ESTATUTO CONTRATUAL DO ADVOGADO ESTAGIÁRIO - A AUTONOMIA DO CANDIDATO À ADVOCACIA E AS RESPONSABILIDADES DO PATRONO



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Transcrição:

ESTATUTO CONTRATUAL DO ADVOGADO ESTAGIÁRIO - A AUTONOMIA DO CANDIDATO À ADVOCACIA E AS RESPONSABILIDADES DO PATRONO O acesso pleno e autónomo ao exercício da advocacia depende de um tirocínio sob a orientação da Ordem dos Advogados, destinado a habilitar e a certificar publicamente que o candidato, licenciado em Direito, obteve formação técnico-profissional e deontológica adequada ao início da actividade e cumpriu com os demais requisitos impostos 1 pelo Estatuto da Ordem dos Advogados e pelo Regulamento Nacional de Estágio 2. Visa, assim, o estágio garantir uma formação adequada ao exercício da advocacia, de modo que seja desempenhada de forma competente e responsável, designadamente nas suas vertentes técnicas e deontológicas 3. No período de estágio, com a duração mínima de 2 (dois) anos 4, os patronos desempenham um papel fundamental (...) sendo sua função iniciar e preparar os estagiários para o exercício pleno da advocacia 5. É, portanto, indiscutível o papel formador e orientador que o patrono assume na condução e conclusão do estágio do candidato à advocacia, permitindo-lhe o acesso aos conhecimentos práticos, à experiência de vida e à realidade forense, essencial para complementar os conhecimentos académicos adquiridos. 1 Cfr. Artigo 184.º, n.º 1 do Estatuto da Ordem dos Advogados aprovado pela Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro, alterada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 10 de Novembro e pela Lei n.º 12/2010, de 25 de Junho vide Ordem dos Advogados, Colectânea de Legislação Profissional; Lisboa, Conselho Distrital de Lisboa, 2005. 2 Cfr. Regulamento n.º 52-A/2005 de 1 de Agosto. 3 Cfr. Regulamento n.º 52-A/2005 de 1 de Agosto. 4 Cfr. Artigo 188.º, n.º 1 do Estatuto da Ordem dos Advogados (doravante toda a referência normativa sem indicação de proveniência é referida ao Estatuto) 5 Artigo 185.º, n.º 1. 1

A primeira fase do estágio, com a duração mínima de seis meses, destina-se a fornecer aos estagiários os conhecimentos técnico-profissionais e deontológicos fundamentais e a habilitá-los para a prática de actos próprios de profissão de competência limitada e tutelada, após aprovação nas respectivas provas de aferição daqueles conhecimentos 6, cuja aprovação não só permite a passagem à segunda fase do estágio 7 como obriga à emissão e entrega aos advogados estagiários das respectivas cédulas profissionais 8. A segunda fase do estágio visa uma formação alargada, complementar e progressiva dos advogados estagiários através da vivência da profissão, baseada no relacionamento com os patronos tradicionais, intervenções judiciais em práticas tuteladas, contactos com a vida judiciária e demais serviços relacionados com a actividade profissional, assim como o aprofundamento dos conhecimentos técnicos e apuramento da consciência deontológica mediante a frequência de acções de formação temática e participação no regime do acesso ao direito e à justiça no quadro legal vigente 9, terminando o estágio com uma avaliação individualizada do respectivo processo de formação, dependendo a atribuição do título de advogado da aprovação em exame nacional de avaliação e agregação 10. Atenta a natureza do período de estágio, a competência dos advogados estagiários está, naturalmente, limitada, assim como a sua autonomia técnica e a independência que o Estatuto lhes confere e que é restringida para o advogado estagiário, atendendo ao carácter formativo e profissionalizante que assume o estágio. Com efeito, o Advogado estagiário, independentemente do seu estatuto contratual, deve sujeitar-se a determinadas regras, que limitam, naturalmente, a autonomia que a conclusão do estágio lhe conferirá, designadamente: 6 Artigo 188.º, n.º 2. 7 Artigo 188.º, n.º 3 8 Artigo 188.º, n.º 3. 9 Artigo 188.º, n.º 4. 10 Artigo 188.º, n.º 5. 2

a) Observar escrupulosamente as regras, condições e limitações admissíveis na utilização do escritório do patrono; b) Guardar respeito e lealdade para com o patrono; c) Submeter-se aos planos de estágio que vierem a ser definidos pelo escritório ou sociedade de advogados em que se insiram; d) Colaborar com o patrono sempre que este o solicite e efectuar os trabalhos que lhe sejam determinados, desde que se revelem compatíveis com a actividade do estágio; e) Colaborar com empenho, zelo e competência em todas as actividades, trabalhos e acções de formação que venha a frequentar no âmbito dos programas de estágio; f) Guardar sigilo profissional; g) Comunicar ao centro de estágio qualquer facto que possa condicionar ou limitar o pleno cumprimento das normas estatutárias e regulamentares inerentes ao estágio;. 11 Está, ainda, o advogado estagiário sujeito às demais obrigações deontológicas e regulamentares no exercício da actividade profissional 12, o que significa, também, que as obrigações deontológicas que não colidam com a competência e com os deveres que o Regulamento e o Estatuto conferem ao Advogado estagiário, devem ser pontual e escrupulosamente observadas por estes. Em suma, independentemente do estatuto pessoal ou contratual do advogado estagiário, este deverá sempre sujeitar-se às regras da advocacia e, assim, beneficia dos direitos e está sujeito a todos os deveres inerentes à profissão que abraça. 11 Artigo 9.º do Regulamento n.º 52-A/2005 de 1 de Agosto. 12 Artigo 9.º, alínea h) do Regulamento n.º 52-A/2005 de 1 de Agosto. 3

As diferentes formas de prestação da actividade do candidato à advocacia ou de contratação do mesmo, face às características peculiares da profissão de advogado, nunca podem implicar uma derrogação das obrigações estatutária e regulamentarmente conferidas ao advogado ou ao advogado estagiário. Também a especificidade do período de aprendizagem não pode significar uma renúncia aos direitos que lhes assistem, porquanto irrenunciáveis, e aos deveres que lhe incumbem, porque fundacionais da dignidade da função, atendendo ao facto de constituírem também uma garantia da dignidade e prestígio da própria profissão. Sem prejuízo da miríade de formas de prestação da actividade do candidato à advocacia, inserido em sociedades de advogados, em escritórios de grande, média ou pequena dimensão ou com patrono advogado em prática individual e isolada, podem, no entanto, elencar-se três diferentes formas de contratação de um advogado estagiário: 1. contrato de prestação de serviços 2. contrato de trabalho 3. contrato de estágio No contrato de prestação de serviços visa-se um resultado, o qual é desenvolvido pelo prestador de serviços com autonomia técnica e eventualmente até com autonomia de meios 13, sendo o serviço prestado com ou sem retribuição. Naturalmente que o resultado a que o advogado, seja ele estagiário ou não, está vinculado se cinge à obrigação de diligenciar pela resolução das questões que lhe são submetidas e que deve realizar com zelo, diligência e aplicando os conhecimento técnicos e jurídicos. 13 Artigo 1154.º do Código Civil: Contrato de prestação de serviços é aquele em que uma das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem retribuição 4

No contrato de trabalho pressupõe-se a existência de subordinação jurídica o que já implica sujeição a ordens directas e ao poder de direcção do empregador 14, e sempre mediante retribuição, independentemente da autonomia técnica que haja que respeitar sempre. Atentas as características do contrato de trabalho e a peculiaridade da profissão e do exercício da função de advogado, cujas fronteiras tantas vezes se tocam e não menos vezes se podem ultrapassar, o Estatuto da Ordem dos Advogados alude concreta e directamente ao exercício da actividade em regime de subordinação 15. Cominou-se, assim, com nulidade todas e quaisquer cláusulas do contrato de trabalho que restrinjam a isenção e independência do advogado ou que, de algum modo, violem os princípios deontológicos da profissão 16 e atribuiu-se à Ordem dos Advogados um poder fiscalizador da legalidade dos contratos celebrados. Se os dois regimes contratuais supra referidos são igualmente aplicáveis à contratação de advogado e de advogado estagiário, o mesmo não sucede com a celebração do contrato de estágio, o qual está directamente direccionado para a fase do estágio e que, por isso, compreenderá contratualmente a supervisão e a formação a esta inerente. O contrato de estágio profissional não pode ser qualificado como contrato de trabalho ou de aprendizagem, nem a bolsa de formação paga ao aprendiz se confunde com o conceito de retribuição 17, sendo, por isso, um contrato muito próprio, com regime especial, adaptado às peculiaridades e às necessidades inerentes a este período de formação. 14 Artigo 11.º do Código do Trabalho: Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade e outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade destas 15 Artigo 68.º. 16 Artigo 68.º, n.º 3. 17 Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça de 18-03-1998, in http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/0/4eda69a9df22fdb28025695e0052f25c?opendocument 5

Qual será o regime que mais se adequa ao advogado estagiário? Será o contrato de trabalho, em que a autonomia e a independência cedem em prol da estabilidade financeira e da tendencial durabilidade que este apresenta? Ou será que a profissão de Advogado apenas sem subordinação jurídica é exercida em plenitude? Será, no entanto, preferível a celebração de um contrato de estágio que prevê contratualmente a formação como complemento fundamental da actividade exercida, embora limitado no tempo? Haverá um quarto tipo? Ou tipo algum? Poderemos, enfim, conceber uma situação de facto que configure um contrato misto, que congregue em si as vantagens inerentes aos três tipos de contratação supra referidas? Um contrato em que simultaneamente se confere ao advogado estagiário estabilidade financeira, independência técnica e jurídica com as óbvias limitações legais - e um permanente apoio formativo e pedagógico, mas com duração limitada e caducidade a prazo. Será isto possível? Mais, será legitimo exigir tudo isto a advogados que excepcionalmente aceitem ser patronos? Será exequível nas actuais difíceis condições de exercício da advocacia? Ou estar-se-á a limitar o número de advogados que chamem a si tal meritória função de formar, como se ousa dizer, concorrentes? Será que o estágio é sempre uma mais-valia para quem o recebe e para quem o concede, permitindo uma troca de conhecimentos e de experiências por trabalho qualificado, mais ou menos experiente, mas certamente lucrativo e enriquecedor para ambos, advogado e advogado estagiário? A resposta não será unívoca até porque há estágios de natureza muito distinta e cada situação pode ser objecto abordagem individual e de apreciação casuística, como o tem sido já, na normalidade, pela autonomia e liberdade contratual e, na patologia, pelos próprios Tribunais. Mas uma resposta mais perene e definidora deverá ser dada pelo órgão que tem a competência regulamentar na advocacia: o Conselho Geral. 6