessa vez, Ele insistiu que se deveria tomar ação, particularmente contra a liderança negligente, e Ele assim informara a Moisés (Nm. 25:4 Toma todos os cabeças do povo, e enforca-os ao Eterno ) A falta de ação de Moisés ilustra como a escolha do Eterno de punição para sua transgressão de ferir a rocha, que ele não iria conduzir a nação à terra da promessa, se encaixa no novo contexto. Moisés não era mais o líder ideal para a nova geração de israelitas. (ibid) 6

7 O que fez Pin has? Que ato de Pin has fez cessar a praga entre os filhos de Israel, e o fez ter mérito da aliança de paz? A) Foi o único a executar a sentença Pin has teria sido o único dentre os juízes de Israel que executou a sentença ordenada pelo Eterno (Hizquni, Hoil Moshe, Seforno) B) Matou o líder Pin has teria executado o cabeça do pecado, aquele que mais era responsável por conduzir os filhos de Israel à idolatria (Abarbanel) C) Iniciou a sentença Pin has foi o primeiro a ter coragem a se levantar contra a prostituição ritual, assim liderando a punição dos demais. (Fílon, Josefo, Targum Yerushalmi) 7

8 D) Cessou a rebeldia de Zimri Zimri teria justificado suas ações através do fato de Moshé (Moisés) ter desposado uma midianita, e estava convencendo sua tribo a se insurgir contra Moshé. (Ralbag, Rashi) E) Teve os Israelitas em mente Ao acrescentar Pin has teria orado pelos filhos de Israel, esta leitura vê a ação de Pin has contrastada com uma suposta falta de ação da parte de Moshé. (Targum Yerushalmi) 8

9 O que recebeu Pin has? O termo berit shalom ית י שׁ לוֹם) (בּ ר tem várias interpretações, considerando que, embora costume ser traduzida como paz, a raiz שלם pode significar inúmeras coisas, entre elas: plenitude, abundância, totalidade, etc. Além disso, o termo berit kehunat `olam ית כּ ה נּ ת עוֹל ם),(בּ ר isto é, aliança de sacerdócio perpétuo, também esbarra em diferentes possibilidades para o termo `olam, como, por exemplo, definitivo, perpétuo, para aquela época, etc. I) Kehuná A) Sacerdócio Embora descendente de Aharon, Pin has já teria nascido à época em que Aharon, e seus filhos, foram ungidos. Pin has não teria participado da unção, e portanto até aquele momento nem ele nem seus filhos seriam sacerdotes. (Rashi) B) Sacerdócio Eterno A família de Pin has teria sempre descendentes a ocuparem o sacerdócio. (Fílon, Ralbag) 9

10 C) Sumo Sacerdócio Pin has e seus descendentes viriam a ser sempre sumos sacerdotes em Israel. (Abarbanel Hizquni, Ralbag, Targum Yerushalmi) C) Imortalidade O termo `olam é interpretado como vida eterna. Pin has, portanto, seria imortal. (Seforno,Targum Yerushalmi) II) Shalom A) Paz de Espírito Pin has seria uma pessoa tranquila, e não inflamada pelo desejo de vingança. (Fílon, Netziv) B) Proteção Pin has seria protegido da ira dos familiares de Zimri. (Abarbanel, Ibn `Ezra) 10

11 Por que fazer uma lista de como seria a porção das famílias? A terra, nos tempos da Torá, não era propriedade de indivíduos, mas sim uma promessa coletiva aos filhos de Israel. A terra pertencia ao Eterno, e era cedida aos filhos de Israel enquanto esses andassem em retidão aos olhos do Criador. (vide Dt. 28) A terra era arrendada para as famílias de Israel, pelo período de um sete semanas de anos, isto é, 49 anos, após os quais haveria nova redistribuição das propriedades. A listagem das famílias de Israel e dos direitos que a essas seriam concedidos quando da partilha da terra impediria que excessos fossem cometidos, e que aproveitadores estendessem o seu domínio sobre terras de terceiros. No fim dos tempos, com o retorno de Israel, as terras serão novamente distribuídas, e os estrangeiros que antes não tinham porção receberão herança igual aos descendentes biológicos das tribos. 11

12 Será, porém, que a sorteareis para vossa herança, e para a dos estrangeiros que habitam no meio de vós, que gerarão filhos no meio de vós; e vos serão como naturais entre os filhos de Israel; convosco entrarão em herança, no meio das tribos de Israel. E será que na tribo em que habitar o estrangeiro, ali lhe dareis a sua herança, diz Adonay ELOHIM. (Ez. 47:22,23) 12

13 Por que fazer uma extensa lista de sacrifícios? Muitos leitores, ao se depararem com a extensa lista de sacrifícios da Torá, se indagam qual a necessidade de se fazer tais observações, e até mesmo tornarem a leitura enfadonha. Na realidade, nem todo texto da Torá tem a preocupação de ser uma narrativa, ou texto para uma leitura mais corriqueira. No Oriente Médio antigo, as castas sacerdotais dos povos pagãos detinham enorme status político e econômico, pois sobre suas mãos estavam as chaves dos acessos aos deuses. Não era raro que tais sacerdotes, diante de um infortúnio ou de uma ocasião especial, fizessem exigências exorbitantes ao povo que, crédulo, não teria condições de negar. Ao formalizar as exigências para todas as ocasiões, a Torá impede a casta sacerdotal de cometer qualquer excesso, deixando previamente previstas todas as demandas feitas pelo Eterno aos filhos de Israel. 13

14 Além disso, observa-se que sacrifícios só eram feitos para a liturgia regular, festividades, ofertas de votos ou voluntárias, e para pecados involuntários. Para evitar que o povo fosse explorado no momento de seu arrependimento sincero, a Torá não prevê qualquer sacrifício em situação de exílio, ou punição coletiva. Ao contrário, a Torá diz apenas: "E será que, sobrevindo-te todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que tenho posto diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar ADONAY teu Elohim, e te converteres a ADONAY teu Elohim, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma, então ADONAY teu Elohim te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou ADONAY teu Elohim. (Dt. 30:1-3) 14