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Transcrição:

As primeiras viagens Um amigo do meu pai tinha um automóvel Citroen. Na década de 50, no Brasil, poucos tinham carros, e o Tio Aloísio, este era o seu nome, tinha um Citroen daqueles pretos, usados na 2ª Guerra Mundial. Talvez com inveja do amigo, ou quem sabe por necessidade, o meu pai também comprou um carro igual. Nesse carro costumávamos viajar por lugares próximos, mesmo porque como as estradas eram muito ruins, ninguém se aventurava de carro a ir a lugares muito longes. O meu pai era engenheiro e estava com obras em Mangaratiba, Ilha da Jiboia em Angra dos Reis, e em Petrópolis. Nós morávamos no Rio de Janeiro e essas eram as nossa viagens. O tal amigo do meu pai costumava dizer o seguinte: - Emerson, num Citroen você está seguro. Este carro nunca irá capotar. Pode ficar certo disso, tanto quanto dois mais dois são quatro. Ele dizia isso com tanta convicção, da mesma forma que repetia esta mesma frase, que eu acabei acreditando tratar-se de uma verdade universal. Um dia fomos viajar, talvez numa daquelas viagens acima, pois não me lembro de outras, e o Tio Aloísio ia à frente, no seu seguro Citroen, e nós atrás no carro também seguro do meu pai. Íamos por uma estrada de terra, levantando tanta poeira, que o meu pai resolveu guardar certa distância do carro do amigo. Em determinado momento, quando o rastro de poeira sumiu, o meu pai afirmou: - O Aloísio deve ter parado em algum lugar a nossa frente, pois não vejo mais a poeira. Não foi bem assim, o Citroen de Tio Aloísio tinha capotado e estava de cabeça para baixo. Quando chegamos perto, ele não se deu por vencido: - Não foi o carro, foi a estrada. O meu pai morreu pouco depois e a minha vida de viajante sofreu uma longa interrupção. Éramos três irmãos e a minha mãe decidiu com os bens que restaram comprar um apartamento em Icaraí, praia de Niterói, onde fomos morar juntos com os meus avós e uma tia solteira. O meu primeiro aprendizado como viajante foi que os tais Citroens capotavam. Este foi o conhecimento prático, o outro, de ordem filosófica, foi que não existia nenhuma verdade definitiva. Aquele Citroen de rodas para o ar me dava as minhas primeiras lições de vida. Ainda bem que não tinha sido o meu pai a capotar, pois com a sua morte, o carro foi vendido e serviu para ajudar na compra do tal apartamento em Icaraí. Nunca mais vi o Tio Aloísio, talvez envergonhado por ensinar coisas erradas para crianças, ele sumiu. Ainda nas primeiras viagens: Nova Friburgo décadas de 50/60 Aquela viagem onde o Citroen do Tio Aloísio ficou de pernas para o ar mudou alguns conceitos que norteavam a minha vida, as viagens para Nova Friburgo no final da década de 50 e início da década de 60 colocaram a minha vida de pernas para o ar, assim como o Citroen do titio.

A minha mãe resolveu me colocar num colégio interno na cidade de Nova Friburgo. Não sei se ela achava que eu estava muito solto pela Praia de Icaraí ou se realmente queria se livrar de mim por um tempo. Ou seja, eu era um problema e o colégio interno a solução. Centenas de outros pais também pensavam da mesma forma, e assim o Colégio Nova Friburgo, reunia um grupo enorme de garotos, e umas poucas mulheres, todos com algum tipo de problema. Um grupo de garotos problemas reunidos dia e noite no mesmo local só poderia resultar num problema muito maior. Pelo menos comigo foi isso que aconteceu. Mas eu não vou falar disso mas sim apenas de viagens. Naquela época, ir de Niterói a Friburgo demorava cerca de quatro horas de viagem. Hoje o mesmo trajeto pode ser feito em menos da metade deste tempo. Na primeira vez que fui ao colégio, a minha mãe foi comigo, mas nas outras idas, e vindas, eu ia sozinho, mesmo com onze anos de idade. Entre Itaboraí e Cachoeira de Macacu, se não me engano, a estrada era de barro, que virava um lamaçal quando chovia. Nesses casos o tempo de viagem poderia aumentar muito. Uma vez o ônibus escangalhou no meio dessa lama e nós ficamos horas esperando que passasse outro ônibus indo para Friburgo para que a companhia fosse avisada e enviasse outro ônibus. Quem acha que celular é chato, certamente iria gostar muito de ter um celular nessa estrada de lama no meio de uma chuva intermitente. Depois de viajar de Citroen, eu tive essa experiência de viajar de ônibus, e eu confesso que não era nada agradável. Viajar naquela época não me atraia. Muitas vezes eu chegava tonto e enjoado no meu destino. Como eu ficava cerca de três semanas no colégio até ter um fim-desemana de folga, foram muitas as viagens que fiz para Friburgo. Até ser expulso do Colégio. Na foto anterior eu apareço sentado na arquibancada do futebol assistindo uma aula ao ar livre do Professor Amauri. Não estou com uma cara muito feliz. Paquetá na mesma época A ilha de Paquetá era um lugar aprazível. Isso antes da poluição tomar conta de toda a Baia da Guanabara. Um parente, que não me lembro qual, talvez um dos irmãos do meu avô, que

eram dezoito, tinha uma casa em Paquetá. A minha mãe, sua irmã e talvez alguns outros parentes, quem sabe meu avô e minha avó, às vezes iam para Paquetá. Eu gostava das praias e dos passeios de charrete. O problema que os adultos, gostavam de ficar jogando Buraco. Para quem não conhece, o Buraco é um jogo de cartas que pode ser jogado em duplas, duas duplas de cada vez. Ou seja, enquanto quatro jogavam, outros esperavam. Os adultos varavam noite e dia jogando, enquanto as crianças tentavam arrumar o que fazer. Ir para Paquetá era bom, pois tomávamos uma barca até a Praça XV no Centro do Rio e depois outra para a ilha. Porém, ficar em Paquetá não era muito agradável com toda aquela jogatina. Contudo os jogos não eram a dinheiro. Eles não ganhavam nada para jogar sem parar. Eu já fui a Campos Naquela época não tinha ainda Garotinho e nem Garotinha, mas eu uma vez fui a Campos fazer prova para admissão no finado Banco Predial. Não sei por que, mas foi lá o exame que tive que prestar. Eu mal tinha feito 18 anos, não tinha estudado nada, e minha mãe me inscreveu neste exame. O interessante, para ser registrado nestas memórias de viagens, é que eu fui de trem de Niterói a Campos. Não lembro quanto tempo levou a viagem, mas deve ter sido uma viagem mais agradável do que ir a Campos de ônibus, mesmo nos dias atuais. A ditatura militar que tomou conta no país a partir de 1964, não se sabe exatamente porque, resolveu acabar com o transporte em linhas férreas. O país até hoje sofre com esta estapafúrdia decisão dos militares. Eu e Ernani, um amigo que viajou comigo, ficamos alojados numa igreja, onde dormimos, e no dia seguinte, após o exame, retornamos a Niterói. Alguns anos mais tarde eu fui aprovado no exame de admissão no BNH (Banco Nacional da Habitação) e a minha vida mudou. Muitos anos depois, a caminho de Porto Seguro, viajando de carro passei algumas vezes por Campos. Acho que fomos a Porto Seguro umas três vezes de carro e pelo menos uma vez a Vitória, sempre passando por Campos. Nova Friburgo ainda na década de 60 e alguns anos depois Eu criei uma espécie de fixação por Friburgo. Embora eu tivesse saído traumatizado do colégio interno, não transferi o meu ódio para a cidade. Pouco tempo depois de ter sido expulso eu voltei ao próprio colégio. Nós tínhamos um time de futebol na Praia de Icaraí chamado Marombas. Através de um amigo, nós conseguimos que o time fosse convidado para jogar no Colégio Nova Friburgo. Ficaríamos hospedados nas instalações do próprio colégio onde também teríamos as refeições. Nós chegamos no sábado no final da tarde para jogar no domingo de manhã. Alguém tinha levado uma garrafa de cachaça e quase não conseguimos dormir, pois alguns dos nossos resolveu ficar falando e fazendo barulho a noite toda, ao ponto dos próprios alunos quererem nos expulsar do colégio, pois estávamos no mesmo dormitório que eles usavam. Eu ia ser expulso pela segunda vez. No dia seguinte recebemos a notícia que iríamos jogar e depois sumir do colégio. Para não perder a mania, eu arrumei uma confusão durante a partida e acabei sendo expulso do jogo. Voltei várias vezes à Nova Friburgo e era frequente eu voltar a visitar o colégio, que já tinha mudado de nome e nem era mais um internato. A minha mulher já não aguentava mais tantas

visitas que eu insistia em fazer. Era um ritual quase que anual, que apenas deixei de fazer quando a cidade foi inundada por um temporal que destruiu quase todo o seu centro, mas talvez algum dia eu voltaria a fazer essa minha peregrinação. Como realmente aconteceu em 2013, quando uma Travessia num lago no Hotel Fazenda Boa Vida me trouxe de volta a cidade. Em 1973, como na música de Raul Seixas, eu comprei um Corcel 1973 e a primeira coisa que fiz foi viajar para Friburgo. Sandrinha estava em avançado estado de gravidez do nosso primeiro filho. Não é que o danado do Corcel escangalhou na estrada, no meio da subida da serra! Eu me lembro que era noite e ficamos algum tempo nervosos até que o carro resolveu, por milagre, voltar a funcionar. Friburgo sempre traz algumas lembranças. A foto anterior foi tirada no hotel Sans Souci, que infelizmente não existe mais. O meu tio Wanderley através de uma herança ganhou uma casa muito velha em Friburgo onde a família costumava ir no verão. Nessa época a minha cabeça já tinha voltado ao lugar e eu passei a frequentar a casa com Sandrinha, que viria a ser minha futura esposa. A casa estava caindo aos pedaços, mas serviu de abrigo durante alguns carnavais. Sandrinha na frente do casarão em Nova Friburgo, aquele onde as vovós urinavam no urinol.

Numa das vezes, Eliane, prima da Sandrinha, foi conosco, e levou um namorado da época chamado Biar. Não confunda com beer. As duas ficaram no quarto com a minha avó Laura, mais conhecida como Laurinha, e a sua irmã, minha tia avó, Dulce. No quarto tinha um urinol e as duas (vovó Laurinha e tia Dulce) se revezavam, durante a noite, na árdua tarefa de urinar no urinol. Alguns hábitos realmente eram difíceis de serem mudados. Eliane ficou noiva de Biar em Friburgo naquela casa caindo aos pedaços e ao som de Dulce e Laurinha urinando. Realmente não podia dar certo o tal noivado, como não deu. Paty do Alferes, Miguel Pereira, Arcozelo e redondezas Eu nunca mais voltei para Paty do Alferes, Miguel Pereira e agora descobri que Arcozelo não existe. Procurei muito no Google Mapas e não existe nenhuma cidade chamada Arcozelo. Quando estive por lá em 1970 me falaram que era uma cidade, ou mentiram para mim ou realmente estavam mal informados. De qualquer forma eu também não poderia voltar mesmo para um lugar que não existe. Apesar de nunca ter voltado lá, eu gostei muito da estadia e nunca mais esqueci os dias maravilhosos que por lá passei e vou explicar a razão. Na foto anterior eu e Sandrinha estávamos tomando Coca-Cola. Naquela época eu ainda tomava Coca-Cola. Seu Ivan, meu futuro sogro, resolveu comprar um carro. Era uma Variant 1970 da Volks. Como ele não sabia dirigir e nem tinha carteira, eu fiquei com o encargo de ser o motorista naquela nossa primeira viagem. Fomos para o Hotel Arcozelo, acho que o nome era este, eu, Sandrinha, Seu Ivan (futuro sogro), Dona Clea (futura sogra), Tia Nea (irmã do meu sogro e que hoje está com 94 anos), mais conhecida então como Hebe Camargo de Icaraí, e mais alguns parentes, dentre eles a prima irmã de Sandrinha chamada Eliane, sobre quem já falei quando descrevia uma das minhas inúmeras passagens por Nova Friburgo. Aquela que também dormiu no quarto das vovós que urinavam no urinol. Após uma rápida visita pelas cidades de Miguel Pereira e Paty de Alferes, já que Arcozelo não existia, o pessoal, comandado por Seu Ivan se dirigiu para a área da piscina do hotel. A

primeira coisa que fizeram foi chamar o garçom e mandar trazer algumas cervejas. Até hoje, mesmo com mais de 90 anos, se deixar Seu Ivan ainda chama o garçom e pede uma cerveja. Eu e Sandrinha aproveitamos aquele momento de distração, onde todos estavam preocupados com as cervejas, e fomos para o quarto do hotel, talvez o meu quarto. Naquela época as coisas eram um pouco diferentes e namorados tinham que dormir separados. Como éramos todos tão hipócritas? Da janela do quarto, quando Seu Ivan dizia mais uma, eu na penumbra obedecia. Aliás, eu e o garçom, só que este trazia cervejas e eu trazia amor. Adorei Arcozelo, a cidade que não existia.