Influência da adição de resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar nas propriedades tecnológicas de cerâmica vermelha

Documentos relacionados
ANÁLISE ESTATÍSITICA DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE CORPOS CERÂMICOS CONTENDO RESÍDUO MUNICIPAL

Avaliação de Algumas Propriedades Físico-Mecânicas de Corpos Cerâmicos Incorporados com Resíduo de Escória de Soldagem

EFEITO DA GRANULOMETRIA DA CINZA DE BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR NAS PROPRIEDADES DE UMA ARGILA CAULINÍTICA

EFEITO DA INCORPORAÇÃO DE CINZA DE RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) NAS PROPRIEADES DA CERÂMICA VERMELHA

INFLUÊNCIA DA PRESSÃO DE COMPACTAÇÃO SOBRE AS PROPRIEDADES DE MASSA DE REVESTIMENTO CERÂMICO POROSO

COMPORTAMENTO DE QUEIMA DE UMA ARGILA VERMELHA USADA EM CERÂMICA ESTRUTURAL

ESTUDO COMPARATIVO DE MASSAS CERÂMICAS PARA TELHAS PARTE 2: PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS

AVALIAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE CINZAS DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR EM TIJOLO SOLO-CIMENTO

INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DO REJEITO DO MINÉRIO DE MANGANÊS DE CARAJÁS-PA E FILITO DE MARABÁ-PA EM CERÂMICAS VERMELHAS

INFLUÊNCIA DA CINZA DE BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR EM SUBSTITUIÇÃO AOS FUNDENTES DE UM REVESTIMENTO CERÂMICO VITRIFICADO

20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil

Cerâmica 50 (2004) 75-80

Influência da Incorporação de Chamote nas Etapas de Pré-queima de Cerâmica Vermelha

FORMULAÇÃO E PROPRIEDADES DE QUEIMA DE MASSA PARA REVESTIMENTO POROSO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DE CAULIM DO ESPÍRITO SANTO VISANDO APLICAÇÃO INDUSTRIAL

RECICLAGEM DE MATERIAL PARTICULADO DE UMA PLANTA DE SINTERIZAÇÃO DE UMA SIDERÚRGICA EM CERÂMICA VERMELHA

ESTUDO DE MASSAS CERÂMICAS PARA REVESTIMENTO POROSO PREPARADAS COM MATÉRIAS-PRIMAS DO NORTE FLUMINENSE

Introdução. Palavras-Chave: Reaproveitamento. Resíduos. Potencial. Natureza. 1 Graduando Eng. Civil:

Incorporação de pó de rocha sedimentar em massas para telhas cerâmicas - Parte 1: Efeitos nas propriedades físicas e mecânicas

AVALIAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE PEDRA CARIRI EM MASSAS DE TIJOLOS DE CERÂMICA VERMELHA*

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DE CERÂMICA VERMELHA QUEIMADA À 850ºC PARA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO*

(Effect of firing cycle on the technological properties of a red wall tile paste)

ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE CALCÁRIO EM TIJOLOS CERÂMICOS *

APLICAÇÃO DAS CINZAS DE CARVÃO MINERAL EM UMA MASSA COMERCIAL DE REFRATÁRIOS ISOLANTES

VALORIZAÇÃO DA CINZA DE CALDEIRA DE INDÚSTRIA DE TINGIMENTO TÊXTIL PARA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS SUSTENTÁVEIS

APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DA ETAPA DE LAPIDAÇÃO DE VIDRO EM CERÂMICA VERMELHA

Reaproveitamento do Resíduo Sólido do Processo de Fabricação de Louça Sanitária no Desenvolvimento de Massa Cerâmica

UTILIZAÇÃO DA ARGILA E DA CINZA DE CANDIOTA EM REFRATÁRIOS DENSOS

Caracterização de massas argilosas contendo resíduo proveniente do setor petrolífero e sua utilização em cerâmica estrutural.

Palavras chave: argila, cerâmica, resíduo, homogeneização, sinterização.

Incorporação de um Lodo de Estação de Tratamento de Água em Cerâmica Vermelha

EFEITO DA TEMPERATURA DE QUEIMA NAS PROPRIEDADES DE CERÂMICA VERMELHA INCORPORDA COM CHAMOTE

Incorporação de Rocha Sedimentar em Pó em Massas para Telhas Cerâmicas: Efeitos nas Propriedades Físicas e Mecânicas

20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil

REVESTIMENTOS CERÃMICOS SEMIPOROSOS OBTIDOS COM ADIÇÃO DE FONOLITOS EM MASSAS ARGILOSAS CAULINÍTICAS *

USO DE PÓ DE EXAUSTÃO GERADO NA INDÚSTRIA DE FUNDIÇÃO COMO MATÉRIA PRIMA PARA A INDÚSTRIA DE REVESTIMENTO CERÂMICO.

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE GARIMPO DE QUARTZO COMO ADITIVO EM CERÂMICA ESTRUTURAL: CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS

INCORPORAÇÃO DA CINZA DO CAROÇO DE AÇAÍ EM FORMULAÇÕES DE CERÂMICA ESTRUTURAL

UTILIZAÇÃO DE CINZA DE INCINERAÇÃO DE LENHA E SERRAGEM EM CERÂMICA VERMELHA

(Utilization of ornamental rock waste from Northwest Fluminense in red ceramic)

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

Palavras-chave: resíduos sólidos, pneu, cerâmica vermelha. Keywords: solid waste, tires, red ceramic

ANÁLISE DA VIABILIDADE DA INCORPORAÇÃO DO PÓ DE DESPOEIRAMENTO SIDERÚRGICO EM CERÂMICA VERMELHA

FORMULAÇÃO DE MASSA CERÂMICA PARA FABRICAÇÃO DE TELHAS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO QUANTO À RESISTÊNCIA MECÂNICA DE PAVERS FABRICADOS COM CINZA DE BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR COMO AGREGADO MIÚDO

EFEITO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DA ETAPA DE PRODUÇÃO DA ALUMINA ELETROFUNDIDA NAS PROPRIEDADES DA CERÂMICA VERMELHA

UTILIZAÇÃO DE VIDRO EM PÓ EM CERÂMICA VERMELHA. PARTE 2: INFLUÊNCIA DA GRANULOMETRIA RESUMO

UTILIZAÇÃO DE REJEITO DE MINÉRIO SULFETADO DE COBRE EM CERÂMICA ESTRUTURAL*

CERÂMICA INCORPORADA COM RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS PROVENIENTE DA SERRAGEM DE BLOCOS UTILIZANDO TEAR MULTIFIO: CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

ESTUDO DOS PARÂMETROS TÉCNICOS DO ADOQUIM CERÂMICO COM INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE ROCHA ORNAMENTAL

AVALIAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE ROCHA NA FABRICAÇÃO DE TELHAS. Palavras-chaves: Cerâmica vermelha, resíduo, rocha ornamental.

RESÍDUO CERÂMICO INCORPORADO AO SOLO-CAL

EFEITO DA ADIÇÃO DE VIDRO SOBRE PROPRIEDADES DE QUEIMA DE UMA ARGILA VERMELHA

UTILIZAÇÃO DE REJEITO DE COBRE, CINZA E CARVÃO NA FABRICAÇÃO DE CERÂMICA ESTRUTURAL

PREPARAÇÃO DE MULITA A PARTIR DE MATÉRIAS-PRIMAS NATURAIS. Departamento de Engenharia de Materiais, UFPB, , João Pessoa, Brasil

AVALIAÇÃO DA ADIÇÃO DO PÓ DE RESÍDUO DE MANGANÊS EM MATRIZ CERÂMICA PARA REVESTIMENTO

CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA MADALENA

ADIÇÃO DE CINZA DE SABUGO DE MILHO EM FORMULAÇÕES DE CERÂMICA VERMELHA

Revestimento cerâmico com granito e argila caulinítica. (Ceramic tile with granite and kaolinitic clay)

Efeito da temperatura de queima nas propriedades e microestrutura de cerâmica vermelha contendo chamote

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE QUEIMA EM ARTEFATOS DE CERAMICA VERMELHA*

C. E. Viana 1, D. P. Dias 1, R. P. R. Paranhos 2, J. N. F. Holanda 2

REAPROVEITAMENTO DA CINZA DE CARVÃO MINERAL COMO MATÉRIA- PRIMA PARA PROCESSAM ENTO CERÂMICO

INFLUÊNCIA DO TEOR DE SÍLICA LIVRE NAS PROPRIEDADES DO AGREGADO SINTÉTICO A PARTIR A SINTERIZAÇÃO DA LAMA VERMELHA

PLANEJAMENTO FATORIAL 3 2 NO ESTUDO DE PEÇAS CERÂMICAS VERMELHAS LAMINADAS (0, 1 E 2 VEZES) PARA FABRICAÇÃO DE LAJOTAS CERÂMICAS.

INCORPORAÇÃO DE LAMA VERMELHA IN NATURA E CALCINADA EM CERÂMICA VERMELHA

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE RESÍDUOS DE LAPIDÁRIOS

ROCHA ARTIFICIAL PRODUZIDA COM PÓ DE ROCHA E AGLOMERANTE POLIMÉRICO AGUIAR, M. C., SILVA. A. G. P., GADIOLI, M. C. B

ANÁLISE PRELIMINAR EM UMA MASSA ARGILOSA VISANDO A PRODUÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS: PROPRIEDADES FÍSICO-MECÂNICAS

EFEITO DA VARIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE PRENSAGEM NA COR E PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DE PEÇAS CERÂMICAS SEM RECOBRIMENTO

DANTAS et al. (2010) UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE ROCHAS ORNAMENTAIS NA PRODUÇÃO DE CERÂMICA BRANCA

ANÁLISE DA PERDA AO FOGO DE CORPOS DE PROVA CERÂMICOS FORMULADOS COM CINZA LEVE PROVENIENTE DA GASEIFICAÇÃO DO CARVÃO MINERAL PULVERIZADO

INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE VIDRO EM CERÂMICA VERMELHA

CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES DE QUEIMA DE ARGILAS UTILIZADAS PARA FABRICAÇÃO DE TELHAS NO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ-RJ

Influence of the incorporation of ornamental rock waste on the properties and sintered microstructure of floor tile

INCORPORAÇÃO DE LAMA DE ALTO FORNO EM CERÂMICA VERMELHA PARA PRODUÇÃO DE TELHAS*

ANÁLISE DA POSSIBILIDADE DE ADIÇÃO DE RESÍDUO PROVENIENTE DO CORTE E POLIMENTO DE ROCHAS BASÁLTICAS EM BLOCOS DE CERÂMICA VERMELHA

AVALIAÇÃO DA POROSIDADE APARENTE E ABSORÇÃO DE ÁGUA DA MASSA CERÂMICA PARA PORCELANATO EM FUNÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE CAULIM.

Influência da granulometria do resíduo de celulose nas propriedades do material cerâmico

USO DE MASSAS CERÂMICAS DA REGIÃO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES PARA FINS ARTESANAIS.

AVALIAÇÃO DO TIJOLO ECOLÓGICO PRODUZIDO EM TERESINA PI

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

INCORPORAÇÃO DA ESCÓRIA DO FORNO PANELA EM FORMULAÇÃO CERÂMICA: ESTUDO DAS ZONAS DE EXTRUSÃO

Estudo e Avaliação do Uso e Escória Granulada de Fundição na Produção de Cerâmicas Estruturais

Formulação de Massas Cerâmicas para Revestimento de Base Branca, Utilizando Matéria-prima do Estado Rio Grande do Norte.

INFUENCIA DA ADIÇÃO DE LODO, DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA), NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS EM CERÂMICA VERMELHA

COMPARAÇÃO ENTRE BLOCOS CERÂMICOS PRODUZIDOS EM FORNOS HOFFMAN E CAIEIRA *

APLICAÇÃO DE RESÍDUO DE CINZAS DE CARVÃO MINERAL APLICADOS NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS E ARGAMASSAS

Eixo Temático ET Educação Ambiental

ISSN Revista Matéria, v. 11, n. 4, pp , 2006

AVALIAÇÃO COMPORATIVA DA SINTERIZAÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA EM FORNO DE MICRO-ONDAS E FORNO CONVENCIONAL

QUEIMA RÁPIDA DE MATÉRIA-PRIMA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PARA OBTER GRÊS PORCELANATO

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DOS RESÍDUOS DE VIDRO SODO-CÁLCICO ADICIONADOS NA MASSA DE CERÂMICA VERMELHA PARA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO EM PALMAS - TO

Incorporação de resíduos siderúrgicos em cerâmica vermelha

Aplicação da Estatística de Weibull na Avaliação da Tensão de Ruptura a Flexão de Revestimento Cerâmico

Influência da adição de Lama Vermelha nas Propriedades Tecnológicas de Corpos Cerâmicos de Argilas.

Moagem Fina à Seco e Granulação vs. Moagem à Umido e Atomização na Preparação de Massas de Base Vermelha para Monoqueima Rápida de Pisos Vidrados

CORRELAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE RESISTÊNCIA MECÂNICA DE CORPOS DE PROVA DE ARGILA CONFORMADOS MANUALMENTE E POR PRENSAGEM UNIAXIAL

Transcrição:

ISSN 1517-7076 artigo 11476, pp.1054-1060, 2012 Influência da adição de resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar nas propriedades tecnológicas de cerâmica vermelha Influence of the addition of sugarcane bagasse ash waste in the technological properties of red ceramic De Faria, K.C.P., Gurgel, R.F., De Holanda, J.N.F. Universidade Estadual do Norte Fluminense, Grupo de Materiais Cerâmicos, Av. Alberto Lamego 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes-RJ e-mail: katiacpfaria@hotmail.com ; rfguenf2009@hotmail.com ; holanda@uenf.br RESUMO O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e álcool proveniente de cana-de-açúcar. A indústria da canade-açúcar tem contribuído para o fortalecimento do agronegócio, desenvolvimento econômico e social do país. No entanto, o processo produtivo da indústria de cana-de-açúcar gera enormes quantidades de resíduos sólidos na forma de cinzas. Estes resíduos sólidos são de difícil disposição final e podem gerar problemas de poluição ambiental. Por esse motivo, devem-se buscar novas alternativas tecnológicas viáveis para o reuso ou reciclagem destes abundantes resíduos. Este trabalho tem como objetivo utilizar o resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar como uma matéria-prima alternativa de baixo custo em mistura com argila caulinítica para obtenção de cerâmica vermelha. Foram estudadas cinco formulações com 0, 5, 10, 15 e 20 % em peso de resíduo de bagaço de cana-de-açúcar misturado com argila caulinítica. As peças cerâmicas foram preparadas por prensagem uniaxial e sinterizadas a 1000 ºC (24 h frio a frio). As peças sinterizadas foram caracterizadas em termos de retração linear, absorção de água, massa específica aparente, porosidade aparente e resistência à compressão. Ficou comprovado, após resultados dos ensaios realizados, que a incorporação de resíduos de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar afeta significativamente as propriedades tecnológicas de cerâmica vermelha. Portanto, o resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar pode ser usado como uma matéria-prima alternativa de baixo custo em cerâmica vermelha, desde que seja adicionado em quantidades moderadas. Palavras-chave: Cinzas, Bagaço de Cana-de-Açúcar, Cerâmica Vermelha, Reciclagem. ABSTRACT Brazil is the world's largest producer of sugar and ethanol from sugarcane. The sugarcane industry has contributed to the strengthening of agribusiness, as well as economic and social development of the country. However, the production process of the sugarcane industry generates huge amounts of solid wastes in the form of ashes. These solid wastes have difficult disposal and can lead to problems of environmental pollution. Therefore, one should look for new alternative technologies viable for reuse or recycling of these abundant wastes. The essay s goal is to evaluate the use of sugarcane bagasse ash waste as a low cost alternative raw material mixed with clay for production of red ceramic. Five formulations were studied with 0, 5, 10, 15 and 20 wt.% of waste mixed with kaolinitic clay. Ceramic pieces were prepared by uniaxial pressing and sintered at 1000 C (24 cold cold). The pieces were characterized in terms of linear shrinkage, water absorption, apparent density, apparent porosity and compressive strength. It was proven, after results of tests performed, the incorporation of sugarcane bagasse ash waste significantly affects the technological properties of red ceramic. Therefore, the sugarcane bagasse ash waste can be used as an alternative raw material in red ceramic, since it is added in moderate amounts. Keywords: Ashes, Sugarcane Bagasse, Red Ceramic, Recycling. Autor Responsável: De Faria K.C.P. Data de envio: 18/10/10 Data de aceite: 06/07/12

1. INTRODUÇÃO No Brasil a indústria da cana-de-açúcar é um os setores da agroindústria que mais se destacam em área de plantio e em produção. Estima-se que cerca de 15 % dos solos agricultáveis do Brasil seja destinado ao plantio de cana-de-açúcar para produção de açúcar e álcool. O alto crescimento da indústria da cana-deaçúcar se deve em parte ao forte programa nacional de produção de álcool combustível denominado de Proálcool. A indústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, tem contribuído para o fortalecimento do agronegócio, desenvolvimento econômico e social do país. No entanto, o processo produtivo da indústria de cana-deaçúcar gera enormes quantidades de resíduos sólidos na forma de cinzas [1]. Os resíduos sólidos de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar são gerados a partir da queima do bagaço de cana-de-açúcar nas caldeiras geradoras de vapor das usinas. O bagaço de cana-de-açúcar é usado para cogeração de energia em substituição ao óleo combustível e outros energéticos. A quantidade de resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar (RCBCA) gerada corresponde à cerca de 0,5 % em peso, em relação à massa inicial do bagaço. Estima-se que no Brasil sejam produzidas nas usinas de açúcar e álcool cerca de 1.200.000 toneladas/ano de RCBCA [2-4]. Por outro lado, o RCBCA não tem uma utilização definida para a indústria da cana-de-açúcar. Por este motivo, o RCBCA vem sendo utilizado, por exemplo, como corretivo de solo sem obedecer qualquer parâmetro técnico [5]. O RCBCA apresenta em sua composição alto teor de sílica (SiO 2 ), além de pequenas quantidades de óxidos de Al, Fe, Ca, Mg e K [1, 6]. Isto significa que do ponto de vista químico o RCBCA contém quantidades apreciáveis de óxidos presentes nas argilas usadas na fabricação de cerâmica vermelha. Além disso, por apresentar alto teor de sílica o RCBCA é considerado um material não plástico. De forma que estas características tornam o RCBCA atrativo como uma matéria-prima alternativa para fabricação de materiais de cerâmica vermelha. De fato as massas argilosas usadas em cerâmica vermelha são misturas de materiais plásticos e não plásticos que apresentam larga variabilidade em termos de composição química e mineralógica [7, 8]. Por outro lado, apesar de sua importância constata-se que pouca atenção tem sido dada no Brasil à incorporação deste abundante resíduo em cerâmica vermelha. Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho é avaliar as propriedades tecnológicas de cerâmica vermelha incorporada com resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar. Este trabalho busca não somente contribuir com uma solução tecnológica viável para o destino final deste abundante resíduo, mas também estudar a influência da adição do RCBCA nas propriedades da cerâmica vermelha e determinar qual a quantidade adequada de resíduo a ser incorporada na formulação argilosa. 2. MATERIAIS E MÉTODOS As matérias-primas usadas neste trabalho foram uma massa argilosa vermelha usada na fabricação de blocos cerâmicos (tijolos furados), e um resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar (RCBCA) provenientes da região de Campos dos Goytacazes-RJ. Neste trabalho foi preparada uma série de misturas massa argilosa/rcbca contendo até 20 % em peso de RCBCA (Tabela 1). A massa argilosa isenta de resíduo (amostra MK0 100 % de argila vermelha) é considerada a amostra de referência. Tabela 1: Composição das massas cerâmicas estudadas (% em peso). FORMULAÇÃO MATÉRIAS-PRIMAS MASSA ARGILOSA RCBCA MK0 100 0 MK5 95 5 MK10 90 10 MK15 85 15 MK20 80 20 A amostra de RCBCA in natura em forma de pó foi submetida a processo de beneficiamento com o objetivo de eliminar as impurezas grosseiras indesejáveis, como resto de folhas e bagaço de cana-de-açúcar não queimada. A massa argilosa vermelha passou pelo processo de secagem em estufa a 110 C. Em seguida as matérias-primas foram passadas em peneira com abertura de 42 mesh (ASTM 355 µm). A composição 1055

química das matérias-primas usadas neste trabalho é apresentada na Tabela 2. A amostra de RCBCA apresenta como principais fases cristalinas: quartzo e Cristobalita [6]. Tabela 2: Composição química das matérias-primas usadas (% em peso). ÓXIDOS ARGILA RCBCA SiO 2 46,95 61,59 Al 2 O 3 36,19 5,92 Fe 2 O 3 9,73 7,36 SO 3 1,86 0,42 TiO 2 1,66 2,46 CaO 0,48 5,00 MnO 0,11 0,10 K 2 O 2,82 6,22 ZrO 2 0,03 0,17 V 2 O 5 0,12 0,10 ZnO - 0,10 NiO - 0,03 SrO - 0,02 P.F. 10,40 9,7 As matérias-primas secas nas proporções de acordo com a Tabela 1 foram misturadas num misturador cilíndrico de laboratório (Gardelin, modelo 1A) durante 30 min, e depois classificadas por peneiramento para < 42 mesh. Em seguida as massas cerâmicas foram umidificadas para cerca de 7 % em peso de água, e mantidas em sacos plásticos fechados em dessecador por 24 h. As massas cerâmicas argilosas foram submetidas à prensagem uniaxial com ação única do pistão a 21 MPa, utilizando-se uma matriz de aço de cavidade cilíndrica ( = 2,5 cm). As peças cerâmicas compactadas foram submetidas a processo de secagem em estufa a 110 o C por um período de 24 h. O processo de queima das peças de cerâmica vermelha secas foi realizado num forno elétrico tipo mufla numa temperatura de 1000 o C. Foi empregado um ciclo de queima lento (24 h frio a frio). O tempo de permanência das peças na temperatura de patamar foi de 2 h. As peças de cerâmica vermelha queimadas foram caracterizadas em termos de retração linear, absorção de água, massa específica aparente, porosidade aparente e resistência à compressão. A retração linear foi determinada utilizando um paquímetro digital com precisão de 0,01 mm, para medição dos comprimentos dos diâmetros antes e após queima. A absorção de água, massa específica aparente e a porosidade aparente das peças cerâmicas foram obtidas de acordo com procedimentos padronizados ASTM 373 [9]. A resistência à compressão diametral foi determinada com o auxílio de uma máquina de ensaios universal (EMIC, modelo DL100/100kN) com velocidades de carregamento de 0,5 mm/min de acordo com a expressão [10, 11]: ((1) Onde: Rc q resistência a compressão diametral, em MPa; F carga de ruptura, em N; d diâmetro das peças queimadas, em mm; t altura das peças cilíndricas, em mm. 1056

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta o comportamento da retração linear de queima das peças de cerâmica vermelha em função do teor de RCBCA incorporado. Nota-se uma leve diminuição na retração linear para adições de RCBCA a partir de 10 % em peso (composições MK10, MK15 e MK20). Isto está fundamentalmente relacionado ao fato do RCBCA apresentar alta concentração de quartzo, conforme mostrado na Tabela 2. De fato o RCBCA é um material não plástico [1, 6], o qual é responsável pela redução da plasticidade global do mix massa argilosa/rcbca. De forma que a adição do RCBCA tem o efeito benéfico de melhorar a estabilidade dimensional das peças de cerâmica vermelha. Pode-se observar também que a retração linear de queima está na faixa de 2,00 2,79 %. Estes valores estão dentro da faixa ótima para produção industrial de cerâmica vermelha. 5 4 Retração Linear (%) 3 2 1 0 Figura 1: Retração linear das peças cerâmicas queimadas a 1000 C. A Figura 2 apresenta o comportamento da absorção de água das peças de cerâmica vermelha. A absorção de água é uma propriedade física que está associada à porosidade aberta e microestrutura do material sinterizado. Nota-se que incorporação de até 10 (composições MK5 e MK10) praticamente não acarretou alteração nos valores de absorção de água. Os resultados mostram que adições acima de 10 tende a aumentar a absorção de água das peças cerâmicas. A explicação para isto pode estar relacionada ao fato do RCBCA conter em sua composição quantidade apreciável de matéria orgânica. Durante o processo de queima ocorre à decomposição da matéria orgânica, o qual contribui para gerar poros abertos na estrutura do material. Isto significa que altas concentrações de RCBCA provocarão um aumento da absorção de água (porosidade aberta) das peças de cerâmica vermelha. Isto deve ser evitado uma vez que a absorção de água é uma propriedade técnica usada para especificar a qualidade do produto de cerâmica vermelha. Por exemplo, os tijolos maciços e blocos cerâmicos (tijolos furados) devem apresentar valor de absorção de água < 25 %. A porosidade aparente das peças de cerâmica vermelha contendo RCBCA, como mostrado na Figura 3, seguiu o mesmo comportamento da absorção de água. 1057

26 25 Absorção de Água % 24 23 22 Figura 2: Absorção de água das peças cerâmicas queimadas a 1000 C. 45 44 Porosidade Aparente (%) 43 42 41 40 39 Figura 3: Porosidade aparente das peças cerâmicas queimadas a 1000 C. A Figura 4 apresenta a massa específica aparente das peças cerâmicas queimada a 1000 ºC em função do teor de RCBCA adicionado. Observa-se que o efeito do RCBCA é o de diminuir a densificação das peças cerâmicas. Isto está de acordo com os resultados de absorção de água (Fig. 2) e porosidade aparente (Fig. 3). 1058

2,0 Massa Específica Aparente (g/cm 3 ) 1,8 1,6 Figura 4: Massa específica aparente das peças cerâmicas queimadas a 1000 C. A resistência à compressão diametral das peças cerâmicas queimadas é mostrada na Figura 5. Pode-se observar que o efeito da incorporação do resíduo foi o de diminuir a resistência mecânica das peças de cerâmica vermelha. Resistência à compressão Diametral (MPa) 5 4 3 2 1 0 Figura 5: Resistência à compressão diametral das peças cerâmicas queimadas a 1000 C. O efeito deletério do RCBCA na resistência a compressão diametral está fundamentalmente relacionado ao seu principal componente mineralógico, no caso o quartzo. A rigor o quartzo atua como defeito crítico na estrutura sinterizada da peça cerâmica [3]. Este resultado demonstra categoricamente que se deve evitar o uso de altas concentrações de RCBCA nas formulações argilosas para cerâmica vermelha. 1059

4. CONCLUSÕES Os resultados deste trabalho demonstram que o resíduo de cinzas de bagaço de cana-de-açúcar (RCBCA) tem grande potencial para ser utilizado como uma matéria-prima alternativa na fabricação de produtos de cerâmica vermelha. No entanto, a incorporação de RCBCA na formulação argilosa tende a influenciar fortemente as propriedades tecnológicas (retração linear, absorção de água, massa específica aparente, porosidade aparente e resistência à compressão) das peças cerâmicas. Foi observado que a incorporação de RCBCA resultou no efeito positivo de diminuir a retração linear e contribuiu para uma melhor estabilidade dimensional das peças cerâmicas. Por outro lado, a incorporação de RCBCA também aumentou a absorção de água (porosidade aberta) e diminuiu a resistência mecânica das peças cerâmicas sinterizadas. Estes efeitos estão fundamentalmente relacionados às composições química e mineralógica do RCBCA, que é rico em quartzo e matéria orgânica. Por este motivo, o uso de RCBCA em cerâmica vermelha deve ser feito em quantidades moderadas. Os resultados deste trabalho indicam o uso de até 10 % em peso do RCBCA utilizado como substituto de argila natural na fabricação de cerâmica vermelha. 5. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer ao CNPq e FAPERJ pelo apoio financeiro, a Usina Sapucaia pelo fornecimento do resíduo de bagaço de cana-de-açúcar e a Cerâmica São José pelo fornecimento da massa argilosa. 6. BIBLIOGRAFIA [1] GURGEL, R.F., Caracterização físico-química e térmica de resíduo de cinza de bagaço de cana-deaçúcar. Monografia de Graduação, UENF-CEMM, Campos dos Goytacazes, 2009. [2] FREITAS, E.S., Caracterização de cinza de bagaço da cana-de-açúcar do município de Campos dos Goytacazes para uso na construção civil, Dissertação de M.Sc., UENF-PPGEC, Campos dos Goytacazes, 2005. [3] TEIXEIRA, R.S., SOUZA, A.E., SANTOS, G.T.A., et al., Sugarcane bagasse ash as a potential quartz replacement in red ceramic, Journal of the American Ceramic Society, v.91, n.6, pp.1883-1887, 2008. [4] BORLINI, M.C., MENDONÇA, J.L.C.C., PINATTI, D.G.,et al., Cerâmica com cinza de bagaço de cana-de-açúcar : avaliação da influência da cinza e da granulometria nas propriedades físicas e mecânicas, Anais do 17 CBECIMAT, Foz do Iguaçu, pp. 2033-2041, novembro, 2006. [5] CINCOTTO, M.A., Utilização dos subprodutos e resíduos na Indústria da construção civil. Tecnologia das Edificações, PINI, São Paulo, 1988. [6] FARIA, K.C.P.,GURGEL, R.F., HOLANDA, J.N.F., Characterization of sugarcane bagasse ash for use in ceramic bodies, Proceedings of 7 th PETCH 09, Atibaia, pp. 1292-1295, 2009. [7] SANTOS, P.S., Ciência e tecnologia das argilas, 2ª Edição, São Paulo, Edgard Blucher, v.1, pp.405, 1989. [8] GOMES, C.F., Argilas: o que são e para que servem. In: Fundação Calouste Gulbenkian, pp.457, Lisboa,1988. [9] ASTM C 373, Test method for water absorption, bulk density, apparent porosity, and apparent specific gravity of fired whiteware products, 1994. [10] FETT, T., T-stress in rectangular plates and circular disks. Eng. Frac. Mechanics. v. 60, pp. 631-652, 1998. [11] CHEN, F., SUN, Z., XU, J., Mode I fracture analysis of the double edge cracked Brazilian disk using a weight function method, International Journal of Rock Mechanics and Mining Sciences, v.38, pp. 475-479, 2001. 1060