Um desvio arcaico na obra de Platão: o uso do modelo político-geométrico de Clístenes

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Transcrição:

Andréia Santana da Costa Gonçalves Um desvio arcaico na obra de Platão: o uso do modelo político-geométrico de Clístenes DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Filosofia da PUC-RIO como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia. Orientadora: Profa. Irley Fernandes Franco Rio de Janeiro, novembro de 2005

Andréia Santana da Costa Gonçalves Um desvio arcaico na obra de Platão: o uso do modelo político-geométrico de Clístenes Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Filosofia da PUC-RIO como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia. Aprovada pela Comissão Examinadora Abaixo Assinada. Profa. Irley Fernandes Franco Orientador Departamento de Filosofia PUC-RIO Prof. Danilo Marcondes de Souza Filho Departamento de Filosofia PUC-RIO Prof. James Bastos Areas Departamento de Filosofia PUC-RIO Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade Coordenador Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas PUC-Rio Rio de Janeiro, 09 de novembro de 2005.

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total do trabalho sem a autorização da universidade, da autora e do orientador. Andréia Santana da Costa Gonçalves Graduou-se em Filosofia na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em 2003. Foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Antigüidade e do Grupo Archai/CNPQ, vinculado ao NEA/UERJ e a UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba). Pesquisadora da área de Filosofia Antiga. Ficha Catalográfica Gonçalves, Andréia Santana da Costa Um desvio arcaico na obra de Platão: o uso do modelo político-geométrico de Clístenes / Andréia Santana da Costa; orientadora: Irley Franco. - Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Filosofia, 2006. 98 f.; 30 cm Dissertação (mestrado) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia. Inclui referências bibliográficas. 1. Filosofia Teses. 2. Política. 3. Geometria. 4. Arcaísmo. 5. Invenção. 6. Inversão. 7. Reversão. 8. Subversão. 9. Proporção. I. Franco, Irley. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Filosofia. III. Título. CDD: 100

À minha família

Agradecimentos A minha orientadora Professora Irley Fernandes Franco pelo estímulo e parceria para a realização deste trabalho. Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado. Aos meus pais, pela educação, atenção e carinho. À minha professora Maria Regina Candido por tudo que me ensinou. Aos professores que participaram da Comissão examinadora. Aos funcionários da biblioteca pela ajuda

Resumo GONÇALVES, Andréia Santana da Costa. Um desvio arcaico na obra de Platão: o uso do modelo político-geométrico de Clístenes. Rio de Janeiro, 2006. 98p. Dissertação de Mestrado Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O objetivo principal deste trabalho é analisar o significado do espaço e tempo nas obras de Platão. A pesquisa se desenvolve a partir do estudo de G. Glotz e P. Lévêque e P. Vidal-Naquet, que fizeram corresponder as reformas de Clístenes com a organização de um espaço e de um tempo puramente cívicos. Pretendemos mostrar como esses conceitos foram radicalmente transformados no pensamento de Platão, nos projetos das cidades que ele elabora um século depois. Consideramos que um desvio arcaico transformou completamente a concepção de espaço e de tempo cívicos ligados à tradição que as reformas de Clístenes realizaram um século antes. A ágora, centro político e geométrico da pólis, sucede um centro religioso, a acrópole que orienta um novo espaço hierarquizado. Esse deslocamento do centro é significativo, uma vez que a acrópole se opõe à ágora como domínio do sagrado ao domínio do profano, como o divino ao humano. A ágora tradicionalmente não tem mais lugar; ela passa por uma crítica à democracia ateniense. Platão, percorrendo um sentido inverso ao de Clístenes, volta a um sistema duodecimal, cujo valor religioso aparece nele sem equivoco: cada tribo é destinada a um dos doze deuses do panteão. Essa divisão do espaço cívico também permitiu a Platão modelar o espaço sobre o tempo e realizar uma posição contrária a Clístenes - cada uma das doze tribos deve corresponder a uma festa maior, àquela do deus que o tempo instalou em seu centro. O plano político que Clístenes havia realçado, Platão o reintegra então na estrutura da pólis ideal. Palavras-Chave Política; Geometria; Arcaísmo; invenção; inversão; reversão; subversão; Proporção.

Résumé GONÇALVES, Andréia Santana da Costa. Un détournement archaïque dans l oeuvre de Platon: l usage du modèle politico-géométrique de Clisthène. Rio de Janeiro, 2006. 98p. Dissertation du D.E.A Département de Philosophie, Pontificale Université Catholique de Rio de Janeiro. L objectif principal du présent travail est d analyser la signification de l espace et du temps dans les oeuvres de Platon. La recherche se développe à partir de l étude de G. Glotz et P. Levêque et de P. Vidal-Naquet qui ont mis en correspondance les réformes de Clisthène et l organisation d un espace et d un temps purement civiques. Nous avons l intention de montrer comment ces concepts ont été radicalement transformés dans la pensée de Platon, dans les projets qu il élabore un siècle plus tard. Nous considérons qu un détournement archaïque a complètement transformé la conception de l espace et du temps civiques liés à la tradition que les réformes de Clisthène avaient réalisée un siècle auparavant. A l agora, centre politique et géométrique de la polis succède un centre religieux, l acropolis qui oriente un nouvel espace hiérarchisé. Ce déplacement du centre est significatif, une fois que l acropolis s oppose à l agora comme le domaine du sacré à celui du profane, comme le divin à l humain. L agora, traditionnellement, n a plus de place; elle passe par une critique à la démocratie athénienne. En parcourant un sens inverse à celui de Clisthène, Platon retourne à un système duodécimal dont la valeur religieuse apparaît chez lui sans équivoque: chaque tribu est destinée à l un des douze dieux du Panthéon. Cette division de l espace physique a permis à Platon de modeler l espace sur le temps et de réaliser une position contraire à Clisthène chacune des douze tribus doit correspondre à une fête plus grande, à celle du dieu que le temps a installé dans son centre. Le plan politique que Clisthène avait mis en relief, Platon le réintègre alors dans la structure de la polis idéale. Mot-clefs : Politique; Géométrie; Archaïsme; Renversement; Proportion.

SUMÁRIO 1. Introdução: Da realidade à utopia 9 2. Espaço e tempo cívicos de Clístenes 18 2.1. Os modelos de Clístenes 36 3. Espaço e tempo mítico de Platão 46 4. As Leis Espaço e tempo da polis 61 5. Conclusão: À inversão platônica 77 6. Referência Bibliográfica 81 Apêndice 1 93 Apêndice 2 96