MANEJO DE IRRIGAÇÃO NA CULTURA DE ACEROLA ORGÂNICA NOS TABULEIROS LITORÂNEOS DO ESTADO DO PIAUÍ



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MANEJO DE IRRIGAÇÃO NA CULTURA DE ACEROLA ORGÂNICA NOS TABULEIROS LITORÂNEOS DO ESTADO DO PIAUÍ Autor: Manoel de Jesus Nunes da Costa Junior 1 Orientador: Luis Gonzaga Medeiros de Figueredo Júnior 2 Universidade Estadual do Piauí, Campus Parnaíba 3 INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO A determinação das necessidades de irrigação e a definição de um manejo de irrigação racional das culturas têm sido os principais problemas enfrentados pelos técnicos e irrigantes, notadamente quando a água é um recurso escasso e fator limitante da produção agrícola (D'URSO & SANTINI, 1996). Por outro lado, o contínuo progresso no desenvolvimento técnico de sensores agrometeorológicos tem sido proporcional aos avanços no desenvolvimento de componentes eletrônicos, muito mais precisos e com menor custo, usados na quantificação dos vários componentes do sistema solo - água - planta - atmosfera, o qual se constitui em um dos mais importantes fatores do processo de tomada de decisão na agricultura irrigada. Um exemplo disso é o uso cada vez maior de estações meteorológicas automáticas como uma ferramenta essencial na estimativa da evapotranspiração de referência (ETo) em escala contínua de tempo (SOUSA & PEREIRA, 1999), permitindo a implantação de um sistema de monitoramento climático para manejo de irrigação em tempo real. O sistema de manejo de irrigação em tempo real preconiza a utilização integrada dos componentes da relação solo - água - planta - atmosfera para determinar o manejo da irrigação das culturas em nível de parcela ou distrito de irrigação. Por esse sistema, as lâminas de irrigação a serem aplicadas são calculadas levando em conta as bases de dados relativas a solo, clima, fisiologia vegetal, rede de distribuição de água e lista de usuários do perímetro irrigado (QUIÑONES et al., 1999). Os sistemas de manejo de irrigação baseados em informações climáticas têm sido preconizados e desenvolvidos em diversas regiões do mundo, usando diferentes níveis 1 Aluno de graduação em Engenharia Agronômica da Universidade Estadual do Piauí, Campus/Parnaíba. Email mannoeljunior@hotmail.com 2 Eng. Agrônomo, Dr. em Irrigação e Drenagem, Professor Adjunto UESPI/Campus Parnaíba. Email figueredojunior@yahoo.com.br 3 Universidade Estadual do Piauí, Campus Profº Alexandre Alves de Oliveira, Parnaíba Piauí.

2 de sofisticação no que diz respeito à sua formação e disseminação aos irrigantes. A título de ilustração podem ser citados o "Califórnia Management Information System" (CIMIS), usado na Califórnia, EUA (CRADDOCK, 1990); o "Videotel System", aplicado em várias regiões da Itália (GIANNERINI, 1995); o "MORECS System" associado ao modelo "Irriguide", na Inglaterra (BAILEY & SPACKMAN, 1996). As informações dos sistemas são repassadas utilizando diferentes graus de tecnologia, variando desde o simples uso de tabelas e calendários de irrigação até a disseminação via Internet (QUIÑONES et al., 1999). Entretanto, no caso específico do Estado do Piauí, estudos realizados nessa linha de pesquisa são inexistentes, o que faz com que essa ação de transferência de tecnologia tenha caráter totalmente inovador e seja de fundamental importância para a implementação de um manejo de irrigação mais tecnificado, visando a racionalização do uso da água em áreas de fruticultura irrigada nos principais distritos de irrigação do Estado. O Distrito de Irrigação Tabuleiros Litorâneos do estado do Piauí DITALPI localiza-se no município de Parnaíba (2 55' S, 41 50' W e 40 m de altitude) e atualmente possui uma área de aproximadamente 1000 ha de culturas irrigadas. A água utilizada nesse perímetro de irrigação provém do Rio Parnaíba, que abastece o projeto durante todo o ano. Os métodos de irrigação utilizados neste perímetro são o gotejamento e a microaspersão, sendo que a maior parte dos irrigantes trabalha com fruticultura, destacando-se as culturas de acerola, coco, goiaba, cajueiro anão e melancia. A gerência administrativa do DITALPI vem buscando firmar parcerias com diversas instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Estadual do Piauí, Universidade Federal do Ceará e Embrapa Meio-Norte, com o desenvolvimento de diversos trabalhos de pesquisa e transferência de tecnologia, de forma a gerar informações e conhecimentos sobre a realidade local, além de capacitar técnicos e produtores na região. Segundo informações da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Irrigação do Estado do Piauí (Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Irrigação, 1997), o DITALPI possui uma área irrigável de 8.007 ha, dos quais se encontram em operação 2.273 ha explorados principalmente com fruticultura irrigada (coco, acerola, goiaba, cajueiro anão e melancia). O perímetro irrigado é explorado atualmente por cerca de 70 pequenos produtores, com uma área média de oito ha por lote. Existe, ainda, a previsão de estabelecimento de 17,0 lotes empresariais, com uma área média de 95 ha por lote, e 6,0 lotes para técnicos, com uma área média de 18,5 ha por lote (DNOCS, 2005).

3 Apesar de suas características de solo e recursos hídricos extremamente favoráveis à exploração agrícola sob irrigação, as principais áreas irrigadas da região apresentam uma série de problemas e entraves que dificultam sobremaneira o alcance da viabilidade técnica e econômica da atividade. Isso ocorre devido à carência total de informações climáticas básicas para possibilitar um manejo adequado de irrigação, de forma a subsidiar o planejamento e a exploração racional dos recursos hídricos existentes nessas áreas. A Embrapa Meio Norte dispõe de uma estação agrometeorológica automática instalada na área do DITALPI, a qual subsidia a realização do presente estudo, fornecendo dados de evapotranspiração de referência para o cálculo das necessidades hídricas da acerola cultivada em sistema orgânico no perímetro. OBJETIVOS O presente trabalho teve por objetivo difundir informações tecnológicas para promover o uso racional dos recursos hídricos no Distrito de Irrigação Tabuleiros Litorâneos do Estado do Piauí, visando o desenvolvimento sustentável da fruticultura irrigada, auxiliando os produtores no manejo da irrigação a partir de dados meteorológicos. METODOLOGIA O estudo foi conduzido no Distrito de Irrigação Tabuleiros Litorâneos do Estado do Piauí - DITALPI, que fica localizado no município de Parnaíba, com coordenadas geográficas de 2º53 s de latitude e 43º50 W de longitude e altitude média de 40 m, norte do Estado do Piauí. O solo da região é classificado como NEOSSOLO QUARTZARÊNICO ÓRTICO TÍPICO, e clima, de acordo com a classificação de Köppen é do tipo AW (tropical chuvoso), com precipitação média anual de aproximadamente 1.000 m, temperatura média de 27 ºC e umidade relativa do ar em torno de 75% (BASTOS et al., 2000) As áreas produtivas de acerola orgânica foram visitadas e selecionadas para realização do trabalho no ano de 2009/2010. O presente trabalho foi realizado a partir da observação dos dados coletados dos elementos climáticos (umidade relativa, temperatura, velocidade e direção do vento,

4 radiação solar global e radiação líquida), diária e horária, no período de abril a junho de 2010, dados estes disponibilizados da Estação Meteorológica Automática da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Meio Norte. Os dados referentes da evapotranspiração de referência (ETo) foram obtidos pelo método do tanque classe A, sendo que a ETo foi estimada pela equação de Penmam- Monteith, que é considerada a equação padrão para o manejo de irrigação. RESULTADOS OBTIDOS Os processos que governam a passagem da água do estado líquido para o de vapor, semelhante à perda de água numa planta, são diretamente influenciados por fatores inerentes à planta e aos elementos climáticos. Dentre os elementos climáticos que estão mais relacionados à evapotranspiração, pode-se enumerar a radiação solar, responsável pelo aporte de energia necessária para que o processo físico ocorra, a temperatura e a umidade do ar, que juntas definem o déficit de pressão de vapor próximo à superfície evaporante, e a velocidade do vento, responsável pela renovação do ar junto à superfície em questão. Esses elementos são essenciais à aplicação da equação de Penman-Monteith-FAO, e serão discutidos, de modo a caracterizar o local de estudo. Observando-se os dados meteorológicos referentes aos meses de março a junho do ano de 2010, período de coleta e análise dos dados, verifica-se que a temperatura média no período analisado variou entre 26 ºC a 29 ºC, caracterizando-se como um ambiente de calor excessivo, contribuição significativa para o processo de evapotranspiração; a temperatura máxima observada foi da ordem de 30 ºC e a mínima 23 ºC. Com relação à radiação líquida solar da área, ocorreram no período variações entre 9,01 a 30,98 MJ m -2 d - 1. A umidade relativa máxima do ar verificada no período normalmente não ultrapassa os 90%, sendo frequente valores entre 70 a 80%. Já a umidade relativa mínima variou bastante, ficando entre 60,5% e 86,2% no período mais quente do dia, no qual ocorrem as taxas mais elevadas de evapotranspiração de referência. Os valores de evapotranspiração de referência (ETo) e da cultura da acerola (ETc) são apresentados na Tabela 1. Para a determinação da ETc, considerou-se o valor de coeficiente de cultura igual 1,2 para a cultura da acerola na fase adulta.

5 TABELA 1. Valores diários de evapotranspiração de referência (ETo) e da cultura (ETc) para o período de março a junho de 2010. Data ETo (mm dia -1 ) ETc (mm dia -1 ) Precipitação (mm) 01/mar 7,81 9,37 0,0 02/mar 7,52 9,03 0,0 03/mar 7,78 9,34 0,0 04/mar 7,88 9,45 0,0 05/mar 6,93 8,31 0,0 06/mar 7,56 9,07 0,0 07/mar 6,94 8,32 3,2 08/mar 7,42 8,91 0,0 09/mar 7,81 9,37 0,0 10/mar 7,29 8,74 0,0 11/mar 6,52 7,83 0,0 12/mar 5,57 6,68 10,8 13/mar 4,94 5,92 16,0 14/mar 6,78 8,13 0,4 15/mar 7,71 9,25 0,0 16/mar 7,66 9,19 0,0 17/mar 7,84 9,41 0,0 18/mar 7,82 9,39 0,0 19/mar 4,66 5,59 27,0 20/mar 6,73 8,08 0,0 21/mar 2,64 3,16 7,8 22/mar 5,30 6,36 6,6 23/mar 6,28 7,54 3,8 24/mar 5,86 7,03 47,8 25/mar 6,24 7,49 20,0 26/mar 3,50 4,19 1,2 27/mar 7,30 8,76 0,0 28/mar 3,68 4,42 5,0 29/mar 6,19 7,42 0,4

6 30/mar 7,71 9,25 1,4 31/mar 7,59 9,10 17,0 01/abr 4,11 4,93 16,0 02/abr 5,73 6,87 19,8 03/abr 4,58 5,50 5,6 04/abr 5,22 6,26 5,0 05/abr 8,35 10,02 0,0 06/abr 7,86 9,43 2,4 07/abr 6,39 7,67 14,0 08/abr 5,06 6,07 1,6 09/abr 4,67 5,61 11,0 10/abr 4,84 5,81 17,8 11/abr 6,02 7,22 0,2 12/abr 6,58 7,90 29,0 13/abr 5,93 7,12 3,0 14/abr 8,98 10,78 0,2 15/abr 6,87 8,25 0,0 16/abr 6,77 8,12 1,8 17/abr 7,11 8,54 7,2 18/abr 6,46 7,75 12,4 19/abr 6,39 7,66 9,0 20/abr 3,99 4,79 0,2 21/abr 7,16 8,59 11,0 22/abr 6,98 8,37 0,8 23/abr 6,56 7,87 0,6 24/abr 9,20 11,04 0,2 25/abr 9,46 11,35 0,0 26/abr 8,39 10,07 0,0 27/abr 9,31 11,17 0,0 28/abr 6,36 7,63 0,0 29/abr 7,63 9,16 2,4 30/abr 8,30 9,96 9,2

7 01/mai 4,77 5,73 5,4 02/mai 3,59 4,31 4,0 03/mai 6,10 7,32 0,6 04/mai 6,97 8,37 0,0 05/mai 5,63 6,76 1,6 06/mai 7,26 8,71 0,0 07/mai 6,20 7,44 5,4 08/mai 4,34 5,21 19,8 09/mai 8,37 10,05 0,2 10/mai 5,82 6,99 0,0 11/mai 8,07 9,68 0,0 12/mai 7,91 9,49 0,2 13/mai 7,48 8,97 0,4 14/mai 6,83 8,20 0,4 15/mai 8,56 10,27 0,2 16/mai 7,83 9,40 0,0 17/mai 8,10 9,72 0,0 18/mai 9,08 10,89 0,0 19/mai 5,67 6,80 6,6 20/mai 7,16 8,59 0,0 21/mai 6,87 8,24 0,0 22/mai 8,54 10,24 0,2 23/mai 7,88 9,46 0,0 24/mai 9,16 10,99 0,0 25/mai 8,72 10,47 0,0 26/mai 6,74 8,08 0,2 27/mai 7,24 8,69 0,0 28/mai 7,37 8,85 0,0 29/mai 7,15 8,57 0,0 30/mai 8,48 10,18 0,0 31/mai 5,25 6,30 1,6 01/jun 8,20 9,84 0,0

8 02/jun 7,72 9,27 0,2 03/jun 8,02 9,62 0,0 04/jun 5,88 7,06 10,8 05/jun 7,34 8,81 0,8 06/jun 7,20 8,64 0,0 07/jun 6,18 7,42 15,0 08/jun 7,49 8,99 0,0 09/jun 9,04 10,85 0,0 10/jun 8,09 9,70 0,0 11/jun 5,93 7,12 4,4 12/jun 5,48 6,57 6,0 13/jun 3,73 4,47 0,0 14/jun 5,91 7,09 0,2 15/jun 5,83 6,99 0,0 16/jun 7,40 8,87 0,0 17/jun 5,45 6,54 0,0 18/jun 5,70 6,84 11,6 19/jun 7,33 8,80 0,0 20/jun 5,49 6,58 0,0 21/jun 6,48 7,77 0,0 22/jun 5,68 6,81 0,0 23/jun 6,17 7,40 0,0 24/jun 5,69 6,83 0,0 25/jun 6,46 7,75 0,0 26/jun 6,39 7,67 0,0 27/jun 7,21 8,66 0,0 28/jun 5,52 6,62 0,0 29/jun 5,74 6,88 0,0 30/jun 5,10 6,12 0,0 A partir dos valores apresentados na Tabela 1, é possível recomendar a lâmina diária de irrigação, definindo-se o intervalo entre as irrigações e a eficiência de irrigação.

9 Dessa forma, os produtores do perímetro irrigado Tabuleiros litorâneos do Piauí podem adotar o manejo racional de irrigação, utilizando a quantidade de água adequada para cada cultura. CONCLUSÕES O manejo de irrigação a partir dos dados meteorológicos constitui ferramenta de grande aplicação prática, aumentando a eficiência de utilização da água em sistemas de produção agrícolas. No caso do perímetro irrigado Tabuleiros Litorâneos do Piauí, a adoção desta técnica é de grande importância para a fruticultura irrigada, uma vez que muitos produtores dessa área não dispõem de nenhuma tecnologia de manejo de irrigação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAILEY, R.J.; SPACKMAN, E. Irriguide: an irrigation scheduling system to take account of variable rainfall, soil system and cropping pattern. In: SMITH, M. et al. (Eds.). Irrigation Scheduling: from theory to practice. Rome: ICID/FAO, p. 75-82, 1996. (FAO. Water Report, 8). BASTOS, E.A.; NUNES, B.H.; ANDRADE JUNIOR, A.S. Dados meteorológicos para o município de Parnaíba, PI. Teresina; EMBRAPA, 2000. 27p. Documentos, 46. CRADDOCK, E. The California irrigation management information system (CIMIS). In: HOFFMAN, G.J.; HOWELL, T.A.; SOLOMON, K.H. (Eds.). Management of farm irrigation systems. St. Joseph, ASAE, p. 931-941, 1990. D'URSO, G.; SANTINI, A. A remote sensing and modeling integrated approach for the management of irrigation distribution system. In: CAMP, C.R.; SADLER, E.J.; YODER, R.E. (Eds.). Evapotranspiration and Irrigation Scheduling. St. Joseph: ASAE, p. 435-441, 1996. DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Projetos de irrigação no Piauí. Fortaleza, 2005. Disponível em: <http://201.30.148.11/~apoena/php/projetos/projetos.php?>. Acesso em 27/12/2005. GIANNERINI, G. RENANA: a model for irrigation scheduling employed on a large scale. In: PEREIRA, L.S.; BROEK, Van der BROEK, B.J.; KABAT, P.; ALLEN, R.G. (Eds.). Crop-Water-Simulation models in practice. Wageningen: Wageningen Press, p. 17-25, 1995.

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