ECLI:PT:TRC:2015: PBFIG.A.C1

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Transcrição:

ECLI:PT:TRC:2015:1277.04.8PBFIG.A.C1 http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ecli:pt:trc:2015:1277.04.8pbfig.a.c1 Relator Nº do Documento Alberto Mira Apenso Data do Acordão 20/05/2015 Data de decisão sumária Votação decisão sumária Tribunal de recurso Processo de recurso Coimbra (instância Local Criminal Da Figueira Da Foz - J1) Data Recurso Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público Meio Processual Decisão Conflito (negativo) De Competência atribuição de competência Indicações eventuais Área Temática Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores pena de substituição; regime de permanência na habitação; competência material; tribunal de execução das penas; tribunal da condenação; Página 1 / 6 12:55:13 14-06-2018

Sumário: I - A intervenção do TEP está materialmente circunscrita a actos relativos à execução de penas e medidas privativas da liberdade em estabelecimentos prisionais. II - Em conformidade, o controlo/acompanhamento do regime de permanência na habitação cabe, não ao TEP, mas sim ao tribunal da condenação. Decisão Integral: I. Relatório: Nos autos de processo comum n.º 1277/04.PBFIG, a correr termos na Secção Criminal da Instância Local da Figueira da Foz (Comarca de Coimbra), o Sr. Juiz em exercício de funções na referida Instância Local suscitou a resolução de conflito de competência entre o próprio e o Sr. juiz do Tribunal de Execução das Penas de Coimbra, porquanto ambos se atribuem reciprocamente competência, negando a própria, para o controlo/acompanhamento do cumprimento do regime de permanência na habitação imposto ao condenado A... Cumprido o disposto no artigo 36.º, n.º 1, do CPP, o Exmo. Sr. Procurador-Geral Adjunto neste Tribunal da Relação emitiu parecer, no sentido de a competência para o fim acima indicado pertencer à Instância Local da Figueira da Foz; igual entendimento manifestou o Sr. Juiz do TEP. II. Fundamentação: A) Elementos relevantes: 1. Com data de 17-03-2015, o Sr. Juiz do TEP de Coimbra lavrou despacho deste teor (transcrição, parcial mas suficiente): «Partilha-se do entendimento de que inexiste a possibilidade de eventual concessão de liberdade condicional à pena executada em regime de permanência na habitação. Aliás, da letra da lei até decorre que são diferentes as entidades a quem cabe controlar a execução de cada uma das citadas penas: o cumprimento da pena de prisão efectiva é controlada pelo Tribunal de Execução de Penas, a prisão, a ser cumprida na habitação, deve ser acompanhada pelo tribunal da condenação. Ora, tal significa que, tendo o recluso para cumprir uma pena a executar em regime de permanência na habitação, deverá o Tribunal da condenação diligenciar pela instalação dos meios técnicos de vigilância electrónica, nos termos do estatuído no art. 19.º da Lei 33/2010, de 2 de Setembro - sendo em tal momento que se inicia a pena em causa - tanto mais que, na decisão que concedeu a liberdade condicional, já se mostra fixada ao condenado determinada residência, de onde o mesmo se não pode ausentar por mais de 5 dias, sem prévia autorização do TEP. ( )». 2. Em 26-03-2015, o mesmo Magistrado Judicial, complementando aquele despacho, exarou no processo o abaixo consignado: «Como decorre da leitura da decisão de fls. 316 e seg., este Tribunal considera-se incompetente para acompanhar a execução da pena a executar em regime de permanência na habitação, na Página 2 / 6

medida em que entende que o instituto da liberdade condicional não é aplicável àquele regime». 3. Por sua vez, o Sr. Juiz da Instância Local Criminal já individualizada proferiu, no dia 14-04-2015, o despacho que se passa a reproduzir: «Declarou-se o Tribunal de Execução de Penas incompetente a fls. 542 para o acompanhamento da execução da pena a materializar em regime de permanência na habitação em virtude de se entender que o instituto da liberdade condicional não lhe é aplicável. Sucede que também este Tribunal não se pode assumir como competente para tal labor. O que se afirma em função do disposto nos artigos 38.º, n.º 2, do Código de Execução de Penas e Medidas de Segurança, e 114.º, n.º 1, da Lei de Organização do Sistema Judiciário. Note-se que tais preceitos deferem ao Tribunal de Execução de Penas a obrigação de acompanhar e fiscalizar a execução da pena ou medida privativa da liberdade e decidir da sua modificação, substituição e extinção. Importa, ademais, atentar que tal competência não se restringe à privação da liberdade materializada nos estabelecimentos prisionais ou destinados ao internamento de inimputáveis. É que o n.º 1 do artigo 114.º da Lei de Organização do Sistema Judiciário ou o n.º 2 do artigo 138.º do Código de Execução das Penas e Medidas de Segurança - o qual, por se apresentar inscrito no Livro II de tal diploma, não acolhe a ressalva prevista no prévio artigo 1.º - não prevêem tal ressalva à competência do Tribunal de Execução de Penas. Assim como tais preceitos não acolhem a ressalva que o despacho de fls. 542 pretende introduzir. Não há, para tal efeito, qualquer fundamento legal ou teleológico susceptível de justificar o entendimento que o Tribunal de Execução de Penas apenas deverá cuidar da execução das sanções por reporte às quais se ache mobilizável o instituto da liberdade condicional. Acresce que, com o devido respeito, sentimos algumas dificuldades na compreensão do critério que orienta o Tribunal de Execução de Penas na definição da sua competência. É que não nos parece que o mesmo possa radicar no carácter de pena de substituição do cumprimento da sanção em regime de permanência na habitação. A ser assim, não se lograria apreender como pode o mesmo Tribunal assumir-se como competente para a execução e fiscalização da prisão por dias livres - também ele pena de substituição - e não reclamar idêntica vocação para o cumprimento da pena de prisão em regime de permanência na habitação. Tendemos, pois, a considerar que impende sobre o mesmo Tribunal a função de prover à execução e fiscalização integral - e, com isso, a correspondente articulação - de todas as diversas penas privativas de liberdade que o arguido deva cumprir. Afirmação que se acha, aliás, em completa consonância com a teleologia daquele Código de Execução de Penas. Estes são, pois, os nossos argumentos para nos declararmos incompetentes para o acompanhamento da execução da sanção aplicada. ( )». B) Cumpre decidir: O cerne do dissídio existente entre os dois Juízes conflituantes consiste em determinar que concreto tribunal detém competência (material) para o acompanhamento do regime de permanência imposto nos termos do artigo 44.º do Código Penal, na redacção introduzida pela Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro: se o Tribunal da condenação ou, diversamente, o Tribunal de Execução das Penas. Página 3 / 6

Dispõe a referida norma, inserida no Capítulo II ( Penas ), do Título III ( Das consequências jurídicas do facto ), do Livro I ( Parte Geral ), do diploma acima indicado:, «1 - Se o condenado consentir, podem ser executados em regime de permanência na habitação, com fiscalização por meios técnicos de controlo à distância, sempre que o tribunal concluir que esta forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição: a) A pena de prisão aplicada em medida não superior a um ano; b) O remanescente não superior a um ano da pena de prisão efectiva que exceder o tempo de privação da liberdade a que o arguido esteve sujeito em regime de detenção, prisão preventiva ou obrigação de permanência na habitação. 2 - O limite máximo previsto no número anterior pode ser elevado para dois anos quando se verifiquem, à data da condenação, circunstâncias de natureza pessoal ou familiar do condenado que desaconselhem a privação da liberdade em estabelecimento prisional, nomeadamente: a) Gravidez; b) Idade inferior a 21 anos ou superior a 65 anos; c) Doença ou deficiência graves; d) Existência de menor a seu cargo; e) Existência de familiar exclusivamente ao seu cuidado. 3 - ( ); 4 -» O regime em causa, a par de outros institutos expressamente regulados no Código Penal - a título meramente exemplificativo, substituição da pena de prisão (art. 43.º); prisão por dias livres (art. 45.º), regime de semidentenção (art. 46.º), e substituição da multa por trabalho (art. 48.º) - e tal como os agora expressamente indicados, constitui uma autêntica pena de substituição (pelo menos em sentido impróprio) da pena de prisão. É o que decorre da letra do preceito legal acima citado, e da exposição de motivos da proposta de Lei n.º 98/X, que esteve na origem da Lei n.º 59/2007. Assim também o define, de forma unânime, ampla jurisprudência dos nossos tribunais superiores (inter alia, consultar os Acs. do Tribunal da Relação do Porto de 06-06-2012, proc. n.º 31/11.5PEPRT.P1, publicado em www.dgsi.pt, e de 19-05-2010, in Colectânea, tomo III, pág. 214), bem como a doutrina (cfr., v.g., Maria João Antunes, in Jornadas sobre a revisão do Código Penal, Revista do CEJ, pág. 8, Jorge Baptista Gonçalves, mesma obra, pág. 22/23, e António João Latas, O Novo Quadro Sancionatório das Pessoas Singulares, A Revisão do Sistema Penal de 2007, Justiça XXI, págs. 106/107. A medida em análise, consubstanciando uma alternativa ao cumprimento da prisão nos estabelecimentos prisionais, inscreve-se numa frente sistematizada de combate às penas de curta duração, de efeitos malévolos, bem conhecidos, para a reinserção social do delinquente, e consiste na permanência em habitação do arguido, com vigilância electrónica a executar nos termos definidos na Lei n.º 33/2010, de 2 de Setembro. Assim definidas, brevitatis causa, a génese, natureza e finalidade da medida de permanência na habitação, cabe dar resposta pronta à questão que está colocada. Está escrito no ponto 15 da Proposta de Lei n.º 252/X (Diário da Assembleia da República, Série II- A, n.º 279, de 05-03-2009), que esteve na origem da Lei, n.º 115/2009, de 12 de Outubro, aprovadora do Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade (doravante, apenas designado por CEPMPL): «No plano processual e no que se refere à delimitação de competências entre o tribunal que aplicou Página 4 / 6

a medida de efectiva privação da liberdade e o Tribunal de Execução das Penas, a presente proposta de lei atribui exclusivamente ao Tribunal de Execução das Penas a competência para acompanhar e fiscalizar a execução de medidas privativas da liberdade. Consequentemente, a intervenção do tribunal da condenação cessa com o trânsito em julgado da sentença que decretou o ingresso do agente do crime num estabelecimento prisional, a fim de cumprir medida privativa da liberdade. Este um critério simples, inequívoco e operativo de delimitação de competências, que põe termo ao panorama, actualmente existente, de incerteza quanto à repartição de funções entre os dois tribunais e, até, de sobreposição prática das mesmas. Incerteza e sobreposição que em nada favorecem a eficácia do sistema.» (o sublinhado pertence ao subscritor do presente despacho). Corporizando a intenção legislativa expressa neste texto, o CEPMPL compreende, em estrutura sistematizada e complementar, dois Livros, versando o Livro I, de índole eminentemente substantiva, sobre a execução das penas e medidas privativas da liberdade, e o Livro II, de natureza processual, sobre o processo perante o tribunal de execução das penas. O CEPMPL é completamente omisso na regulação da pena de substituição regime de permanência na habitação prevista no artigo 44.º do Código Penal. Trata-se inequivocamente, não de uma incompletude da lei, mas sim de um silêncio eloquente do diploma, determinado por razões político-jurídicas, decorrentes de uma opção do legislador. O alcance do desígnio legislativo está bem evidenciado logo no artigo 1.º, n.º 1, do CEPMPL, onde consta: «O disposto no presente livro aplica-se à execução das penas privativas da liberdade nos estabelecimentos prisionais dependentes do Ministério da Justiça e nos estabelecimentos destinados ao internamento de inimputáveis», sendo que, em inúmeros normativos posteriores, está invariavelmente escrita a expressão recluso. E a quem objecte que a citada disposição legal enuncia tão só o Livro I do diploma, repetimos o que já ficou dito; ambos os livros integrantes do CEPMPL formam um sistema unitário, projectado para um objectivo comum, qual seja, o de regular, substantiva e adjectivamente, a execução das penas e medidas privativas da liberdade nos estabelecimentos prisionais. Sem necessidade de maiores considerações, dir-se-á, em síntese conclusiva: - Os referenciados elementos interpretativos, de ordem literal e sistemática, projectam a teleologia das normas consideradas no sentido de a intervenção do TEP estar materialmente circunscrita a actos relativos à execução de penas e medidas privativas da liberdade em estabelecimentos prisionais; - Em conformidade, o controlo/acompanhamento do regime de permanência na habitação cabe ao tribunal da condenação, no caso à Secção Criminal da Instância Local da Figueira da Foz (igual solução - quantos aos fundamentos, nada está dito - é defendida por Pinto de Albuquerque, em Comentário do Código Penal, Universidade Católica Portuguesa, anotação ao artigo 44.º, pág. 184). III. Dispositivo: Posto o que precede, decidindo o presente conflito negativo, atribuo competência material para o fim acima referido à Secção Criminal da Instância Local da Figueira da Foz. Página 5 / 6

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Sem tributação. Cumpra-se o disposto no art. 36.º, n.º 3, do CPP. Coimbra, 20 de Maio de 2015 (Documento elaborado e integralmente revisto pelo signatário, Presidente da 5ª Secção - Criminal, do Tribunal da Relação de Coimbra) (Alberto Mira) Página 6 / 6