ÁRVORES DA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL: GUIA DE IDENTIFICAÇÃO Viviane Soares RAMOS Giselda DURIGAN Geraldo Antônio Daher Corrêa FRANCO Marinez Ferreira de SIQUEIRA Ricardo Ribeiro RODRIGUES 1 2 3 4 5 1 INTRODUÇÃO A Estação Ecológica dos Caetetus preserva um dos últimos remanescentes significativos da extensa formação florestal que revestia quase todo o interior do Estado de São Paulo, parte de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, oeste do Paraná e Santa Catarina, estendendo-se até o Rio Grande do Sul, na Bacia do Rio Turvo. Esta floresta, caracterizada pela ausência de coníferas e pela perda parcial das folhas no inverno, recebeu diferentes denominações por diferentes autores, tais como: floresta latifoliada da bacia do Paraná-Uruguai (Veloso, 1962), mata atlântica de interior (Rizzini, 1979), floresta latifoliada semicaducifólia (Leitão Filho, 1982), floresta tropical latifoliada mesofítica perenifólia de terra firme (Eiten, 1983), floresta mesófila semidecídua (Martins, 1991) e floresta estacional semidecidual (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1992). Esta vegetação, juntamente com a floresta ombrófila densa (da encosta atlântica) e a floresta ombrófila mista (mata de araucária), compõe o denominado domínio da mata atlântica, que, no território nacional, tem a área delimitada e protegida pelo Decreto 750, de 10 de fevereiro de 1993, que proíbe o corte, a exploração e a supressão da MataAtlântica. Os estudos da flora e estrutura destas florestas são relativamente recentes, concentrados nas duas últimas décadas. Poucos são os remanescentes com área significativa no Estado de São Paulo que permitem estudos mais detalhados e que representem, de fato, a vegetação original. Na Estação Ecológica dos Caetetus, Durigan et al. (2000) e Franco (2002) desenvolveram estudos florísticos e fitossociológicos, que foram fundamentais para direcionar a elaboração do Guia para Identificação de EspéciesArbóreas. A falta de guias de campo para reconhecimento das espécies tem sido um dos obstáculos mais importantes ao desenvolvimento de pesquisas sobre florestas nativas. Publicações contendo imagens e descrição das espécies da floresta estacional semidecidual são escassas e relativamente recentes (p. ex. Lorenzi, 1992, 1998) e, naturalmente, não sendo direcionadas para uma área específica, cobrem apenas parcialmente a flora. Diante da grande demanda de projetos desenvolvidos e em desenvolvimento na Estação Ecológica dos Caetetus (64 projetos, envolvendo mais de 130 pesquisadores e instituições), surgiu a necessidade de se produzir um guia específico para a unidade, contendo todas as suas espécies arbóreas. O objetivo é ampliar e divulgar o conhecimento sobre as espécies, dando suporte a outros trabalhos de pesquisa e ao programa de educação ambiental desenvolvido na unidade. 2 OBJETIVO Elaboração de um guia ilustrado das espécies arbóreas existentes na Estação Ecológica dos Caetetus. (1) Acadêmica do curso de Turismo da Fundação Gammon de Ensino. Bolsista de Iniciação Científica FAPESP. E-mail: vivi.soares10@gmail.com (2) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. (3) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. (4) Centro de Referência em Informação Ambiental. (5) Escola Superior deagricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, Universidade de São Paulo - USP.
138 3 MATERIALE MÉTODOS 3.1 Coleta de Material Botânico Foram realizadas excursões quinzenais de coleta (FIGURA 1), abrangendo todas as fisionomias da vegetação, através da malha de picadas já existentes, estradas internas e contornando a borda, visando a coleta de material vegetativo e/ou reprodutivo de todas as espécies arbóreas observadas, para identificação e documentação fotográfica. FIGURA 1 Escalador coletando galho com flor. O material coletado, depois de fotografado, foi processado e identificado (FIGURA 2) segundo as técnicas usuais, recomendadas por Fidalgo & Bononi (1989), e incorporado à coleção botânica da Floresta Estadual de Assis e ao Herbário D. Bento Pickel, do Instituto Florestal da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. FIGURA 2 Captação e identificação das imagens em campo.
139 3.2 Documentação Fotográfica Para cada espécie foram produzidas, em campo, imagens digitais da casca (externa e interna) e, em estúdio, imagens dos ramos, folhas, flores e frutos (material fresco) (FIGURA 3). Para folhas e frutos foram utilizadas, como fundo, grades em escala, facilitando a visualização do tamanho das partes da planta. FIGURA 3 Imagens de Duguetia lanceolata (casca, ramo, folhas, fruto verde e maduro, flores). Estabeleceu-se como meta obter fotos digitais (câmera SONY Cybershot 3.2mp e NIKKON Coolpix 8 mp.) de casca (aspecto interno e externo), ramo, folhas, flores, frutos e, eventualmente, detalhes importantes para cada espécie. Três placas de acrílico (à prova d água), de cores preta e marfim, com malha de 1cm, foram utilizadas como fundo nas fotografias. Construiu-se estúdio fotográfico desmontável de cobertura branca, para melhorar a qualidade de luz das fotografias (FIGURA4). FIGURA 4 Estúdio montado para captação das imagens.
140 3.3 Chave Baseada em Caracteres Vegetativos A chave dicotômica de identificação foi elaborada com base apenas em caracteres vegetativos, priorizando-se ramos e folhas e, eventualmente, acrescentando-se detalhes de tronco, como tipo de casca ou presença de látex, espinhos e odor característico. Para facilitar o uso da chave, também foi preparado um glossário dos termos técnicos utilizados, de modo que estudantes e até mesmo leigos possam utilizar o guia. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO As fotos (mais de 2500) foram produzidas, de modo geral, com a resolução de 72 dpi a 300 dpi e os arquivos, armazenados em 66 pastas por famílias (baseadas em APG II), foram denominados pelo nome científico da espécie (total de 239), acompanhado da parte da planta (ex. Anadenanthera falcata_ tronco.jpg). Utilizou-se o software Corel Draw 12 para a montagem das páginas, cada família com uma cor correspondente para viabilizar a consulta. Algumas dicas de campo também foram descritas para cada espécie, visando facilitar a identificação (FIGURA5). FIGURA 5 Página interna (aberta) do Guia a ser publicado (tamanho 22 x 12 cm). O guia produzido contendo imagens de todas as partes da planta para a maioria das espécies, dicas de campo, a chave dicotômica e um glossário, certamente serão de grande importância para dar suporte às pesquisas e atividades de educação ambiental que venham a ser desenvolvidas na unidade de conservação. O número de espécies amostrado é elevado para espécies arbóreas em uma única unidade de conservação e reflete a elevada diversidade beta (diversidade de habitats) da Estação Ecológica dos Caetetus, uma das raras áreas remanescentes da floresta estacional semidecidual em bom estado de conservação no país.
141 5 CONCLUSÃO Diante de toda riqueza de detalhes que foram captadas das 239 espécies arbóreas da Estação Ecológica dos Caetetus, pôde-se produzir um guia que será muito útil para os pesquisadores e estudantes não só da região desta Unidade de Conservação, mas para todos os interessados em desenvolver pesquisas em florestas estacionais semideciduais. A publicação do Guia pela EDUSP está em andamento e a obra será intitulada como: Árvores da Floresta Estacional Semidecidual: guia de identificação. 6 AGRADECIMENTOS Ao apoio recebido pela FAPESP para a realização desta pesquisa, à EDUSP pela publicação e aos funcionários da Estação Ecológica dos Caetetus pelo auxílio nas atividades de campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DURIGAN, G. et al. Estrutura e diversidade do componente arbóreo da floresta na Estação Ecológica dos Caetetus, Gália, SP. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 369-381, 2000. EITEN, G. Classificação da vegetação do Brasil. Brasília, DF: CNPq, 1983. 305 p. FIDALGO, O.; BONONI, V. L. R. (Coord.). Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1989. 62 p. FRANCO, G. A. D. C. Florística e fitossociologia de duas unidades do mosaico florestal da Estação Ecológica dos Caetetus Floresta Estacional Semidecidual, Gália, SP. 2002. 95 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Departamento de Ciências Florestais, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. 92 p. (Manuais Técnicos em Geociências, 1). LEITÃO FILHO, H. de F. Aspectos taxonômicos das florestas do Estado de São Paulo. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS, 1982, Campos do Jordão. Anais... São Paulo: UNIPRESS, 1982. p. 197-206. ( Silvic. S. Paulo, São Paulo, v. 16-A, pt. 1, Edição Especial). LORENZI, H. Árvores brasileiras. Nova Odessa: Plantarum, 1992. v. 1, 384 p... Nova Odessa: Plantarum, 1998. v. 2, 384 p. MARTINS, F. R. Estrutura de uma floresta mesófila. Campinas: UNICAMP, 1991. 246 p. RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil. São Paulo: HUCITEC: EDUSP, 1979. v. 2, 374 p. VELOSO, H. P. Os grandes clímaces do Brasil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 60, n. 2, p. 175-194, 1962.