EMPREENDIMENTO ECONOMICO SOLIDÁRIO: CONCEPÇÃO, PRINCÍPIOS E VALORES DA EMPRESA ART FINAL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÓVEIS PLANEJADOS LTDA.



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Transcrição:

EMPREENDIMENTO ECONOMICO SOLIDÁRIO: CONCEPÇÃO, PRINCÍPIOS E VALORES DA EMPRESA ART FINAL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÓVEIS PLANEJADOS LTDA. Juliano Branco de Moura Uniplac julianobranco5@gmail.com 1 Geraldo Augusto Locks Uniplac geraldolocks@gmail.com 2 ÁREA TEMÁTICA: 6. Desenvolvimento Social, Economia Solidária e Políticas Públicas RESUMO Este artigo analisa características e desenvolvimento do empreendimento econômico solidário Art Final Indústria e Comércio de Móveis Planejados, localizado no bairro São Miguel, cidade de Lages, SC. Para alcançar este objetivo realiza-se uma pesquisa de caráter qualitativo e bibliográfica. A técnica do estudo de caso com a realização de entrevistas com participantes do empreendimento foi o caminho para se obter a coleta de dados. Os principais referenciais teóricos utilizados para fundamentar e analisar os dados foram Singer, Gonter, Mance, Mészaros e Boaventura. Do ponto dos resultados obtidos, constatou-se que o empreendimento Art Final emergiu de uma empresa dissolvida no início dos anos 2000. O empresário com a declaração de falência gerada pela situação de insolvência repassou judicialmente a razão social da empresa e os equipamentos aos seis trabalhadores contratados como forma de ressarcir os direitos trabalhistas e salários atrasados. Os seis trabalhadores assumiram as dívidas com terceiros e as saldaram com o trabalho de fabricação de móveis sob medida, concomitantemente, passaram a garantir o seu sustento e de suas famílias. Depois de sete anos de funcionamento da empresa, os trabalhadores tiveram conhecimento de que seu empreendimento continha valores que configuravam a economia solidária, pois a administração se caracterizava pelos princípios da autogestão, participação efetiva dos sócios, solidariedade e a distribuição equitativa do excedente social resultante do trabalho associado. Atualmente o empreendimento Art Final, está inscrito no cadastro nacional dos empreendimentos econômicos solidários (CADSOL) no portal da Secretaria Nacional de Economia Solidária/Ministério do Trabalho e Emprego. Está vinculada e acompanhada pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade do Planalto Catarinense (ITCP/UNIPLAC). Trata-se uma empresa recuperada da lógica empresarial individual transitando para a lógica do empreendimento econômico social. Atualmente o desafio reside em conquistar um 1 Graduado em Administração pela FACVEST, Especialista em Gestão Empresarial e Gestão Logística Empresarial. Mestrando do PPGE Mestrado Acadêmico em Educação, Uniplac. E-mail: julianobranco5@gmail.com 2 Graduado em Ciências Sociais pela UNIPLAC, Mestre e Doutor em Antropologia pela UFSC, Pós-Doc em Educação pela UFSC. Professor do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC). E mail: geraldolocks@gmail.com

terreno urbano para construir sede própria e desta forma liberta-se do aluguel, passo estratégico para sua consolidação. Palavras-chave: Economia Solidária. Art Final Indústria e Comércio de Móveis Planejados Ltda. Empreendimento Econômico Recuperado. INTRODUÇÃO Este artigo analisa características e desenvolvimento do empreendimento econômico solidário Art Final Indústria e Comércio de Móveis Planejados, localizado no bairro São Miguel, cidade de Lages, SC. Trata-se de uma empresa recuperada, pois sua histórica demonstra que transitou da condição de um empreendimento econômico individual para um empreendimento social. Para a realização deste trabalho, utilizou-se a pesquisa qualitativa onde o ambiente é a fonte de bases dos dados, pesquisa de campo sob a forma de questionário semiestruturado o qual visava obter informações a respeito do empreendimento. Entre os seis trabalhadores que compõem o empreendimento, dois foram entrevistados, um deles envolvido com a produção interna e outro ocupado com a comercialização, combinado com os primeiros planejamentos e montagem dos móveis. Ou seja, os dois entrevistados situam-se no início e final da cadeia produtiva. A exclusão dos demais se deu pela redundância das informações. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica com o intuito de dialogar com autores que já estudaram ou se encontram engajados no tema e na política pública da economia solidária. Foi útil também para a análise dos dados recolhidos em campo. A análise está referenciada em dados históricos apresentados pelos entrevistados e tem caráter comparativo na medida em que problematiza o modo de produção capitalista hegemônico na sociedade confrontado com outro modo de organizar a economia, a chamada outra economia, porque se fundamenta nos valores e princípios da economia solidária: autogestão, participação, solidariedade, repartição equitativa do resultado do trabalho associado, cuidado com o meio ambiente e responsabilidade com o entorno social e econômico no qual se situa o empreendimento. Na sequência realiza-se uma análise histórica do Art Final, a percepção dos entrevistados sobre características e desenvolvimento do empreendimento.

ANÁLISE HISTÓRICA A empresa Art Final Indústria e Comércio de Móveis Planejados Ltda., fundou-se em meados do ano de 2008, na cidade de Lages/SC, através da absorção onde o exproprietário utilizou da realização de um processo de transferência da empresa, onde a mesma estava em fase de falência devido a sua insolvência e não tendo condições de realizar o acerto dos funcionários, foi concretizada através de um repasse judicial para a consecução e acertos das dívidas trabalhistas para com os funcionários, restando algumas dívidas com terceiros onde às mesmas foram acertadas com o pagamento em forma de fabricação de móveis, iniciando então o empreendimento de economia solidária. A antiga empresa estava a cerca de quatro anos no mercado. Para Gonter (2011, p. 164): O fechamento ou a falência das empresas vai se delineando no decorrer de sua gestão, que pode estar motivado por: Resultados baixos: podem não expressar o retorno esperado pelos donos do capital, não alcançando a TMA (taxa mínima de atratividade) do negócio. Insolvência: tem dificuldade de liquidez, de transformar seus ativos em caixa. A partir deste momento, pode-se agravar a situação, partindo-se para resultados negativos. Resultados Negativos: a empresa não tem como se manter ao longo do tempo com resultados negativos, vai aumentando o seu prejuízo e alcança níveis nos quais não tem mais credibilidade ou, ainda, seu ativo não cobre o passivo. Para retratar o estudo Singer apud Moraes (2011, p. 68) a economia solidária é caracterizada como fruto do anseio de construir uma sociedade melhor do que a atual. E por esse motivo a economia solidária adapta-se aos princípios e valores de quem a aplica. O empreendimento atua no segmento de móveis planejados, trabalhando nas linhas comerciais e residenciais. A empresa já conta com uma organização em escala de lideranças, mas opera pelo sistema informal para a tomada de decisões de modo coletivo, conta com sua unidade fabril alugada, esta que retira boa parte de seus dividendos. Atua em sua parte financeira com o apoio de um contador dando suporte aos processos burocráticos contábeis para a empresa, realizando as folhas de pagamentos dos mesmos através de pró-labore. Atualmente a empresa é composta pelos seis sócios iniciais, sendo que cinco trabalham na produção dos móveis e um trabalha com a venda e montagem e já conta com a participação de mais dois associados, uma trabalhando como auxiliar administrativo, onde a mesma realiza os projetos em programa específicos e também a

parte burocrática financeira do empreendimento solidário. O último realiza os trabalhos externos na parte de montagem. Alinham seus horários de trabalho através do sistema de cartão ponto manual. O sistema organizacional de produção é a de ordem de entrega dos pedidos, para alinhamento de seu sistema produtivo. A compra ainda é realizada através do mercado regional pela quantidade encomendada e agilidade nas entregas. Inicialmente o grupo de trabalhadores teve grande dificuldade, devida a nenhum de seus sócios trabalharem com a parte comercial, ocasionando a falta de serviço. Para suprir esta demanda, o grupo passou neste período a prestar serviços de fabricação e montagem para consumidores mais conhecidos, iniciando assim um ciclo de clientela e indicações dando origem a propulsão para e engrandecimento desta empresa que já é reconhecida no cenário local e regional. Atualmente a Art Final atende clientes localizados no litoral de Santa Catarina. Para o futuro o empreendimento Art Final busca a melhoria no maquinário em vista de melhor qualidade e desenvolvimento de seus produtos. Tem também em sua visão a importância da aquisição de uma sede própria, pois o que se utiliza é locado, reduzindo assim seus resultados líquidos. Também neste caminho, busca-se a melhoria nos equipamentos automotores. Hoje conta com uma pequena camionete de pequeno porte, e uma moto para o deslocamento rápido dos funcionários. O caminho para a negociação de sede própria já começou no diálogo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento. Tudo indica, sendo os entrevistados, que as dificuldades de ordem burocrática e de vontade política serão grandes. Isto porque, até então, no município de Lages, não existia explicitamente o reconhecimento por parte da gestão pública da economia solidária. Somente em dezembro de 2014 é que, por pressão do Fórum Regional de Economia Solidária, Entidades Apoiadoras e Representantes de Órgãos Públicos conseguiu-se sensibilizar a Câmara de Vereadores para aprovar a Lei Municipal de Economia Solidária. A ECONOMIA SOLIDÁRIA NA ÓTICA DOS EMPREENDEDORES Para a realização do estudo foram disponibilizados aos empreendedores dois questionários semiestruturados, onde nestes continham perguntas referentes à economia solidária, seus conhecimentos sobre o assunto, e necessidades encontradas pelos

mesmos para a realização e normatização de suas atividades. Para os trabalhadores entrevistados denominados de Empreendedor Solidário 1 (ES1) e Empreendedor Solidário 2 (ES2). A pesquisa foi realizada com quatro questões, sendo elas, 1. A empresa iniciou com vistas ao empreendedorismo solidário? Quais seus conhecimentos sobre economia solidária? 2. O empreendimento recebe algum tipo de apoio? Se sim, favor descrever quais entidades ou instâncias governamentais que o apoiam, discriminando a forma de apoio: 3. Os empreendedores conhecem alguma rede de economia solidária? Se sim, a empresa Art Final faz parte de alguma rede solidária? 4. Na visão dos empreendedores o crescimento do empreendimento gera benefício e é vantajoso para todos? Como são divididos os ganhos da empresa? Todos participam na gestão e decisões organizacionais? De que forma? 5. Quais as dificuldades iniciais e atuais para o crescimento do empreendimento? Em primeira instância os pesquisados ficaram surpresos com o interesse pela pesquisa, pois até então, não tinham conhecimento que seu empreendimento poderia ser objeto de estudo científico, mas posteriormente foram se soltando e retratando seus conhecimentos e experiências de forma generosa. Para o primeiro questionamento se a empresa iniciou com vistas ao empreendedorismo solidário? Quais seus conhecimentos sobre economia solidária? As respostas foram semelhantes e permitiram ter uma visão sobre a experiência dos mesmos com a economia solidária. Para ES1 e ES2, a princípio a formação da empresa foi uma questão de necessidade, onde os pensamentos dos sócios visavam como se sustentar no caso de não receberem seus acertos e sim uma empresa para a realização de um trabalho para a obtenção de lucro e sustento da família. Gem, (2007), reflete que o Brasil é cercado por sua desigualdade social, embora percebida melhoras, ainda é uma das mais distanciadas no mundo. Para Santos (2007, p. 4): O empreender por necessidade como uma necessidade de segurança ou ainda de sobrevivência. Portanto, empreendedores por necessidade consistem naqueles que iniciam negócios motivados pela falta de alternativa satisfatória de ocupação e renda. Já os empreendedores por oportunidade, são motivados pela percepção de um nicho de mercado em potencial. A respeito de seus conhecimentos sobre a economia solidária, ambos relataram que souberam desta modalidade há pouco tempo, e nem se davam conta de que a mesma

existia. O princípio que orientava a iniciativa, as ações e a geração de renda no empreendimento, segundo os entrevistados, tinha a finalidade de manutenção familiar. Esta constatação demonstra que os trabalhadores do Art Final já desenvolviam princípios da economia solidária desde sua origem, pois eles buscavam a sustentação familiar baseada no próprio trabalho associado, não coexistindo com a lógica da exploração do homem sobre o homem ou do capital sobre o trabalho. Para a segunda pergunta foi verificado se o empreendimento recebe algum tipo de apoio do Governo? Em caso positivo, referir à forma de apoio. O entrevistado ES1 relatou que houve a aproximação e um início de trabalho com Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) para o qual os empreendedores solidários não deram continuidade, devido aos investimentos necessários para a realização dos cursos que lhes foram oferecidos. Para Dornelas (2008) o SEBRAE é a principal entidade de apoio aos empreendedores brasileiros. Presta serviços de consultoria aos empresários, incluindo a abertura de um negócio, e toda sua estruturação perante sua estrutura de gestão empresarial. A outra oportunidade de busca de apoio, segundo os entrevistados foi à integração junto ao Fórum Regional de Economia Solidária (FRESOL). Neste espaço o empreendimento encontrou outros grupos que praticam a economia solidária. Entrou para a rede dos empreendimentos em âmbito local, regional e nacional. O apoio caracterizou-se pelo estímulo e encorajamento do Art Final na continuidade de seu desenvolvimento. Disto resultou seu mapeamento no CADSOL, posteriormente na integração aos empreendimentos econômicos solidários incubados pela ITCP/UNIPLAC. No questionamento, Os empreendedores conhecem alguma rede solidária? Se sim, a iniciativa faz parte de alguma rede solidária? O ES1 relata que desconhece o sistema de redes solidárias, mas imagina que esta pode ser benéfica pelo sistema de distribuição de renda e melhora nas condições de vida dos empreendedores solidários que o cercam. Mance (2002, p. 83) afirma que redes solidárias têm como objetivo: O objetivo principal é gerar trabalho e renda para as pessoas que estão desempregadas e marginalizadas, melhorar o padrão de consumo de todos os que dela participam proteger o meio ambiente e construir uma nova sociedade em que não haja a exploração das pessoas ou a degradação do equilíbrio ecológico. Um dos itens que mais chamou a atenção dos entrevistados, devido a sua extensão e complexidade foi: Na visão dos empreendedores o crescimento da organização gera benefício e vantagem para todos? Como são divididos os ganhos da

empresa? Todos participam na gestão e decisões organizacionais? Conforme o entrevistado ES2 Sim, pois certifica o alicerce da empresa e renova as esperanças de melhores ganhos. Os ganhos são recebidos via pró-labore todos com salários fixos, folha ponto assinada e descontos legais. Para ES1 a empresa organiza suas decisões de forma coletiva, onde todos participam e opinam no sistema de gestão. Spers (2009, p. 38) alinha a temática em verificar que: A cultura pode ser vista com uma forma de tradução e compreensão da realidade organizacional, pois ela se sustenta em normas e costumes seguidos por todos. A aplicação de uma regra deve ser precedida pela interpretação da cultura na qual a incidirá, como também pela situação específica que se traduz pelo contexto. O sistema cultural tem grande influência no sistema organizacional, neste não é diferente, pois os mesmos trabalham há vários anos numa sistemática constante por eles organizada. É sabido que predomina a cultura do modo de produção capitalista da vida na sociedade brasileira, onde as relações de dominação e exploração produzem as contradições e contraste presentes na sociedade. Em contraposição, pode ser identificada a cultura da solidariedade com seus valores ancestrais, presentes nos grupos étnicos indígenas, afrodescendentes, mesmo em comunidades tradicionais. As formas de troca de dia, mutirões ou puxirões estão presentes em experiências, vivências comunitárias, particularmente no meio rural brasileiro e na região do Planalto Catarinense. (LOCKS, 1998). Portanto, pode-se contar com um substrato cultural a ser trabalhado como suporte no desenvolvimento da economia solidária. Diante da pergunta verificando quais foram às dificuldades iniciais e atuais para o crescimento do empreendimento? Nesta resposta os entrevistados abordaram a indagação de forma correlata, evidenciando inicialmente que seus problemas estavam na falta de experiência na área comercial, pois todos os empreendedores solidários desta empresa tinham experiência somente na área produtiva, levando um bom tempo para a aderência no mercado devido a este quesito. Outro relata foi o de arcar com algumas dívidas para com a absorção da empresa, atrasando o tempo de reação da empresa recém-adquirida pelos mesmos. Para a atualidade, a visão de crescimento é na melhoria de equipamentos, em vista da realização dos trabalhos e aumento da produtividade, reduzindo a margem de erro; outro aspecto é a necessidade de aquisição de uma sede própria, que segundo os entrevistados, seria a melhor forma de estabilização e organização financeira, e também na estrutura dos veículos para melhoria nos transportes e na imagem da empresa. Para Slack et al (2009) as funções dentro da

empresa são primordiais para o sucesso da organização, este vê e divide os setores por funções centrais, conforme se correlata com o exposto acima, a função comercial tem função plena para a ligação da empresa com o mercado, pois faz a conexão entre as necessidades de mercado e a realização dos pedidos. Já a função produção, tem por objetivo satisfazer as solicitações dos clientes por meio da produção e entrega das solicitações. Ainda insere não menos importantes as funções de apoio como a contábilfinanceira, recursos humanos e informação/tecnologia. A ECONOMIA SOLIDÁRIA: ALTERNATIVA AO CAPITALISMO A temática do capitalismo, atualmente o principal sistema econômico mundial, tem como características a propriedade privada dos meios de produção, o trabalho assalariado e a liberdade dos agentes econômicos (empresas, famílias, mercado, estado e resto do mundo). Neste Singer (1987, p. 8) insere que: O que move o capitalismo é o capital constituído em empresa. [...] O que caracteriza acima de tudo é a unidade de proposto: o lucro. O capital é valor que se valoriza, valor que engendra mais valor. A empresa se apresenta como entidade a serviço dos seus consumidores e dos seus empregadores (chamados de colaboradores ). Mas esta aparência é enganadora. A empresa capitalista está a serviço dos seus possuidores, isto é, dos que nela mandam. Para o socialismo estatal as propriedades produtivas estariam nas mãos do governo. Para tanto Singer (2006, p. 183) retrata o socialismo como: A luta pelo socialismo almeja, hoje em dia, não tanto a abolição da propriedade privada dos meios de produção que, no capitalismo monopólico, se tornou um pouco mais que uma ficção jurídica (os donos das grandes empresas são incontáveis acionistas, com quase nenhum poder de decisão), mas a eliminação da hierarquia de mando nas unidades de produção e distribuição. Formando então conforme Singer (2006) novas forças produtivas contingentes, sem a existência da separação do emprego manual do emprego intelectual, fazendo com que estes atuem em consonância. ECONOMIA SOLIDÁRIA A proposta da economia solidária se inicia no século XVIII através de grandes projetos do socialismo idealizados por Robert Owen que alicerça o olhar em querer alterar a visão global de que o sistema é incorrigível, onde o efeito de remediar

situações de inconsistência de mercado ainda é a questão do poder do capital. A ideia foi de uma mudança radical, através de todos os meios disponíveis, forçando o rompimento da lógica nesta sociedade implantada. Sendo as cooperativas as formas mais clássicas de economia solidária. Para tanto Singer (2005, p. 83) coloca que: A economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego resultantes da difusão desregulamentada das máquinas-ferramenta e do motor a vapor no início do século XIX, as cooperativas eram tentativas por parte de trabalhadores de recuperar trabalho e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas. Sua estruturação obedecia aos valores básicos do movimento operário de igualdade e democracia sintetizado na ideologia do socialismo. Na perspectiva do socialismo, Singer (2006) coloca que Marx no século XIX lançou uma hipótese que a sociedade socialista se tornará necessária quando o conhecimento sobre a natureza chegar a um ponto de ser a única forma de satisfazer as sociedades humanas. Para Mészaros (2005), o sistema atual existente insere um formato de classes sociais com grande disparidade, onde quem é rico é bem rico e quem divide a carteira dos mais e menos abastado ainda é a classe média bem distante das realidades dos sujeitos acima citados, e também da grande maioria da população de classe inferior onde nem a honestidade e integralidade do trabalho são mais respeitadas devido à diferença nos sistemas regidos na atualidade, estes que são a força motriz da máquina capitalista. Economia Solidária traz a perspectiva de uma sociedade fundada na visão da igualdade democrática, social e econômica, como proposta estrutural, a economia solidária. Neste Morais (2011) disserta que na atualidade existem duas discussões que permeiam as estratégias da economia solidária, uma no sentido da organização politica dos trabalhadores empregados e a outra de proporcionar uma forma de trabalho não capitalista, para os excluídos economicamente. Ainda nesta sistemática precisa-se lutar contra a fome, contra as diferenças, contra a miséria, redistribuição de renda e a democratização das oportunidades, isto faz com que a economia solidária afixe como item importante para o desenvolvimento. Para isso a mesma é uma maneira de organizar as atividades econômicas produção, distribuição e consumo, tornando os empreendimentos dos trabalhadores inseridos em um sistema no

qual não haja patrão, e os mesmos não sejam tratados como empregados, e que todos possam gerir de forma mútua. A aproximação com a economia solidária, segundo portal Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) se dá pelos moldes que a cercam como a cooperação sensibilizadas pela existência de interesses e objetivos comuns. Da autogestão em que todos participam das execuções e definições estratégicas onde atuam. Da dimensão econômica que visa desenvolvimento através de esforços para a geração de renda. E por último a solidariedade disponibilizada na distribuição igualitária dos rendimentos, melhorias nas condições de vida, questões de sustentabilidade entre outros. E que também existem fontes de fomento a estes empreendedores como é o caso das cooperativas de crédito, bancos comunitários ou fundos rotativos solidários. Para tanto a economia solidária se apresenta de forma a abraçar as práticas sociais, em padrões mais amplos sem a existência das divisões de classes como parâmetro e também sem as estruturas geridas por um único proprietário como se apresenta o modo de produção econômico capitalista. CONSIDERAÇÕES FINAIS A empresa estudada Art Final teve sua origem através da recuperação orientada pelos princípios do empreendimento econômico solidário. Como se viu, os trabalhadores não detinham consciência desta situação. Os dados recolhidos em campo demonstram a economia solidária realmente funciona, é eficaz e neste caso traz benefícios a seis famílias que trabalham no empreendimento, pois retiram dele retiram renda garantido à vida digna e de qualidade para suas famílias. Revelam também, a capacidade de autogestão, cooperação e solidariedade, prática de justiça social entre os trabalhadores. O estudo mostra como a economia solidária se dá de forma benéfica para com os sujeitos que dela participam. O processo de tratamento e desenvolvimento igualitário fortalece o cuidado o meio ambiente, ao mesmo tempo, resgata valores culturais ancestrais que sedimentam a economia solidária no Planalto Catarinense. Observa-se que o trabalho associado, garante uma perspectiva de melhoria e geração de renda de forma mais ampla, pois as práticas e valores aplicados respondem

de forma mais abrangente as necessidade dos trabalhadores organizados. Reside aí a estratégia de erradicação da pobreza, do exercício da cidadania e da autonomia dos sujeitos. Indiscutivelmente, a economia solidária tendo base este estudo, se mostra uma alternativa ao sistema capitalista contemporâneo. As dificuldades existem, mas os trabalhadores da empresa Art Final Indústria e Comércio de Móveis Planejados Ltda, demonstram que este outro caminho trilhado pelos princípios e valores da economia solidária, apontam para outro mundo possível já em realização. REFERÊNCIAS DORNELAS, José Carlos de Assis. Empreendedorismo. Transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM), Swiss Executive Report 2007, site www.gemconsortium.org. Acesso em 04/07/2014. GONTER, Bartel. Gestão Financeira. 2ª ed. Indaial: Uniasselvi, 2011. ITCP/ UNIPLAC. Chamada MCTI/SECIS/TEM/SENAES/CNPq Nº 89/2013 LOCKS, Geraldo Augusto. A identidade dos Agricultores Familiares de São José do Cerrito. Dissertação de Mestrado. Departamento de Antropologia. UFSC. 1998. MANCE, Euclides André (ORG). Como organizar redes solidárias. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. MÉSZAROS, Istvan. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo: 2005. PORTAL MTE. Economia Solidária. Disponível em: http://www3.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp. Acesso em 06/07/2014. SANTOS, P.C.F; MINUZZI, J; GARCIA, J. R; LENAZA, A. G. R. Empreender por oportunidade versus necessidade: Um estudo com empreendedores Catarinenses. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Foz do Iguaçu: 09 a 11 de outubro de 2007. SINGER, Paul. A recente ressurreição da economia Solidária no Brasil. In: SANTOS, Boaventura Souza (org.). Produzir para viver: Os caminhos da produção não capitalista. Reinventar a emancipação social: para novos manifestos; 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. SINGER, Paul. Aprender economia. 24 ed. São Paulo: Contexto, 2006. SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo: Moderna, 1987.

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