COMPORTAMENTO DE CULTIVARES E LINHAGENS ELITES DE ALGODOEIRO NO CERRADO *. Francisco José Correia Farias (Embrapa Algodão - Núcleo do Mato Grosso - farias@cnpa.embrapa.br), Elêusio Curvelo Freire (Cotton Consultoria Ltda.), Camilo de Lelis Morello (Embrapa Algodão Núcleo de Goiás - Mato Grosso), Adelardo Jose da Silva Lira (Embrapa Algodão - Núcleo do Mato Grosso). RESUMO : O Ensaio do Facual é conduzido anualmente em diferentes áreas do Estado de Mato Grosso e tem como objetivo principal a seleção de cultivares de elevado potencial produtivo com resistência às principais doenças que ocorrem no Cerrado. Atualmente as principais instituições que participam deste trabalho cooperativo de avaliação são: Embrapa Algodão, Fundação Mato Grosso, Coodetec/Cirad, Salles Sementes, Stoneville/Monsanto, Bayer Seeds, LD Melhoramentos Ltda, Cooperfibra e Fundação Rio Verde. Na safra 05-06, as maiores médias de produtividade de fibra foram obtidas pelos genótipos FM 993, 701, 702, PR 01-36, DELTA OPAL e BRS. Quanto à reação às doenças (virose e alternária), verifica-se que em termos médios as notas obtidas foram de baixa magnitude (valores inferiores a 2,5) que dificultaram a diferenciação dos níveis de resistência. Quanto aos caracteres tecnológicos de fibras, observa-se que a maioria dos genótipos apresentou os valores exigidos pela indústria têxtil, com exceção da STONEVILLE 474 e DELTA PENTA que obtiveram valores inferiores aos preconizados para fins de exportação. Para o caráter porcentagem de fibra (PF), as cultivares BRS CEDRO, STO 474 e CD 406 obtiveram as maiores médias. A variabilidade para os caracteres tecnológicos de fibra foi baixa, sugerindo a necessidade da ampliação da base genética dos mesmos. INTRODUÇÃO O sistema de produção do algodoeiro predominante na região do Cerrado caracteriza-se pelo uso intensivo de insumos e defensivos agrícolas, emprego de maquinários da semeadura à colheita, beneficiamento e comercialização da pluma diretamente com as indústrias têxteis e de óleo, exigindo cultivares de alto rendimento de pluma e com características tecnológicas que atendam às exigências das indústrias do Brasil e dos mercados importadores da América Latina, Ásia e Europa. Neste aspecto, os agros empresários têm presença atuante nas organizações e associações que representam os seus interesses junto ao governo e ao agronegócio da cadeia produtiva do algodão. As produtividades médias alcançadas nas últimas safras no Cerrado são iguais ou superiores aos grandes países produtores dessa malvácea, tais como China, Estados Unidos, Índia, Austrália e Egito. Uma significativa parcela deste sucesso pode ser atribuída ao melhoramento genético, sobretudo, aos programas desenvolvidos nesta região, que vem apresentando ganhos extraordinários nos últimos dez anos (FARIAS et al., 2006). Apesar da adequada aptidão e do alto desempenho das cultivares plantadas, dois fatores ainda comprometem a sustentabilidade da atividade algodoeira no Cerrado,sendo estes: a elevação contínua dos custos de produção (maior ou igual a US$ 1.500,00/ha); a predominância de cultivares sensíveis a viroses e nematóides (CNPA ITA 90, ACALA 90, FABRIKA, MAKINA e FIBERMAX 966) que, apesar de altamente produtivas, ainda são susceptíveis às doenças foliares que ocorrem normalmente na região.
O Ensaio Cooperativo de Algodão do Facual é conduzido anualmente em diferentes áreas do Cerrado no Estado do Mato Grosso e tem como objetivo principal a seleção de cultivares de elevado potencial produtivo com resistëncia às principais doenças que ocorrem nas condições do Cerrado. Atualmente as principais instituições que participam deste trabalho cooperativo de avaliação são: Embrapa Algodão, Fundação Mato Grosso, Coodetec/Cirad, Salles Sementes, Stoneville/Monsanto, Bayer Seeds, LD Melhoramentos Ltda e Cooperfibra. Além destas, atuam empresas obtentoras localizadas em outras regiões que têm procurado disponibilizar suas sementes aos produtores do Estado, a exemplo da Deltapine Seeds Land Co. Syngenta, IAC e IAPAR. O presente trabalho apresenta de maneira sucinta os principais resultados de três experimentos avaliados no Estado do Mato Grosso pela Embrapa Algodão na safra 2005-06. MATERIAL E MÉTODOS O Ensaio foi conduzido nos municípios de Primavera do Leste, Novo São Joaquim e Lucas do Rio Verde localizados no Estado do Mato Grosso. Utilizou-se o delineamento em blocos ao acaso com cinco repetições e 21 tratamentos, com parcelas experimentais constituídas por 4 linhas de 5m lineares, com área útil de 9,0m 2, correspondendo as duas linhas centrais. A condução dos experimentos foram de acordo com as recomendações preconizadas pela Embrapa Algodão. As cultivares/linhagens avaliadas encontram-se na Tabela 1. Foram analisados dados referentes as variáveis: altura de plantas (ALT,cm), severidade das doenças: virose (VIR) e alternaria (ALTE) com escalas de notas variando de 1 a 5, produtividade de algodão em caroço (PROD, kg/ha), produtividade de algodão em fibra (PRODF,kg/ha) e as características tecnológicas da fibra: comprimento (COM, mm), resistência( RES, gf/tex) e finura (FIN, I.M). Estes ensaios foram submetidos inicialmente a uma analise de variância individual e em seguida realizou-se a analise conjunta dos dados considerando fixo o efeito de cultivares. O programa estatístico utilizado foi o SAS versão 8.2 utilizando a ferramenta do PROC GLM. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da analise conjunta dos três locais avaliados encontram-se na Tabela 2. Verificase que com exceção do caráter Alternária (ALTE) houve diferenças significativas (P 0.01 ou P 0.05) entre as médias dos genótipos para os demais caracteres. A significância da interação genótipos x ambientes evidencia que o comportamento dos genótipos em relação às variáveis não foi consistente entre os diferentes locais. O coeficiente de variação experimental variou de 2,15% (PF) a 12,80% (PROD) indicando que de maneira geral a qualidade experimental foi adequada conforme a classificação proposta por Santos et al.(1999). Tais estimativas garantem uma maior segurança na interpretação dos parâmetros genéticos que estão associados ao processo seletivo. O desempenho médio dos genótipos com relação à produtividade de algodão em caroço foi de 3903,97 kg/há, 8% superior à média estadual, sendo que as cultivares mais produtivas foram: 701 (4752 kg/ha), FIBERMAX 993 (4720 kg/ha), 702 (4514 kg/ha), DELTA OPAL (4371 kg/ha) e BRS ARAÇA (4180 kg/ha) que apresentaram médias superiores a 280@/ha (Tabela 2). Quanto à produtividade da fibra (PRODF), constata-se que as maiores médias foram obtidas pelos genótipos FM 993 (2002kg/ha), 701(1966 kg/ha) 702(1860 kg/ha), DELTA OPAL (1784 kg/ha), PR 01-36(1722 kg/ha), e BRS ARAÇA (1672 kg/ha) com valores acima de 1670 kg/ha de fibra que correspondem a 111,11@/ha de fibra. As cultivares BRS CEDRO (43,93%) e STONEVILLE 474 (43,89%) obtiveram as maiores médias de porcentagem de fibra, enquanto que a SL 10-46(37,45 e SL 506 (38,47% e LD CV (39,64%) apresentaram as menores (Tabela 2).Estes resultados estão de acordo aos obtidos por Farias et al (2006) na condução dos Ensaios Cooperativos de Algodão do Facual - Safra 2004-05. Quanto à
reação as doenças (virose e alternária), verifica-se que em termos médios as notas obtidas foram de baixa magnitude (valores inferiores a 2,5) que dificultaram a diferenciação dos níveis de resistência (Tabela 2).Com relação aos caracteres tecnológicos de fibras, observa-se que a maioria dos genótipos apresentou os valores exigidos pela indústria têxtil, com exceção da STONEVILLE 474 e DELTA PENTA que obtiveram para resistência da fibra, valores inferiores aos exigidos para fins exportação. As cultivares que apresentaram as maiores produtividades de fibra/ha foram: FM 993, 701 e DELTA OPAL. A variabilidade para os caracteres tecnológicos de fibra foi considerada baixa, sugerindo a necessidade da ampliação da base genética dos mesmos. CONCLUSÔES 1- Os maiores potenciais produtivos foram obtidos pelos genótipos FM 993, 701, 702, PR 01-36, DELTA OPAL e BRS ARAÇA; 2- As cultivares BRS CEDRO e STONEVILLE 474 obtiveram as maiores médias de porcentagem de fibra, enquanto que a SL 10-46(37,45 e SL 506 (38,47% e LD CV (39,64%) apresentaram as menores; 3- Com relação à reação às doenças virose e alternaria, as notas obtidas foram de baixa magnitude (valores inferiores a 2,5) que dificultaram a diferenciação dos níveis de resistência; 4- Quanto aos caracteres tecnológicos de fibras, observa-se que a maioria dos genótipos apresentou os valores exigidos pela indústria têxtil, com exceção da STONEVILLE 474 e DELTA PENTA que obtiveram valores inferiores aos exigidos para fins exportação para a resistência da fibra. 5- A variabilidade para os caracteres tecnológicos de fibra foi considerada baixa, sugerindo a necessidade da ampliação da base genética dos mesmos. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA CIENTÍFICA DO TRABALHO As cultivares desenvolvidas pelo diferentes programas de melhoramento que atuam no Cerrado do Estado de Mato Grosso são de elevado potencial produtivo, resistentes às principais doenças que ocorrem no Cerrado e com características de fibras exigidas pela indústria têxtil. Tais características permitem ao empresário da cadeia produtiva do algodão uma maior segurança no capital investindo e possibilita significativos retornos econômicos em sua atividade agrícola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, J.W. dos.; MOREIRA, J. de. A.N.; FARIAS, F.J.C.; FREIRE, E.C. Avaliação dos coeficientes de variação de algumas características da cultura do algodão: uma proposta de classificação. Revista de Oleaginosas e Fibrosas, Campina Grande, v.2, n.1, p.35-40,1999. FARIAS, F.J.C.; FREIRE, E.C.; AGUIAR, P.H.; VILELA, P.A.; MORESCO, E.R. Projeto de cooperação técnica para avaliação de cultivares de algodão no Mato Grosso Safra 2004/05.Primavera do Leste: Embrapa Algodão/FCO//FACUAL, 2005. 59p. (Relatório Final) FARIAS, F.J.C; MORELLO, C. L..; FREIRE, E.C. Produtividade registrou ótimos ganhos na última década. Visão Agrícola, Piracicaba, n.6, p.26-29, 2006.
Tabela 1. Cultivares e Linhagens participantes do Ensaio Cooperativo do FACUAL. Mato Grosso.Safra 2005/06. Cultivares/ Linhagens Instituição Obtentora FIBERMAX 966 FIBERMAX 993 COODETEC 408 COODETEC 409 BRS-ARAÇA BRS-CEDRO BRS 01-56818 501 701 702 PR01-36 DELTAOPAL DELTAPENTA DP ACALA 90 SL506 SL 10-46 FABRIKA DESTAK STONEVILLE 474 LD CV 02 LD CV 05 BAYER BAYER COODETEC COODETEC IAPAR SALLES SALLES SYNGENTA SYNGENTA STONEVILLE/MONSANTO LD MELHORAMENTO LTDA LD MELHORAMENTO LTDA
Tabela 2. Médias e resumo da análise de variância conjunta dos caracteres agronômicos produtividade de algodão em caroço (PROD, kg/ha), porcentagem de fibra (PF, %), produtividade de fibra (PRODF, kg/ha), altura (cm), virose(vir), alternaria (ALTE) e tecnológicos de fibras comprimento (COMP, mm), resistência (RES, gf/tex) e finura (FIN, I.M) do Ensaio Cooperativo de Algodão. Mato Grosso. Safra O5-06 1. GENÓTIPOS PROD (Kg/ha) PF (%) PRODF (Kg /ha ALTURA (cm) VIR ALTE COMP RES FIN DP. A. 90 3571 efg 40,42 efg 1443 130 cdefg 2,47 a 2,00 a 30,42 abcd 28,91 ab 4,42 cd FM 966 3578 efg 41,85 cd 1497 100 h 2,41 a 1,97 a 30,61 abc 29,19 ab 4,29 d FM 993 4720 ab 42,42 bc 2002 131 abcd 1,17 c 2,00 a 30,59 abcd 29,52 ab 4,68 abc CD 409 3645 defg 40,71 defg 1484 135 abcd 1,53 bc 1,97 a 31,19 a 28,96 ab 4,47 bcd CD 406 3580 efg 43,52 ab 1558 112 fgh 1,44 bc 1,99 a 30,65 abcd 28,94 ab 4,38 cd D. OPAL 4371 abcd 40,82 defg 1784 125 bcdef 1,15 c 2,14 a 30,56 abcd 29,75 ab 4,55 bcd D. PENTA 3894 cdefg 42,24 c 1645 109 gh 1,30 bc 2,04 a 29,59 cd 26,68 cd 4,95 a BRS CEDRO 3678 defg 43,93 a 1616 138 ab 1,23 c 2,17 a 30,02 abcd 28,77 abc 4,66 abcd BRS ARAÇA 4180 abcde 40,01 fg 1672 122 defg 1,49 bc 2,02 a 30,31 abcd 28,18 abcd 4,40 cd BRS 01-56818 4094 abcde 40,30 efg 1650 129 abcd 1,27 c 1,94 a 30,85 ab 29,32 ab 4,47 bcd 501 3282 g 42,28 c 1388 104 h 1,03 c 2,02 a 28,56 e 27,50 bcd 4,47 bcd 701 4752 a 41,79 cd 1986 137 abc 1,10 c 2,12 a 29,71 bcd 29,55 ab 4,82 ab 702 4514 abc 41,21 cdef 1860 130 abcd 1,20 c 1,99 a 30,39 abcd 29,03 ab 4,63 abcd PR 01-36 4207 abcde 40,94 def 1722 126 bcdef 1,44 bc 2,35 a 30,33 abcd 29,01 ab 4,58 bcd SL 506 3542 efg 38,47 h 1363 127 abcde 1,92 ab 2,19 a 30,45 abcd 27,99 bcd 4,53 bcd SL 10-46 4204 abcde 37,45 h 1574 141 a 1,67 bc 2,29 a 31,07 a 29,08 ab 4,60 bcd FABRIKA 3757 defg 41,34 cde 1553 122 defg 2,34 a 1,90 a 30,14 abcd 28,10 abcd 4,46 bcd DESTAK 3349 fg 40,80 defg 1366 113 fgh 1,59 bc 2,03 a 30,46 abcd 27,95 bcd 4,32 cd STON 474 3477 efg 43,89 a 1526 109 gh 2,25 a 1,79 a 29,41 de 26,47 d 4,49 bcd LD CV 02 4026 bcdef 39,64 g 1596 114 efgh 1,53 bc 1,99 a 29,79 bcd 29,17 ab 4,57 bcd LD CV 05 3561 efg 41,27 cdef 1470 113 fgh 1,23 c 2,06 a 30,31 abcd 30,33 a 4,37 cd F 11,99** 49,75** 1607 21,34** 16,57** 1,75* 11,99** 6,16** 6,76** Médias 3903,9 41,2 121,9 1,6 2,0 30,3 28,7 4,5 CV(%) 12,6 2,2 8,0 27,6 18,4 2,6 5,3 5,3 1/ Médias seguidas por letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. ** e * Significativo ao nível de 1 e 5% de probabilidade pelo teste F.