AS ATRIBUIÇÕES DA CMVM NO FINANCIAMENTO COLABORATIVO DE CAPITAL E POR EMPRÉSTIMO (FCCE) DAR Margarida Pacheco de Amorim
Índice 1. Introdução 2. Atividade de intermediação de FCCE 3. Função de regulamentação 4. Função de supervisão 5. Função de fiscalização 2
1. Introdução Lei n.º 102/2015, de 24 de agosto (Regime Jurídico do Financiamento Colaborativo) «O acesso à atividade de intermediação de financiamento colaborativo de capital ou por empréstimo é realizado mediante registo prévio das entidades gestoras das plataformas eletrónicas junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sendo esta entidade responsável pela regulação, supervisão e fiscalização, assim como pela averiguação das respetivas infrações, instrução processual e aplicação de coimas e sanções acessórias no quadro da atividade.» (artigo 15º/1) 3
2. Atividade de intermediação de FCCE enquadramento geral Intermediação de financiamento colaborativo de capital e por empréstimo O tipo de financiamento de entidades, ou das suas atividades e projetos, através do seu registo em plataformas eletrónicas acessíveis através da Internet, a partir das quais procedem à angariação de parcelas de investimentos provenientes de um ou vários investidores individuais. (artigo 2º) A entidade remunera o financiamento obtido através de: - uma participação no respetivo capital social, distribuição de dividendos ou partilha de lucros (capital) - Pagamento de juros fixados no momento da angariação (empréstimo) 4
2. Atividade de intermediação de FCCE enquadramento geral Beneficiários Plataforma Investidores 5
2. Atividade de intermediação de FCCE enquadramento geral Atividade de intermediação de FCCE: Não existe definição legal para a atividade de intermediação de FCCE mas essencialmente a atividade consiste em: a. pôr em contacto entidades com necessidades de financiamento (os beneficiários do financiamento) e investidores carácter multilateral b. através de uma plataforma eletrónica controlada pela entidade gestora meio de suporte c. sujeita a obrigações de informação aos investidores prestação de informação d. sujeita a obrigações de controlo dos beneficiários do investimento e de limites ao investimento pelos investidores deveres de controlo 6
2. Atividade de intermediação de FCCE enquadramento geral Nota: A atividade de intermediação de FCCE não é uma atividade de intermediação financeira. Caso a atividade de intermediação de FCCE implique uma atividade de intermediação financeira (e.g. transmissão e receção de ordens), apenas as entidades habilitadas para a prestação de serviços de intermediação financeira podem prestar o serviço. 7
2. Atividade de intermediação de FCCE carácter multilateral a. O facto de se tratar de atividade de intermediação esclarece o âmbito das normas sobre prevenção de conflitos de interesse. Está em causa a gestão de uma plataforma cujo objetivo é cruzar beneficiários de investimento e investidores e não obter financiamento para projetos próprios. 8
2. Atividade de intermediação de FCCE carácter multilateral «As plataformas devem organizar-se por forma a identificar possíveis conflitos de interesse e atuar de modo a evitar ou reduzir ao mínimo o risco da sua ocorrência, não podendo os seus titulares, dirigentes, trabalhadores ou outros prestadores de serviços com intervenção direta na atividade de financiamento colaborativo possuir interesses contrapostos aos beneficiários dos investidores.» (artigo 11º) 9
2. Atividade de intermediação de FCCE carácter multilateral «As entidades gestoras das plataformas eletrónicas de financiamento colaborativo asseguram que os respetivos titulares, membros do órgão de administração ou gestão, dirigentes e trabalhadores não participam das ofertas disponibilizadas nas plataformas geridas por estas entidades.» Acresce o dever de reduzir a escrito os procedimentos de identificação e gestão de conflitos de interesse. (artigo 11º do Regulamento) 10
2. Atividade de intermediação de FCCE meio de suporte b. Dado tratar-se de uma atividade desenvolvida através de uma plataforma eletrónica, assume especial importância o controlo da mesma e, portanto, a adoção de: - Sistemas de contingência de segurança e de continuidade da atividade - Sistemas e procedimentos de segurança e autenticação quanto à identidade e autenticidade no acesso dos investidores às plataformas e no preenchimento, pelos beneficiários, da informação relevante através do IFIFC (Informações Fundamentais Destinadas aos Investidores de Financiamento Colaborativo) 11
2. Atividade de intermediação de FCCE prestação de informação c. Obrigações de informação aos investidores: - Informação sobre o registo prévio junto da CMVM; - Informação prévia sobre cada oferta; - Informação sobre as ofertas em curso; - Informação histórica sobre os projetos financiados; - Preçário; - Informação sobre procedimentos de proteção de investidores em caso de insolvência, cessação da atividade ou inatividade prolongada da entidade gestora; - Informação relativa ao financiamento em curso 12
2. Atividade de intermediação de FCCE deveres de controlo d. Obrigações de controlo sobre os beneficiários do financiamento e os investidores: - Processo de seleção dos beneficiários - Limites máximos de angariação a obter pelos beneficiários - Limites máximos de investimento por investidor e por oferta - Controlo relacionado com a prevenção do branqueamento de capitais financiamento do terrorismo. 13
3. Função de Regulamentação 1. Identificação de requisitos de registo prévio: «O procedimento de registo é definido em regulamento da CMVM, que deve identificar os requisitos de acesso e causas de indeferimento, assentes, nomeadamente, na demonstração da idoneidade dos titulares das plataformas, prazos, regime de suspensão e cancelamento do registo e demais formalidades, devendo privilegiar a transmissão eletrónica de dados» (artigo 15º/3) 2. Identificação de deveres de informação, organização e conduta (artigo 16º/b) 3. Identificação de requisitos de reporte de informação (artigo 17º/3) 14
3. Função de Regulamentação Regulamento da CMVM n.º 1/2016 Regula o procedimento de registo prévio Regula requisitos patrimoniais mínimos Regula a organização das entidades gestoras Regula os deveres de informação das entidades gestoras e dos beneficiários do financiamento Regula os limites de angariação e de investimento Obriga à intervenção de entidade autorizada à prestação de serviços de pagamento para a realização do investimento 15
4. Função de Supervisão A. Registo prévio: «O registo na CMVM tem como função assegurar o controlo dos requisitos para o exercício da atividade pelas plataformas de financiamento colaborativo e permitir a organização da supervisão, bem como assegurar o controlo da idoneidade da gestão dos operadores da plataforma.» (artigo 15º/2) 1. Prazo de decisão: - 30 dias úteis a contar da instrução completa do pedido 16
4. Função de Supervisão 2. Instrução do pedido de registo prévio (elementos essenciais): - Identificação do requerente e dos titulares de participações sociais com relação de domínio ou detentores de participações qualificadas (e pessoas singulares que ultimamente dominam estes titulares) - Identificação dos membros do órgão de administração - Documentação para avaliação da idoneidade e experiência dos membros do órgão de administração - Certidão do registo comercial e contrato social ou estatutos (onde consta indicação da sede) - Comprovativo da contratação de seguro (se aplicável) 17
4. Função de Supervisão - Relatório de gestão e contas dos últimos 3 anos - Programa de atividade e memorandum descritivo da estrutura, organização e meios humanos, materiais e técnicos - Descrição do modelo de negócio incluindo dos fluxos financeiros e/ou da subscrição de instrumentos financeiros - Informação sobre se reveste ou não a qualidade de intermediário financeiro - Compilação das políticas e procedimentos exigíveis - Data previsível para início da atividade 18
4. Função de Supervisão B. Supervisão contínua/deveres de reporte a) Os beneficiários do financiamento comunicam às plataformas (para efeitos de informação aos investidores e à CMVM): (i) informação financeira, sobre o cumprimento das obrigações fiscais e contributivas e sobre a estrutura de capital, e (ii) informação relevante sobre os projetos a financiar, incluindo riscos associados) b) Os beneficiários do financiamento remetem anualmente à CMVM e às plataformas, para consulta junto dos investidores, os respetivos relatórios de atividade 19
5. Função de Fiscalização «( ) sendo esta entidade [CMVM] responsável pela ( ) fiscalização, assim como pela averiguação das respetivas infrações, instrução processual e aplicação de coimas e sanções acessórias no quadro da atividade.» (artigo 15º/1) 20
5. Função de Fiscalização Lei n.º 3/2018, de 9 de fevereiro (Regime Sancionatório aplicável ao FCCE) 1. Coimas: de 2.500 a 500.000 (contraordenações graves) e de 5.000 a 1.000.000 (contraordenações muito graves) 2. Sanções acessórias: (i) apreensão e perda do objeto da infração; (ii) interdição temporária do exercício da atividade; (iii) Inibição do exercício de funções de administração, gestão, direção, chefia ou fiscalização em entidades sujeitas à supervisão da CMVM; (iv) publicação pela CMVM, da sanção aplicada; (v) cancelamento do registo. 21
5. Função de Fiscalização Contraordenações muito graves: a) Realização de atos ou exercício de atividades de FCCE sem registo ou fora do âmbito do registo b) Violação das sanções acessórias de interdição temporária de atividade ou de inibição de exercício de funções Contraordenações graves (exemplos): a) Violação de regras de prestação de informação; b) Prestação, comunicação ou divulgação, por qualquer meio, de informação que não seja completa, atual e verdadeira, ou a omissão dessa informação 22
5. Função de Fiscalização Entidades sujeitas aos poderes de fiscalização: Todas as entidades sobre que impedem deveres no âmbito da Lei do FCCE, incluindo: 1. Entidades gestoras 2. Beneficiários do financiamento 23
AS ATRIBUIÇÕES DA CMVM NO FINANCIAMENTO COLABORATIVO DE CAPITAL E POR EMPRÉSTIMO Margarida Pacheco de Amorim 20.03.2018