(Segundo o novo acordo ortográfico) ORAR, do latim orare, é falar com Deus (De acordo com a etimologia - Enciclopédia, D. M. Falcão). Os Atos dos Apóstolos atestam que, enquanto Pedro estava na prisão, fazia-se incessantemente oração a Deus, por parte da Igreja, em favor dele (Atos 12, 5). A ORAÇÃO DEVE SER PESSOAL A oração individual, feita a sós no quarto, portas fechadas (Mateus 6, 6); é necessária e recomendável e não deixa nunca de ser a oração de um membro da Igreja, por Cristo no Espírito Santo (Humanística e teologia, Dezembro 2010, pg. 51). Um poeta brasileiro escreveu assim: Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que ficar a sós/ Tenho que apagar a luz/ Tenho que calar a voz/ Tenho que encontrar a paz. Tenho que folgar os nós dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios Se eu quiser falar com Deus. (Gilberto Gil) Estas recomendações do poeta são profundamente evangélicas. Tenho que ficar a sós Foi o que escreveu S. Mateus. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se de pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está lá no segredo (Mateus 6, 5-6). Tenho que calar a voz, apagar a luz, encontrar a paz Não se afastou Jesus para o deserto, quando quis fazer oração contínua, para preparar a grande missão de anunciar um Novo Reino?
2 A Igreja em Portugal foi desafiada a responder a duas questões de suma importância: 1. Igreja em Portugal, que vês na noite da sociedade em que vives? 2. Igreja em Portugal, que indicações ou rumores do Espírito encontras hoje em ti, a apontar-te o estilo de vida cristã e a nova maneira de ser Igreja? Estamos na noite. Temos de ver com a candeia da fé e descobrir o estilo de vida, que não pode ser outro senão o de Cristo. A ORAÇÃO DEVE SER COMUNITÁRIA O mesmo Senhor que disse: Entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu pai no segredo, também disse: Se dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei Eu no meio deles. E disse ainda: Quando orardes, dizei: Pai-nosso que estais nos céus A oração do cristão é também a oração comunitária que tem uma dignidade especial, baseada nas palavras de Cristo: Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles (Mateus 18, 20). Apesar de o Deus de Israel parecer um Deus distante, ameaçador e castigador, já o Velho Testamento perguntava: Qual é na verdade a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus? (Deuteronómio 4, 5) O aspeto comunitário da oração há-de considerar-se sempre como um elemento que faz parte da mais íntima essência da própria Igreja. O sujeito integral da celebração é portanto a comunidade cristã, povo sacerdotal em virtude do batismo, lugar privilegiado da presença do Senhor ressuscitado. Às vezes chega-se mesmo a conceber a forma ritual, que tem sempre um caráter de ação, como se se tratasse de um obstáculo para uma experiência pessoal autêntica, sempre mais reconduzida e reduzida à interioridade. (Humanística e Teologia, Dezembro 2010, pg. 53). Temos hoje mais do que motivos para manter esta assiduidade à oração por parte da Comunidade eclesial. Só não sei se estamos verdadeiramente conscientes disso. E se estamos disponíveis para um tal exercício espiritual. Mas temos de estar. Parece coisa de frades, padres e freiras ou então um ato de devoção pessoal e opcional. Mas são as Comunidades e os indivíduos que precisam de orar assiduamente. O concílio Vaticano II fala da Igreja como Povo sacerdotal. E uma das formas do exercício do sacerdócio
3 batismal é exatamente oferecer sacrifícios espirituais agradáveis ao Senhor: Cristo fez do Novo Povo um reino sacerdotal para Deus, seu Pai Os batizados são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que por meio de todas as obras próprias do cristão ofereçam oblações espirituais e anunciem os louvores daquele que das trevas os chamou à sua admirável luz Ofereçam-se pois a si mesmos como hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus (LG, 10). A Oração da Família cristã A oração da família é uma oração comunitária. A FAMÍLIA, diz o Magistério da Igreja, é como que uma pequena Igreja doméstica. Diz como que, porque não é Igreja completa. Mas, se é Igreja, deve de ter sacerdotes, altar, sacrifício, oração e celebração. E TEM! Se somos um povo de sacerdotes, somo-lo todos pelo baptismo. Marido e esposa são sacerdotes participantes do sacerdócio comum de todos os batizados. Pai e Mãe devem presidir à oração. Têm em casa um Altar que é a MESA comum das refeições (Podem até possuir um Oratório ). Aí, à mesa, muito facilmente se inicia a refeição com uma invocação ao Pai do céu que nos dá tantas coisas boas para comer e beber. É graças a Ele que nos mantemos vivos. Tudo é dom de Deus. Embora o pão de cada dia implique o esforço do trabalho. Até na Eucaristia se sublinha que o Pão e o Vinho apresentados para o sacrifício da Missa são fruto do trabalho do homem e da mulher. Aí, de manhã ou à noite, pode haver um tempo de leitura da Bíblia, explicada, repartida em pedaços pequeninos
4 Aí, aos fins-de-semana ou ao domingo, é ocasião para um encontro muito simples com o Senhor da vinha e da messe em Casa e na Igreja onde se for à missa O trabalho também é oração se se fizer dele uma oferta espiritual agradável a Deus, para sustento da família e para tornar o mundo mais lindo A Família deve educar-se e educar na oração os seus filhos, pela palavra e sobretudo pelo exemplo. As atitudes dos Pais são marcas para toda a vida, mesmo quando o filho se torna filho pródigo, longe de casa e dos costumes. Algum dia terá saudades da mesa da abundância que é a casa dos pais. Orar não é um ato externo, mas OFERTA DE SI mesmo. Tertuliano diz que a oração é o sacrifício espiritual que aboliu os sacrifícios antigos Só a oração vence a Deus (Tertuliano, século III in 2.ª leitura de quinta-feira da 3.ª semana da Quaresma). Ora os leigos cristãos são convidados a oferecer sacrifícios espirituais que sejam do agrado de Deus. Assim reza o documento conciliar sobre a Igreja: Àqueles que une intimamente à sua vida e missão, dá-lhes também parte no seu múnus sacerdotal, em ordem a exercerem um culto espiritual Por este motivo, os LEIGOS, enquanto consagrados a Cristo e ungidos pelo espírito santo, têm uma vocação admirável Todas as suas obras, orações e iniciativas apostólicas, a vida conjugal e familiar, o trabalho quotidiano, o descanso do espírito e do corpo, se forem realizados no Espírito, e até mesmo as contrariedades da vida, se levadas com paciência, convertem-se em OFERTAS ESPIRITUAIS, agradáveis a Deus por Cristo Assim consagram a Deus o próprio mundo (LG 34).
Lectio, oratio, meditatio, contemplatio, actio A Oração, se for verdadeira, é, antes de mais, PALAVRA escutada; é, depois, PRECE oral; é ainda MEDITAÇÃO da palavra; pode tornar-se momento de CONTEMPLAÇÃO; e deve, finalmente, conduzir à AÇÃO na vida. Se da oração não resulta um empenho na ação ordinária, algo não foi bem feito. Em toda a oração, é preciso invocar o Espírito Santo, porque sem Ele não sabemos rezar como convém 5