Jorge de Brito Professor Catedrático CERis/ICIST/IST Lisboa; Portugal
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1 INFLUÊNCIA DO SUPERPLASTIFICANTE NO DESEMPENHO MECÂNICO DE BETÕES COM AGREGADOS RECICLADOS ORIUNDOS DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DE CENTRAIS DE RECICLAGEM PORTUGUESAS Miguel Bravo Mestre em Eng.ª Civil CERis/ICIST/IST Lisboa; Portugal miguelnbravo@gmail.com Jorge de Brito Professor Catedrático CERis/ICIST/IST Lisboa; Portugal jb@civil.ist.utl.pt Luís Evangelista Professor Adjunto CERis/ICIST/ISEL Lisboa; Portugal evangelista@dec.isel.ipl.pt RESUMO O presente artigo pretende avaliar a influência do superplastificante no desempenho mecânico de betões com agregados reciclados (AR) de resíduos da construção e demolição (RCD). Neste sentido, foi realizada uma campanha experimental onde foram analisadas as propriedades de resistência à compressão, resistência à tracção por compressão diametral e módulo de elasticidade. Nesta investigação, foram utilizados AR oriundos de quatro centrais de reciclagem portuguesas (Valnor, Vimajas, Ambilei e Retria). Em duas destas foram analisados AR finos (Ambilei e Vimajas) e nas restantes foram utilizados AR grossos (Valnor e Retria). Os resultados mostram diminuições de desempenho com o aumento da quantidade de AR bastante variáveis consoante a composição (origem) dos AR. 1. INTRODUÇÃO A indústria da construção gera na UE cerca de 900 milhões de toneladas por ano de resíduos. Este fluxo de resíduos representa cerca de 25 a 30% de todos os resíduos produzidos [1]. Os RCD têm uma constituição bastante heterogénea. A fracção mais importante corresponde à dos materiais inertes, variando entre 40 e 85% do volume total de resíduos, não contabilizando os solos de escavação [1]. As principais fontes de material inerte são o betão e os materiais cerâmicos [2] [3] [4] [5]. Em 2010, cerca de 75% dos RCD produzidos na UE foram depositados em aterro [6]. A directiva comunitária 2008/98/EC estabelece que os estados membros da União Europeia devem tomar as medidas necessárias para alcançar um mínimo de 70% (em peso) de reutilização dos RCD produzidos até Os RCD são os resíduos com maior potencial de utilização em betão. Assim, não é de estranhar que, nos últimos anos, sejam várias as investigações realizadas com o objectivo de avaliar a utilização de RCD em betão. Estes estudos avaliam as propriedades dos betões com agregados reciclados de betão, de material cerâmico, de vidro, de plásticos, entre outros. Em relação aos betões com AR de betão, é consensual que a substituição de parte dos agregados naturais (AN) grossos por AR grossos não prejudica significativamente as características dos betões. No entanto, este consenso não existe no que concerne à substituição dos agregados finos. O principal factor apontado por alguns investigadores para a oposição à utilização de AR finos em betões é a elevada absorção de água, que pode conduzir a betões com piores desempenhos. No entanto, algumas investigações recentes indicam que a utilização de AR finos em betões pode ser viável, pois não conduz a uma diminuição significativa das propriedades, tanto em termos mecânicos [7] como de durabilidade [8] [9]. Pereira et al. [10] e Barbudo et al. [11] avaliaram a influência da utilização de superplastificantes na resistência à compressão, em betões com AR finos e grossos, respectivamente. Os autores verificaram que os superplastificantes têm uma maior influência na resistência à compressão quando utilizados em betões correntes do que nos betões com AR de betão. A perda de eficácia dos adjuvantes foi justificada através do aumento da superfície específica dos agregados, devido à incorporação de AR de betão. 1
2 As investigações que analisam a utilização de AR cerâmicos em betão não são tão consensuais como as que avaliam o uso de AR de betão. Em 2013, Medina et al. [12] avaliaram a resistência à compressão de betões com AR cerâmicos, tendo verificado um aumento de 11% desta propriedade em betões com 25% de AR. Medina et al. [13] verificaram que a ITZ entre os AR cerâmicos de louça sanitária e a pasta cimentícia é mais compacta e estável do que a ITZ entre os agregados naturais e a pasta. Outros estudos indicam também que existe um aumento da resistência à compressão aquando da substituição até 30% de agregados naturais por AR cerâmicos [14]. Existem também algumas investigações sobre a utilização de AR de vidro em betões. Castro e Brito [15] verificaram que a introdução de 20% de AR grossos e finos de vidro provocou apenas uma diminuição da resistência à compressão de 3 e 14%, respectivamente. Park et al. [16] verificaram que a utilização de 30, 50 e 70% de AR finos de vidro provocou uma diminuição da resistência à compressão aos 28 dias de 0,6, 9,8 e 13,6%, respectivamente. Os autores justificam os resultados com a pior aderência entre a superfície dos AR de vidro e a pasta de cimento. Como referido, diversas investigações analisam as propriedades dos betões com agregados reciclados de betão, material cerâmico, vidro, plásticos, entre outros, de modo a conhecer-se completamente as potencialidades e limitações dos mesmos. No entanto, ainda são reduzidas as investigações que avaliam a utilização em betões de RCD provenientes de centrais de reciclagem [17] [18] [19] [20]. Nesta investigação, começou-se por recolher RCD de quatro centrais de reciclagem de diferentes zonas geográficas de Portugal. Posteriormente analisou-se a composição dos diversos agregados reciclados utilizados na produção dos betões. Por fim, avaliou-se exaustivamente o desempenho no estado fresco e endurecido de betões com AR (finos ou grossos) de RCD oriundos das centrais de reciclagem, com e sem superplastificante. 2. MATERIAIS Nesta investigação, foram utilizados AN e AR oriundos de quatro centrais de reciclagem portuguesas (Valnor, Vimajas, Ambilei e Retria). Em duas destas (Vimajas e Ambilei), foram analisados AR finos e nas restantes foram utilizados AR grossos (Valnor e Retria). Para se conhecer melhor os diversos AR utilizados na produção dos betões, efectuou-se uma análise visual da sua composição (Tabela 1). Como se pode observar, os AR utilizados apresentam uma elevada percentagem de betão, argamassa e pedra natural (entre 69 e 84%). Pode-se também verificar que as percentagens de alvenaria - materiais argilosos variam entre 1 e 29%. Os AR das empresas Ambilei e Vimajas destacam-se pela grande quantidade de AR de vidro e betuminosos, respectivamente. Tabela 1 - Composição dos diversos agregados reciclados (% em massa) Composição (em %) AGR AGR AFR AFR Valnor Retria Ambilei Vimajas Betão, argamassa e pedra natural 70,8 69,1 83,7 75,2 Alvenaria - materiais argilosos 28,6 28,6 0,9 11,6 Vidro 0,5 2,1 15,4 1,0 Materiais betuminosos 0,0 0,0 0,0 10,5 Outros 0,1 0,2 0,0 1,7 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Relativamente aos AN, foi utilizada uma brita calcária e uma areia rolada de aluvião. Na produção dos vários betões, foi empregue um cimento CEM I 42,5 R. Foram produzidas 13 composições de betão: o betão de referência (BR), betões com taxas de substituição de 10, 25, 50 e 100% do volume total dos AN grossos (de duas origens diferentes) e betões com taxas de substituição de 10, 25, 50 e 100% do volume total dos AN finos (de duas origens). Posteriormente foram repetidas as 13 betonagens utilizando 1% de superplastificante. A substituição dos AN por AR foi efectuada em volume para cada fracção granulométrica, de forma a manter para todos os betões com AR a curva granulométrica dos agregados do BR. A composição do BR foi determinada através do método de Faury, com o objectivo de a sua resistência pertencer à classe C30/ PROPRIEDADES NO ESTADO FRESCO 3.1 Abaixamento do cone de Abrams O ensaio de abaixamento foi efectuado segundo a norma NP EN Todos os betões foram produzidos com um abaixamento de 125 ± 15 mm, de modo a possibilitar uma correcta comparação entre estes. Como se pode verificar pela Tabela 2, relativamente a dois tipos de AR (AR finos da Vimajas e AR grossos da Retria), para se obter uma trabalhabilidade constante, foi necessário aumentar a relação a/c efectiva à medida que a percentagem de agregados substituídos aumentava. Pode-se constatar que a variação da relação a/c dos betões com superplastificante, com o aumento da percentagem de 2
3 Massa volúmica no estado fresco (kg/m3) utilização de AR, não foi idêntica para todas as famílias de agregados reciclados. Tal como referido por Robles [21], a forma mais rugosa dos AR, relativamente aos AN, contribui para a variação da trabalhabilidade. Destaque-se o significativo aumento da relação a/c nos betões com AR finos da empresa Vimajas. Esta variação deveu-se à elevada quantidade de argila presente nestes AR. Estas partículas finas absorvem uma elevada quantidade de água, tornando necessário o aumento da relação a/c para manter a mesma trabalhabilidade nestes betões. Refira-se que, ao contrário do que seria suposto, a absorção de água destas partículas finas não pôde ser contabilizada na quantidade de água adicionada inicialmente para compensar a absorção de água dos AR, uma vez que, dada a dimensão destas partículas, o ensaio de absorção de água efectuado não conseguiu contabilizar o seu efeito. Como esperado, já que estes adjuvantes são substâncias redutoras de água, verificou-se uma descida das relações a/c efectivas dos betões com a incorporação de superplastificante. A redução da relação a/c com a introdução do superplastificante não variou significativamente nos diversos betões (entre 14 e 21%). Tabela 2 - Trabalhabilidade e relação a/c Sem SP Abaixamento Abaixamento Variação rel. Variação rel. a/c Rel. a/c Rel. a/c (mm) (mm) a/c (%) BR 108 0, ,42-0,11-20,8 B10G-Valnor 105 0, ,42-0,11-20,8 B25G-Valnor 140 0, ,42-0,11-20,8 B50G-Valnor 106 0, ,42-0,11-20,8 B100G-Valnor 110 0, ,42-0,11-20,8 B10F-Vimajas 100 0, ,43-0,11-20,4 B25F-Vimajas 120 0, ,44-0,12-21,4 B50F-Vimajas 100 0, ,51-0,08-13,6 B100F-Vimajas 133 0, ,53-0,11-17,2 B10F-Ambilei 134 0, ,42-0,11-20,8 B25F-Ambilei 150 0, ,42-0,11-20,8 B50F-Ambilei 150 0, ,42-0,11-20,8 B100F-Ambilei 140 0, ,42-0,11-20,8 B10G-Retria 125 0, ,43-0,11-20,4 B25G-Retria 116 0, ,45-0,10-18,2 B50G-Retria 100 0, ,47-0,09-16,1 B100G-Retria 120 0, ,48-0,11-18,6 3.2 Massa volúmica Este ensaio seguiu a metodologia descrita na norma NP EN Na Figura 1, pode-se observar que a massa volúmica do betão no estado fresco diminui com o aumento da percentagem de AR incorporados. Este resultado justifica-se com a menor massa volúmica dos AR, comparativamente aos AN. Pode-se também observar que esta redução varia consoante a família de AR utilizada. Por outro lado, verifica-se que a incorporação de superplastificante origina um aumento da massa volúmica dos betões, tendo-se verificado aumentos máximos de 3,4%. Este aumento deve-se à menor relação a/c dos betões e, consequentemente, ao aumento da proporção de agregados nas misturas R² = 0.97 R² = 0.90 R² = 0.97 R² = AR Finos Vimajas - AR Finos Ambilei - - AR Finos Vimajas AR Finos Ambilei 2100 Figura 1: Resultados do ensaio de massa volúmica 3
4 Resistência à compressão em cubos aos 28 dias (MPa) 4. PROPRIEDADES NO ESTADO ENDURECIDO 4.1 Resistência à compressão em cubos O ensaio de resistência à compressão foi efectuado de acordo com a norma NP EN Na Figura 2, verifica-se que a resistência à compressão aos 28 dias do BR sem superplastificante é de 53,9 ± 1,8 MPa. Assim, confirma-se que este betão pertence à classe de resistência C35/45. Por sua vez, a resistência à compressão aos 28 dias do BR com superplastificante é de 75,4 ± 1,9 MPa, pertencendo à classe de resistência C55/67. Através desta figura, pode-se verificar que, independentemente de a substituição ocorrer nos agregados finos ou nos grossos, da natureza dos AR e da utilização ou não de superplastificante, a resistência à compressão é afectada negativamente pela introdução dos AR. A única excepção consiste no betão com SP e com 10% de substituição de AN por AR finos da empresa Ambilei, que revela melhorias na resistência à compressão, independentemente da idade do ensaio. Estes resultados podem ser justificados com o efeito de fíler destes agregados que é provocado por partículas muito finas (pó) aderidas aos AR desta empresa. Estas acabam por se destacar durante o processo de amassadura, produzindo efeitos positivos para baixas taxas de incorporação de AR. A partir de determinadas percentagens, as partículas muito finas ocupam espaço previamente ocupado por outras fracções, acabando por prejudicar a compacidade das misturas. Refira-se que este efeito benéfico só se verifica devido a estas partículas muito finas não corresponderem a argilas. Os resultados observados demonstram que a escala da diminuição da resistência à compressão varia com diversos factores. O factor que mais influenciou os resultados foi a origem dos AR. Tendo em conta que os AR foram recolhidos em diferentes empresas, localizadas em diferentes locais de Portugal, a composição dos AR varia bastante consoante a sua origem. Outro dos factores que influenciaram os resultados foi a dimensão dos AR utilizados. A diminuição da resistência à compressão dos betões com AR finos foi maior do que a dos betões com AR grossos. Esta diferença é justificada, em parte, pela quantidade de impurezas (argila) que os AR finos possuem, uma vez que estas partículas impedem a correcta ligação entre os AR e a pasta de cimento, provocando o enfraquecimento do betão. Em relação aos AR da empresa Vimajas, a menor resistência foi também provocada pela maior relação água / cimento utilizada na composição dos betões. Este aumento da relação a/c deveu-se também à elevada quantidade de argila presente nestes AR [22]. Estas partículas finas absorvem uma elevada quantidade de água, tornando necessário o aumento da relação a/c para manter a mesma trabalhabilidade nestes betões AR Finos Vimajas - AR Finos Ambilei - - AR Finos Vimajas AR Finos Ambilei 2 1 Figura 2: Resultados do ensaio de resistência à compressão aos 28 dias Através da Tabela 3, é possível verificar a eficácia do superplastificante nos resultados da resistência à compressão ao longo do tempo. A eficácia do superplastificante corresponde ao aumento relativo do desempenho do mesmo betão aquando da utilização de superplastificante. Assim, pode-se constatar que a eficácia do superplastificante não sofre variações significativas com a introdução dos AR (grossos e finos). O aumento da resistência à compressão, com a introdução de superplastificante, varia entre 28 e 56%. Pereira et al. [10] e Cartuxo [23] avaliaram o efeito da utilização de superplastificante em betões com AR finos de betão, tendo obtido conclusões semelhantes. Na primeira investigação, obtiveram-se aumentos da resistência à compressão entre 61 e 70% e na segunda entre 51 e 63%. Através da Tabela 3, pode-se também observar que não existe uma tendência clara de variação da eficácia do superplastificante com o aumento da idade da realização do ensaio de resistência à compressão. 4
5 Resistência à tracção aos 28 dias (MPa) Resistência à compressão média em cubos aos 28 dias (MPa) BAR com SP / BAR sem SP Tabela 3 - Eficácia do SP utilizando os resultados da resistência à compressão AR grossos AR finos Aos 7 dias Aos 28 dias Aos 56 dias Aos 7 dias Aos 28 dias Aos 56 dias 0% de AR 1,36 1,40 1,31 1,36 1,40 1,31 10% de AR 1,36 1,32 1,21 1,56 1,52 1,52 25% de AR 1,43 1,41 1,33 1,41 1,32 1,43 50% de AR 1,45 1,40 1,44 1,37 1,28 1,29 100% de AR 1,38 1,30 1,42 1,56 1,42 1,44 A Figura 3 permite perceber que a redução da resistência à compressão com a substituição dos AN por AR se processa de forma linear. Tal é comprovado pelos valores obtidos para os coeficientes de determinação (R 2 ) das regressões lineares efectuadas y = -0.17x R² = 0.93 y = -0.27x R² = 0.90 y = -0.21x R² = 0.96 y = -0.31x R² = 0.82 AR Grossos - (28 dias) AR Finos - (28 dias) AR Grossos (28 dias) AR Finos (28 dias) Figura 3: Resistência à compressão aos 28 dias para diferentes taxas de substituição dos agregados 4.2 Resistência à tracção por compressão diametral O ensaio de resistência à tracção por compressão diametral foi feito em conformidade com a norma NP EN (2003). Através da Figura 4, pode-se constatar que a incorporação de AR grossos e finos provoca uma diminuição da resistência à tracção. Esta redução atinge 34,6 e 39,0% para os betões sem e com superplastificante, respectivamente. Kou et al. [17] observaram também que a utilização de 100% de AR grossos provenientes de RCD provoca uma diminuição da resistência à tracção aos 28 dias dos betões (em cerca de 17%). O aumento da resistência à tracção por compressão diametral, com a introdução de superplastificante, varia entre 7,4 e 46,8%. Refira-se que, dos 16 tipos de betões com AR, 11 tiveram um aumento da resistência à tracção com a introdução de superplastificante superior ao verificado no BR. Assim, conclui-se que a utilização de AR não influencia a eficácia do superplastificante. Estes valores estão de acordo com os resultados obtidos por Pereira et al. [10] AR Finos Vimajas - AR Finos Ambilei - - AR Finos Vimajas AR Finos Ambilei 1.0 Figura 4: Resultados do ensaio de resistência à tracção por compressão diametral 5
6 Módulo de elasticidade (GPa) Resistência à tracção aos 28 dias (MPa) A Figura 5 permite verificar que a diminuição da resistência à tracção por compressão diametral com a substituição dos AN por AR se processa de forma linear, no que se refere aos betões com superplastificante. Tal é comprovado pelos valores relativamente elevados dos coeficientes de determinação (R 2 ) das regressões lineares efectuadas aos betões com superplastificante (0,90 e 0,88, para substituição em grossos e finos, respectivamente). As regressões lineares efectuadas aos betões sem superplastificante originaram coeficientes de determinação (R 2 ) de 0,69 e 0,68, para substituição em grossos e finos, respectivamente. O valor do coeficiente de determinação relativamente à utilização de AR grossos é bastante influenciado pelo resultado anómalo do betão com 25% de AR grossos da empresa Valnor y = -2x R² = 0.88 y = -1x R² = 0.90 AR Grossos - AR Finos - Com SP AR Grossos AR Finos y = -1x R² = 0.68 y = -1x R² = Módulo de elasticidade Figura 5: Resistência à tracção para diferentes taxas de substituição dos agregados O ensaio do módulo de elasticidade foi feito segundo os princípios descritos na especificação LNEC E-397 (1993). Na Figura 6, são apresentados os resultados obtidos. Constata-se que a substituição de AN por AR reduz o módulo de elasticidade dos betões (com e sem superplastificante). No entanto, tal como verificado noutras propriedades, os betões com superplastificante com 10 e 25% de substituição de AN por AR finos da Ambilei revelam melhorias no módulo de elasticidade, comparativamente ao BR. Estes resultados podem ser justificados com o efeito de fíler destes agregados. O efeito de fíler é provocado por partículas muito finas (pó) aderidas aos AR desta empresa. Estas acabam por se destacar durante o processo de amassadura, produzindo efeitos positivos para baixas taxas de incorporação de AR. Por outro lado, os betões com os restantes tipos de AR apresentam resultados muito inferiores, relativamente a esta propriedade. Esta variação dos resultados deve-se à grande influência que a diferente rigidez dos AR de cada empresa tem nos valores obtidos para o módulo de elasticidade. Os resultados obtidos nesta investigação são semelhantes aos verificados por Kou et al. [17]. Estes observaram que a substituição integral de AN grossos por AR grossos, provenientes de RCD, originou uma redução do módulo de elasticidade dos betões aos 28 dias de 40% AR Finos Vimajas - AR Finos Ambilei - - AR Finos Vimajas AR Finos Ambilei 1 Figura 6: Resultados do ensaio de módulo de elasticidade 6
7 Módulo de elasticidade (GPa) O aumento do módulo de elasticidade, com a introdução de superplastificante, varia entre 1,9 e 38,5%. Refira-se que, dos 16 tipos de betões com AR, apenas três tiveram um aumento desta propriedade com a utilização de superplastificante inferior ao verificado no BR (10,1%). Assim, os resultados obtidos nesta investigação parecem indicar que a eficácia do superplastificante é superior nos betões com AR. Os resultados obtidos por Pereira et al. [10] comprovam que o aumento do módulo de elasticidade do BR com a utilização de superplastificante (27,4%) é inferior ao acréscimo verificado nos betões com AR (atinge 32,9%). A Figura 7 permite observar os valores dos coeficientes de determinação (R 2 ) das aproximações lineares efectuadas aos resultados do módulo de elasticidade nos betões com AR grossos e finos, com e sem superplastificante (entre 0,91 e 0,99). Assim, os elevados coeficientes de determinação demonstram que a redução do módulo de elasticidade com a substituição de AN por AR se processa de forma linear. A Figura 7 permite também concluir que, contrariamente ao verificado nas restantes propriedades mecânicas, a introdução de AR grossos afecta mais o módulo de elasticidade do que a utilização de AR finos. Esta conclusão pode ter sido originada pelo facto de 55% do volume de agregados utilizado nos betões corresponder a agregados grossos. Enquanto que, os agregados finos representam apenas 45% y = -0.12x R² = 0.91 y = -0.15x R² = 0.98 AR Grossos - AR Finos - AR Grossos AR Finos 3 2 y = -0.13x y = -0.18x R² = CONCLUSÕES Figura 7: Módulo de elasticidade para diferentes taxas de substituição dos agregados Os resultados obtidos nos ensaios efectuados ao betão fresco permitiram concluir que o uso de AR provoca uma diminuição da massa volúmica dos betões com e sem superplastificante. Esta redução atingiu valores entre 6,1 e 7,1%, para os betões com 100% de AR (finos ou grossos) sem superplastificante, e entre 8,0 e 7,9%, para os betões com 100% de AR (finos ou grossos) com superplastificante. Foi também possível verificar que, para se obter betões com igual trabalhabilidade, para alguns tipos de AR (AR da Vimajas e da Retria), foi necessário aumentar a relação a/c efectiva dos betões à medida que a taxa de substituição de AN por AR aumentava. Esta situação verificou-se principalmente com a utilização de AR finos da empresa Vimajas. Relativamente aos ensaios efectuados ao betão endurecido, concluiu-se que, na maioria dos casos, a utilização de AR provoca uma diminuição da qualidade do betão. Verificou-se que existe uma grande variação dos resultados consoante a empresa onde os AR foram recolhidos. Esta diferença era previsível, pois cada família de AR possui uma composição diferente, influenciada pela localização da empresa, o que provoca uma variação significativa nas características destes agregados e, consequentemente, nas propriedades dos betões produzidos. Assim, observou-se que os betões (com e sem superplastificante) com AR finos da empresa Vimajas são aqueles que apresentam piores resultados. Tal deve-se, em parte, à maior quantidade de impurezas (argila) presentes nos AR finos. Por outro lado, esta diminuição da qualidade foi também provocada pela maior relação a/c utilizada na composição dos betões com AR finos da empresa Vimajas, para se obter uma trabalhabilidade idêntica em todos os betões. Através desta investigação, foi possível concluir também que a eficácia do superplastificante é maior, na maioria dos casos, nos betões com AR do que no BR. Verificou-se também que a resistência à compressão é a propriedade mecânica mais influenciada pela utilização de superplastificante. Pelo contrário, o módulo de elasticidade é a propriedade que menos melhora com a introdução de superplastificante. 7
8 6. REFERÊNCIAS [1] Eurostat, environment and energy, Generation and treatment of waste. Disponível em Visitado pela última vez em 10 de Janeiro de [2] Pereira, L., Jalali, S., Aguiar, J., Construction and demolition waste management. Workshop Integrated Management Systems for Specific Waste Streams, Lisboa. [3] Costa, U., Ursella, P., Construction and demolition waste recycling in Italy. Fifth International Conference on the Environmental and Technical Implications of Construction with Alternative Materials "WASCON 2003, San Sebastián, Espanha, pp [4] Reixach, F., Barroso, J., Cuscó, A., Plan de gestión de residuos en las obras de construcción y demolición. Dirección General de Medio Ambiente, Institut de Tecnología de la Construcció de Catalunya, Espanha. [5] Bergsdal, H., Bohne, R.A., Brattebø, H., Projection of construction and demolition waste in Norway. Journal of Industrial Ecology, v. 11, n.º 3, pp [6] Ortiz, O., Pasqualino, J.C., Castells, F., Environmental performance of construction waste: comparing three scenarios from a case study in Catalonia, Spain. Journal of Waste Management, v. 30, n.º 4, pp [7] Evangelista, L., de Brito, J., Mechanical behaviour of concrete made with fine recycled concrete aggregates. Cement and Concrete Composites, v. 29, n.º 5, pp [8] Evangelista, L., de Brito, J., Durability performance of concrete made with fine recycled concrete aggregates. Cement and Concrete Composites, v. 32, n.º 1, pp [9] Evangelista, L., de Brito, J., Concrete with fine recycled aggregates: A review. European Journal of Environmental and Civil Engineering, v. 18, n.º 2, pp [10] Pereira, P., Evangelista, L., Brito, J., The effect of plasticisers on the workability and compressive strength of concrete made with fine concrete aggregates. Construction and Building Materials, v. 28, n.º 1, pp [11] Barbudo, A., Brito, J. de, Evangelista, L., Bravo, M., Agrela, F., Influence of water-reducing admixtures on the mechanical performance of recycled concrete. Journal of Cleaner Production, v. 59, pp [12] Medina, C., Rojas, M., Frías M., Freeze-thaw durability of recycled concrete containing ceramic aggregate. Journal of Cleaner Production, v. 40, pp [13] Medina, C., Frías, M., Rojas, M., Microstructure and proper-ties of recycled concretes using ceramic sanitary ware industry waste as coarse aggregate. Construction and Building Materials, v. 31, pp [14] Pacheco-Torgal, F., Jalali S., Reusing ceramic wastes in concrete. Construction and Building Materials, v. 24, n.º 5, pp [15] Castro, S. de, Brito, J. de, Evaluation of the durability of concrete made with crushed glass aggregates. Journal of Cleaner Production, v. 41, n.º 2, pp [16] Park, S., Lee, B., Kim J., Studies on mechanical properties of concrete containing waste glass aggregate. Cement and Concrete Research, v. 34, n.º 12, pp [17] Kou, S., Poon, C., Chan, D., Properties of steam cured recycled aggregate fly ash concrete. Use of Recycled Materials in Buildings and Structures, International RILEM Conference, Barcelona, pp [18] Oliveira, M., Assis, C., Wanderley, A., Study on compressed stress, water absorption and modulus of elasticity of produced concrete made by recycled aggregate. Use of Recycled Materials in Buildings and Structures, International RILEM Conference, Barcelona, pp [19] Poon, C., Kou, S., Lam, L., Influence of recycled aggregate on slump and bleeding of fresh concrete. Materials and Structures, v. 40, n.º 9, pp [20] Medina, C., Zhu, W., Howind, T., Rojas, M., Frías, M., Influence of mixed recycled aggregate on the physical - Mechanical properties of recycled concrete. Journal of Cleaner Production, v. 68, pp [21] Robles, R., Betões com agregados reciclados. Levantamento do state-of-the-art experimental internacional. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 149 p. [22] Rodrigues, F., Carvalho, T., Evangelista, L., de Brito, J., Physical-chemical and mineralogical characterization of fine aggregates from construction and demolition waste recycling plants. Journal of Cleaner Production, v. 52, pp [23] Cartuxo, F., Influência dos plastificantes no desempenho em termos de durabilidade de betões com agregados finos provenientes da trituração de betão. Dissertação de Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 232 p. 8
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