Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) RISCO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGAOS

Documentos relacionados
APLICAÇÃO DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE E DO MÉTODO DE NESTEROV PARA CÁLCULO DO ÍNDICE DE INCÊNDIO PARA MINAS GERAIS

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Uso de sistemas de informações geográficas aplicados à prevenção e combate a incêndios em fragmentos florestais

DETERMINAÇÃO DO RISCO DE INCÊNDIOS NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG, UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E ÍNDICE CLIMÁTICO.

ANÁLISE DOS RISCOS DE OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT

Zoneamento de risco de incêndios florestais para a bacia hidrográfica do Córrego Santo Antônio, São Francisco Xavier (SP)

Anais do III Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais

Mapeamento de índice de risco de incêndio para a Região da Grande Vitória/ES, utilizando imagens do satélite LANDSAT para o ano de 2002

Avaliação dos focos de calor e da fórmula de Monte Alegre no parque Nacional da Chapada dos Guimarães

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

Fillipe Tamiozzo Pereira Torres 1, Guido Assunção Ribeiro 2, Sebastião Venâncio Martins 2 e Gumercindo Souza Lima 2.

Mapeamento de Risco de Incêndios na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Rio João Leito-GO

IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE QUEIMADAS NA ILHA DO BANANAL NO PERÍODO DE 2008 A 2012 UTILIZANDO IMAGENS DO SATÉLITE TM/LANDSAT-5.

PARQUE ESTADUAL DO JALAPÃO - PEJ. Manejo Integrado do Fogo MIF

Análise temporal da ação antrópica sobre diferentes fitofisionomias da Mata Atlântica nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro

ESTIMATIVA DA PRECIPITAÇÃO EFETIVA PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE IBOTIRAMA, BA Apresentação: Pôster

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE PARA O MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA PR

FMA + - UM NOVO ÍNDICE DE PERIGO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS PARA O ESTADO DO PARANÁ, BRASIL

Alternativas ao uso do fogo no manejo agrícola, pastoril e florestal. Prevenir é melhor do que apagar!

Análise Climática Dos Focos De Incêndios Na Estação Ecológica De Uruçuí-Una No Estado Do Piauí

Avaliação do Combate aos Incêndios Florestais no Parque Nacional da Serra da Canastra

Para compreendermos a influência que os sistemas atmosféricos exercem nas

Relatório de Ocorrência de Incêndio Florestal N. 009 /2015

Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas globais sobre os setores de Agropecuária, Floresta e Energia

Utilização de sistema de informação de dados climáticos para cálculo de índices de risco de incêndio para a sub-região da Nhecolândia

ANÁLISE DA DENSIDADE DAS ÁREAS AFETADAS POR QUEIMADAS NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA

Estudo do efeito borda em fragmentos da vegetação nativa na bacia hidrográfica do Córrego do Jacu Queimado (SP)

ESTUDO DA DIREÇÃO PREDOMINANTE DO VENTO EM TERESINA - PIAUÍ

Estimativa de risco de incêndios florestais em unidades de conservação no bioma caatinga no estado da Paraíba, Brasil

Índices de risco de incêndios florestais em Juiz de Fora/MG. Efficiency of indices of risk of forest fire in Juiz de Fora/MG

ZONEAMENTO EDAFOCLIMÁTICO PARA A CULTURA DO EUCALIPTO (Eucalyptus spp) NO ESTADO DO TOCANTINS

Desempenho de Alguns Índices de Risco de Incêndios em Plantios de Eucalipto no Norte do Espírito Santo

Estimativa dos riscos de ocorrência de incêndios florestais no Parque Estadual Pico do Jabre, na Paraíba

Incêndios florestais e ordenamento do território

ZONEAMENTO DE RISCO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS VEADEIROS GO

Incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães-MT entre 2005 e 2014

XIII SBGFA SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA

Soc o i c o i - o B - io i d o i d v i e v r e si s da d de do Brasil

Ocorrência de incêndios florestais em Caicó e Natal - RN. Forest fire hazard in Caicó and Natal - RN

Manejo Integrado do Fogo Simone Fonseca. Experiência do Parque Nacional das Sempre Vivas

SILVICULTURA PREVENTIVA Uma alternativa para o controle de incêndios florestais em reflorestamentos

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO DE VERÃO. Características do Verão

ÁREAS VERDES DE SÃO PAULO Conferência P+L e Mudanças Climáticas São Paulo, dezembro de 2017

MAPEAMENTO DAS OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA-BA NO ANO DE 2015

Dinâmica da paisagem e seus impactos em uma Floresta Urbana no Nordeste do Brasil

Programa Analítico de Disciplina ENF445 Proteção Contra Incêndios Florestais

Palavras-chave: Sensoriamento remoto, Levantamento fitossociológico.

INDICATIVOS DE DESMATAMENTOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COM BASE EM DADOS ORBITAIS: UMA ANÁLISE TEMPORAL ( ) PARA O CERRADO GOIANO Manuel

PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE PERÍODOS SECOS NAS SEIS MESORREGIÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

ESPECIFICAÇÃO SERVIÇO PJ Contratação de Serviço pessoa jurídica para desenvolvimento de atividades para o Projeto

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E ZONA DE AMORTECIMENTO

LICENCIAMENTO E COMPENSAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DE MINAS GERAIS: estudos de casos de empreendimentos minerários no Quadrilátero Ferrífero - MG

Endereço da sede da unidade Estrada do Parque Nacional, km 8,5 Municipio Itatiaia - RJ Telefo(24) /7001 Endereço Eletrônico da unidade

DESEMPENHO DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE (FMA) E DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE ALTERADA (FMA + ) NO DISTRITO FLORESTAL DE MONTE ALEGRE

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

Pensando o Zoneamento e a diversidade de visitação: entraves e propostas de otimização

Geografia. Os Biomas Brasileiros. Professor Thomás Teixeira.

4 Área de Estudo e Amostragem

TERMO DE REFERÊNCIA. Projeto de Reflorestamento com Espécies Nativas no Bioma Mata Atlântica Paraná Brasil


SUMÁRIO CONSTITUIÇÃO FEDERAL

ANÁLISE DA ESTRUTURA DA PAISAGEM DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE GUARAQUEÇABA, PARANÁ - BRASIL

ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS DO PIAUÍ

FMA+ - UM NOVO ÍNDICE DE PERIGO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS PARA O ESTADO DO PARANÁ

Mosaico Mantiqueira. Clarismundo Benfica. São Paulo, Maio de 2009

INFOQUEIMA BOLETIM MENSAL DE MONITORAMENTO

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

ÍNDICES DE EROSIVIDADE EI 30 E KE>25 PARA O ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2 a APROXIMAÇÃO

DETECÇÃO DE FOCOS DE CALOR NO ESTADO DO PARANÁ NO ANO DE 2005 E COMPARAÇÃO COM O ÍNDICE DE RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL

Distribuição Espaço-temporal das Queimadas no Bioma Cerrado no Período de 1992 a 2007*

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE QUEIMADAS E PREVENÇÃO DE CONTROLE DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO ARCO DO DESFLORESTAMENTO NA AMAZÔNIA (PROARCO)

SITUAÇÃO SOBRE A PREVENÇÃO AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NA MANNESMANN FI-EL FLORESTAL

MÉTODOS PARA PREVENÇÃO, DETECÇÃO, COMUNICAÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Risco de Desmatamento

Mil Madeiras Preciosas ltda. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PC-007/2007

APLICAÇÃO DO MODELO THORNTHWAITE-CAMARGO PARA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL EM QUATRO CIDADES PARAIBANAS

DISTRIBUIÇÃO SAZONAL DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICIPIO DE SÃO MATEUS/ES

Operação Somos Todos Olímpicos

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS ÍNDICES DE PERIGO DE OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS PARA O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA, SERGIPE.

TENDÊNCIAS DE ÍNDICES DE EXTREMOS CLIMÁTICOS PARA A REGIÃO DE MANAUS-AM

INFOQUEIMA BOLETIM MENSAL DE MONITORAMENTO

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Metodologia adotada pelas iniciativas de monitoramento do Atlas da Mata Atlântica e do MapBiomas

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. ICMBio. cláudio C. Maretti presidente set. 23

DESEMPENHO DA "FÓRMULA DE MONTE ALEGRE" ÍNDICE BRASILEIRO DE PERIGO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS. Ronaldo Viana Soares 1

Ocorrência de incêndios florestais na região de Bom Jesus, Sul do Estado do Piauí.

Acesse também os vídeos das palestras do dia 05/07 no canal Youtube do Sistema Labgis

V M V & M FLORESTAL PREVENÇÃO E CONTROLE DE INCÊNDIOS NA V & M FLORESTAL LTDA

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

ANÁLISE DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE ALTERADA (FMA + ) PARA O ESTADO DO PARANÁ

DIREITO AMBIENTAL. Proteção do Meio Ambiente em Normas Infraconstitucionais- Mata Atlântica Lei nº /06 Parte 1. Prof.

Unidades de Conservação

Avaliação dos riscos de ocorrência de incêndios florestais nas regiões Norte e Noroeste da Amazônia Matogrossense

Resistência à penetração do solo em plantio de castanha dobrasil(bertholletia excelsa Bonpl.) em Machadinho d Oeste, RO

AGEVAP ENTIDADE DELEGATÁRIA NAS FUNÇÕES DE AGÊNCIA DE BACIA

MÓDULO IV PLANO DE AÇÃO

Geotecnologias aplicadas ao monitoramento de incêndios florestais na região da REDEC-I 7 do estado de São Paulo - Brasil

Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

CENSO POPULACIONAL REGISTRA MAIS DE 7 MIL PAPAGAIOS-DE-CARA-ROXA

DETERMINAÇÃO DOS PERÍODOS CRÍTICOS DE OCORRÊNCIA DE INCÊN- DIOS FLORESTAIS NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO SERIDÓ, SERRA NEGRA DO NORTE-RN 1

Transcrição:

RISCO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGAOS João Flávio Costa dos Santos 1 ; Sidney Geraldo Silveira Velloso 1 ; Bruno Araújo Furtado de Mendonça 2 ( 1 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa-MG, joao.flavio@ufv.br; 2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas, Departamento de Silvicultura, Seropédica-RJ.) RESUMO Os incêndios florestais são um grande desafio à conservação da biodiversidade em Unidades de Conservação. Neste trabalho, a acurácia da Fórmula de Monte Alegre (FMA) para predição de incêndios no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO) foi avaliada. Nosso objetivo foi verificar se a FMA é um bom índice de riso de incêndios (IRI) para ser adotado pela administração do Parque. Avaliamos registros de ocorrência de incêndios no período de 2007 a 2014 e utilizamos dados meteorológicos da Estação Teresópolis. Os resultados obtidos indicam um bom desempenho da FMA. Os incêndios ocorrem principalmente entre julho e outubro, período da estiagem e maiores valores de FMA. A maioria das ocorrências de incêndios foi registrada em locais ao entorno do parque, sugerindo forte influência antrópica. Palavras-chave: Fórmula de Monte Alegre, monitoramento de incêndios florestais, proteção florestal. INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios na gestão de Unidades de Conservação (UC) da Mata Atlântica é a prevenção de incêndios florestais. A ocorrência de incêndios florestais tem impacto direto sobre a biodiversidade, põe em risco a conservação dos recursos naturais e traz várias consequências de ordem econômica e para a saúde pública (Medeiros & Fiedler, 2004; Vadrevu et al. 2010). O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO) protege, desde 1939, um importante remanescente de floresta ombrófila densa (20.030 ha) no estado do Rio de Janeiro, e abriga 120 espécies de animais ameaçadas de extinção. Apesar da importância, os incêndios florestais têm sido recorrentes nessa UC (ICMBIO 2015). Para prevenir os incêndios florestais algumas ferramentas podem ser utilizadas. Os índices de risco de incêndio (IRI) são bons exemplos de ferramentas de fácil implementação em UCs e que oferecem resultados satisfatórios. A Fórmula de Monte Alegre (FMA) (Soares, 1972) foi o primeiro IRI desenvolvido no Brasil. A FMA foi elaborada com dados meteorológicos e de ocorrência de incêndios florestais na região central do Estado do Paraná. Atualmente, tem sido aplicada por várias empresas e instituições florestais para estimar o risco de incêndios. Apesar de também estarem associadas a causas naturais (como a incidência de raios), as ações antrópicas são as maiores responsáveis pela ocorrência dos incêndios florestais. Há um grande destaque para o manejo de pastagens com uso de fogo, que frequentemente extrapola os limites das propriedades e a frente de fogo avança sobre áreas de cobertura florestal (Medeiros & Fiedler 2004; Aximoff & Rodrigues 2011). Dessa forma, uma das possibilidades do uso dos IRI, é a proibição das queimadas em dias de risco elevado. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho do índice de risco de incêndios calculado através da Fórmula de Monte Alegre no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. MATERIAL E MÉTODOS Nosso estudo abrangeu a área do PARNASO bem como as áreas no entorno dessa UC (Figura 1). Foram levantados os Registros de Ocorrência de Incêndios (ROIs) no período de 2007 a 2014 junto a administração do Parque. Os dados meteorológicos utilizados neste estudo foram obtidos da Estação Teresópolis do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) localizada dentro do PARNASO (22 26 56 S, 42 59 13, 991 m de altitude). 195

Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO). O índice de risco foi calculado de acordo com a Fórmula de Monte Alegre (FMA) de Soares (1972) (Equação 1). em que: FMA-Fórmula de Monte Alegre; n- número de dias sem chuva; e H i umidade relativa do ar [%] medida às 13 horas local. A FMA é um índice cumulativo sujeito a restrições impostas em função da quantidade de chuva diária (Tabela 1). Tabela 1. Restrições para a Fórmula de Monte Alegre -FMA (SOARES, 1972). Chuva diária [mm] Alteração da FMA 2,4 Nenhuma 2,5 a 4,9 Subtrair 30% na FMA calculada na véspera e somar (100/H) do dia. 5,0 a 9,9 Subtrair 60% na FMA calculada na véspera e somar (100/H) do dia. 10,0 a 12,9 Subtrair 80% na FMA calculada na véspera e somar (100/H) do dia. 12,9 Igualar FMA a zero e recomeçar a somatória do dia seguinte A interpretação do resultado obtido com o cálculo da FMA é relacionada a uma escala de cinco categorias: Nulo (FMA=1.0); Pequeno (1,1 FMA 3,0); Médio (3,1 FMA 8,0); Alto (8,1 FMA 20,0); e Muito Alto (FMA > 20,0). O índice de risco calculado pela FMA tem a vantagem da simplicidade de cálculo e exigência de dados de fácil aquisição. Para Unidades de Conservação que contam com estações meteorológicas, como é o caso do PARNASO, esse é um índice de fácil implementação. Através de planilhas eletrônicas, a FMA pode ser atualizada diariamente e indicar o índice de perigo de fogo para aquela data. A etapa seguinte consistiu na comparação entre os ROIs e a interpretação da FMA para cada dia do período avaliado. (1) 196

RESULTADOS E DISCUSSÃO O período de avaliação abrangeu 2.819 dias em função da disponibilidade de dados de umidade relativa e chuva na Estação Teresópolis. A distribuição dos dias em classes de risco pela classificação da FMA é apresentada na tabela 2. Os meses que apresentaram maior quantidade de dias com risco Alto ou Muito Alto foram junho, julho, agosto e setembro, os quais são os meses mais secos do ano. Tabela 2. Distribuição dos dias avaliados (2007 a 2014) em classes de risco de incêndio conforme a Fómula de Monte Alegre. Risco de Incêndio Dias Dias (%) Muito Alto 218 7,73 Alto 572 20,29 Médio 751 26,64 Pequeno 746 26,46 Nulo 532 18,87 2819 100 Foram avaliados 133 ROIs entre 2007 e 2014. Desse quantitativo, 72% dos focos foram registrados na zona de amortecimento e entorno da UC. Esse resultado indica que a maioria das ocorrências de incêndios no PARNASO estão relacionadas a causas antrópicas, com isso há necessidade de intensificar o trabalho de conscientização da comunidade ao entorno da UC. Ao confrontar os ROIs com a classificação da FMA percebe-se que a maioria dos registros (72%) ocorreram em dias de risco Alto e Muito Alto (Figura 2). Na classe de risco Médio foram contabilizados 28 ROIs, oito na classe de risco Pequeno e apenas um ROI foi observado em um dia risco Nulo. Figura 2. Número de Registros de Ocorrência de Incêndios (ROIs) distribuídos em classes de Risco de Incêndio de acordo com a Fórmula de Monte Alegre. Os resultados obtidos indicam um ajuste satisfatório da FMA para o PARNASO. Destaca-se que dentre as 28 ocorrências em dias de risco Médio (3,1 FMA 8,0), 20 deles têm valor de FMA superior a cinco. Dessa forma, recomenda-se que as ações preventivas sejam itensificadas em dias de FMA 5. O ano de 2010 foi o mais crítico para o Parque: 45 ROI (34%) foram contabilizados. Nesse ano foi registrada a menor taxa anual de chuva para o período avaliado (2.328 mm) em 197

comparação a taxa média de chuva (2.851 mm). Entre os dias 13 de junho e 07 de setembro do ano de 2010, foram registrados apenas 8,6 mm de chuva. Em consequência dessa intensa estiagem o índice FMA chegou ao valor extremo de 131 (Figura 3), sendo que a partir do valor 20 o índice já é considerado muito alto. Figura 3. Índice de Perigo de Incêndio calculado pela Fórmula de Monte Alegre (FMACalc) e distribuição dos Registros de Ocorrência de Incêndios (ROI) nos dias do ano de 2010. O caráter generalista do índice também chama atenção. Embora tenha sido desenvolvida em uma região específica do país (região central do Estado do Paraná), a FMA tem mostrado eficiência em regiões como o Pantanal Sul-Mato-Grossense (Soriano et al. 2015) e nas regiões Norte (N) e Noroeste (NW) da Amazônia Matogrossense (Souza et al. 2012). A partir do nível crítico (para o PARNASO recomenda-se o valor FMA 5) algumas medidas podem ser adotadas pela administração do parque, tais como, maior vigilância nas áreas de risco, restrição do acesso a esses locais, construção de aceiros preventivos e reorganização das práticas de manejo (corte, desbaste, limpeza etc.), construção de estradas de acesso rápido aos locais de risco e alocação dos recursos de combate em pontos estratégicos (Ferraz & Vettorazzi 1998). Além disso, intensificar o programa de educação ambiental e comunicação com a comunidade no entorno e visitantes é fundamental para redução dos ROIs. CONCLUSÃO O índice de risco de incêndio baseado na Fórmula de Monte Alegre (FMA) apresentou boa adequação à predição de ocorrência de incêndios no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A partir do índice FMA igual a cinco a administração do Parque intensifique as ações preventivas. Uma vez que os Registros de Ocorrência de Incêndios concentraram-se principalmente em áreas das comunidades ao entorno, é necessário intensificar relações de comunicação e educação ambiental com essas comunidades. AGRADECIMENTOS Agradecemos à administração do Parque Nacional da Serra dos Órgãos por disponibilizar os dados e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa de estudos. 198

REFERÊNCIAS Aximoff I. & Rodrigues R. C. 2011. Histórico dos incêndios florestais no Parque Nacional do Itatiaia.Ciência Florestal, 21 (1): 83-92. Ferraz, S. F. D. B. & Vettorazzi, C. A. 1998. Mapeamento de risco de incêndios florestais por meio de sistema de informações geográficas (SIG). Scientia Forestalis, 53: 39-48. ICMBIO Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO). 2015. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos. [Acesso em 30 de outubro 2015]. Medeiros M. B. & Fiedler N. C. 2004. Incêndios florestais no Parque Nacional da Serra da Canastra: desafios para a conservação da biodiversidade. Ciência Florestal, 14(2): 157-168. Soares, R. V. 1972. Determinação de um índice de perigo de incêndio para a região centro paranaense, Brasil. Tese de Mestrado. Centro Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza. Turrialba, Costa Rica. 72p. Soriano, B. M. A., Daniel, O. & Santos, S.A. 2015. Eficiência de índices de risco de incêndios para o Pantanal Sul-Mato- Grossense.Ciência Florestal, 25(4):809-816. Souza, A. P., Casavecchia, B. H. & Stangerlin, D. M. 2012. Avaliação dos riscos de ocorrência de incendiosflorestais nas regiões Norte e Noroest da Amazônia Matogrossense. Scientia Plena, 8(5): [059904]1-14. Vadrevu, K. P., Eaturu A. & Badarinath K. V. S. 2010. Fire risk evaluation using multicriteria analysis - a case study. Environmental Monitoring and Assessment, 166(1): 223-239. 199