INFLUÊNCIA DO ÂNGULO MICROFIBRILAR SOBRE AS PROPRIEDADES FISICO-MECÂNICAS DA MADEIRA DE Eucalyptus

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DO ÂNGULO MICROFIBRILAR SOBRE AS PROPRIEDADES FISICO-MECÂNICAS DA MADEIRA DE Eucalyptus Lidiane C. LIMA¹, Milene T. SOUZA¹, José Tarcisio LIMA¹, Selma L. GOULART¹, Tatiane A. SILVA¹ 1- Departamento de Ciência e Tecnologia da madeira, Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Gerais RESUMO A madeira de Eucalyptus produzida no Brasil para a fabricação de celulose tem sido avaliada em termos de várias de suas propriedades. A partir do ano 2000, iniciou-se vários estudos para a avaliação do ângulo microfibrilar, tendo em vista sua importância para explicar outras propriedades, tanto da madeira como da polpa. Assim, objetivou-se neste trabalho determinar a influência do ângulo microfibrilar sobre as propriedades físico-mecânicas da madeira de Eucalyptus grandis Eucalyptus urophylla. Para isso, foram amostradas três árvores de um clone plantado na cidade Belo Oriente, Minas Gerais. Foram avaliadas a densidade básica, instabilidade dimensional, compressão paralela às fibras e ângulo microfibrilar (microscopia de luz polarizada) de amostras coletadas em três posições no sentido medula - casca dos troncos. Observou-se que as propriedades físicas e mecânicas avaliadas, em geral, apresentaram magnitudes compatíveis com resultados reportados na literatura. O ângulo microfibrilar médio das madeiras das árvores variou entre 7,7º e 8,4º, sendo que em todas as árvores observou-se uma tendência de decréscimo do ângulo microfibrilar no sentido medula - casca e das relações do ângulo microfibrilar com as outras propriedades da madeira sobressaiu-se aquela estabelecida com o módulo de elasticidade. PALAVRAS-CHAVE: Módulo de elasticidade, resistência a compressão, densidade básica, instabilidade dimensional, variação radial. ABSTRACT The Eucalyptus wood produced in Brazil for production of cellulose has been evaluated in terms of several of its properties. From the year 2000 started a number of studies to evaluate the microfibril angle, given its importance to explain other properties of both wood and pulp. Thus, the objective of this study was to determine the influence of the microfibril angle on the physico-mechanical properties of Eucalyptus grandis Eucalyptus urophylla. For this, three trees were sampled from a clone planted in the city Belo Oriente, Minas Gerais State. Basic density, dimensional instability, compression parallel to the fibers and microfibril angle (by polarized light microscopy) were the properties evaluated and the samples were collected at three positions of the trunks, from pith to bark. It was observed that the physical and mechanical properties evaluated, in general, showed results consistent with the values reported in the literature; the average microfibril angle of wood varied from 7,7º to 8,4º, and in all clones was observed a decreasing tendency from the pith to bark; MFA's relations with the other properties of wood stood out the one established with the modulus of elasticity. KEY WORDS: Modulus of elasticity, compressive strength, basic density, dimensional instability, pith to bark variation.

INTRODUÇÃO A madeira é uma das matérias primas renováveis mais empregadas no mundo. Por ser considerada um material heterogêneo e anisotrópico, o conhecimento de suas propriedades é necessário para subsidiar sua melhor aplicação. Com o decréscimo da disponibilidade de árvores adultas de grandes diâmetros provenientes de florestas nativas tornou-se necessário o uso de madeiras de espécies de rápido crescimento originadas em plantios comerciais de ciclo curto, como é o caso das espécies do gênero Eucalyptus. As propriedades da madeira são influenciadas por fatores do meio, como temperatura e umidade relativa, entre outros. Também são influenciadas por sua constituição química e anatômica. Neste aspecto, características como o teor de lignina, a morfologia das fibras e dos elementos de vaso, a proporção em que os diversos tecidos ocorrem e a organização e distribuição desses tecidos na madeira exercem papel fundamental na definição de suas propriedades. Nas paredes primária e secundária das células das plantas encontram-se suas unidades fundamentais, as microfibrilas celulósicas, embebidas em uma matriz de polissacarídeos, tais como pectina, hemiceluloses e lignina (HARRIS, 2006). Na parede primária a orientação das microfibrilas é geralmente dispersa. A parede secundária das células do xilema apresenta três camadas: as microfibrilas das camadas S1 e S3 são orientadas transversalmente, já na S2, a camada mais espessa, as microfibrilas encontram-se orientadas axialmente (WARDROP e PRESTON, 1947). A parede secundária pode apresentar camadas alternadas com diferentes orientações das microfibrilas, o que é conhecido como arranjo helicoidal (REIS e VIAN, 2004). A estrutura cruzada das microfibrilas proporciona à madeira uma alta rigidez axial além de uma alta resistência ao colapso e a ruptura, permitindo que a planta adote um hábito de crescimento ereto e faça uma condução eficiente da água da raiz até o topo (DONALDSON, 2008). A orientação e organização das microfibrilas de celulose contribuem com as propriedades físicas da madeira serrada e de fibras processadas. A camada S2 é geralmente mais espessa que as outras camadas, podendo ter maior influencia nas propriedades físicas da parede celular (DONALDSON, 2008), o módulo de elasticidade longitudinal (MOE L ), por exemplo, é dependente do ângulo microfibrilar (AMF) da camada S2 (CAVE, 1968). Embora menos espessas, as camadas S1 e S3 tem um papel crucial no reforço da célula contra deformação por forças de tensão da água, dureza lateral e resistência ao esmagamento da madeira (BOOKER, 1993). Tendo em vista o exposto acima, o objetivo deste trabalho foi estudar a influência do ângulo microfibrilar sobre as propriedades físico-mecânicas da madeira de clones de Eucalyptus grandis Eucalyptus urophylla. MATERIAL E MÉTODOS Para realização deste experimento foi utilizado um clone de Eucalyptus grandis Eucalyptus urophylla aos 6,5 anos de idade, cultivado na região de Belo Oriente Minas Gerais. O material foi fornecido pela empresa CENIBRA S.A., cujos plantios são voltados à produção de celulose.

Foram selecionadas três árvores com tronco ereto (TABELA 1) e de cada árvore abatida foi retirada, em torno do DAP, um disco de 25 cm de altura. Em seguida o material foi encaminhado ao Laboratório de Usinagem da Madeira do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras (DCF/UFLA), onde uma das faces foi aplainada para gerar uma superfície de apoio e então uma prancha com 5 cm de espessura foi retirada na região central do tronco, com o auxílio de serra fita simples. Essa prancha foi dividida tangencialmente ao longo da medula, sendo metade conservada para trabalhos futuros e metade utilizada para a retirada de material para análise em três posições radiais, interna (próxima à medula), externa (próxima à casca) e intermediaria (FIGURA 1). Figura 1. Esquema de amostragem As árvores selecionadas, apesar de eretas, foram sujeitas a tempestades quando apresentavam em torno de 24 meses de idade. De acordo com relatos, elas tornaram-se encurvadas nessa idade, mas recuperaram o porte ereto a partir de então. Tabela 1. Dados do material coletado Árvore DAP (cm) Altura total (m) 1 23,65 30,25 2 20,80 29,57 3 19,65 29,55 Microscopia de luz polarizada Para a medição do ângulo microfibrilar da parede celular das fibras, cortes tangencias de 7 µm de espessura foram obtidos com o auxílio de um micrótomo de deslize. Os cortes foram colocados em frascos de vidro e cobertos com uma solução de ácido acético glacial e peróxido de hidrogênio, na proporção de 1:1 (FRANKLIN, 1945, modificado por BERLYN e MIKSCHE, 1976). Os frascos foram lacrados e deixados em estufa a 60 C durante 12 horas, para que ocorresse a dissolução da lamela média e a desagregação dos elementos anatômicos, formando um macerado que foi então lavado e armazenado em água destilada.

O AMF médio foi determinado através da técnica de microscopia de luz polarizada, empregada por Lima et al. (2004), realizando-se 20 medições por amostra. Testes físicos A densidade básica foi determinada pelo método de imersão, segundo a norma NBR- 7190 (ABNT, 1997), utilizando-se corpos de prova com dimensões 2 3 3 cm, livres de defeitos. A estabilidade dimensional foi determinada através do cálculo das contrações axial, radial, tangencial e volumétrica, realizadas nos mesmos corpos de prova destinados ao cálculo da densidade. Para determinação das dimensões foi utilizado paquímetro digital com precisão 0,01 mm. Teste mecânico Na avaliação das propriedades mecânicas da madeira foi realizado ensaio destrutivo de compressão paralela às fibras, com objetivo de determinar o módulo de elasticidade e a resistência do material à compressão. O ensaio para determinação da resistência e da rigidez à compressão paralela às fibras da madeira foi realizado segundo norma ASTM D143-94 (1997), utilizando-se corpos de prova livres de defeitos com dimensões de 2,5 2,5 10 cm. Análise dos dados Foi realizada a estatística descritiva para os dados estudados e a correlação de Pearson entre o AMF e propriedades físico-mecânicas foi determinada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2 são apresentados os resultados obtidos para todas as características e propriedades estudadas. A árvore 3 apresentou o maior ângulo microfibrilar médio (AMF), com 8,4º, seguido das árvores 1 e 2, que apresentaram média 7,7º. Não foi observada diferença estatística entre as árvores para AMF médio. O AMF apresentou mínimo de 6,3º e máximo de 10,2º, dependendo da árvore, em conformidade com o que foi relatado por Lima et al. (2004), que encontrou um AMF médio de 8,8º para clones de E. grandis E. urophylla aos oito anos.

Tabela 2. Valores médios para ângulo microfibrilar (AMF), densidade básica (DB), contrações tangencial (CTg), radial (CRd), axial (CAx) e volumétrica (CVol), módulo de elasticidade (MOE) e resistência à compressão paralela as fibras (RC) para as amostras de E. grandis E. urophylla em função da árvore e da posição de amostragem. Árvore Posição AMF DB Contração (%) MOE (º) (g.cm -3 ) CTg CRd CAx CVol (MPa) Interna 9,7 0,392 5,84 2,53 0,18 11,00 4642 32 1 Intermediária 7,1 0,382 10,87 6,33 0,35 15,40 5038 31 Externa 6,3 0,493 8,22 6,85 0,28 20,49 7065 52 GERAL 7,7 0,422 8,31 5,24 0,27 15,63 5582 38 RC (MPa) Interna 9,1 0,374 6,42 3,68 0,07 13,97 4120 23 2 Intermediária 7,2 0,357 10,56 6,65 0,39 17,99 4983 31 Externa 6,8 0,483 12,14 5,84 0,66 21,54 6023 40 GERAL 7,7 0,405 9,71 5,39 0,37 17,84 5042 31 Interna 10,2 0,395 4,76 2,62 0,35 17,23 4384 33 3 Intermediária 8,6 0,385 11,56 10,05 0,56 17,15 5179 35 Externa 6,6 0,506 14,36 7,68 0,25 19,81 5909 39 GERAL 8,4 0,429 10,23 6,79 0,39 18,06 5158 35 Pode ser observado que o AMF diminui da medula em direção a casca, com redução de 35%, 25% e 35% para as árvores 1, 2 e 3, respectivamente. Medhurst et al. (2012) encontrou uma redução de 25% da medula para casca nos seis primeiros anéis de crescimento de E. nitens, enquanto Lima et al. (2004) encontraram uma redução de 13% em onze clones de E. grandis E. urophylla aos 8 anos. A maior densidade básica média foi observada para a árvore 1 com 0,429 g.cm - ³, seguidas das árvores 1 e 2, com 0,422 e 0,405 g.cm - ³, respectivamente. Queiroz et al. (2004) em trabalho sobre polpação kraft encontraram para clones de E. grandis E. urophylla aos 6 anos, densidades básicas de 0,447 e 0,552 g.cm - ³, valores superiores aos encontrados neste estudo, o que pode ser atribuído a diferentes tratos silviculturais e programas de melhoramento genético entre os materiais utilizados. De maneira geral foi observado um aumento para todas as contrações estudadas no sentido medula - casca, fato também observado por Oliveira e Silva (2003) em estudo com clones E. saligna aos 16 anos. Donaldson (2008) destacou que células com baixo AMF tendem a apresentar maiores contrações tangenciais, o que se aplica a este estudo, uma vez que observam-se maiores contrações tangenciais nas amostras externas, que apresentam menores ângulos microfibrilares em relação às amostras internas. O mesmo autor destaca ainda que maiores contrações axiais são geralmente observadas em paredes celulares que apresentam altos AMF, fato que não pôde ser comprovado pelo estudo em questão, que apresentou contrações axiais variando independentemente da posição de amostragem. Foi observado um aumento no módulo de elasticidade (MOE) e na resistência à compressão no sentido medula casca para todas as árvores estudadas. A árvore 1 apresentou o maior valor médio para módulo de elasticidade, 5582 MPa, seguido das árvores 3 e 2, com 5158 e 5042 MPa, respectivamente. Os valores médios para resistência à compressão

seguiram o mesmo, sendo a árvore 1 a mais resistente, suportando uma carga de 38 MPa, seguido das árvores 3 e 2, suportando cargas de 35 e 31 Mpa, respectivamente. Hein e Lima (2012), em estudo com E. grandis aos 6,5 anos, encontraram valores para MOE variando de 4648 a 11025 MPa, intervalo que inclui o observado neste estudo. Para resistência à compressão, os resultados obtidos pelos autores variaram de 29 a 51 MPa, intervalo que também inclui o observado para os clones de E. grandis E. urophylla utilizados neste estudo. Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos para correlação de Pearson entre AMF e as propriedades físico-mecânicas estudadas. Tabela 3. Correlação de Pearson entre árvore, posição de amostragem, ângulo microfibrilar e propriedades da madeira de Eucalyptus grandis Eucalyptus urophylla AMF DB Contração (%) MOE RC (º) (g.cm -3 ) CTg CRd CAx CVol (MPa) (MPa) Árvore 0,45 0,13-0,64 0,07 0,61 0,99-0,49 0,04 Posição -0,92 0,80 0,78 0,67 0,47 0,85 0,91 0,77 AMF -0,61-0,76-0,61-0,29-0,71-0,81-0,60 Exceto pela contração volumétrica da madeira, não foi observada correlação significativa entre as árvores e as propriedades e características estudadas. Já para posição de amostragem foi observada alta correlação com a maioria das propriedades. A correlação entre AMF e densidade básica não se mostrou conclusiva. Evans et al. (2000) em estudo com E. nitens observaram significativa correlação entre AMF e densidade básica. Evans et al. (2000) apontaram que a correlação entre AMF e densidade básica se mostra forte quando são observados alguns poucos anéis de crescimento consecutivos, mas não se mantém entre árvores da mesma espécie. Donaldson (2008) apontou a possibilidade de que correlações significativas entre essas duas propriedades possam ser apenas coincidências, uma vez que o AMF não tem correlação com a espessura da parede e a densidade básica tem. Outro fato apontado pelo autor é que a proporção entre lenho inicial e lenho tardio pode ser responsável pelas correlações em alguns casos, já que essa proporção tem influência sobre ambos, AMF e densidade. CONCLUSÕES De maneira geral foi possível observar através dos dados que o AMF é indiretamente proporcional à densidade e às contrações da madeira, sendo que estas aumentam com a redução do AMF. Também é possível inferir que menores ângulos das microfibrilas estão associados a madeiras mais rígidas e mais resistentes à compressão. AGRADECIMENTOS Ao apoio da CAPES, do CNPq e da FAPEMIG por conceder recursos financeiros para aquisição de suplementos fundamentais para a realização desse trabalho, bem como viabilizar a participação no II CBCTEM

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, 1997. 107 p. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS - ASTM. Annual book of ASTM standards. Denvers: 1997. 679 p. D 143 94. Standard methods of testing small, clear specimens of timber. p. 23-53. BERLYN, G. P.; MIKSCHE, J. P. Botanical microtechnique and cytochemistry. Ames: Yowa, State University, 1976. BOOKER, R. E. The importance of the S3 cell wall layer in collapse prevention and wood hardness. In: 24th Forest Products Research Conference 15 18 November 1993, CSIRO Division of Forest Products, Clayton, Victoria, Australia 3/17. Pp. 1 13, 1993. CAVE, I. D. The anisotropic elasticity of the plant cell wall. Wood Sci.Technol. 2: 268 278, 1968. DONALDSON, L. Microfibril angle: measurement, variation and Relationships a review. IAWA Journal, Vol. 29 (4), 345 386, 2008. EVANS, R.; STRINGER, S.; KIBBLEWHITE, R. P. Variation of microfibril angle, density and fibre orientation in twenty-nine Eucalyptus nitens trees. Appita J. 53: 450 457, 2000. FRANKLIN, G. L. Preparation of thin sections of synthetic resins and wood-resin composites, and a new macerating method for wood. Nature, 155 (3924): 51, 1945. HARRIS, P. J. Primary and secondary plant cell walls: A comparative overview. NZ J. For. Sci. 36: 36 53, 2006. HEIN, P. R. G.; LIMA, J. T. Relationships between microfibril angle, modulus of elasticity and compressive strength in Eucalyptus wood. Maderas, Cienc. tecnol., Concepción, v. 14, n. 3, nov. 2012. LIMA, J. T.; BREESE, M. C.; CAHALAN, C. M. Variation in microfibril angle in Eucalyptus clones. Holzforschung, 58: 160-166, 2004. MEDHURST, J.; DOWNES, G.; OTTENSCHLAEGER, M.; HARWOOD, C.; EVANS, R.; BEADLE, C. Intra-specific competition and the radial development of wood density, microfibril angle and modulus of elasticity. Trees 26: 1771-1780, 2012. OLIVEIRA, J. T. S.; SILVA, J. C. Variação radial da retratibilidade e densidade básica da madeira de Eucalyptus saligna Sm. Rev. Árvore, Viçosa, v. 27, n. 3, p. 381-385, 2003. QUEIROZ, S. C. S.; GOMIDE, J. L.; COLODETTE, J. L.; OLIVEIRA, R. C. Influência da densidade básica da madeira na qualidade da polpa kraft de clones hibrídos de Eucalyptus

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