Meritíssimo Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional R-1870/11 (A6)



Documentos relacionados
PEDIDO DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

REGULAMENTO DE REGISTO E INSCRIÇÃO DOS ADVOGADOS PROVENIENTES DE OUTROS ESTADOS MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA

REGULAMENTO DE CREDITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS, FORMAÇÃO E EXPERIENCIA PROFISSIONAL

(PROPOSTA) REGULAMENTO DE CREDITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS ACADÉMICAS, EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS E OUTRA FORMAÇÃO

Desenho Técnico (5 ETCS) Gestão da Produção e Manutenção (4 ECTS) Qualidade e Gestão de Recursos (4 ECTS) Órgãos de Máquina I (5 ECTS)

DECRETO N.º 37/VIII. Artigo 1.º Objecto. Artigo 2.º Sentido e extensão

Por despacho do Presidente da Assembleia da República de 26 de Julho de 2004, foi aprovado

Circular N/REFª: 29/2013 DATA: 04/03/2013. ASSUNTO: Taxas de Publicidade. Exmos. Senhores,

T R I B U N A L C O N S T I T U C I O N A L

PROJECTO DE LEI N.º 329/VIII

REGULAMENTO DO CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA DA FACULDADE DE DIREITO DE COIMBRA

REGULAMENTO DE QUOTAS DA ORDEM DOS ARQUITECTOS

INSTITUTO PORTUGUÊS DE ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING DE LISBOA. Regulamento de provas de avaliação da capacidade para a frequência dos maiores de 23 anos

Ministério da Administração do Território

DE QUOTAS DA ORDEM DOS ARQUITECTOS

COMUNICADO N.º 1 INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS LEGAIS DO AGENTE DE EXECUÇÃO

SEGuRO DE RESPONSABILIDADE CIVIL PROFISSIONAL

REGULAMENTO DE CANDIDATURA AOS CURSOS TÉCNICOS SUPERIORES PROFISSIONAIS

REGuLAMENTO DE RECRuTAMENTO, SELECçãO E CONTRATAçãO DE FORMADORES

Cidadania Europeia. Debate Ser e Estar na Europa, Pintainho, Janeiro 2009

Pº C.Co.36/2012 SJC-CT

QUEM É QUE ESTÁ DISPENSADO DO EXAME DE ORDEM DA OAB?

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. N. o DIÁRIO DA REPÚBLICA I SÉRIE-A

REGIMENTO DO CONSELHO DO INSTITUTO

RESPOSTA A QUESTÃO DE ORDEM SOBRE A INCLUSÃO DE MATÉRIA ESTRANHA À MEDIDA PROVISÓRIA EM PROJETO DE LEI DE CONVERSÃO ENVIADO À APRECIAÇÃO DO SENADO

Regulamento Geral Interno Associação dos Amigos do Armazém das Artes RI AAAA

ORDEM DOS NOTÁRIOS REGULAMENTO DE ESTÁGIO

Perguntas Frequentes sobre a Rede de Apoio ao Consumidor Endividado

Agrupamento de Escolas Raul Proença 12 de março de 2013 Informações

7. PROTOCOLO RELATIVO AOS PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DA UNIÃO EUROPEIA

Regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo Perguntas e respostas sobre a inscrição/renovação da inscrição

PARECER N.º 50/CITE/2003. Assunto: Parecer nos termos do artigo 17.º n.º 2 do Decreto-Lei n.º 230/2000, de 23 de Setembro Processo n.

Assunto: Conselhos Municipais de Juventude. Lei n.º 8/2009, de 18 de Fevereiro.

PARECER N.º 38/CITE/2005

ACÓRDÃO N.º 3/2011. Acordam, em Plenário, no Tribunal Constitucional

Regulamento Geral da Formação

Informações gerais. Formação Inicial de Instrutores de Condução


FACULDADE DE DIREITO UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA. Regulamento do Terceiro Ciclo de Estudos. Conducente ao Grau de Doutor/a em Direito

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA Artigo: 29º, 36º e 40º

RECOMENDAÇÃO N.º 6/ B / 2004 [art.º 20.º, n.º 1, alínea b), da Lei n.º 9/91, de 9 de Abril]

Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Regulamento Eleitoral da Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela. ARTIGO 1º 1- Os membros dos órgãos sociais da Real

R E S O L U Ç Ã O. Fica alterado o Regulamento de Estágio Supervisionado do Curso de Psicologia, do. São Paulo, 26 de abril de 2012.

Considerando que as Faculdades Integradas Sévigné estão em plena reforma acadêmica que será implementada a partir de 2009 e;

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

REQUERIMENTO DE INSCRIÇÃO DE ADVOGADO ESTAGIÁRIO (Modelo)

CCV Correios de Cabo Verde, SA. Decreto Lei nº 9-A/95:

DESPACHO N. GR.02105/2010

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

APOSENTAÇÃO, FÉRIAS, FALTAS E LICENÇAS

PARECER N.º 185/CITE/2013

PARECER N.º 28/CITE/2005

Escola Superior de Educação João de Deus. Curso Técnico Superior Profissional

Artigo 2 (Proibição do Secretismo) As associações não podem ter carácter secreto.

Regulamento do Conselho de Administração da Assembleia da República

Decreto Legislativo Regional nº. 003/2001

6736-(6) DIÁRIO DA REPÚBLICA I SÉRIE-A N. o

REGULAMENTO FINANCEIRO DO CDS/PP

REGULAMENTO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

1. Condições de inscrição

Manual do Revisor Oficial de Contas. Directriz de Revisão/Auditoria 701

REGRAS PARA A CONCESSÃO DO ESTATUTO DE TRABALHADOR- ESTUDANTE. Artigo 1.º (Valorização pessoal e profissional)

Só um ou, quando muito, dois membros do órgão de gestão ou administração da empresa local pode ser remunerado.

Publicado em h:28m N.º 257

PROJETO DE REGULAMENTO N.º ---/SRIJ/2015 REGRAS DE EXPLORAÇÃO DE APOSTAS HÍPICAS MÚTUAS ONLINE

FUNCHAL. CAE Rev_ ACTIVIDADES DE ANGARIAÇÃO IMOBILIÁRIA ÂMBITO:

FICHA DOUTRINÁRIA. nº 14 do art.º 29º e nº 11 do art.º 36º do CIVA.

REGULAMENTO DO CURSO DE PREPARAÇÃO PARA REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

Lei Orgânica da Provedoria de Justiça

Regulamento dos Regimes de Reingresso, Mudança de Curso e Transferência

OUTROS REGIMES 2015/2016 MUDANÇA DE PAR INSTITUIÇÃO/CURSO

Município de Valpaços

REGULAMENTO. Estudante Internacional

Bolsa de Mérito para Estudos Pós-Graduados em Artes

Regulamento da Creditação

JUSTIFICATIVA PARA A ELABORAÇÃO DE UM NOVO DECRETO REGULAMENTANDO A ATIVIDADE DAS COOPERATIVAS DE TRABALHO JUNTO AO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Regulamento Geral dos Regimes de Reingresso, Mudança de Par/Instituição/Curso

Exmo. Sr. Dr. Alfredo José de Sousa M.I.Provedor de Justiça. Lisboa, 23 de Fevereiro de 2010

Regulamento Geral dos Cursos de 1.º Ciclo de Estudos, conducentes ao grau de

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS. Artigo 1.º. Âmbito

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS

O R D E M D O S A R Q U I T E C T O S REGULAMENTO DE INSCRIÇÃO

Regulamento das Provas Especialmente Adequadas Destinadas a Avaliar a Capacidade para a Frequência do Ensino Superior dos Maiores de 23 Anos.

Convenção nº 146. Convenção sobre Férias Anuais Pagas dos Marítimos

C R E D I T A Ç Ã O D E F O R M A Ç Ã O E D E E X P E R I Ê N C I A P R O F I S S I O N A L

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS PROPOSTA DE LEI N.º 2/XII/1.ª. Exposição de Motivos

RMABE-Regulamento Municipal de Atribuição de Bolsas de Estudo Preâmbulo

Parecer Jurídico. Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades

DECRETO N.º 41/IX. Artigo 1.º Objecto

EFICÁCIA E APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Princípios ABC do Grupo Wolfsberg Perguntas Frequentes Relativas a Intermediários e Procuradores/Autorizados no Contexto da Banca Privada

Transcrição:

Meritíssimo Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional R-1870/11 (A6) O Provedor de Justiça, no uso da competência prevista no artigo 281.º, n.º 2, alínea d), da Constituição da República Portuguesa, vem requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade das normas dos artigos 24.º, n.ºs 3 e 4, 36.º, n.º 2, 2.ª parte, e 42.º, n.º 5, 2.ª parte, do Regulamento Nacional de Estágio da Ordem dos Advogados (Regulamento n.º 52-A/2005, de 1 de Agosto), na redacção que lhes foi dada pela Deliberação n.º 3333-A/2009, de 16 de Dezembro, do Conselho Geral da Ordem dos Advogados. Entende o Provedor de Justiça que os mencionados preceitos violam as normas por sua vez constantes dos artigos 18.º, n.ºs 2 e 3, e 165.º, n.º 1, alínea b), da Constituição, nos termos e pelos fundamentos adiante aduzidos. 1.º As normas em causa foram aditadas ao Regulamento Nacional de Estágio da Ordem dos Advogados (adiante Regulamento), publicado como Regulamento n.º 52-A/2005, de 1 de Agosto, pela art.º 2.º da Deliberação n.º 3333-A/2009, de 16 de Dezembro, do Conselho Geral da Ordem dos Advogados.

2.º O estágio para acesso à profissão de advogado, nos termos actuais do Regulamento, compreende uma fase de formação inicial e uma fase de formação complementar (art.º 2.º, n.º 1). 3.º A avaliação da primeira, permitindo o acesso à segunda, é feita através de uma prova de aferição (art.º 22.º). 4.º A avaliação da fase de formação complementar é essencialmente efectuada por um exame (art.º 33.º), composto por uma prova escrita (art.º 34.º) e por uma prova oral (art.º 39.º). 5.º O art.º 24.º, n.º 1, do Regulamento determina que, em caso de falta reiterada à prova de aferição ou de obtenção de classificação negativa nesta, o advogado estagiário fica obrigado a nova inscrição em curso de estágio, o primeiro que se iniciar após tal acto, como preceitua o n.º 2 do mesmo artigo. 6.º O n.º 3 do art.º 24.º estabelece que a fase de formação inicial só pode ser repetida uma vez, o que, sem mais e conjugadamente com a obrigação de reinscrição, só permitiria, em si mesmo, a interpretação de que tal reinscrição apenas poderia ocorrer uma vez, tornando-se definitiva a exclusão do acesso ao estágio (e consequentemente à profissão de advogado) em caso de dupla situação de não aproveitamento na prova de aferição (por falta reiterada ou por classificação negativa). 7.º Esta conclusão, embora limitada no tempo, é confirmada pelo teor do n.º 4 do mesmo artigo, ao estipular que, após a referida repetição da fase de formação inicial e se não

obtiver classificação que permitisse a prossecução do estágio, fica impedido o cidadão em causa de se reinscrever em curso de estágio [e, portanto, de aceder à profissão] pelo período de três anos. 8.º O art.º 36.º do Regulamento incide, por sua vez, sobre o tratamento a dar ao advogado estagiário que não obtenha classificação positiva na prova escrita que ocorre no final da fase de formação complementar, vinculando-o, no seu n.º 1, à repetição desta fase. 9.º Admitindo a parte inicial do n.º 2 do mesmo art.º 36.º a repetição da fase de formação complementar por uma só vez (mas aqui sem alcance idêntico à determinação do art.º 24.º, n.º 3), a parte final deste número estabelece, em caso de nova falta de aproveitamento, proibição similar à acima referenciada, impedindo o cidadão de se inscrever em novo curso de estágio pelo período de três anos. 10.º Por fim, o art.º 42.º rege sobre as situações de falta de aproveitamento na prova oral a que se refere o art.º 39.º, possibilitando a sua repetição (n.º 1) e, em caso de não aprovação, a repetição, por uma só vez, em condições similares ao previsto no art.º 36.º, da fase de formação complementar. 11.º No final desta nova fase de formação complementar e em caso de reprovação na respectiva prova oral (e sua eventual reiteração), determina o art.º 42.º, n.º 5, uma vez mais, que fica o advogado estagiário impedido de se inscrever em novo curso de estágio pelo período de três anos.

12.º O banimento da possibilidade de frequência de novo estágio, mesmo que por apenas três anos, é uma medida absolutamente inovatória face ao quadro legal referente à inscrição na Ordem dos Advogados e, concomitantemente, no acesso à profissão de advogado. 13.º Substantivamente, não se distinguem os efeitos desta solução da aplicação de uma sanção disciplinar de suspensão, esta tendo os seus trâmites, orgânicos, formais e materiais, devidamente acautelados na lei. 14.º Não pode igualmente duvidar-se que a aplicação de qualquer das normas impugnadas restringe a liberdade de escolha de profissão, prevista no art.º 47.º, da Constituição, posto que pelo período de três anos. 15.º O art.º 187.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, aprovado pela Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro (doravante Estatuto), determina que podem requerer a sua inscrição como advogados estagiários os licenciados em Direito por cursos universitários nacionais ou estrangeiros oficialmente reconhecidos ou equiparados. 16.º Por outro lado, o Estatuto elenca, no respectivo art.º 181.º, n.º 1, alíneas a) a e), as restrições ao direito de inscrição passíveis de serem aplicadas e regulamentadas pela Ordem, designadamente não podendo ser inscritos os que não possuam idoneidade moral para o exercício da profissão, os que não estejam no pleno gozo dos direitos civis, os declarados incapazes de administrar as suas pessoas e bens por sentença transitada em julgado, os que estejam em situação de incompatibilidade ou inibição do exercício da advocacia, bem como os magistrados e funcionários que, mediante processo

disciplinar, hajam sido demitidos, aposentados ou colocados na inactividade por falta de idoneidade moral. 17.º Não há, nas normas legais, designadamente nas estatutárias citadas que enquadram a inscrição na Ordem dos Advogados, qualquer disposição que limite, ainda que apenas temporariamente, o direito de quem, preenchendo os requisitos ali mencionados, pretenda aceder à profissão de advogado, através do cumprimento do respectivo estágio. 18.º Mesmo que o pudesse fazer, nada nas normas legais pertinentes apoia a introdução, e por via regulamentar, de solução como a que, para cada caso, consta das normas que aqui se impugnam, sendo tal solução inequivocamente inovatória face às referidas normas legais. 19.º O art.º 188.º, n.º 6, do Estatuto apenas confere competência ao Conselho Geral para regulamentar o modelo concreto de formação inicial e complementar durante o estágio, estrutura orgânica dos serviços de formação e respectivas competências, sistema de avaliação contínua, regime de acolhimento e integração no modelo de estágio de formação externa facultada por outras instituições e a organização e realização dos exames finais de avaliação e agregação, não se podendo aqui incluir, ainda que tal fosse legítimo, a previsão de um período de inadmissibilidade do ingresso em estágio e, consequentemente, do acesso a profissão. 20.º A Ordem pode recusar o pedido de inscrição de um candidato apenas com base no conjunto de razões expressamente enunciadas na lei, não lhe sendo lícito aditar novos fundamentos, assim estabelecendo restrições à liberdade de profissão.

21.º Posto que com limitação no tempo, a recusa de inscrição, com base na não aprovação, nas condições determinadas, em curso de estágio anterior, não consta, como resulta acima dito, desse elenco normativamente estabelecido por acto do Governo devidamente dotado de credencial parlamentar para o efeito. 22.º Deste modo, as normas impugnadas surgem como inovatórias, adicionalmente restritivas do acesso à formação (na Ordem dos Advogados), logo de acesso ao exercício da profissão (de advogado), estando, como se sabe, este dependente daquele. 23.º Estas normas foram aprovadas por via de regulamento, em violação da reserva de lei formal imposta pelo art.º 18.º, n.º 2 e 3, da Constituição. 24.º A impossibilidade de inscrição em novo estágio pelo período de três anos limita, durante esse período, a liberdade de escolha de cada cidadão nas condições previstas, eliminando a possibilidade de opção pelo acesso à profissão de advogado. 25.º Assim sendo, estamos perante verdadeira restrição à liberdade de escolha de profissão, garantida pelo art.º 47.º, n.º 1, da Constituição, que determina que todos têm o direito de escolher livremente a profissão ou o género de trabalho, salvas as restrições legais impostas pelo interesse colectivo ou inerentes à sua própria capacidade. 26.º A liberdade de escolha de profissão faz parte do elenco dos direitos, liberdades e garantias cuja restrição só pode, nos termos do art.º 18.º, n.ºs 2 e 3, do texto constitucional, ser operada por via de lei formal, isto é, lei da Assembleia da República ou decreto-lei do Governo.

27.º Assumindo natureza regulamentar e não legal, são as normas impugnadas formalmente inconstitucionais. 28.º Tem aqui inteira aplicação a fundamentação invocada em requerimento que oportunamente se dirigiu ao Tribunal Constitucional a respeito de outra norma do Regulamento e que deu origem ao Acórdão n.º 3/2011. 29.º Assim, para além de se estar perante uma violação do regime formal dos direitos, liberdades e garantias, designadamente a imposição constitucional, ínsita nos n.ºs 2 e 3 do art.º 18.º da Lei Fundamental, de que eventuais restrições se façam por lei em sentido formal, está igualmente em causa a reserva de competência que, por via do seu art.º 165.º, n.º 1, alínea b), estabelece a Constituição em favor da Assembleia da República ou do Governo, se por esta autorizado. 30.º A aprovação, pelo Conselho Geral da Ordem dos Advogados, do regime consubstanciado nas normas dos art.ºs 24.º, n.º 3 e 4, 36.º, n.º 2, 2.ª parte, e 42.º, n.º 5, 2.ª parte, contraria igualmente a reserva relativa de competência legislativa da Assembleia da República. 31.º São, assim, tais normas também organicamente inconstitucionais, por violação do art.º 165.º, n.º 1, alínea b), da Lei Fundamental.

Nestes termos e pelos fundamentos expostos, requer-se ao Tribunal Constitucional que aprecie e declare, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade das normas dos artigos 24.º, n.º 4, 36.º, n.º 2, 2.ª parte, e 42.º, n.º 5, 2.ª parte, do Regulamento Nacional de Estágio da Ordem dos Advogados (Regulamento n.º 52-A/2005, de 1 de Agosto), na redacção que lhe foi dada pela Deliberação n.º 3333-A/2009, de 16 de Dezembro, do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, por violação dos artigos 18.º, n.ºs 2 e 3, e 165.º, n.º 1, alínea b), da Constituição. O Provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa