Parte I. Breve histórico da anatomia. Ana Carolina Biscalquini Talamoni

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Transcrição:

Parte I Breve histórico da anatomia Ana Carolina Biscalquini Talamoni SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros TALAMONI, ACB. Breve histórico da anatomia. In: Os nervos e os ossos do ofício: uma análise etnológica da aula de Anatomia [online]. São Paulo: Editora UNESP, 2014, pp. 17-21. ISBN 978-85- 68334-43-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.

PARTE I BREVE HISTÓRICO DA ANATOMIA

Figura 1 Lesson in Dissection, extraída de Fasciculus medicinae, Johannes de Ketham, sec. XV, s.d.

Para adentrar na cultura específica do Laboratório de Anatomia com o intuito de observar, analisar e interpretar as aulas de Anatomia Geral e Humana numa perspectiva etnológica, foi preciso, em um primeiro momento, considerar o caráter histórico tanto da prática quanto da disciplina anatômica, as quais se mostram anteriores ao surgimento da própria ciência moderna. Também se ponderou ser impossível pensar as práticas anatômicas, que são seculares, sem considerar as representações do cadáver, pois que essas representações vieram a determinar os usos e manuseios possíveis do morto, estando elas intrinsecamente relacionadas com o desenvolvimento da Anatomia. 1 Nesse encaminhamento, apresentar-se-á inicialmente um breve histórico das principais práticas anatômicas ocidentais que antecederam o surgimento da Anatomia e ajudaram a consagrá- -la enquanto campo de saber, o que se deu tanto em um aspecto formal, dentro do âmbito acadêmico, tendo em vista o ensino e o desvelamento dos mistérios do corpo humano, quanto em uma esfera informal, tendo em vista o entretenimento público. Ambas as práticas estiveram pautadas pelo exercício da dissecação de cadáve- 1 Esta temática foi abordada de forma mais aprofundada em Talamoni (2013).

20 ANA CAROLINA BISCALQUINI TALAMONI res, que paulatinamente tornou-se também a técnica primordial de pesquisa da Anatomia Descritiva ou Macroscópica. Por essa razão, o capítulo divide-se em duas partes. A primeira busca contemplar, ainda que de forma breve, a trajetória de desenvolvimento e institucionalização da Anatomia no âmbito acadêmico. A segunda parte apresenta de forma sucinta o movimento de popularização da Anatomia através das famosas lições de Anatomia ou dissecações públicas que, a partir da Idade Média, ajudaram a tornar mais aceitável, tanto do ponto de vista social quanto do cultural, a abertura de corpos humanos para fins de ensino e pesquisa. Esses movimentos, ainda que tenham se apresentado de forma contemporânea em alguns períodos da história, foram divididos em tópicos por razões didáticas. Compreender a Anatomia enquanto um processo de objetivação do corpo e, sobretudo, como uma construção disciplinar sócio-histórica mostrou-se de interesse para este livro por: a) permitir a constatação de que a indagação acerca do corpo humano não é um fenômeno moderno, mas uma preocupação milenar do homem acerca de sua origem, de sua natureza ; b) auxiliar no entendimento dos processos sócio-históricos, cognitivos e emocionais que retiraram o cadáver de uma condição interdita, inviolável e ameaçadora para ser objeto de curiosidade e indagações racionalizadas; c) ampliar o entendimento de como o conhecimento anatômico constituiu-se e avançou ao longo dos séculos, fundamentando o ensino da Anatomia da atualidade. Procurar-se-á também ratificar que a disciplina anatômica bem como a inauguração do corpo enquanto objeto de estudo são produções culturais, porque científicas, de conhecimento. Assim, tanto o conhecimento científico produzido pela Anatomia como suas técnicas de investigação prenunciam que ela é também fruto de uma tradição científica, um dos motivos pelos quais tem um espaço- -tempo consolidado nos currículos dos cursos de licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas e da Saúde, tradição esta que se perpetua através de aulas que se mostram igualmente tradicionais, isomórficas.

OS NERVOS E OS OSSOS DO OFÍCIO 21 A figura do anatomista, por sua vez, também é uma construção sócio-histórica que garante a tradição que caracteriza a comunidade anatômica. Esse encontro de elementos sociais, históricos e culturais que confluem para a aula de Anatomia transcende os aspectos didático-pedagógicos da mesma, que acaba por se realizar enquanto um fato social no qual cada sujeito tem um papel culturalmente determinado a desempenhar. O percurso dessa área da ciência, como se verá adiante, comportou uma série de dificuldades e, por que não, de imposturas éticas e filosóficas que desafiaram o conhecimento tradicional/religioso acerca do corpo e culminaram em outra história: a da dissecação. Os entraves enfrentados para a legalização da prática anatômica se deram a nível prático, moral, legal, mas, sobretudo, a nível simbólico, tendo sido necessária uma reorientação das sensibilidades. O processo de dessacralização do corpo permitiu que se assumisse explicitamente a ambiguidade do cadáver, fonte de curiosidade e ao mesmo tempo de horror e repugnância. O estabelecimento da Anatomia ocorreu em consonância com o desejo humano de compreender o próprio corpo e de superar seus temores mais profundos.