ANÁLISE SENSORIAL DA BEBIDA DAS CULTIVARES OURO VERDE, TUPI E OBATÃ 1

Documentos relacionados
Luiz Carlos Fazuoli. CENTRO DE CAFÉ ALCIDES CARVALHO 38 Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras

CULTIVARES DE CAFÉ SELECIONADAS PELO INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS 1

EVALUATION OF PROGENIES RESULTING PROGÊNIES OF CROSSINGS OF CATUAI WITH HYBRID OF TIMOR, IN THE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO, SOUTH OF MINAS GERAIS

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES POPULAÇÕES DE CAFÉ EM PATROCÍNIO, ALTO PARANAÍBA, MINAS GERAIS 1

Luiz Carlos Fazuoli. CENTRO DE CAFÉ ALCIDES CARVALHO

QUALIDADE DA BEBIDA DE GENÓTIPOS DE CAFÉ COM RESISTÊNCIA À FERRUGEM-DO-CAFEEIRO CUP QUALITY OF LEAF RUST RESISTANT COFFEE GENOTYPES

AVALIAÇÃO AGRONÔMICA DE GENÓTIPOS DE CAFÉ ARÁBICA CULTIVADOS EM ELEVADA ALTITUDE NO ESTADO DE SÃO PAULO 1

Origem. Características

Origem. Características

Carlos Henrique Siqueira de Carvalho. Embrapa Café/Fundação Procafé

COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE CAFÉ COM RESISTÊNCIA À FERRUGEM-DO- CAFEEIRO NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS 1

AVALIAÇÃO DO GERMOPLASMA DE BOURBON NO ESTADO DE SÃO PAULO ORIUNDAS DE DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL 1

SELEÇÃO DE CAFEEIROS HÍBRIDOS F 1 COM TOLERÂNCIA À SECA E RESISTÊNCIA À FERRUGEM 1

AVALIAÇÃO DE ENXERTIA DE Coffea arabica EM DIVERSOS MATERIAIS DE Coffea 1

NOVAS VARIEDADES DE CAFÉ DO PROCAFÉ. S.R.Almeida, J.B. Matiello, R.A. Ferreira, C.H.S. Carvalho, I.B. Ferreira e M.B. da Silva

Seleção de progênies de café arábica com resistência à ferrugem

CARACTERIZAÇÃO DAS SEMENTES DE HÍBRIDOS ARABUSTAS (Coffea arabica x Coffea canephora)

Reação ao estresse hídrico em mudas de cafeeiros arábicos portadores de genes de Coffea racemosa, C. canephora e C. liberica

Cultivares de Café Arábica Desenvolvidas pela Epamig/UFV/UFLA

Búzios 4 de Agosto de 2011

LAUDO DE AVALIAÇÃO Nº: 124/09 Empresa: Universidade Federal de Itajuba. Produto: Torrado e Moído.

Produtividade e qualidade de diferentes genótipos de Bourbon cultivados em Minas Gerais visando à produção de cafés especiais

IPR 100 e IPR 106 cultivares de café arábica com resistência simultânea aos nematoides Meloidogyne paranaensis e M. incognita

QUALIDADE DA BEBIDA DE CULTIVARES DE CAFÉ COM RESISTÊNCIA À FERRUGEM-DO-CAFEEIRO 1 CUP QUALITY OF LEAF RUST RESISTANT COFFEE CULTIVARS

CATUAÍ COM ICATU E HÍBRIDO DE TIMOR 1 SELECTION OF COFFEE PROGENIES DERIVED FROM CATUAÍ WITH ICATU AND HIBRIDO DE TIMOR

PRODUTIVIDADE DE VARIEDADES/LINHAGENS/SELEÇÕ ES DE CAFEEIROS EM REGIÃO DE ALTITUDE ELEVADA, EM SÃO GOTARDO-MG

ESTUDO DE CONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE CAFÉ ARÁBICA E ROBUSTA 1

INDICAÇÃO DE NOVAS VARIEDADES DE CAFÉ. Matiello, Almeida e Carvalho Curso Procafé 2012

CARACTERIZAÇÃO DE CULTIVARES DE COFFEA ARABICA MEDIANTE UTILIZAÇÃO DE DESCRITORES MÍNIMOS (1)

Grupo de Avaliação do Café GAC FO-055 Laudo GAC Rev. 05 Laboratório credenciado pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Lab Carvalhaes. Empresa: Odebrecht Comércio e Indústria de Café Ltda. Data da Entrada: 16/09/2015

EFEITO DA IRRIGAÇÃO NA PRODUTIVIDADE DO CAFEEIRO (Coffea arabica L.) 1

QUALIDADE DOS CAFÉS DO BRASIL

COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE CAFÉ EM ÁREAS INFESTADAS COM Meloidogyne exigua

Avaliação de cultivares de café arábica em região marginal

INDICAÇÃO DE NOVAS VARIEDADES DE CAFÉ. Matiello, Almeida e Carvalho

IDENTIFICAÇÃO DE PROGÊNIES DE CAFÉ ARÁBICA PORTADORAS DE GENES DE Coffea racemosa COM CICLO DE MATURAÇÃO DOS FRUTOS PRECOCE 1

SPECIALTY COFFEE ASSOCIATION OF AMERICA

AVALIAÇÃO DAS CULTIVARES MUNDO NOVO, BOURBON AMARELO E BOURBON VERMELHO DE Coffea arabica EM CAMPINAS. 1

PRODUTIVIDADE DE 2ª SAFRA DE CULTIVARES DE CAFEEIRO RESISTENTES A FERRUGEM SOB IRRIGAÇÃO EM MUZAMBINHO

CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DE BEBIDA E OUTRAS CARACTERÍSTICAS DE ACESSOS DO BANCO DE GERMOPLASMA DE CAFÉ DE MINAS GERAIS 1

INTERAÇÃO GENÓTIPO AMBIENTE NA MATURAÇÃO DOS FRUTOS EM VARIEDADES E CULTIVARES DE Coffea arabica NO PARANÁ.

CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ IRRIGADO INDICADAS PARA SEMEIO NA SAFRA 2009/10 EM RORAIMA

SELEÇÃO DE GENÓTIPOS DE CAFÉ BOURBON PARA OS MUNICÍPIOS DE SANTO ANTÔNIO DO AMPARO E CAMPOS ALTOS 1

EFEITO DO PROCESSAMENTO PÓS-COLHEITA SOBRE A QUALIDADE DO CAFÉ CONILLON

Café canéfora: em busca de qualidade e reconhecimento

Bragantia ISSN: Instituto Agronômico de Campinas Brasil

QUALIDADE DA BEBIDA DO CAFÉ ICATU ( 1 )

AVALIAÇÃO DE CLONES DE CAFÉ ARABUSTA (COFFEA ARABICA X C. CANEPHORA DP), EM CAMPINAS, SP 1

COMPORTAMENTO INICIAL DE VARIEDADES DE CAFÉ, ARÁBICA E ROBUSTA, EM REGIÃO QUENTE, EM PIRAPORA MG

Seleção de cultivares Bourbon visando à produção de cafés especiais

Bragantia ISSN: Instituto Agronômico de Campinas Brasil

Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)

COMPARAÇÃO DOS TIPOS DE PROCESSAMENTO PÓS-COLHEITA DO CAFÉ ARÁBICA QUANTO À QUALIDADE DO PRODUTO FINAL

Manejo de cafeeiro em áreas infestadas pelos nematoides-das-galhas com uso de cultivar resistente

PERFIL SENSORIAL DE CULTIVARES DE CAFÉ RESISTENTES À FERRUGEM (Hemileia vastatrix BERG ET BERG)

COMPORTAMENTO DE CLONES DE CAFÉ CONILON DIANTE DE DOENÇAS NO NORTE DO ESPÍRITO SANTO

RENDIMENTO E PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE CAFÉ ARÁBICA EM BAIXA ALTITUDE

ANÁLISE DA QUALIDADE DO CAFÉ OBTIDO POR TORREFAÇÃO A VÁCUO

Bragantia ISSN: Instituto Agronômico de Campinas Brasil

AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE E CICLO DE MATURAÇÃO EM PROGÊNIES F3 DE CAFÉ ARÁBICA NO ESTADO DE RONDÔNIA 1

CARACTERIZAÇÃO DE RESISTÊNCIA VERTICAL E HORIZONTAL A Hemileia vastatrix BERK. et Br. EM PROGÊNIES DE HÍBRIDO DE TIMOR CIFC 2570 e CIFC

HETEROSE EM HÍBRIDOS DE CAFÉ ARÁBICA COM RESISTÊNCIA À FERRUGEM, MANCHA AUREOLADA E BICHO MINEIRO Eng. Agr. TUMORU SERA -

COMPORTAMENTO DE PROGENIES DE CAFEEIROS COM RESISTENCIA À FERRUGEM, SELECIONADAS DE ENSAIOS EM VÁRIOS CAMPOS EXPERIMENTAIS DO PROCAFÉ

AVALIAÇÕES DE SELEÇÕES DE GRÃOS GRAÚDOS ORIGINADOS DA CULTIVAR IAPAR-59

RESUMO DE INFORMAÇÕES DA NOVA CULTIVAR DE ARROZ IRRIGADO. SCS118 Marques

POLO CAFEEIRO NO NORTE DE MINAS SE FORTALECE COM NOVAS VARIEDADES

Avaliação Preliminar de Híbridos Triplos de Milho Visando Consumo Verde.

NOVA SELEÇÃO DA CULTIVAR DE CAFÉ IAPAR 59 COM GRÃOS MAIS GRAÚDOS 1 NEW SELECTION OF LARGER GRAINS OF IAPAR 59 COFFEE CULTIVAR

RESISTÊNCIA PARCIAL À NECROSE DOS FRUTOS EM GENÓTIPOS DE CAFÉ ARÁBICA 1

Genética e Melhoramento do Cafeeiro. Kênia Carvalho de Oliveira

Estudo de Qualidade Café Conilon

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

IWCA BRASIL REGULAMENTO

AVALIAÇÃO DA ACEITAÇÃO DE BLENDS DE CAFÉS DO TIPO ARÁBICA E CANÉFORA EVALUATION OF THE ACCEPTATION OF BLENDS OF COFFEE OF ARABICA AND CANEFORA

RESUMO. 1 Bolsista CNPq: Graduação em Eng. de Alimentos, UNICAMP, Campinas-SP. 2 Colaboradoras: CCQA/ITAL, Campinas-SP

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABACAXI PÉROLA CULTIVADO NO SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

FIELD PERFORMANCE OF COFFEE PROGENIES AND CULTIVARS WITH SPECIFIC RESISTANCE TO RUST

QUALIDADE SENSORIAL DE CAFÉS EM DIFERENTES NIVEIS DE ADUBAÇÃO COM N, P e K 1

3. Titulo: Testes para avaliação de linhagens de soja resistentes a percevejos.

DESEMPENHO DE CLONES DE CAFEEIROS RESISTENTES AO BICHO-MINEIRO PERFORMANCE OF COFFEE CLONES RESISTANT TO LEAF MINER

ANÁLISE SENSORIAL DO CAFÉ DESPOLPADO DO PLANALTO DE VITÓRIA DA CONQUISTA PARA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA 1

MATURAÇÃO E PRODUTIVIDADE DO CAFEEIRO CONILON SUBMETIDO Á DIFERENTES ÉPOCAS DE IRRIGAÇÃO 2º ANO AGRÍCOLA

COMPARAÇÃO DOS TIPOS DE PROCESSAMENTO PÓS-COLHEITA DO CAFÉ CONILON QUANTO À QUALIDADE DO PRODUTO FINAL

USO DE REGULADORES VEGETAIS PARA MELHORAR E UNIFORMIZAR A COR DE UVAS

Lígia Alves Pereira Bolsista do Consórcio Pesquisa Café

EXPECTATIVAS E PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AO CAFÉ TORRADO E MOÍDO Parte 1: TESTE DO PRODUTO EM 10 CIDADES BRASILEIRAS (1)

QUALIDADE DE SEMENTES DE CAFÉ DURANTE A SECAGEM E O ARMAZENAMENTO

O FUTURO DO CAFÉ CEREJA DESCASCADO. I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DE CAFÉ Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Dezembro/03

ASSOCIAÇÃO ENTRE GERMINAÇÃO NA ESPIGA EM PRÉ-COLHEITA E TESTE DE NÚMERO DE QUEDA EM GENÓTIPOS DE TRIGO

RESUMO A identidade e as características mínimas de qualidade a que devem atender os

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE CAFEEIRO RESISTENTE A FERRUGEM SOB USO DE IRRIGAÇÃO EM MUZAMBINHO-MG

DISCRIMINAÇÃO SENSORIAL DE CAFÉS RESULTANTES DE CRUZAMENTOS ENTRE COFFEA ARABICA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CAFÉS MADUROS DE DIFERENTES FLORAÇÕES EM LAVOURA A PLENO-SOL E LAVOURA SOMBREADA

AVALIAÇÃO DA BEBIDA E OUTRAS CARACTERÍSTICAS DE CULTIVARES DE COFFEA CANEPHORA E COFFEA CONGENSISO)

Melhoramento para Resistência a Doenças. João Carlos Bespalhok Filho

VARIABILIDADE NA PRODUÇÃO EM PROGENIES DO CAFEEIRO 'MUNDO NOVO' (1)

Joel I. FAHL E mail: Maria Luiza C. CARELLI, Eduardo L. ALFONSI, Marcelo B. P. CAMARGO

Melhoramento Genético Cana-de-açúcar. Melhoramento da Cana-de-Açúcar

Transcrição:

ANÁLISE SENSORIAL DA BEBIDA DAS CULTIVARES OURO VERDE, TUPI E OBATÃ 1 AGUIAR, A.T.E. 2,5 ; MALUF, M.P. 2,6 ; GALLO, P.B. 2,3 ; MORI, E.E.M. 4 ; FAZUOLI, L.C. 2,7 e GUERREIRO-FILHO, O. 2,7 1 Financiado parcialmente pelo CONSÓRCIO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DO CAFÉ; 2 Centro de Café, IAC, CP 28, CEP 13.970-001, Campinas, SP, <oliveiro@iac.br>; 3 Estação Experimental de Agronomia de Mococa; 4 Instituto de Tecnologia de Alimentos, ITAL/LAFISE; 5 Bolsa de Mestrado FAPESP; 6 Bolsa de Desenvolvimento FUNAPE; 7 Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq. RESUMO: Três novas cultivares de porte baixo recentemente lançadas pelo Instituto Agronômico de Campinas e registradas respectivamente como Ouro Verde IAC H5010-5, Tupi IAC1669-33 e Obatã IAC 1669-20 foram avaliadas em relação a características sensoriais da bebida, utilizando-se as cultivares Mundo Novo IAC 388-17, Catuaí Amarelo IAC 62, Catuaí Vermelho IAC 81 e Icatu Vermelho IAC 4045 como testemunhas. A análise sensorial foi realizada mediante a avaliação das características fragrância, aroma, acidez, amargor, sabor, sabor residual, corpo e qualidade global da bebida. Com base na baixa acidez e nos elevados níveis de fragrância do pó, aroma da bebida, sabor residual e qualidade global, as três cultivares foram classificadas como produtoras de cafés de qualidade global superior, podendo ser utilizadas na produção de cafés do tipo Gourmet. Palavras-chave: café, Coffea arabica, qualidade da bebida, Obatã, Tupi e Ouro Verde. SENSORIAL ANALYSIS FOR THE DRINK OF THE OURO VERDE, TUPI AND OBATÃ COFFEE CULTIVATE ABSTRACT: Three new coffee cultivars were evaluated in relation to cup quality characteristics. The cultivars were recently introduced by the Instituto Agronômico de Campinas and registered respectively as Ouro Verde IAC H5010-5, Tupi IAC 1669-33 and Obatã IAC 1669-20. The cultivars Mundo Novo IAC 388-17, Catuaí Amarelo IAC 62, Catuaí Vermelho IAC 81 and Icatu Vermelho IAC 4045 were taken as standard for the parameters analyzed. The analysis was performed through the evaluation of sensorial characteristics, such as fragrance of ground coffee, aroma, acidity, bitterness, flavor, aftertaste, body and overall quality. The results demonstrated that these new cultivars have low acidity, and high scores for fragrance of ground coffee, aroma, aftertaste and overall quality. Therefore, the three cultivars were 1242

classified as producers of coffee with superior cup quality, and may be utilized for production of gourmet coffee blends. Key words: coffee, Coffea arabica, cup quality, Obatã, Tupi and Ouro Verde. INTRODUÇÃO Inúmeras cultivares vêm sendo lançadas ao longo dos setenta anos de existência do programa geral de melhoramento do cafeeiro desenvolvido pelo Instituto Agronômico de Campinas. Além do elevado nível de produtividade das plantas, diferentes características identificam as cultivares, como rusticidade, porte reduzido, coloração dos frutos, resistência ao agente da ferrugem e aos nematóides e ciclo de maturação dos frutos. Recentemente, três novas cultivares de porte reduzido e denominadas Obatã, Tupi e Ouro Verde foram lançadas pelo IAC (Fazuoli et al., 2000), como opção para plantios adensados. Todas elas apresentam porte baixo (Ct Ct) e frutos de coloração vermelha (Xc Xc). A cultivar Ouro Verde foi obtida a partir do cruzamento entre a cultivar Catuaí Amarelo, linhagem IAC 12-70, e a cultivar Mundo Novo IAC 515-20. Apesar de suscetíveis a Hemileia vastatrix, as plantas desta cultivar são bastante rústicas, vigorosas e altamente produtivas. As cultivares Tupi e Obatã apresentam produtividades semelhantes à da cultivar Catuaí Vermelho e são resistentes ao agente da ferrugem em conseqüência da expressão de genes de resistência oriundos da espécie C. canephora. Ambas foram desenvolvidas através do cruzamento entre a cultivar Villa Sarchi e o Híbrido de Timor CIFC 832/2. Algumas características são, no entanto, peculiares a cada uma destas cultivares. Enquanto na cultivar Obatã as folhas jovens são de coloração verde e o ciclo de maturação dos frutos é mais tardio, a cultivar Tupi apresenta folhas jovens de coloração bronzeada e ciclo de maturação mais precoce que a cultivar Catuaí Vermelho. A qualidade da bebida de uma cultivar é um fator preponderante em sua valorização no mercado consumidor, podendo em alguns casos definir a aceitação ou rejeição da nova cultivar por segmentos específicos da cadeia produtiva. Neste trabalho procurou-se evidenciar características organolépticas da bebida das novas cultivares Ouro Verde, Tupi e Obatã, comparando-as com as cultivares Mundo Novo, Catuaí Amarelo, Catuaí Vermelho e Icatu Vermelho, amplamente cultivadas nas mais distintas regiões produtoras do País. 1243

MATERIAL E MÉTODOS Material vegetal: Foram utilizadas no presente ensaio as cultivares Ouro Verde IAC H5010-5, Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33. As cultivares Catuaí Amarelo IAC 62, Catuaí Vermelho IAC 81, Icatu Vermelho IAC 4045 e Mundo Novo IAC 388-17 foram utilizadas como testemunhas. Colheita e preparo das amostras: Os frutos, colhidos em estádio cereja, foram descascados, sendo as sementes com o pergaminho lavadas e secas até atingir 11% de umidade. Em seguida, foram acondicionadas em sacos de papel e armazenadas em prateleira durante quatro meses. Após este período, as amostras foram beneficiadas e cerca de 200 gramas de endosperma de cada cultivar foram torrados com o auxílio de um torrador automático a uma temperatura aproximada de 205ºC, até atingir o ponto de torra padrão utilizado pelo Laboratório de Análises Físicas e Sensoriais do Instituto de Tecnologia de Alimentos LAFISE/ ITAL. As amostras foram então moídas e acondicionadas novamente em sacos plásticos até o momento das análises. Preparo da bebida e testes sensoriais: As infusões foram preparadas adicionando-se 500 ml de água fervente à temperatura de 95 C a 50 gramas de pó, sendo filtradas em papel-filtro Melitta nº 103. A análise sensorial foi realizada por painel composto por dez degustadores, sendo os resultados das avaliações individuais tratados por um sistema computadorizado de análise sensorial denominado Compusense. Foi adotada uma escala de 0 a 10 pontos para a avaliação das variáveis fragrância do pó, aroma da bebida, acidez, amargor, sabor, sabor residual, corpo e qualidade global da bebida (Howell, 1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados referentes à avaliação das características organolépticas da bebida são apresentados no Quadro 1 e ilustrados na Figura 1. Não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as cultivares em relação aos atributos analisados. De modo geral, as amostras revelaram-se bastante aromáticas tanto em relação ao pó como à infusão preparada. Embora não significativa, a variação mais importante relaciona-se à acidez da bebida. As cultivares Icatu e Obatã apresentaram bebida pouco mais ácida que as demais cultivares, enquanto a cultivar Catuaí Vermelho revelou menor acidez da bebida. Em relação ao sabor e sabor residual, a variação entre as cultivares concentrou-se entre 6,2 e 7,3 pontos na escala de avaliação adotada. Observa-se ainda que a pontuação atribuída à qualidade global da bebida das cultivares Tupi, Obatã e Ouro Verde encontra-se entre 6,3 e 7,2 pontos na escala de avaliação, sendo elas consideradas cafés de 1244

qualidade global superior. A mesma classificação foi obtida pelas demais cultivares tomadas como testemunhas. Quadro 1 - Características organolépticas da bebida de cultivares de café despolpados Cultivares Atributos Fragrância Aroma Acidez Amargor Sabor Sabor residual Corpo Qualidade global Catuaí Amarelo 8,00 7,40 3,45 4,07 7,22 7,03 5,43 6,90 Catuaí Vermelho 7,79 7,.26 2,17 2,98 7,17 7,20 5,25 7,08 Icatu Vermelho 7,76 7,09 3,87 4,20 6,88 6,54 4,56 6,93 Mundo Novo 7,68 7,26 3,43 4,89 6,69 6,78 5,70 6,73 Ouro Verde 8,05 7,40 3,72 4,64 6,97 6,80 5,41 7,17 Obatã 7,50 6,66 3,96 3,73 6,20 6,19 4,81 6,28 Tupi 8,10 7,60 3,82 4,52 7,12 7,24 5,66 7,06 * Atributos avaliados em pontos, segundo escala de 0 a 10 pontos. Com os valores obtidos na avaliação dos diferentes atributos foi elaborado um perfil sensorial de resposta de cada uma das cultivares. Esses perfis, igualmente denominados impressões das cultivares, são apresentados em conjunto na Figura 1. Pode-se observar que estas impressões são bastante semelhantes umas às outras, indicando que as cultivares avaliadas Tupi, Obatã e Ouro Verde apresentam bebidas de excelente qualidade, semelhantes às das cultivares já tradicionalmente plantadas no País. Nas condições de preparo e avaliação utilizadas neste ensaio, todas são caracterizadas como bebidas aromáticas, relativamente encorpadas, com forte sabor residual, baixa acidez natural e qualidade global superior. Fragrância 10 lidade Global 8 6 4 2 Aroma Catuaí Amarelo IAC 62 Catuaí Vermelho IAC 81 Corpo 0 Acidez Icatu Vermelho IAC 4045 Mundo Novo IAC 388-17 Ouro Verde IAC H5010-5 bor Residual Amargor Obatã IAC 1669-20 Sabor Tupi IAC 1669-33 Figura 1 - Gráfico representativo do perfil organoléptico das cultivares de C. arabica analisadas. 1245

Os dados foram igualmente submetidos a uma análise em componentes principais (ACP), procurandose identificar a existência de eventuais correlações entre as variáveis. O gráfico obtido é apresentado na Figura 2. Observa-se que 86,2% da variabilidade total do experimento encontra-se representada no plano 1/2, sendo o eixo 1, denominado eixo da qualidade, responsável por 60,6% e o eixo 2, caracterizado essencialmente pelo amargor, responsável por 25,6% da variabilidade total. As variáveis fragrância, aroma, qualidade global, sabor e sabor residual situadas à direita no eixo 1 apresentam alto índice de correlação entre si. Esse conjunto de variáveis apresenta correlação negativa com a variável acidez da bebida, localizada à esquerda do eixo 1. A título de exemplo, quanto menor a acidez da amostra, melhor a qualidade da bebida. As cultivares Tupi IAC 1669-33, Ouro Verde IAC H 5010-5, Catuaí Amarelo IAC 62 e Catuaí Vermelho IAC 81 possuem os maiores valores para fragrância, aroma, qualidade global, sabor e sabor residual. Por outro lado, as cultivares Obatã e Icatu Vermelho IAC 4045 apresentam valores mais elevados para a variável acidez. No entanto, essas variações referem-se a pequenas nuances observadas em uma faixa bastante estreita de variação, pois, como visto no Quadro 1, todas as cultivares apresentam bebidas consideradas de qualidade global superior e as diferenças entre elas para quaisquer das variáveis é no máximo igual a dois pontos na escala de dez pontos adotada. Eixo 2 (25,6%) IAC 81 SB IAC 1669-20 Eixo 1 (60,6%) IAC 4045 AC IAC 388-17 IAC 62 IAC H5010-5 IAC 1669-33 CP SR QG AR FG AM Figura 2 - Análise em Componentes Principais. Associação entre as variáveis fragrância (FG), aroma (AR), acidez (AC), amargor (AM), sabor (SB), sabor residual (SR), corpo (CP) e qualidade global (QG). Representação no plano 1/2 de sete cultivares de C. arabica em relação às características organolépticas da bebida. CONCLUSÃO As cultivares Ouro Verde, Tupi e Obatã apresentam bebidas semelhantes a cultivares tradicionalmente plantadas, sendo consideradas de qualidade global superior e indicadas como alternativa para a produção de cafés do tipo Gourmet. 1246

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAZUOLI, L.C.; MEDINA FILHO, H.P.; GUERREIRO FILHO, O.; GONÇALVES, W.; SILVAROLLA, M.B.; GALLO, P.B. Cultivares de Café IAC, folder, 2000. HOWELL, G. SCAA Universal Cupping Form & How to use it. 10 th Annual Conference & Exhibition Peak of Perfection - Denver-Colorado, 1998. 1247