Brasília, 14 de maio de 2008. O Sr. DR. TALMIR (PV SP) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, segundo as escrituras bíblicas, Israel é a terra prometida por Deus ao povo hebreu, além de ser o berço do judaísmo, seja como religião, seja como cultura. Não obstante essa tradição remontar ao século XVII a.c., só no século passado, Israel, hoje consolidado na forma de república democrática parlamentar, nasceria como nação independente. Na data histórica de 13 de maio de 1948, criava-se o Estado de Israel, segundo decisão da Assembléia Geral das Nações Unidas, por 33 votos a favor, inclusive do Brasil, que teve na figura do Chanceler Oswaldo Aranha, como Presidente da sessão, um papel decisivo. Naquele dia, Senhoras e Senhores Deputados, mudava-se para sempre a saga milenar dos judeus, a geopolítica da Palestina, assim como a realidade do Oriente Médio. O mundo mudava. E a História mudaria radicalmente o seu curso. O gesto da ONU, os traumas da guerra recém-finda, o sofrimento imposto aos judeus na Europa conflagrada, os esforços para a reconstrução das relações internacionais, nada seria capaz de apaziguar os corações e promover a tolerância. Longe de desaparecer, o anti-sionismo, que recrudescera a partir dos anos trinta e encontrara seu ápice durante a 2.ª Guerra Mundial, promovido pela Alemanha de Adolf Hitler, lançou-se a novos confrontos, já então na zona territorial do novo Estado, na Palestina. Minutos depois da criação oficial do Estado de Israel, a Liga Árabe, formada pela Transjordânia, Egito, Iraque, Síria e **
2 Líbano, perpetrava a primeira invasão. A população árabe, majoritária, contrária a qualquer idéia de partilha, jamais aceitaria ali a presença dos judeus. Embora a paz fosse o objetivo maior dos que abraçaram a causa, em todo o mundo, o alvorecer do Estado de Israel foi assim pontuado de beligerância. E mesmo antes, ao longo da ocupação da região por tropas inglesas, em cumprimento à determinação da Liga das Nações, que reconhecia a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e recomendava que a Grã-Bretanha facilitasse o estabelecimento de um lar nacional judaico, confiando àquele País o Mandato sobre a Palestina. Desde o início do influxo migratório, já se verificava uma forte reação às sucessivas levas de judeus, chegados principalmente da Rússia cerca de 35.000, entre os anos de 1919 e 1923, e sessenta mil, entre 1924 e 1932. Cada vez mais, se polarizava o nacionalismo de árabes e judeus. Cada parte desconfiava uma da outra e ambas desconfiavam dos britânicos. A tensão, aliás, é o pano de fundo do romance autobiográfico Pantera no Porão, do festejado escritor judeu, militante da paz, Amós Oz. Passada em 1947, um ano antes, portanto, da criação de Israel, e situada no universo do autor menino, suspenso entre a realidade e a fantasia, a história descreve a dureza daqueles tempos, sob o império do medo, da insegurança, das incógnitas quanto ao futuro. A resistência já se impunha como traço marcante da identidade dos futuros cidadãos israelenses. **
3 Dotados de um estoicismo com raríssimos paralelos na epopéia humana, os pioneiros lançaram os fundamentos de uma sociedade admirável: introduziram, entre outras experiências inéditas, modelos comunitários de assentamento rural, únicos até hoje o kibutz e o moshav; desenvolveram tecnologias; estabeleceram pequenos negócios e indústrias leves; dotaram o País ainda em gestação de um formidável sistema de irrigação; criaram as melhores condições possíveis de vida tanto urbana quanto rural; criaram vigorosos movimentos culturais; represaram as águas do Rio Jordão para gerar energia elétrica; exploraram o potencial mineral do Mar Morto; construíram estradas, moradias e demais itens de infra-estrutura necessários aos primeiros passos do desenvolvimento socioeconômico. Estabelecidos preponderantemente em Tel Aviv, Haifa e Jerusalém, alguns eram acadêmicos, eruditos; outros, técnicos, profissionais largamente habilitados; outros ainda vinham com a bagagem respeitável da experiência. Todos traziam, para além dos projetos pessoais, um grandioso projeto de nação. Juntos, com educação e preparo, idealismo e fé, haveriam de realizá-lo. A prova disso, Senhor Presidente, aí a temos, decorridos apenas sessenta anos. Do sofrimento do povo judeu formulou-se um projeto vitorioso de Democracia, desenvolvimento e justiça social; do ideal da Pátria renascida fez-se a Nação criança, enfim vitorioso o sionismo, enquanto movimento de libertação do povo judeu: a palavra deriva de Sion, que significa Jerusalém e a Terra de Israel. Novíssimo berço da tecnologia, da arte e do pensamento humanístico, o Estado de Israel constitui exemplo para o mundo. **
4 Infelizmente, no entanto, as glórias e as conquistas têm-se manchado de sangue sangue judeu e sangue árabe, em uma tragédia que parece não ter fim, alimentada que foi ao longo do tempo, não apenas por políticas internacionais equivocadas, mas acima de tudo pela irracionalidade da intolerância, quer racial, quer religiosa, da não aceitação da realidade histórica, da exposição de um ódio rançoso, cruel, sem prognóstico de resolução. Sobre o ódio, aliás, no mesmo Pantera no Porão há, a certa altura, uma referência digna de transcrição. Diz o autor: Na Polônia, por exemplo, eles nos odiavam porque nós éramos diferentes, porque éramos estrangeiros e parecíamos estranhos, porque falávamos, nos vestíamos e comíamos de uma maneira completamente oposta a todos os outros ao redor. Mas a vinte quilômetros dali, do outro lado da fronteira, na Alemanha, eles nos odiavam pelo motivo oposto: na Alemanha nós falávamos, comíamos, nos vestíamos e nos comportávamos exatamente como todo mundo. E assim, os anti-semitas diziam: Veja como eles se insinuam entre nós! Sim, é verdade, não se pode mais dizer quem é judeu e quem não é!. Esse é o nosso destino: as desculpas para o ódio mudam, mas o ódio continua eternamente. E qual é a conclusão? Tentar não odiar. É esta a mensagem que deixo neste momento, como Presidente da Frente Parlamentar Cristã Brasil-Israel pela paz na Terra Santa, Oriente Médio e no Mundo: a FRENPAZBRASIL, que tem como objetivos promover o diálogo dos **
5 dois países, estabelecer procedimentos de consultas entre os respectivos parlamentos, estimular a educação para a paz e valorizar a tolerância cultural. O peso e o prestígio do Brasil, no cenário internacional, hoje, não só autorizam, como, além disso, obrigam-nos a um envolvimento maior, a uma atuação mediadora mais efetiva, até como forma de honrar o papel histórico que tivemos, na memorável sessão de criação do Estado de Israel. O mundo não pode continuar assistindo a essa luta sanguinária, deixando sua solução a cargo, apenas, de alguns poucos países, que obviamente privilegiam os próprios interesses na agenda de discussões. A FRENPAZBRASIL, creia, Senhor Presidente, quer ser uma voz, neste cenário. No mais, os meus parabéns ao povo judeu, em Israel, aos judeus residentes no Brasil e a todos aqueles que, ao longo dessas seis décadas, têm trabalhado pela grandeza do Estado de Israel. Muito obrigado. DR. TALMIR Deputado Federal PV/SP **
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