Tumor odontogênico ceratocístico - levantamento de casos e revisão de literatura

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REVISÃO DE LITERATURA Tumor odontogênico ceratocístico - levantamento de casos e revisão de literatura Keratocystic odontogenic tumor - survey of cases and literature review Resumo Introdução: O Tumor Odontogênico Ceratocístico (TOC) pode ser definido como um tumor intraósseo, benigno, de origem odontogênica. A incidência dessa lesão na mandibula é de 3 a 4 vezes maior que na maxila, com preferência pela região dos terceiros molares inferiores, no ângulo da madíbula, de onde se estende para o ramo ascentende. Em casos de lesões mais extensas, observa-se tumefação, drenagem ou dor associada, aumento de volume de tecidos moles e tecido ósseo, parestesia, mobilidade de dentes envolvidos pela lesão, bem como crescimento lento e deslocamento de peças dentárias. Objetivo e Metodologia: O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura e um levantamento de casos diagnosticados no Laboratóro de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas da UPF a respeito do TOC. Resultados: No presente levantamento, foram encontrados 48 casos de TOC, com uma prevalencia do gênero feminino, na segunda e terceira década de vida. Um maior número de casos ocorreram na mandibula com preferencia pela região de terceiro molar inferior. Apresentavam em sua maioria lesões radiolúcidas uniloculares e o principal sinal clínico foi o de abaulamento. Conclusão: O que pode-se concluir através deste trabalho é que é fundamental para o sucesso do tratamento do Tumor Odontogênico Ceratocístico, o conhecimento por parte do Cirurgião Dentista de lesões tumorais de origem odontogênica, para que um correto e precoce diagnóstico seja executado, levando a melhor escolha do tratamento e, consequentemente um prognóstico favorável. Palavras-chave: Tumor odontogênico ceratocístico. Benigno. Intraósseo. Abstract Introduction: The Keratocystic odontogenic tumor can be defined like an intraosseous tumor, benign, of odontogenic origin. The incidence of this lesion in the mandible and 3 to 4 times higher than in the maxilla, with a preference for the third molar region. In cases of more extensive lesions, there is swelling, drainage or pain associated, swelling of soft tissue and bone tissue, paresthesia, mobility of teeth involved by the injury, as well as slow growth and displacement of dental pieces. Camila Taís Mallmann* Rúbia da Rocha Vieira* Soluete Oliveira da Silva** Bethânia Molin Giaretta De Carli*** João Paulo De Carli**** * Cirurgiãs-dentistas pela Faculdade d eodontologia da Universidade de Passo Fundo. **Doutora em Estomatologia Clínica pela PUC/RS. Professora da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo/RS. ***Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Mestre em Clínica Odontológica. Professora da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo/RS. ****Doutor em Odontologia - Área de Estomatologia pela PUC/PR. Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo/RS. Objective and Methodology: The objective of this study was a literature review and a survey of cases diagnosed in the Pathology Lab of the Institute of Biological Sciences, UPF, about keratocystic odontogenic tumor. Result: In this survey, we found 48 cases of TOC, with a prevalence of females in second and third decade of life. A greater number of cases occurred in the jaw with a preference for the third molar region. Had mostly unilocular radiolucent lesions and was the main clinical sign of bulging. Conclusion: What can be concluded from this work is that it is essential for the successful treatment of odontogenic tumor keratocystic, knowledge by the Surgeon Dentist of odontogenic origin tumors, for a correct and early diagnosis is performed, taking the best choice of treatment and thus a favorable prognosis. Endereço para correspondência: João Paulo De Carli Rua Bento Gonçalves, 967/204, Centro 99010-010 - Passo Fundo/RS Fone: (54) 3311-4357 joaoestomatologia@yahoo.com.br Keywords: Keratocystic odontogenic tumor. Benign. Intraosseous. Odonto 2012; 20(40): 67-72 67

Tumor odontogênico ceratocístico - levantamento de casos e revisão de literatura INTRODUÇÃO O tumor odontogênico ceratocístico (TOC) é uma forma distinta de cisto odontogênico de desenvolvimento que requer considerações especiais por causa de seu comportamento clínico agressivo e aspectos histopatológicos específicos. Tal lesão apresenta um comportamento biológico e mecanismo de crescimento relacionado com fatores inerentes desconhecidos do próprio epitélio ou com a atividade enzimática na cápsula fibrosa. É extremamente importante para o sucesso do tratamento do Tumor odontogênico ceratocístico, que o diagnóstico clínico e radiográfico sejam bem executados, assim como o exame histopatológico, através da realização da biópsia da lesão. Nesta situação o conhecimento do profissional sobre o assunto é imprescindível para a melhor escolha do tratamento. Pode ser definido como um tumor intraósseo benigno, de origem odontogênica, que exibe revestimento de epitélio pavimentoso estratificado paraceratinizado 1. Os TOCs são lesões clinicamente agressivas. A maior característica dessa entidade é sua alta taxa de recorrência, relacionada provavelmente aos resíduos de epitélio cístico e potencial intrínseco de crescimento após a excisão 2. Em relação a sua etiologia, existem duas teorias para o seu desenvolvimento: uma a partir de remanescentes da lâmina dentária e outra a partir da proliferação de células da camada basal do epitélio oral, para a mandibula e maxila 3,4. Histologicamente, os TOCs se caracterizam por possuir uma capa de tecido conjuntivo delgada e friável, aderida a um epitélio de forramento facilmente destacável 5. As células epiteliais dos TOCs apresentam uma capacidade proliferativa superior aos demais cistos odontogênicos, o que vem sendo recentemente comprovado com o uso de marcadores de proliferação celular 6. A incidência dessa lesão na mandibula é de 3 a 4 vezes maior que na maxila, com preferência pela região dos terceiros molares inferiores, no ângulo da madíbula, de onde se estende para o ramo ascentende 5. Verifica-se uma predileção da lesão pelo sexo masculino, em torno da segunda ou terceira década, numa razão homem: mulher de 1,42: 1, sendo o índice de recorrência variável, entre 2 a 60%, na dependência de fatores como: faixa etária, localização e tamanho das leões, sexo, tipo de tratamento e variável histológica 3,4. Sinais e Sintomas estão na maioria das vezes ausentes, sendo muitas vezes descobertos em exames radiográficos de rotina 3,5. Em casos de lesões mais extensas, observa-se tumefação, drenagem ou dor associada, aumento de volume de tecidos moles e tecido ósseo, parestesia, mobilidade de dentes envolvidos pela lesão, bem como crescimento lento e deslocamento de peças dentárias 7. Radiograficamente, o TOC apresenta-se como uma lesão radiolúcida uni ou multilocular, bem circunscrita, e pode envolver dentes não erupcionados, exibindo ainda deslocamento de dentes impactados ou erupcionados, reabsorção radicular e extrusão dos dentes envolvidos 1,3-5. No diagnóstico diferencial quando a lesão estiver associada a um dente, deve-se incluir: cisto dentígero, ameloblastoma, cisto odontogênico calcificante, tumor odontogenico adenomatoide e o fibroma ameloblástico. Porém, quando não se apresentar associada a um dente, pode-se incluir no diagnóstico diferencial o cisto ósseo traumático, granuloma central de células gigantes e o cisto periodontal lateral 3. 68 Odonto 2012; 20(40): 67-72

Mallmann et al. No caso de confirmação do diagnóstico de TOC, recomenda-se a pesquisa da síndrome de Gorlin, onde além de TOC múltiplos, o paciente tende a apresentar carcinomas basocelulares e anomalias esqueléticas. Alguns casos de transformação maligna do TOC já foram relatados 7-9. O tratamento do TOC constitui-se de um permanente desafio para os cirurgiões, considerando-se o seu índice de recidiva. Sabendo-se que o diagnóstico pré-operatório não pode ser estabelecido definitivamente sem suporte histológico, a primeira etapa é a realização de uma biópsia da lesão. Segundo Marcucci 10 (2002), a marsupialização pode ser usada como forma terapêutica em primeiro tempo cirúrgico, visando proteger estruturas nobres. Num segundo tempo, toda a lesão deverá ser removida 5. A injeção da solução de Carnoy na luz do cisto também tem sido usada para soltar o cisto da parede óssea, facilitando a remoção e com taxas de recidiva mais baixa 11. Alguns fatores que podem estar associados a esta recorrência são: a presença de cistos satélites que se perdem durante o momento cirúrgico e/ou cápsula fina e friável, dificultando a enucleação sem a fragmentação da lesão 8. O TOC tem prognóstico duvidoso, pois tem tendência à recidiva independente da modalidade de tratamento, enucleação ou marsupialização 12. MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo consistiu numa revisão da literatura e levantamento de casos do arquivo de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade de Passo Fundo (UPF) a respeito do tumor odontogênico ceratocístico (TOC). Na revisão da literatura foram abordados aspectos clínicos, etiológicos, conduta do Cirurgião Dentista, exames laboratoriais a serem solicitados, possibilidades terapêuticas e prognóstico. Os dados obtidos dos registros de casos dos arquivos do Laboratório de Patologia Bucal do ICB de 2000 a 2010 foram analisados de acordo com a idade do paciente, gênero, localização da lesão, aspectos clínicos e radiográficos, totalizando 48 casos revisados. Estes dados foram compilados e anotados em planilha específica para isto, tabulados e analisados por meio de estatística descritiva de frequência. RESULTADOS Foram obtidos 48 casos com diagnósticos de TOC nos arquivos do Laboratório de Patologia Bucal do ICB (Tab. 1). Tabela 1. Prevalência dos casos de TOC encontrados quanto ao gênero Feminino 25 37,5% Masculino 18 52% Não informado 5 10% Total de casos 48 100% Odonto 2012; 20(40): 67-72 69

Tumor odontogênico ceratocístico - levantamento de casos e revisão de literatura Com relação ao gênero, 37,5% eram homens, 52 % mulheres e 10% dos laudos não informavam o gênero. A distribuição dos pacientes por gênero está na Figura 1. Figura 1 Distribuição dos pacientes por gênero Quanto à localização topográfica das lesões, 56, 2% situavam-se na região posterior da mandíbula, 8,3% na região anterior da mandíbula, 18,7% na região anterior da maxila e 16,6% na região posterior da maxila (Tab. 2). Tabela 2. Localização topográfica dos casos de TOC encontrados Região ant. max. 9 18,7% Região post. max. 8 16,6% Região ant. mand. 4 8,3% Região post. mand. 27 56,25% Total de casos 48 A distribuição dos pacientes por faixa etária está demonstrada na Tabela 3, onde se nota a prevalência de casos na segunda década de vida. Tabela 3. Prevalência da faixa etária dos casos de TOC encontrados 10 a 20 anos 14 29,16% 21 a 30 anos 7 14,58% 31 a 40 anos 5 10,41% 41 a 50 anos 6 12,5% 51 a 60 anos 3 6,25% 61 a 70 anos 5 10,41% 71 a 80 anos 2 4,1% 81 a 90 anos 1 2% Não informada 5 10,41% Total de casos 48 100% 70 Odonto 2012; 20(40): 67-72

Mallmann et al. Quanto à prevalência dos aspectos clínicos do TOC nos casos revisados, observou- -se que a queixa de abaulamento (expansão do rebordo, tumefação) foi a mais comum, representando 35% dos casos, seguida de presença de material branco amarelado, em 25% do total de casos revisados. A presença de dente incluso associado e fístula foram relatados numa menor proporção (10,41% e 6,25%, respectivamente) (Tab 4). Tabela 4. Prevalência de aspectos clínicos encontrados nos casos de TOC N Absoluto Percentual Abaulamento 17 35% Fístula 3 6,25% Secreção 12 25% Dente Incluso (ausente na arcada) 5 10,41% Ausência de sintomatologia 8 16,6% Quanto ao aspectos radiográficos, observou-se que 27% dos laudos apresentavam, na descrição radiográfica da lesão, imagem radiolúcida unilocular, 20,8% apresentavam imagem radiolúcida multilocular e 10,41% descreviam dente associado a imagem radiolúcida. Percebe-se também que na maior parte dos laudos (41,6%) não havia informações sobre o aspecto radiográfico da lesão (Tab. 5). Tabela 5. Prevalência do aspecto radiográfico das lesões Radiolúcido unilocular 13 27% Radiolúcido multilocular 10 20,8% Dente incluso envolvido 5 10.41% Não Informado 20 41,6% Total 48 100% DISCUSSÃO Os TOCs são lesões clinicamente agressivas, e sua maior característica é sua alta taxa de recorrência, relacionada provavelmente aos resíduos de epitélio cístico e potencial intrínseco de crescimento após a excisão 2. A incidência dessa lesão na mandibula é de 3 a 4 vezes maior que na maxila, com preferência pela região dos terceiros molares inferiores, no ângulo da madíbula, de onde se estende para o ramo ascentende 5. No presente levantamento, os casos encontrados confirmam a literatura. Dos 48 casos estudados, 31 ocorreram na mandíbula e 17 na maxila. O que podemos observar também, é que dos 31 casos ocorridos na mandíbula, um número significativo de casos estão localizados na região posterior, 27 casos, contra 4 na região anterior. Verifica-se uma predileção da lesão pelo sexo masculino, em torno da segunda ou terceira década, numa razão homem: mulher de 1,42:1 3,4. No que diz respeito ao gênero mais acometido, nosso estudo contraría a literatura, sendo que a maioria dos casos ocorreram em mulheres entre a segunda e terceira década de vida. Odonto 2012; 20(40): 67-72 71

Tumor odontogênico ceratocístico - levantamento de casos e revisão de literatura Sinais e Sintomas estão na maioria das vezes ausentes, sendo muitas vezes descobertos em exames radiográficos de rotina 3,5. Em casos de lesões mais extensas, observa-se tumefação, drenagem ou dor associada, aumento de volume de tecidos moles e tecido ósseo, parestesia, mobilidade de dentes envolvidos pela lesão, bem como crescimento lento e deslocamento de peças dentárias 7. Neste estudo, percebemos que a queixa de abaulamento foi o relato mais encontrado, seguido de presença de secreção, formação de fístula e dente incluso associado a lesão. Em relação a parestesia, não houveram relatos. Radiograficamente, o TOC apresenta-se como uma lesão radiolúcida uni ou multilocular, bem circunscrita, e pode envolver dentes não erupcionados, exibindo ainda deslocamento de dentes impactados ou erupcionados, reabsorção radicular e extrusão dos dentes envolvidos 1,3-5. Neste aspecto, nosso estudo condiz com a literatura, sendo a maior parte das lesões descritas nos laudos foram uniloculares (27% dos casos), 20,8% apresentavam imagem radiolúcida multilocular. A presença de dente incluso associado foi relatada em uma menor proporção de caso, cerca de 10,41%. CONCLUSÃO É fundamental para o sucesso do tratamento do tumor odontogênico ceratocístico, o conhecimento por parte do cirurgião-dentista de lesões tumorais de origem odontogênica, para que um correto e precoce diagnóstico seja executado, levando a melhor escolha do tratamento e, consequentemente um prognóstico favorável. Os dados observados em nosso levantamento de casos mostram que os aspectos clínicos e radiográficos, de localização topográfica da lesão, gênero do paciente e faixa etária, podem variar bastante, assim o CD deve estar atento a esta variedade de aspectos e incluir como hipótese o TOC, sempre encaminhando o material para o exame histopatológico por ser fundamental para o diagnóstico definitivo. O tumor requer procedimentos terapêuticos apropriados para sucesso do tratamento. REFERÊNCIAS 1. Lira ABB, Cunha BB, Brito HBS, Godoy GP, Queiroz LMG. Tumor Odontogênico Ceratocistico. Rev Sul-Brasileira Odontol 2010; 7(1):95-99. 2. Santos TS, Antunes AA, Avelar RL, Antunes AP. Cistos odontogênicos: estudo epidemiologico de 72 casos. Rev Bras Cir Cab Pesc 2005; 36(1):30-32. 3. Lopes MWF, Souza GFM, Carvalho EJA, Gondola AO. Aspectos clínicos e morfológicos do ceratocisto odontogenico: relato de caso. Odontol Clin-Cient 2004; 3(1):61-66. 4. Marques JA, Neves JL, Alencar DA, Lemos IM, Marques LC. Ceratocisto odontogênico: relato de caso. Sitientibus 2006; 34:59-69. 5. Fetter F, Grasselli S, Batista FC, Schneider LE, Krause RGS, Smidt R. Ceratocisto odontogênico envolvendo corpo e ramo mandibular em pacientes jovens: relato de caso. Stomatos 2004; 10(18):53-59. 6. Sousa FACG, Vieira EMM, Kantorsky KZ, Rosa LEB. Querarocisto odontogênico: um estudo retrospectivo. Rev Pós-Grad 2007; 13(4):324-327. 7. Shear M. Cistos da região bucomaxilofacial - diagnóstico e tratamento. 3. ed. São Paulo: Ed. Santos; 1999. 8. Meara JG, Li K, Shah SS. Odontogenic keratocyst in the pediatric population. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 1996; 122(7):725-8. 9. Myoung H, Hong SP, Hong SD. Odontogenic keratocyst: review of 256 cases for recurrence and clinicopathologic parameters. Oral Sur Oral Med Oral Pathol Oral Radiol & Endod 2001; 91(3):328-33. 10. Marcucci M. Tratamento cirúrgico e terapêutico complementar dos queratocistos odontogênicos: revisão de literatura [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia USP; 2002. 11. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral e maxilofacial. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2004. p. 570-573. 12. Gil JN, Domingues AM, Claus JDP. Ceratocisto odontogênico. Cistos odontogênicos intra- ósseos: diagnóstico e tratamento. 1. ed.; 2007. p. 45-59. 72 Odonto 2012; 20(40): 67-72