ROTAÇÃO DE CULTURAS E PRODUTIVIDADE DO ALGODÃO. Antonio Cesar Bolonhezi 1

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Transcrição:

ROTAÇÃO DE CULTURAS E PRODUTIVIDADE DO ALGODÃO Antonio Cesar Bolonhezi 1 1. INTRODUÇÃO A produtividade do algodão depende da aplicação de diversas técnicas. Do ponto de vista prático, o cotonicultor avalia cada componente da produtividade, considerando, naturalmente, o custo e o benefício, de modo a possibilitar a tomada de decisão sobre a aplicação de uma nova tecnologia. Atualmente a cotonicultura praticada nos cerrados do Brasil central, exige uma visão empresarial do cotonicultor. Se a estratégia for imediatista, para curto prazo, o critério utilizado para se avaliar as respostas da aplicação de técnicas na busca de aumento de produtividade, é naturalmente a renda obtida. Por outro lado, a adoção de tecnologias modernas, nem sempre levam em consideração os efeitos ao longo dos sucessivos ciclos agrícolas, que podem provocar fortes alterações no equilíbrio do ambiente (solo, principalmente) interfererindo negativamente na manutenção de altas produtividades, quando está alicerçada na monocultura. Todavia, se o cotonicultor utiliza critérios futuristas, necessariamente, a sua visão é muito mais ampla e, naturalmente, adotará tecnologias visando a área agrícola e não apenas a lavoura do algodão. Assim, a longo prazo, adotará estratégias em busca da manutenção do equilíbriodo agroecossistema e da sustentabilidade do sistema de produção. Dentre as tecnologias disponíveis, a rotação de culturas associada com uma adubação verde, constituem-se em práticas viáveis para estabilidade produtiva das áreas agrícolas. Assim, o assunto em questão está diretamente relacionado com o tema principal desse III CONGRESSO DE ALGODÃO: produzir sempre, o grande desafio. Considerando que o algodão está praticamente no inicio de um novo ciclo nos chapadões do cerrado, ainda há tempo de se buscar ajustar as técnicas disponíveis para o manejo da área agrícola, visando a manutenção das produtividades para justificar os investimentos e a estrutura desse novo modelo de cotonicultura. Cabe ainda enfatizar que a proposta de apresentar esse tema para discussão, tem por objetivo principal, estimular reflexões e incentivar novos estudos. E por ser um assunto muito complexo, com um número grande de fatores envolvidos, serão apresentados nessa resenha, somente os aspectos considerados como os mais relevantes e oportunos, sem a pretensão de resolver os problemas relacionados ao assunto ou ditar receitas milagrosas. 2 IMPORTÂNCIA A produtividade do algodão está relacionada com diversos fatores como o clima, quantidade e distribuição das chuvas e a variação térmica durante o ciclo, da fertilidade do solo, das adubações, do controle de pragas e plantas daninhas e da colheita bem executada. A 1 Docente do Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia da FE/UNESP. Av. Brasil, 56 - C.P. 31-15385-000 - Ilha Solteira/SP. E-mail: bolonha@agr.feis.unesp.br.

interação existente entre variedades e ambiente (manejo) também tem uma participação significativa na definição da produtividade de uma lavoura de algodão. Doenças como a ramulose, murcha de Fusarium e /ou Verticilium e a ocorrência de nematóides, afetam o desenvolvimento do algodão e podem causar perdas consideráveis na produtividade. Mas, felizmente, graças ao trabalho e dedicação dos melhoristas, novas variedades mais resistentes, periodicamente, são lançadas para a solução desse tipo de problema. A utilização de variedades mais produtivas, o uso de adubações mais pesadas, o controle de pragas bem executado e o uso adequado de reguladores de crescimento, tem proporcionado altas produtividades, principalmenten mo modelo de contonicultura praticado nos chapadões dos cerrados. Por outro lado, os cerrados é um agro-ecossistema que, no geral, tem solos com baixa fertilidade natural, baixa capacidade de retenção de água e sujeitos a ocorrência de veranicos.investimentos com calagem e fosfatagem tem contribuído bastante para a manutenção das áreas produtivas. Mas, é fundamental a incorporação de tecnologias que permitem, ao longo dos anos, manter a estabilidade produtiva, mesmo nos anos mais secos, nesse aspecto, destaca-se a ROTAÇÃO DE CULTURAS(RC) conforme comprovado por avalicações práticas realizadas em vários anos seguidos no Paraná. Além disso, a RC associada com a AV com leguminosas, de acordo com trabalhos desenvolvidos na década de setenta pelo agricultor Hirofumi Kage na região de Miguelópolis(SP), tendo o planejamento e acompanhamento científico de diversos pesquisadores do IAC, constataram que em áreas infestadas com nematóides a rotação com Crotalaria juncea e/ou com milho+mucuna possibilitaram ganhos significativos na produtividade, a partir do segundo ano 3. CONCEITO E FUNDAMENTOS A monocultura é o cultivo sucessivo de uma mesma espécie em uma mesma área, por diversos anos seguidos. Como conseqüência, as produções são reduzidas devido ao aumento do potencial de inoculo de patógenos e população de pragas, da compactação do solo e da erosão. Rotação de cultura é a prática agrícola que preconiza o rodízio, troca ou alternância de espécies vegetais numa mesma área, obedecendo rigorosamente um planejamento, onde se define o esquema a ser utilizado seguindo uma ordenação racional. Observa-se que esse conceito considera a necessidade de um plano, desse modo, é fundamental que se considere as condições edafoclimáticas e de mercado para que se possa definir um esquema agronomicamente adequada e economicamente aceitável. Outro aspecto importante é que o planejamento de uma seqüência de culturas deve também ser flexível, para que, com o tempo, as modificações necessárias não comprometam os objetivos definidos. O sucesso de uma rotação de culturas, depende de uma série de fatores como: histórico das áreas agrícolas, tradição, conhecimento dos agricultores e estrutura de comercialização da região. São diversas as vantagens da RC para uma área agrícola ressaltadas na literatura, com destaque para a redução da erosão, diminuição paulatina da população de mato, coadjuvante no controle de muitas doenças e pragas, reciclagem de nutrientes, aproveitamento de adubo residual e a longo prazo, aumento da matéria orgânica do solo, conforme resultados de pesquisa de 50 anos realizada nos EUA.

A sucessão de culturas se diferencia da rotação, pois não necessariamente as espécies utilizadas retornam a área agrícola. Ou seja, a idéia de sucessão parece ser simplesmente uma seqüência de culturas, normalmente definidas pelo fator mercadológico. Em muitas situações, a seqüência de espécies numa área, pelo fato da ausência de hospedeiro, traz certos benefícios para as culturas principais. Sendo, portanto, a sucessão o início do processo rotacional que, aos poucos, deve ser trabalhado buscando o rodízio adequado para cada área agrícola. Com crescente interesse pelo sistema de implantação da cultura do algodão sob uma palhada, denominado de plantio direto (PD) a adoção da RC nas áreas de algodão, passa a ter um problema a mais a ser considerado, pois, pragas como a broca da raíz, o percevejo castanho, o bicudo, e várias doenças, poderão ter a população e potencial de inóculo, aumentados, respectivamente. A destruição de soqueiras deve ser prática obrigatória nessas áreas. O planejamento da RC nessas áreas de PD com milho e soja, se torna ainda mais difícil, tendo em vista a suscetibilidade de cultivares de algodão e milheto à nematóides do gênero Pratylenchus, e de várias variedades de soja ao M. incognita. A situação se agrava ainda mais, nas áreas em que o milheto é a única fonte de palhada. Desse modo, se o rodízio de culturas/cultivos, contemplar materiais suscetíveis, ao longo dos anos, vai se potencializando o problema. 4. BREVE HISTÓRICO No Brasil, as pesquisas com rotação de culturas envolvendo o algodão, foram iniciadas no século passado. Em 1946, o Dr. Osvaldo da Silveira Neves mencionava vantagens da RC para o algodão, já preocupado com a redução da erosão e a perda da matéria orgânica. Segundo o Dr. Neves, os lavradores, naquela época, resistiam às inovações tecnológicas talvez por falta de argumentos que demonstrassem as vantagens econômicas satisfatórias. Os relatos do Dr. Neves mencionaram ainda que as produções de algodão continuo por oito anos, mostrava oscilações, e que ao longo dos anos, embora lentamente, o solo apresentava indícios de perdas da fertilidade. Interessante refletir a respeito desses relatos, tendo em vista que a realidade do ano 2001 parece não ser muito diferente de 55 anos atrás. No período de 1956-1960 pesquisas do Instituto Agronômico (I AC), concluíram que a adubação verde com mucuna preta incrementava significativamente a produção de algodão. Nos anos seguintes, numa série de experimentos realizadas a partir de 1955, em diversos municípios do estado de São Paulo pesquisadores da seção de algodão, também destacaram a importância e as vantagens imediatas da mucuna preta, mesmo em solos férteis. Nos anos 70, os pesquisas desenvolvidas pela seção de Algodão do IAC em áreas infestadas com Fusarium e nematóides de galhas, concluiram o amendoim e a mucuna em rotação, proporcionaram aumento na produtividade do algodão. 5. ALGUNS RESULTADOS DA ROTAÇÃO DE CULTURAS PARA O ALGODÃO Estudos realizados pelo Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, concluiu que a adoção de um sistema de rotação de culturas de 4 anos, na região de Ribeirão Preto, os agricultores que dividiram sua área agrícola em quatro e rotacionava o algodão com, soja ou milho ou amendoim das águas e mucuna preta em sucessão, obtiveram o dobro dos retornos que aqueles que não adotaram a

tecnologia. Os ganhos de rendimentos foram de 5% para o algodão e 45% para o milho, além da redução nos custos dos insumos, que variaram de 3% para o milho a 25% para a soja. Pesquisa realizada nos EUA mostrou que sistema de rotação de 1 a 4 anos, usando o milho e/ou soja, seguido do algodão não afetaram o ph, a porcentagem de matéria orgânica e a disponibilidade de fósforo. A produtividade do algodão no segundo e terceiro ano não foi significativamente afetado pelas culturas precedentes. Para regiões onde o trigo é opção para inverno, pesquisa de 10 anos realizada pelo IAPAR mostrou que a melhor seqüência para o algodão foi milho, trigo, soja, trigo e algodão, com vantagem para o sistema em P.D. Trabalhos realizadas em laboratório, casa de vegetação e confirmadas em campo, comprovaram que a palha de trigo afeta a germinação/emergência e o crescimento das plântulas de algodão. Em condições de campo, reduções significativas na germinação, ocorriam principalmente quando as sementes entravam em contato direto com a palha do trigo.os resultados experimentais permitiram ainda a identificação de variedades de algodão tolerante e suscetível. Há relatos de que a rotação milho-mucuna preta com o algodão, proporciona aumentos imediatos na produtividade do algodão da ordem de 50%. Pesquisa mais recente, desenvolvida ano Texas, EUA, mostrou que a rotação de algodão com sorgo ou soja, por um período sete anos, não afetou o crescimento nem o rendimento do algodão, talvez pela redução de N disponível no solo nos primeiros estágios de desenvolvimento do algodão, pois a incorporação do material vegetal da aveia usada como cobertura deu-se muito próxima à semeadura do algodão Observa-se portanto, que há necessidade de um bom planejamento do manejo da fitomassa das espécies de plantas de cobertura. Dados obtidos me 1996 em terra roxa estruturada, mostraram que o cultivo contínuo de algodão por 10 anos, reduziu em 54% no carbono microbiano em relação à mata natural e que a relação C microbiano/c orgânico foi menor o que 1,0, ou seja, houve uma redução na dinâmica da matéria orgânica do solo. É importante fazer uma reflexão: será que os sistemas de produção de algodão utilizados estão alimentando a dinâmica de matéria orgânica nos solos? Será que as seqüências de culturas adotados nas regiões de algodão estão possibilitando a manutenção de agregados estáveis. Avaliações recentes realizadas em solos altamente suscetíveis à erosão, no vale do Tennesee, EUA, comprovam a necessidade e a importância das plantas de cobertura, ou seja, a manutenção dos resíduos na superfície é fundamental para retenção da umidade e para melhorar a qualidade do solo. E aqui para o Brasil para áreas de sequeiros, quais são as alternativas, para substituir com vantagens o milheto como planta de cobertura? E para outras regiões produtoras onde o plantio de algodão tem épocas bem definidas e o plantio tardio, normalmente, reduz a produtividade, qual ou quais as opções para implantação de um sistema tipo plantio direto na palha? Será que nessas regiões, como grande parte do estado de São Paulo, a alternativa é semear a planta fornecedora de palhada, logo após a colheita do algodão, no final de março/início de abril? Para isso, a espécie deve ter ciclo longo, não ser muito sensível ao fotoperíodo, suportar longos períodos sem chuvas, tolerar temperaturas baixas, apresentar facilidades para semeadura/manejo da fitomassa e não ser hospedeiro de nematóides. Para o planejamento de um esquema de rotação de culturas num sistema de plantio direto, as plantas de cobertura devem ser consideradas no esquema de rodízio. Entretanto, mesmo não completando o ciclo, sua participação e seus efeitos se tornam cumulativos na área agrícola.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1. O algodão rotacionado responde à adubação verde com leguminosas, com destaque para a mucuna preta. 2. Outras leguminosas como Guandu e Crotalaria são boas opções para integrar um esquema de rotação de culturas como também, podem ser utilizadas como plantas de cobertura para fornecimento de palhada no sistema de plantio direto atualmente adotado nos cerrados. 3. A adoção da prática de rotação de cultivas promove aumentos de renda dos agricultores e contribuem para a redução dos custos de produção. 4. A prática da rotação de culturas deve ser encarada como investimento para as áreas agrícolas. 5. A rotação de culturas associadas com a adubação verde, contribuem ao longo dos anos, com a entrada de matéria orgânica nos solos (camadas de 0-10cm), com aumento do índice de estabilidade dos agregados, com a redução da erosão, resultando consequentemente numa maior sustentabilidade dos sistemas agrícolas. 6. Os esquemas de rodízio entre culturas são estruturadas considerando as condições regionais de clima, solo e estrutura de mercado, e devem ser flexíveis de modo a possibilitar modificações na seqüência de espécies, sem no entanto, alterar substancialmente as finalidades definidas no planejamento. 7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABRÃO, M.M. e MAZZAFERA, P. Alterações fisiológicas no algodoeiro causadas por Meloidogyne incongnita raça 3. Influênciado nitrogênio. Nematologia Brasileira, v.22, n.2,p. 66-79, 1998. CASTRO FILHO, C. et al. Estabilidade dos agregados e sua relação com o teor de carbono orgânico num latossolo roxo distrófico, em função de sistemas de plantio, rotações de culturas e métodos de preparo das amostras. Revista Bras. Ci. Solo, v.22,p.527-38, 1998. CAVALIERI, P.A., FUZZATO, M.G. Adubação do algodoeiro.xiv - Experiências com mucuna e adubos minerais. Bragantia, v.22, n.26, p.331-350,1963. CORRÊA, D.M. et al. Adubação do algodoeiro. XI - Ensaio com calcário, adubaçào verde e adubação mineral. Bragantia, v.20, n.22, p.617-32, 1961. COSTA, A. e YAMAOKA, R.S. Efeitos da rotação de culturas no algodoeiro. In: ENCONTRO NACIONAL DE ROTAÇÃO DE CULTURAS, 2,1992, Campo Mourão (PR), Anais... Campo Mourão:AEACM, 1992. p: 169-80. FERRAZ, C.A.M. Rotação de culturas no controle de nematóides.campinas:iac/seção de algodão, 2p. (mimeografado). FERRAZ, C.A.M., CIA, E., SABINO, N.P. Efeito da mucuna e amendoim em rotação com o algodoeiro. Bragantia, v.36, n.1., 1-9, 1997. GOULART, A.M.C; INOMOTO, M.M., MONTEIRO, A.R. Hospedabilidade de oito cultivares de algodoeiro a Pratylenchus brachyurus. Nematologia Brasileira, v.21, n.2, p.112-8,1997. HICKS, S. K. et al. Allelopathic effects of wheat straw on cotton germination, emergence, and yield. Crop Science., v.29,p.1057-61,jul/aug,1989. MARCHIORI, JÚNIOR, M., MELLO, W.J. Carbono, carbono da biomassa microbiana e atividade enzimática em solo sob mata natural, pastagem e cultura do algodoeiro. Revista Bras. Ci. Solo, v.23,p.: 257-63, 1999.

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