PARECER N.º 50/CITE/2003. Assunto: Parecer nos termos do artigo 17.º n.º 2 do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro Processo n.



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Transcrição:

PARECER N.º 50/CITE/2003 Assunto: Parecer nos termos do artigo 17.º n.º 2 do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro Processo n.º 57/2003 I - OBJECTO 1.1. A CITE recebeu, em 2 de Setembro de 2003, um pedido de parecer nos termos referidos em epígrafe, relativo à intenção, por parte da... - Companhia..., S.A., de recusar a pretensão apresentada pela trabalhadora..., operadora de caixa, a exercer funções na Loja..., para continuar a trabalhar no horário das 8h45m às 16h45m, por um período de 10 anos. 1.2. Do requerimento da trabalhadora, que deu entrada nos serviços da entidade empregadora no dia 10 de Julho de 2003, consta o pedido de autorização para a continuação do horário (...) efectuado até esta data, que é das 8h45m às 16h45m, pelo período de 10 anos, e a informação de que o motivo deste (...) pedido, deve-se ao facto de (...) ter uma filha de dois anos e o (...) marido estar impedido de exercer o poder paternal de acordo com o ponto 7 (sete) do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro (Cfr. doc. n.º 30 junto ao processo). 1.3. Em 6 de Agosto de 2003, a entidade empregadora enviou à trabalhadora uma comunicação nos termos da qual a informa de que o seu pedido de horário continuado não pode ser considerado, uma vez que não preenche alguns dos requisitos legais previstos no n.º 7 do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro, isto é, não declarou, sob compromisso de honra, que a criança faz parte do seu agregado familiar nem que o outro progenitor está impedido de exercer o poder paternal. Por esta razão, só depois de completado o pedido, o mesmo terá o devido seguimento legal (Cfr. doc. n.º 31 junto ao processo). 1.4. Em 7 de Agosto de 2003, o... enviou por fax à entidade empregadora uma exposição da

trabalhadora, datada de 7 de Agosto de 2003, na qual esta reafirma o pedido efectuado em 10 de Julho de 2003 e manifesta a sua surpresa quando lhe foram dadas instruções para praticar o horário da tarde, até ao fecho da loja (Cfr. doc. n.º 32 junto ao processo). 1.5. Na sequência da comunicação da entidade empregadora, em 6 de Agosto de 2003, a trabalhadora, em exposição datada de 8 de Agosto de 2003, informa que em aditamento aos requerimentos entregues em 10 de Julho de 2003 e 7 de Agosto de 2003 (vem) declarar sob compromisso de honra que..., progenitor de..., tem actividade profissional, estando por isso impedido de exercer o poder paternal, conforme carta da empresa do (...) cônjuge, entregue em 1 de Julho a V.Exa e refere ainda que no cumprimento do preceituado no Dec. Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro, art.º 18 n.º 7, vem requerer que lhe sejam deferidos os pedidos efectuados pelos requerimentos atrás mencionados. A trabalhadora junta cópia da declaração da entidade empregadora do pai da criança, na qual se pode ler que o referido é funcionário na empresa e desenvolve a sua actividade profissional em regime de horário de trabalho por turnos (Cfr. doc. n.º 33 junto ao processo). 1.6. Em 27 de Agosto de 2003, a requerente recebeu resposta desfavorável à sua pretensão porquanto, alega a empresa, a trabalhadora não pretende, afinal, nem a prestação de trabalho em jornada contínua, nem a prestação de trabalho em horário flexível... a trabalhadora não pretende prestar trabalho com intervalo de descanso não superior a 30 minutos,... até porque... o regime já se verifica, na prática, em virtude do disposto na cláusula 11.ª/9 do CCT. Refere a empresa que, embora a trabalhadora sempre tenha prestado, de forma rotativa mensal, os dois horários vigentes na loja, correspondendo o horário de abertura ao período compreendido entre as 8h45m e as 16h45m e o horário de fecho ao período compreendido entre as 15h30 e as 23h30m; durante a gravidez e a amamentação foi-lhe concedido o horário de abertura, aliás como sempre é facultado às trabalhadoras que se encontram em tais situações. A empresa refere ainda que, de acordo com o n.º 9 do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro, mesmo sendo deferido o pedido de jornada contínua, sempre caberia à entidade empregadora a elaboração do horário a cumprir pela trabalhadora, horário esse que poderia ser o de fecho da loja e por isso implicar trabalho nocturno.

1.7.1. Para além dos motivos expostos, resulta ainda da resposta da entidade empregadora que a prestação de trabalho, de modo fixo, apenas durante o horário de abertura da loja seria incomportável para a empresa uma vez que todas as trabalhadoras que comunicam o seu estado de gravidez passam a praticar esse horário e deixam de trabalhar durante o período de fecho, regime esse que mantêm durante o período de amamentação. Para além disso, o horário de abertura da loja é o de menor afluência de clientes, uma vez que é a partir das 15h30m que se regista mais movimento. Refere ainda a empresa que, se todas as trabalhadoras que se encontram em estado de gravidez ou de amamentação solicitassem a continuação do horário de abertura da loja para além desses períodos, teria que contratar mais funcionários para o horário de fecho da loja, o que implicaria consequências económicas totalmente injustificadas e incomportáveis. 1.7.2. A entidade empregadora apresentou à trabalhadora, a título excepcional, três propostas de organização do seu tempo de trabalho; ou seja, foi-lhe proposto que passasse a cumprir o horário rotativo semanalmente e não mensalmente, de modo a poder conciliar o horário com o do marido ou, em alternativa, que reduzisse o seu período de trabalho semanal para 30 horas ou para uma prestação de trabalho apenas aos fins de semana. No entanto, nenhuma das opções foi aceite. 1.7. Em 30 de Agosto de 2003, a trabalhadora respondeu à exposição de motivos da empresa invocando que pretende o horário em regime de jornada contínua, entre as 8h45m e as 16h45m, dado que o pai da criança exerce actividade profissional encontrando-se impedido de prestar acompanhamento à filha. 1.7.1. A trabalhadora alega não perceber qual a razão da impossibilidade da manutenção do horário fixo, uma vez que a empresa se propõe facultar-lhe a prática do horário rotativo com alternância semanal e refere, ainda, ter tido conhecimento de funcionários que realizavam o período de abertura e foram transferidos para outra loja. 1.7.2. Na resposta à exposição, a trabalhadora afirma que o horário rotativo com alternância semanal não lhe permite conciliar a sua actividade profissional com a sua vida familiar e que a redução do horário para 30 horas semanais ou só para durante o fim de semana seria lesiva dos seus interesses porquanto o vencimento seria menor.

II - ENQUADRAMENTO JURÍDICO 1 Verificados os factos, cumpre analisar e enquadrar juridicamente a questão suscitada. Assim: 2.1.1. De acordo com o previsto no n.º 1 do artigo 19.º do anexo ao Decreto-Lei n.º 70/2000, de 4 de Maio, os trabalhadores com um ou mais filhos menores de 12 anos têm direito a trabalhar em horário reduzido ou flexível em condições a regulamentar. 2.1.2. As condições de atribuição do direito referido são as que constam dos artigos 16.º a 18.º do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro. 2.1.3. A trabalhadora requereu continuar a praticar o horário que vinha praticando desde a sua gravidez e durante o período em que amamentou, ou seja, pretende realizar a sua prestação de trabalho das 8h45m às 16h45m, por um período de dez anos. 2.1.4. Na loja a que se encontra adstrita a trabalhadora, praticam-se dois horários, a saber; o horário de abertura (das 8h45m às 16h45m) e o horário de fecho (das 15h30m às 23h30m). Tais horários são aplicáveis aos trabalhadores que prestam 40 horas semanais de serviço, como é o caso da requerente, e são organizados de forma rotativa mensal. 2 Ora, tais horários são, desde logo, praticados em regime de jornada contínua, com pausa de 30m para refeição, pelo que a requerente já pratica este regime de horário. 3 De facto, durante os períodos de gravidez e de amamentação a trabalhadora prestou a sua actividade entre as 8h45m e as 16h45m e entre as 8h45m e as 14h45m, respectivamente, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 22.º do anexo ao Decreto-Lei n.º 70/2000, de 4 de Maio (dispensa de trabalho nocturno) e de acordo com o n.º 2 do artigo 14.º do mesmo diploma legal (redução de duas horas por dia para amamentar). 4 Caso diverso é o da continuação da prática do regime de jornada contínua no horário fixo proposto pela trabalhadora, após as situações descritas em 2.3.

Assim, dispõe o n.º 9 do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro, que o horário em jornada contínua e o horário flexível referidos nos números anteriores devem ser elaborados pela entidade patronal. Desta forma, pode a entidade empregadora elaborar o horário da trabalhadora, de molde a que esta mantenha o regime de trabalho em jornada contínua mas fixando, no entanto, que mensalmente ou semanalmente (conforme proposto à requerente) exerça a sua actividade, de forma rotativa, nos dois períodos (de abertura e de fecho da loja). III - CONCLUSÃO 3.1. Face ao exposto, a Comissão é de parecer que a jornada contínua deve ser mantida em horário estabelecido pela entidade empregadora, com respeito pelo princípio da conciliação da actividade profissional com a vida familiar constitucionalmente garantido, que se pode traduzir na rotatividade de horários proposta pela empresa, sem prejuízo de outro acordo entre a entidade empregadora... - Companhia..., S.A. e a trabalhadora... APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE REALIZADA EM 30 DE SETEMBRO DE 2003