PAIOL DE TELHAS: MEMÓRIA E CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL QUILOMBOLA EM GUARAPUAVA, PARANÁ



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Transcrição:

PAIOL DE TELHAS: MEMÓRIA E CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL QUILOMBOLA EM GUARAPUAVA, PARANÁ Adriana Ribas Adriano Cararo Jeferson Cararo (co-autor) Robson Laverdi (orientador) Alessandra Isabel de Carvalho (co-orientadora) INTRODUÇÃO Nas últimas três décadas do século XX, a questão quilombola voltou a fazer parte do cenário social brasileiro, pois houve uma revalorização da ideia de quilombo no imaginário racial e na trajetória dos movimentos sociais. Apropriando-se das narrativas da memória e que foram transmitidas de geração a geração através da oralidade, o quilombo passou a ser visto como um símbolo do processo de construção e afirmação social, política, cultural e identitária do movimento negro contemporâneo no Brasil. Contudo, a questão quilombola somente passou a fazer parte da agenda política de forma mais contundente a partir da promulgação da Constituição Federal em 1988, que possibilitou a vários grupos, dentre eles dos negros, a reivindicação de seus direitos, principalmente o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas por eles. Apesar do avanço referente ao reconhecimento dos direitos dos quilombolas do acesso a terra, como a aprovação do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que reconhece a propriedade das terras ocupadas por comunidades quilombolas, na década de 1990 pouco se progrediu nessa questão. Foi somente em 2003, com o Decreto 4.887 que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por

remanescentes das comunidades dos quilombos, que os processos de titulação e reconhecimento dessas comunidades evoluíram. E, é neste universo repleto de lutas por reconhecimento de direitos territoriais, identitários e culturais, que se encontra a Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas, localizada em Guarapuava, Paraná. As lutas empreendidas por essa comunidade pela posse do território deixado em testamento por Balbina de Siqueira Cortes é centenária. Essa comunidade formada pelos descendentes dos escravos libertos e herdeiros da donatária, viu seu território ser alvo de inúmeras contestações e apropriações por vezes indevidas desde 1868. E, com o intuito de garantir o direito à permanência e a posse legal de suas terras, bem como o livre exercício de suas práticas, crenças e valores, essa comunidade composta por trabalhadores rurais negros, divididos em núcleos distintos, e contando com as garantias adquiridas pela promulgação da Constituição Federal e pelo Decreto nº 4.887/2003, no ano de 2005 abriu um processo administrativo no INCRA para regularizar a situação de seu território expropriado. Portanto, é neste contexto repleto de conflitos relacionados à regulamentação territorial, que se insere o objeto deste estudo sobre a memória, que pretende por meio de reflexões teóricas e metodológicas da história oral, por meio de entrevistas às lideranças comunitárias, compreender e dar visibilidade aos processos identitários e culturais pelos quais esse grupo passou ao longo de todo esse processo de reconhecimento territorial que acabou possibilitando ao mesmo a se constituir numa comunidade quilombola. Esse trabalho é parte preliminar da constituição da dissertação de mestrado em História, Cultura e Identidades da Universidade Estadual de Ponta Grossa, cuja defesa está prevista para fevereiro de 2016, e está dividido em quatro partes principais. As três primeiras constituem-se de reflexões sobre a saga quilombola e a luta pelo reconhecimento e posse do território ocupado; a segunda refere-se a gênese histórica das lutas pelo reconhecimento territorial e de autorreconhecimento identitário e cultural da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas; e, a terceira, refere-se aos aspectos teóricos e metodológicos da História Oral e a questão da memória que servirão de alicerce, juntamente com outras fontes de pesquisa, para a confecção da referida dissertação, buscandose com isso compreender e dar visibilidades aos processos identitários e culturais pelos quais essa comunidade passou até se constituir como comunidade quilombola. Por fim, apresentamse algumas considerações sobre como se pretende executar o referido trabalho.

DESENVOLVIMENTO A saga quilombola: luta pelo reconhecimento e posse do território ocupado Os quilombos, símbolo da resistência negra contra a opressão colonial, não desapareceram com a assinatura da Lei Áurea, eles entraram num processo de invisibilidade social, pois a abolição da forma como ocorreu não garantiu direitos efetivos aos negros, nem tampouco promoveu uma transformação na sociedade brasileira. A estrutura fundiária permaneceu intocada, a vida econômica continuou apoiada na grande propriedade exportadora e a população escravizada, depois de libertada, foi marginalizada e abandonada à sua própria sorte. (DA SILVA, 2008, p. 5) Diante desse processo de marginalização, essas comunidades ou quilombos se constituíram, segundo Schmitt; Turatti; Carvalho (2002, p. 3-4), a partir de uma grande diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, as heranças, doações, o recebimento de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, ou a simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior das grandes propriedades, muitas vezes abandonadas por seus proprietários em períodos de crise econômica, bem como pela compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata, quanto após a sua extinção. Mas, foi na década de 1970, que segundo Domingues e Gomes (2013, p. 6), que houve uma revalorização da ideia do quilombo no imaginário racial brasileiro e na trajetória dos movimentos sociais: Apropriada em narrativas da memória e transmitida de geração a geração através da oralidade, a ideia de quilombo foi ressignificada como referência histórica fundamental, tornando-se, assim, um símbolo no processo de construção e afirmação social, política, cultural e identitária do movimento negro contemporâneo no Brasil. Se antes o quilombo era visto como resistência ao processo de escravização do negro, a partir dali ele se converteu em símbolo, não só de resistência pretérita, como também de luta no tempo presente pela reafirmação da herança afrodiaspórica 1 e busca de um modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica e cultural. 1 Diáspora africana, também chamada de Diáspora Negra: é o nome que se dá ao fenômeno sociocultural e histórico que ocorreu em países além África devido à imigração forçada, por fins escravagistas mercantis que perduraram da Idade Moderna ao final do século XIX, de africanos. O termo foi cunhado por historiadores, movimentos civis e descendência de ex-escravos recentes.

Contudo, a questão quilombola somente passou a fazer parte da agenda política de forma mais contundente a partir da promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, conforme da Silva (2008, p. 9), pois o período de redemocratização iniciado em fins dos anos 1980 e que culminou com a promulgação da referida Constituição, possibilitou a vários grupos, inclusive aos negros, a reivindicação de seus direitos, que levaram a intensificar pressões em âmbito governamental, que se traduziram, inclusive em mudanças legais, como a aprovação do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que reconhece a propriedade das terras ocupadas por comunidades quilombolas, sendo o Estado obrigado a emitir-lhes títulos pertinentes. (LARA, 2009, p. 3-4) Embora esse dispositivo legal represente um grande avanço, uma conquista para o movimento negro do país, conforme da Silva (2008, p. 10), não se pode deixar de fazer sua crítica e analisa-lo no contexto em que foi aprovado: O artigo 68 teria sido incorporado à Constituição no apagar das luzes em uma formulação amputada e mesmo assim devido às intensas negociações políticas levadas por representantes do movimento negro do Rio de Janeiro, dentre os quais se destacou a Deputada Federal Benedita da Silva. A construção do artigo pela Comissão de Índios, Negros e Minorias teria acontecido sem o devido aprofundamento das discussões, contudo, não teria sido aprovado em outras circunstancias. O momento político de redemocratização do país e o centenário da abolição da escravatura propiciaram o contexto para aprovação. O desconhecimento dos constituintes acerca do número, situação e localização das comunidades ajudou para a aprovação do artigo. (...) Votado e aprovado como parte dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias e não como uma obrigação permanente do Estado, infere-se que a visão que predominou nesse processo foi a de transitoriedade da situação. Apesar do avanço referente ao reconhecimento dos direitos dos quilombolas do acesso a terra, ao longo da década de 1990 pouco se avançou nos processos de regularização de seus territórios. Somente em dezembro de 1995, foi titulada a primeira comunidade quilombola do país, a comunidade de Boa Vista, no Estado do Pará. Segundo o Centro de Cultura e o Instituto Sumaúma (2006, p. 8), por pressão do movimento quilombola, ao final da década de 1990, a Fundação Palmares, na época responsável pela emissão dos títulos e pela regularização fundiária, identificou pouco mais de setecentas comunidades de remanescentes quilombolas no Brasil. Foi somente em 2003, com o Decreto 4.887 que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, que os processos de titulação e reconhecimento dessas comunidades evoluíram, ficando a demarcação das terras a critério da A União Africana definiu a Diáspora Africana como consistindo de pessoas de origem africana vivendo fora do continente, independentemente da sua cidadania e nacionalidade e que estão dispostos a contribuir para o desenvolvimento do continente e a construção da união africana. Daí vem o termo afro-diaspórico.

territorialidade indicada pelas comunidades a serem reconhecidas, e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a identificação, o reconhecimento, a delimitação e a titulação das terras ocupadas pelos remanescentes de quilombos, bem como à Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) acompanhar as ações da regularização fundiária para garantir os direitos étnicos e territoriais promovidos pelo INCRA, e ao Ministério da Cultura, por meio da Fundação Palmares, fiscalizar a preservação da identidade cultural das referidas comunidades. (LARA, 2009, p. 4) Portanto, a promulgação da Constituição Federal em 1988 possibilitou, não só aos interessados pela causa das minorias, como também à sociedade brasileira, a oportunidade de conhecer, compreender e analisar a complexa constituição de uma comunidade de remanescentes quilombolas, e o que está por trás de todo processo que envolve a luta pelo reconhecimento e posse do território ocupado por eles, além da permanência cultural e identitária de cada grupo e, é nesse contexto de lutas e conquistas que se insere a Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas. Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas: gênese histórica das lutas pelo reconhecimento territorial e autorreconhecimento identitário A Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas, localizada em Guarapuava, Estado do Paraná, tem sua gênese histórica a partir dos anos de 1860 quando Balbina Francisca de Siqueira Cortes, proprietária da fazenda Capão Grande, deixa em testamento a seus onze escravos libertos a área de terra denominada Invernada Paiol de Telhas. A apropriação dessas terras pelos ex-escravos só ocorreu no ano de 1868, ano de morte de Balbina. A partir daí esse território foi sendo alvo de inúmeras contestações e apropriações indevidas por familiares da benfeitora, grileiros e colonos e pela desapropriação de terras efetuada pelo Governo do Estado, a partir da década de 1950, quando se deu início ao processo de imigração alemã (Suábios do Danúbio) em Guarapuava segundo Calábria (2013). Conforme Veronezzi e da Silva (2013, p. 233-234), mesmo em meio a esse ambiente cercado de conflitos, a vida nas terras da Invernada seguia uma rotina agrícola normal até meados da

década de 1970, quando as famílias foram expulsas do território. Sob ameaças as famílias foram obrigadas a deixar suas casas, criações e plantações, saindo de lá com os poucos pertences que tinham e se espalharam por diversas regiões do Estado e do país. Somente no ano de 1981, segundo Jocoski (2011, p.98), que a situação dos herdeiros do Paiol de Telhas se tornou conhecida nacionalmente. O Instituto de Terras de Cartografia (ITC), após análise da documentação apresentada pelos representantes da referida comunidade, manifestou-se pela necessidade de aprofundamento sobre o direito de posse da área de terras em questão. No ano de 1991, a Cooperativa que representa os proprietários imigrantes suábios da região, ganhou a ação de usucapião sobre as terras da Invernada, passando a posse das mesmas para seus cooperados, com isso a situação dos herdeiros ficou mais difícil. (Calábria, 2013) Somente no ano de 1995, conforme Jocoski (2011, p. 98-99), com o incentivo da Comissão Pastoral da Terra CPT houve a formação de uma Associação, a Associação Pró- Reintegração da Invernada Paiol de Telhas, com a finalidade de organizar legalmente as ações comunitárias do grupo. E, no ano de 1997, por intermédio dessa mesma Associação e contando com o apoio de diversas entidades e instituições, como por exemplo, a APP - Sindicato promoveu-se o reencontro desses herdeiros, onde, alguns destes, se assentaram em um barranco (atual Núcleo Barranco), próximo a uma rodovia, com o objetivo de reivindicar seus direitos de retornar às suas terras de origem, vivendo em condições rurais consideradas precárias até o presente momento, segundo Veronezzi e da Silva (2013, p. 234). Em julho de 1998, ainda segundo os autores, foi criado pelo INCRA, conjuntamente com o poder público e a Cooperativa da região, o Assentamento Paiol de Telhas, localizado na Colônia Socorro, Distrito de Entre Rios, Guarapuava-Paraná, com o intuito de solucionar o problema das terras por um determinado tempo. Porém, muitos anos se passaram, e o que era provisório tornou-se permanente. Atualmente a comunidade composta por duzentas famílias, segundo a FUNARTES (2013), encontra-se dividida em quatro núcleos distintos: um grupo de famílias está acampado no barranco da estrada que liga o município de Reserva do Iguaçu à Pinhão (Núcleo Barranco), próximo ao território assentado; outro grupo está no município de Guarapuava (Núcleo Guarapuava); outro no município de Pinhão (Núcleo Pinhão); e o último grupo está no Assentamento Paiol de Telhas na Colônia Socorro, Distrito de Entre Rios, Guarapuava (Núcleo Assentamento). No ano de 2005, a Fundação Palmares reconheceu a comunidade composta por descendentes dos herdeiros de Balbina, como quilombo, passando esta a se denominar Comunidade

Quilombola Invernada Paiol de Telhas, cuja sede se encontra no Núcleo Assentamento, e, segundo FUNARTES (2013), é considerada como o primeiro quilombo no Estado do Paraná. Nesse mesmo ano, foi aberto processo administrativo no INCRA para regularizar o Território Quilombola Invernada Paiol de Telhas, sendo esta comunidade, no Estado do Paraná, a primeira a ter tal procedimento iniciado, tomando por base o Decreto 4.887/2003. Esse processo continua em tramite até os dias atuais, e sem data prevista para sua conclusão. Neste contexto repleto de conflitos relacionados à regulamentação territorial, é que se insere o objeto deste estudo sobre a memória, que pretende por meio de reflexões teóricas e metodológicas da história oral, por meio de entrevistas às lideranças comunitárias do Paiol de Telhas, compreender e dar visibilidade aos processos identitários e culturais pelos quais esse grupo passou ao longo desse processo de reconhecimento territorial que possibilitou ao mesmo a se constituir numa comunidade quilombola. Alguns aspectos teóricos e metodológicos da História Oral e a questão da memória como instrumento para compreender os processos identitários e culturais A questão da memória e a utilização dos aspectos teóricos e metodológicos da História Oral, por meio de entrevistas com as lideranças da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas, auxiliarão na confecção do trabalho de pesquisa. Mas antes de expor como se pretende utilizar dessa metodologia de pesquisa, deve-se conceituar esse método de pesquisa. Por isso, ao se falar sobre História Oral somos remetidos, inicialmente, a questionar o que este termo propõe: é possível fazer história com o depoimento oral? Isto porque, falar em história leva a associar aquilo que é escrito aos inúmeros documentos formais que o historiador com suas técnicas é capaz de absorver e fazer história. Conforme afirma David (2013, p. 158), ocorre que, em seu ofício de artesão, o fazer história conta também com a metodologia da História Oral, que apresenta novas dimensões ao debate historiográfico, trazendo à tona uma metodologia qualitativa de pesquisa voltada para o estudo do tempo presente e baseada na voz de testemunhas. Assim sendo, a História Oral pode ser definida como uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas

gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. (CPDOC, 2012) Desde o início a História Oral esteve marcadamente envolvida com as questões da memória humana, tanto coletiva quanto individual. E, nesse sentido, passou a ser um relevante meio de valorização das identidades de grupos sem escrita, por meio da coleta de seus depoimentos e da análise de sua memória, de sua versão do mundo e dos acontecimentos. Segundo Silva & Silva (2006, p. 186), nos anos 1970, trabalhos de pesquisadores, como Alessandro Portelli e Michael Frisch, passaram a valorizar a memória como principal objeto de estudo da História Oral. Até então, essa disciplina era criticada por se basear em algo tão pouco confiável como a memória. Mas com esses pesquisadores, a aparente pouca confiabilidade da memória também passou a ser fonte de questionamentos sociais. Segundo os autores, os próprios lapsos de memória são importantes para a compreensão dos significados que determinado evento assume para o indivíduo e seu grupo social. Sendo assim, a memória se transformou, então, para muitos, no verdadeiro objeto da História Oral. E os historiadores começaram a considerar que, a partir do entendimento do processo de formação da memória histórica, poderiam compreender como os indivíduos vinculam passado e presente. (SILVA & SILVA, 2006, p. 186) Apesar do tratamento isolado que muitas vezes recebe a História Oral, ainda segundo os autores, não é uma disciplina autônoma, constituindo-se em um conjunto de técnicas, um método para a pesquisa histórica e o tratamento documental. E como conjunto de técnicas, ela pode ser adotada por diferentes abordagens históricas. Pelo seu interesse no resgate da memória de grupos à margem da História escrita, por exemplo, tem grandes afinidades com a História Social. (SILVA & SILVA, 2006, p. 187) Certos de que a História Oral traz os benefícios de elencar sentimentos, ações e informações preciosas para o campo historiográfico, segundo David (2013, p. 159), hoje somos capazes de reconhecer sua importância como método adequado para visualizar diversos pontos de vista de um determinado fato histórico, ou seja, a representação dos fatos baseada no conjunto de valores históricos do entrevistado, do pesquisador e de quem os lê. Por tudo isso, é que justifica-se a escolha da metodologia de História Oral para a realização do estudo sobre memória na Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas, buscando-se compreender e dar visibilidade aos processos identitários e culturais pelos quais esse grupo passou desde a sua constituição até a implantação da comunidade quilombola.

RESULTADOS E/OU CONSIDERAÇÕES Para compreender e dar visibilidade a questão da memória e aos processos identitários e culturais pelos quais a Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas passou ao longo de todo processo de reconhecimento territorial que possibilitou a mesma a se constituir numa comunidade quilombola, optou-se pela utilização dos aspectos teóricos e metodológicos da História Oral. E, o recorte histórico desse trabalho inicia-se com a doação das terras da invernada aos onze escravos libertos em 1860 até o ano de 2005, quando a Fundação Palmares reconheceu esse grupo de trabalhadores rurais negros, descendentes diretos de escravos, como comunidade quilombola. Com a realização de visitas ao território onde se encontra essa comunidade, lotada principalmente entre os Municípios de Guarapuava, Pinhão e Reserva do Iguaçu, pretende-se confeccionar entrevistas gravadas com as lideranças da Comunidade. Escolheu-se pela importância político-administrativa entrevistar os líderes comunitários dos Núcleos Barranco e Assentamento, localizados no município de Guarapuava-Paraná, com o intuito de investigar como se deu o processo de mudança identitária e cultural pelo qual esse grupo passou, de herdeiros de Balbina para quilombolas e dar visibilidade de como se deu esse processo de transformação e autorreconhecimento quilombola. Antes da realização das entrevistas gravadas com os referidos líderes, pretende-se primeiramente visitar os referidos núcleos e identificar tais lideranças e, posteriormente com a permissão das mesmas, efetuar as entrevistas compostas por perguntas abertas e também direcionadas sobre aspectos específicos da temática a ser trabalhada. Se for pertinente pode-se ampliar as entrevistas com outros membros da comunidade, reforçando os aspectos e contribuições da memória coletiva do grupo. Além das entrevistas gravadas em áudio, pretende-se, com a devida autorização dos entrevistados, a confecção de fotografias dos mesmos e dos locais onde se localizam os referidos Núcleos que serão trabalhados. Pretende-se também se utilizar de vasto material historiográfico que já se tem produzido sobre a comunidade, encontrados em livros, artigos de jornais, revistas e periódicos, além de artigos científicos, teses, dissertações, monografias, projetos de pesquisa, leis e decretos,

disponibilizados em bibliotecas e arquivos no município de Guarapuava, em órgãos institucionais que façam parte desse processo, como INCRA, por exemplo, e na própria comunidade, além da rede mundial de computadores (internet), que embasarão a construção do objeto pesquisado. REFERÊNCIAS CALÁBRIA, J. Processo de Comunidade Quilombola pode ser anulado no Paraná. Disponível em: http://www.cedefes.org.br/?p=afro_detalhe&id_afro=10189. Acesso em 08/07/13. CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE & INSTITUTO SUMAÚMA. Cartilha Terra Quilombola. 2006. Disponível em: http://www.institutosumauma.org.br/imagem/arquivo/terra_qulombola.pdf. Acesso em 01/04/14. CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL CPDOC/FGV. O que é História Oral. 2012. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral. Acesso em: 10/03/2014. DA SILVA, S. R. A trajetória do negro no Brasil e a territorialização quilombola no ambiente florestado atlântico. São Paulo: Universidade de São Paulo. Tese de doutorado em Geografia Física, 2008. Disponível em: http://www.ufrb.edu.br/olharessociais/wpcontent/uploads/trajetoria.pdf. Acesso em 01/04/14. DAVID, P. História Oral: metodologia do diálogo. Revista Patrimônio e Memória, v. 9, n. 1, jan-jul 2013, p. 157-170. Disponível em: httppem.assis.unesp.brindex.phppemarticleviewfile313601. Acesso em 15/04/14. DOMINGUES, P.; GOMES, F. Histórias dos quilombos e memórias dos quilombolas no Brasil: revisitando um diálogo ausente na lei 10.639/031. Revista da ABPN, v. 5, n. 11, julout 2013, p. 05-28. Disponível em: http://www.abpn.org.br/revista/index.php/edicoes/article/viewfile/397/276. Acesso em 01/04/14. FUNARTES. Região Sul Paraná: Comunidade de Invernada Paiol da Telha. Disponível em: http://www.souquilombola.com.br/estados/comunidade_de_invernada_pr_cont.html. Acesso em 08/07/13.

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