BATERIA GRETSCH Catalina Club A Gretsch lança no Brasil a nova Catalina Club. O modelo foi analisado pela Backstage e um time de bateristas foi convidado para testar o instrumento. João Viana, Christiano Galvão, Andre Tandeta, Paulinho Black e Haroldo Jobim tocaram e opinaram sobre a bateria. Cesar Conti cesarconti@backstage.com.br C om a pequena configuração formada por um bumbo de 18 de diâmetro por 14 de profundidade, tom de 12 x 8, surdo de chão com 14 x 14 e caixa de 14 x 5, todos feitos totalmente em mahogany (mogno), o modelo Club da linha Catalina, da marca Gretsch, vem preencher uma fatia significativa do mercado de baterias. Não só pelo fato de suas medidas serem fora dos padrões mais comuns encontrados nas lojas, mas também pelas opções de cores 152 www.backstage.com.br que o remetem aos anos 60/70 quando os grandes bateristas de jazz usavam modelos com este setup e acabamentos. A Sonotec Music&Sound, de Presidente Prudente (SP), importador exclusivo da Gretsch Company, disponibiliza para o mercado brasileiro toda a série Catalina, que tem modelos feitos em madeira maple, birch, ash e o Catalina Club em mahogany; cada um com suas particularidades nas configurações, sonoridade, cores, acabamentos e ferragens. O novo modelo Club vem com canoas (castanhas) de afinação independente para as peles batedeira e resposta no bumbo, tom e surdo. Inclinação de 30 graus nas bordas dos cascos e tambores revestidos por uma fina película (Nitron Coverings) nas cores White Marine e Silver Sparkle, que dão essa aparência de estilo clássico ao instrumento. TOM O sistema GTS (Gretsch Tom System) que sustenta o tom de 12 x 8 é composto por um pequeno sobre-aro posicionado entre o aro batedeira e as canoas, com dois anéis de borracha por onde passam os parafusos de afinação diferente do sistema dos outros modelos que passam por quatro parafusos isso torna o tambor mais leve, fácil de manusear, trocar peles e afinar. Um apoio de borracha na parte interna do GTS alinha o casco do tambor ao sistema, e na parte externa, é fixada a caneca que se prende ao tom
holder. Os aros têm 1.6mm de espessura e cinco afinações, pele Evans G1 na batedeira e clear na resposta. SURDO O surdo com 14 de diâmetro por 14 de profundidade também tem aros de 1.6mm, mas com oito afinações para cada pele, Evans Genera G1 na batedeira e clear na resposta, três canecas fixas ao casco onde se prendem os pés com base emborrachada. Todas as canoas e canecas dos tambores possuem uma camada de material termoplástico, que as separam do acabamento para não haver contato do metal com o corpo do instrumento. O casco de 12.7mm de espessura possui um anel de suspiro no centro, onde se encontra a plaqueta com a logomarca do fabricante. BUMBO O bumbo de 18 x 14 tem oito afinações para batedeira e resposta com aros de madeira com acabamento na cor do instrumento. As peles são Evans, sendo a batedeira modelo clear e a de resposta porosa, ambas com anel abafador e a marca Gretsch. A base que sustenta o tom holder é fixada na parte superior do casco, que é furado para facilitar a 154 www.backstage.com.br regulagem de altura do tom e é feito através de um parafuso borboleta e uma braçadeira (memória) que se prende ao cano base. Na extremidade do cano, funciona um sistema de esfera embutida que determina o ângulo do tambor e sustenta uma peça de metal em L (tom holder), que se prende à caneca do GTS. Os pés do bumbo têm sistema telescópico para regulagem de altura, ponteiras de borracha e âncoras embutidas. No aro batedeira a Gretsch acrescentou ao modelo Club um elevador para aumentar a altura do tambor em relação ao pedal de bumbo. Dessa forma, o músico não precisa alterar a regulagem do pedal ou diminuir a altura do batedor para tocar no centro da pele. Assim, o bumbo pode ficar totalmente fora do chão, deixando o casco vibrar livremente, aumentando sensivelmente a performance acústica do instrumento. CAIXA A caixa tem o casco com 14 de diâmetro, 5 de profundidade, 12.7mm de espessura com 30 graus de inclinação no arremate das bordas, aros de 1.6mm com oito afinações. As canoas inteiriças têm entrada para os parafusos batedeira e res-
João Viana posta e o automático de regulagem da esteira é silencioso e preciso. O cavalete do lado oposto desempenha bem sua função, a esteira tem 20 fios e o acabamento tem a mesma cor de todo o setup. Vem equipada com pele Evans monofilme porosa na batedeira e clear na resposta. FERRAGEM O kit de ferragem que acompanha a Gretsch Catalina Club é da marca Gibraltar série 5600, composto por uma máquina hi-hat (mod. 5607) com regulagem de pressão do pedal por chave de afinação e base rotativa para melhor posicionamento de outros pedais; estante de caixa (mod. 5606) com pés duplos, duas estantes de prato com sistema telescópico (mod. 5609 e 5610), uma reta e outra girafa, também com pés duplos e um pedal de bumbo (mod. 5611) acionado por corrente, batedor dupla face, duas âncoras laterais e velcro na parte inferior da base do pedal para fixar. JOÃO VIANA (Djavan/ Leila Pinheiro) Meu primeiro contato com a Gretsch, foi nos anos 80, quando meu pai (Djavan) estava gravando em Los Angeles. Eu era muito pequeno, mas lembro que o Harvey Mason estava gravando o disco e a Gretsch dele estava montada no estúdio. Eu não tocava ainda, mas já gostava do instrumento, e ele acabou me deixando dar uma arranhadinha na batera. Lembro também do som maravilhoso que ele tirou daquela Gretsch... Achei que os tambores da Catalina Club cantam bastante, levei um pouco de tempo para Christiano Galvão chegar ao som que eu queria, pois era um show da Leila Pinheiro e foi a primeira Gretsch que peguei para montar afinar e tocar. Mas consegui chegar naquele som de Gretsch que a gente conhece. É uma batera única com um som exclusivíssimo, um ótimo volume. Tem muita personalidade. O bumbo foi fácil de afinar sem usar nada dentro, com um som bonito, achei a caixa ótima com resposta rápida e muito definida. As ferragens Gibraltar são de excelente qualidade, mas o funcionamento das estantes não é muito prático, não são as minhas prediletas. O acabamento é sensacional, acho que todo mundo iria querer tirar uma onda tocando uma Gretsch com acabamento sparkle. Acho que quem pega um kit desses iria gostar de tocar jazz bem...(risos) CHRISTIANO GALVÃO (Jorge Vercilo/ Marina Lima) Uma imagem bem marcante que tenho da Gretsch é a do Phill Collins usando aquela preta com tons sem resposta e aquele som bem característico dele. Eu ainda não tive uma. A minha experiência com a Catalina Club foi num show de MPB, e foi super bacana. Só tive que abaixar um pouco a afinação dela para se adequar ao tipo de som que iria rolar. De cara, a primeira coisa que me impressionou foi o acabamento, o silver sparkle é muito bonito. Não tive dificuldade para mexer na afinação, o instrumento soou bem homogêneo, não é uma batera com grande projeção, mas acho que é o propósito dela. O som do bumbo é impressionante, o timbre, com pressão. A caixa cantou bem, só coloquei um abafador e subi a afinação para ela estalar mais um Andre Tandeta pouco. A ferragem da Gibraltar é muito boa, não tive que mexer nas regulagens dos pedais, o sistema de tom holder, apesar de ter tido um pouco de dificuldade no início, funciona muito bem. Acho que é uma questão de costume. O meu único senão, é em relação ao elevador onde se prende o pedal de bumbo. A base na qual você prende o mordedor do pedal tinha que estar alinhada com o aro do bumbo, e não um pouco mais à frente como está, para que o batedor fique no mesmo ângulo e a haste da maceta toque paralelamente à pele. Do jeito que está, acaba aumentando o curso do pedal e a maceta bate meio de quina na pele podendo causar aquelas mossas. Realmente acho que é a única coisa que poderia ser corrigida nesse setup. ANDRE TANDETA (Victor Biglione/ Ricardo Silveira/ Wilson das Neves) A primeira bateria de qualidade boa que tive foi uma Gretsch que comprei do Rony Mesquita no final dos anos 70. Essa bateria tinha sido do Luiz Carlos (Banda Black Rio), e fiz muitos trabalhos legais com ela. Depois vendi e comprei uma outra Gretsch do Nacho Mena de maple, que tinha um sonsaço e gravei vários discos do Victor Biglione com ela. Em 1990 comprei uma outra Gretsch que era do Jurim Moreira que está comigo até hoje. Então a minha história com a marca é longa. Todas as baterias profissionais que tive foram Gretsch... A Catalina Club, como o próprio nome diz, é uma bateria para se usar em ambientes menores, onde você não precise tocar muito 156 www.backstage.com.br
O bumbo tem uma característica mais contemporânea, talvez em função das peles que estavam nele. Apesar de não estar com nada dentro para abafar, não ficou com aqueles harmônicos de jazz, que para nós é melhor, porque a gente também toca samba e bossa nova forte. É uma bateria muito útil para o tipo de trabalho que eu faço, onde não se toca com muito volume. Ela me surpreendeu pelo som que tirei usando vassourinhas (que utilizo muito). Ficou estalado, vivo, e não aquele som meio bobo que já vi em outras baterias usadas com vassouras. É uma bateria leve, fácil de manusear, o tom holder muito bom, consegui exatamente o ângulo que queria, o tom e o surdo têm uma característica jazzística excelente, com um overtone legal sem aquele negócio de harmônicos descontrolados. São tambores muito bem construídos e chegam bem numa afinação mais grave se for o caso, apesar de não ser a proposta sonora do instrumento. O bumbo tem uma característica mais contemporânea, talvez em função das peles que estavam nele. Apesar de não estar com nada dentro para abafar, não ficou com aqueles harmônicos de jazz, que para nós é melhor, porque a gente também toca samba e bossa nova e o som de bumbo não pode ser aquele de jazz. A caixa tem aquela coisa legal para se tocar com vassourinha, mas com baquetas, achei que faltou um pouco de corpo, harmônico grave, apesar de falar bonito, ter resposta rápida e ter um automático legal, bem simples. A ferragem é campeã, adorei. Só acho que poderia ser daquele modelo vintage, que combinaria melhor com o instrumento. O pedal é simples e bom. Usei sem ter que fazer nenhuma regulagem, o que é ótimo, assim como a máquina hi-hat que foi muito legal também... É um setup muito agradável de tocar. PAULINHO BLACK (Martinho da Vila) Quando fui tocar nos Estados Unidos pela primeira vez aproveitei a viajem para comprar uma bateria. Aqui era difícil encontrar instrumentos de qualidade naquela época. Quando cheguei na loja, em Nova Iorque, a primeira bateria que vi foi uma Gretsch amarela de dois bumbos de 24. Aí eu fiquei doido, pensei, fui para o hotel, voltei na loja mais duas vezes, mas a bateria tinha apenas dois tons e dois surdos, então acabei não comprando.
Algum tempo depois, vi o Tony Willyams, que era um dos meus ídolos, tocando aqui no Brasil no Free Jazz Festival, com uma Gretsch amarela da mesma cor... Fiquei arrasado...(risos). Há algum tempo eu procuro uma bateria de dimensões menores para determinados trabalhos. O bumbo da Catalina Gostei do som de aro, da resposta da esteira e não precisei usar abafador. A ferragem Gibraltar eu já uso há muito tempo e conheço a qualidade da marca Club, apesar de ser um 18 x 14, é um tiro, mas sem agredir. Toquei com essa bateria num teatro, no show do Martinho da Vila, e o técnico de som elogiou muito o instrumento dizendo que o som estava pronto. O elevador que estava no aro 158 www.backstage.com.br onde prende o pedal facilitou muito, porque o pirulito batia no centro da pele sem eu ter que fazer nenhum tipo de regulagem especial. O tom de 12 é um tambor de que gosto muito, e esse, particularmente pelos trabalhos que tenho feito, me satisfez. Aceita a afinação sem trabalho, combina com a pele porosa, sem sobra de harmônicos, assim como o surdo que tem um som bem encorpado, sem ser tão grave quanto um 16. No meu caso que toco com muitos instrumentos de percussão, principalmente o surdo de marcação e o rebolo (tantan), que já têm uma sonoridade mais grave, veio bem a calhar porque não embola as freqüências. As caixas de madeira são as minhas preferidas, tanto que só tenho as desse material, e o som desta me atraiu muito. Gostei do som de aro, da resposta da esteira e não precisei usar abafador. A ferragem Gibraltar eu já uso há muito tempo e conheço a qualidade da marca. As que vêm acompanhando esse kit não fogem à regra, são leves e práticas. HAROLDO JOBIM (Ithamara Koorax/Athaulfo Alves Jr.) A Gretsch é uma marca emblemática com a qual toco desde 1987. Tem uma sonoridade maravilhosa, além da tradição por ter sido usada por todos aqueles bateristas que marcaram época. Em primeiro lugar, já gostei da cor do instrumento no estilo vintage, silver sparkle, voltando aos anos 1970, e também gostei muito das dimensões dos tambores, com bumbo de 18 com esse elevador que faz com que a maceta bata no centro do tambor, sem ter que me- Haroldo Jobim Paulinho Black xer na regulagem do pedal, com som poderoso e encorpado. O sistema de tom holder com esfera embutida é de fácil manuseio, me dei bem logo de cara. Com o surdo foi a mesma coisa. Os tambores afinam bem, sem problema, só cheguei um pouco o tom de 12 mais para o agudo para poder explorar melhor os harmônicos. A caixa é sensacional e a profundidade de 5 para mim é a melhor; tem resposta imediata, automático macio, ótimo som de rim shot. O que me chamou a atenção nessa ferragem foi o peso. Apesar de ser robusta, é muito leve. O pedal do bumbo é preciso, a estante de caixa é leve e ao mesmo tempo forte, com muita estabilidade, assim como a máquina hi-hat e as estantes de prato. É uma bateria que assino embaixo com louvor... e-mail para esta coluna: cesarconti@backstage.com.br