22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A CORROSÃO INTERGRANULAR DA LIGA AA 2198-T851 SOLDADA PELO PROCESSO FSW

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE LIGAS DE ALUMÍNIO

Estudo da decomposição da austenita em aço API 80X microligado por meio de ensaios de dilatometria

ESTUDO DA CORROSÃO DO Al RECICLADO DA INDÚSTRIA DE BEBIDAS

SOLDAGEM TIG. Prof. Dr. Hugo Z. Sandim. Marcus Vinicius da Silva Salgado Natália Maia Sesma William Santos Magalhães

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

Keywords: AISI 316 steel, Electrochemical corrosion, Electrochemical polarization spectroscopy

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

ESTUDO DA RESISTÊNCIA À COROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL LEAN DUPLEX UNS SOLDADO POR ATRITO COM PINO NÃO CONSUMÍVEL

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM METALURGIA DA SOLDAGEM

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM PARA DIFERENTES GEOMETRIA NA SOLDA POR FRICÇÃO NA LIGA DE ALUMÍNIO AL7075

FRICTION STIR WELDING EM LIGAS DE ALUMÍNIO Aluminum alloys Friction Stir Welded

INFLUÊNCIA DO GRAU DE DEFORMAÇÃO A FRIO NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE AÇOS DUPLEX DO TIPO 2205

0 Introdução à Soldagem. Professor: Luiz Cláudio Furlan

Keywords: lean duplex stainless steel, UNS S82441, friction stir welding, FSW, corrosion.

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

ESTUDO DA VELOCIDADE DE CORROSÃO EM LIGAS DE Al-3%Cu E Al-5%Cu

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM PARA DIFERENTES GEOMETRIAS NA SOLDA POR FRICÇÃO NA LIGA DE ALUMÍNIO AL7075

Processo de soldagem: Os processos de soldagem podem ser classificados pelo tipo de fonte de energia ou pela natureza da união.

SOLDAGEM POR FSW (FRICTION STIR WELDING) DA LIGA DE ALUMÍNIO 6063T6 UTILIZANDO FERRAMENTA CIRCULAR E CÔNICA.

5(6,67,9,'$'((/e75,&$

C R E E M SOLDAGEM DOS MATERIAIS. UNESP Campus de Ilha Solteira. Prof. Dr. Vicente A. Ventrella

Trabalho de solidificação. Soldagem. João Carlos Pedro Henrique Gomes Carritá Tainá Itacy Zanin de Souza

COMPARAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DA LIGA CONVENCIONAL AA2024-T351 E DA LIGA Al-Li 2098-T351

Material conforme recebido (CR) e/ou metal base (MB)

ESTUDO DO EFEITO DA TEMPERATURA DO BANHO NA ELETRODEPOSIÇÃO DA LIGA Fe-Mo

Corrosão e degradação de materiais. Modificação aparência. Interação Comprometimento pp mecânicas

CORROSÃO INTERGRANULAR EM JUNTAS SOLDADAS - PARTE III

ASPECTOS DA CORROSÃO INTERGRANULAR DOS AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS AISI 304L, AISI 316L, AISI 321 E AISI 347, USADOS EM REFINARIAS

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS. Após a preparação metalográfica das amostras, foi realizado o ataque Behara

Corrosão: Definições e implicações práticas Aspectos termodinâmicos Formas de controle

ALTERNATIVA À SOLDAGEM DE LIGAS LEVES: SOLDAGEM POR FRICÇÃO

SOLDAGEM EM ESTADO SÓLIDO DA LIGA DE ALUMÍNIO AA2024 PELO PROCESSO "FRICTION STIR WELDING": MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES MECÂNICAS

GRSS. SOLDAGEM POR EXPLOSÃO Explosion WELDING

Aula 01: Introdução à Metalurgia

Corrosão por Pite - Características

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM SOLDAGEM E CORTE A GÁS BRASAGEM

PROCESSAMENTO DE LIGAS À BASE FERRO POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

Oxy-Cut Processos de Fabrico. Trabalho de pesquisa efetuado por Rodrigo Chora

Processo de Soldagem Eletrodo Revestido

CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E MICROESTRUTURAIS E ANÁLISE DAS TENSÕES RESIDUAIS EM TUBOS SOLDADOS DE AÇO P110 E N80Q

AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DA REGIÃO SOLDADA PELO PROCESSO GMAW DE UM AÇO PATINÁVEL UTILIZANDO DOIS DIFERENTES TIPOS DE ARAMES

Aço Inoxidável Ferrítico com 11% de Cromo para Construção Soldada. Columbus Stainless. Nome X2CrNil2. Elementos C Mn Si Cr Ni N P S

Aula 11: Estruturas de Solidificação

PMT CORROSÃO E PROTEÇÃO DOS MATERIAIS

ESTUDO DA SENSITIZA ÇÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 QUE OPERAM EM REFINARIA DE PETRÓLEO EM TEMPERATURAS ENTRE 500 E C.

INFLUÊNCIA DA MICROESTRUTURA NAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE LIGAS Al-Mg-Th E Al-Mg-Nb

3URFHGLPHQWR([SHULPHQWDO

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

SÍNTESE DO PLANO DE TRABALHO

SOLIDIFICAÇÃO. A.S.D Oliveira

AVALIAÇÃO DO GRAU DE SENSITIZAÇÃO EM JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS GTAW E FCAW EM AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICO AISI 304 E AISI 304 L

OBTENÇÃO DE LIGAS AMORFAS A BASE DE Fe-Cr-Co-P ATRAVÉS DE ELETRODEPOSIÇÃO

Caracterização e desempenho de ligas de zinco/níquel e estanho/zinco

SUMÁRIO. 1 Introdução Obtenção dos Metais Apresentação do IBP... xiii. Apresentação da ABENDI... Apresentação da ABRACO...

SOLDAGEM DOS METAIS CAPÍTULO 10 DEFEITOS EM OPERAÇÕES DE SOLDAGEM

TRATAMENTO TÉRMICO DE RESSOLUBILIZAÇÃO EM UMA LIGA DE ALUMÍNIO 7475-T7351*

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização da reatividade das ligas alumínio AA2024-T3 e AA7475-T651 soldadas por fricção (FSW)

PMT CORROSÃO E PROTEÇÃO DOS MATERIAIS

GRSS. MIG Brazing BRITE EURAM III. MIG Brazing

Tratamento térmico T4: solubilização e envelhecimento de ligas Al3,5%Cu

RELAÇÃO ENTRE DENSIDADE DE INCLUSÕES E PITES DE CORROSÃO EM CUPONS DE PERDA DE MASSA RESUMO

SOLDAGEM DE TUBOS FABRICADOS A BASE DE Cr Mo V PELO PROCESSO GTAW

ESFEROIDIZAÇÃO DO AÇO SAE 1080*

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

Caracterização Microestrutural e Comportamento Mecânico das Ligas de Alumínio AA2139 T3 e T8 Soldadas por Fricção Rotativa com Mistura

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM MODOS DE TRANSFERÊNCIA METÁLICA MIG/MAG DEFEITOS EM SOLDAGEM E ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS

Processo por pontos, por costura, por projeção, de topo, Aplicações, Vantagens e Desvantagens

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL AISI 439 PARA USO EM SISTEMA DE EXAUSTÃO VEICULAR

Materiais e Corrosão - Cap 3 FORMAS DE CORROSÃO. Fontana, cap. 3. Formas de Corrosão- A.Simões_2006 3a.1

LIMPEZA QUÍMICA E PASSIVAÇÃO. Em Sistemas Críticos de Alta Pureza

Soldadura por fricção linear e por laser da liga Al6082

3- Materiais e Métodos

PROPRIEDADES FÍSICAS DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 348 L* RESUMO 1. INTRODUÇÃO

Técnicas de Caracterização de Materiais DEMEC TM049 Prof Adriano Scheid

DEFEITOS EM SOLDAGEM. Preparado por: Ramón S. C. Paredes, Dr. Engº.

TÍTULO: ESTUDO E AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À CORROSÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS EM AMBIENTE INDUSTRIAL

AVALIAÇÃO DA DURABILIDADE DO FOSFATO TRICATIÔNICO COM NIÓBIO POR ENSAIO DE CORROSÃO ACELERADA

Aço Inoxidável Ferrítico ACE P444A

Ensaio de Fluência. A temperatura tem um papel importantíssimo nesse fenômeno; Ocorre devido à movimentação de falhas (como discordâncias);

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA. Roteiro de estudos Corrosão Data: 17/04/2013. Ambiente bucal favorece a degradação dos materiais

ESTUDO DA OCORRÊNCIA DA CORROSÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 316L E 444 UTILIZADOS NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

Fundamentos de Ciência e Engenharia de Materiais. DEFEITOS CRISTALINOS Prof. Dr. André Paulo Tschiptschin

Terminologia de Soldagem Regiões e Geometria da Junta Soldada

Corrosão por Cloreto em Aços Inoxidáveis Duplex (AID s)

Metalurgia da Soldagem Particularidades Inerentes aos Aços Carbono

Frederico A.P. Fernandes

PMT AULA 3. Curvas de Polarização. Pilhas e Corrosão. A. C. Neiva

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO METAL-MECÂNICO APÓS CONFORMAÇÃO A QUENTE

Ligação similar e dissimilar de componentes metálicos em estado sólido: uma análise de soldabilidade

Processos de corte. Figura 2. Corte via plasma e maçarico.

Soldagem por ultra-som

Processo de Soldagem Eletroescória HISTÓRICO

ESTUDO DE COMPOSTOS INTERMETÁLICOS DE Au Al, OBTIDOS POR DIFUSÃO NO ESTADO SÓLIDO, USANDO A MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)

EFEITO DA TEMPERATURA DE INTERPASSE DE SOLDAGEM SOBRE A MICROESTRUTURA, DUREZA E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX

Corrosão por frestas em um sistema de tubulação de aço inox 304L causa: soldagem sem penetração completa

APRESENTAMOS O MEV & EDS

Transcrição:

MONITORAMENTO DA CORROSÃO EM LIGAS DE ALUMÍNIO DISSIMILARES UNIDAS POR PROCESSO DE SOLDAGEM POR FRICÇÃO E MISTURA (FSW) UTILIZADAS NO SETOR AERONÁUTICO A. F.S. Bugarin 1, F. M. Queiroz 1, M.Terada 2, H.G.de Melo 2 e I. Costa 1* 1 Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Av. Prof. Lineu Prestes, 2242, CEP 05508-000, São Paulo - SP - afbugarin@usp.br 2 Depto. de Eng. Metalúrgica e de Materiais, Universidade de São Paulo, Resumo O comportamento frente à corrosão de ligas de alumínio (AA2024-T3 e AA7475- T761) unidas pelo processo de soldagem por fricção e mistura (FSW) foi monitorado por ensaios de imersão em solução 10 mm de NaCl. A resistência à corrosão foi também avaliada pelo teste de visualização em gel (ágar-ágar) e pela avaliação da superfície em função do tempo de exposição ao meio corrosivo (10 mm de NaCl). Com o ensaio de visualização em gel foi possível verificar o efeito do acoplamento galvânico entre as duas ligas. A liga AA2024 atuou como cátodo e a AA7475 como ânodo quando acopladas galvanicamente. Os testes de imersão permitiram verificar o acoplamento galvânico na zona misturada (ZM) ou nugget. A região mais afetada pela corrosão foi a zona termomecanicamente afetada (ZTMA) na interface com a ZTA no lado da liga AA7475, onde foi possível observar corrosão intergranular a partir das duas primeiras horas de imersão. Palavras-chave: FSW, Ligas de alumínio, Soldas Dissimilares, Microestrutura, Corrosão. 6715

INTRODUÇÃO O método de soldagem conhecido como Friction Stir Welding (FSW) foi desenvolvido pelo The Welding Institute (TWI) em 1991 e vem despertando grande interesse por ser realizado em temperaturas abaixo do ponto de fusão dos materiais (1,2). Nesse processo não é necessário o uso de metal de adição ou proteção gasosa, como nos métodos convencionais, que nas ligas de alumínio causam problemas de trincas, distorções e porosidades (3,4,5). Como o processo FSW ocorre em estado sólido, o que envolve menor transferência de calor, este se tornou uma alternativa para unir materiais de baixa soldabilidade, como as ligas de alumínio das séries 2XXX e 7XXX que são empregadas na estrutura das aeronaves por possuírem elevada relação resistência/peso (5,6,7). A união dos materiais é realizada pelo emprego de uma ferramenta rotatória, não consumível. Esta é aplicada na região onde deve ocorrer a junção das peças, que são mantidas unidas pela aplicação de uma pressão de forjamento (1-5). O processo FSW causa mudanças microestruturais, tanto na interface, quanto nas proximidades dos materiais que estão sendo soldados. As diferentes microestruturas encontradas são: metal base (BM), região que não é afetada pelo processo de soldagem; zona termicamente afetada (ZTA), apresenta efeitos do calor gerado no processo; zona termomecanicamente afetada (ZTMA); região com contribuições do calor e da deformação; e a zona misturada (ZM), também conhecida como nugget, onde ocorre a completa recristalização com refinamento de grão devido aos altos níveis de deformação em elevada temperatura (1,8,9). A aplicação da FSW no setor aeronáutico visa a redução do custo da fabricação estrutural e peso das aeronaves. Um exemplo do uso da FSW é na substituição dos rebites na fuselagem, uma vez que é comum utilizar ligas de alumínio da série 2XXX com resistência mecânica mais elevada e, nas partes adjacentes a estas, ligas de alumínio da série 7XXX (6). A aeronave pioneira em fazer o uso extensivo da FSW foi o jato executivo Eclipse500, com 263 partes soldadas por FSW, o que representa a substituição de mais de 7300 elementos de fixação (aproximadamente 60% do total) (1). Inicialmente, a aplicação da FSW em materiais dissimilares teve o objetivo de identificar o fluxo do material na região da ZM, o que não era possível com materiais similares (6). Posteriormente, surgiu o interesse por combinar as propriedades dos 6716

materiais que estavam sendo soldados, por exemplo, a união de ligas de alumínio com aço inoxidável, tornando viável a união de ligas de alumínio com qualquer tipo de material metálico (4,8). Entretanto, é importante considerar a susceptibilidade à corrosão da região soldada. O contato de regiões com diferentes microestruturas e composições (no caso de materiais dissimilares), em presença de um meio corrosivo, resulta no acoplamento galvânico e formação de pilhas de corrosão. Na literatura, algumas publicações trataram do efeito do processo FSW em ligas dissimilares (6,8,10,11). O presente trabalho tem como objetivo investigar a resistência à corrosão das regiões afetadas pela soldagem de ligas dissimilares, particularmente as ligas AA2024-T3 e a AA7475-T761 soldadas por FSW. A resistência à corrosão foi investigada em solução 10 mm de NaCl. O desenvolvimento da corrosão foi monitorado pela observação da superfície em função do tempo de exposição ao meio corrosivo. MATERIAIS E MÉTODOS O material utilizado no presente trabalho foi fornecido pela Embraer na forma de chapa fina de 1,6 mm de espessura das ligas de alumínio AA2024-T3 e AA7475- T761 unidas por FSW. O procedimento de junção das chapas é ilustrado na Fig. 1a, com o pino não consumível girando no sentido horário. A liga AA2024 no lado de avanço (LA) e AA7475 no lado do retrocesso (LR). Na Tab. 1, encontram-se as composições químicas das ligas obtidas pela técnica analítica de espectrometria de fluorescência de raios-x por dispersão de comprimento de onda. As superfícies das amostras soldadas e ensaiadas foram preparadas com lixas de SiC até #4000 utilizando água como líquido refrigerante e polimento com suspensão de diamante de 3 µm e 1 µm. Tanto a superfície da solda quanto a secção transversal foram objetos de estudo. Após a preparação da superfície, as amostras foram observadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV) utilizando o equipamento Hitachi modelo TM-3000 com tensão de aceleração de 15 kev, acoplado a um espectrômetro de energia dispersiva de raios-x (EDS) para caracterização dos precipitados e escolha das regiões para monitoramento da corrosão. A evolução da corrosão nas superfícies expostas ao meio foi monitorada em função do tempo de imersão em solução 10 mm de NaCl. 6717

Pino Ombro Junta Soldada AA2024 AA7475 Fig. 1 (a) Esquema dos materiais dissimilares unidos pelo processo FSW, indicando o sentido da rotação do pino de soldagem, o lado do avanço (LA) e do retrocesso (LR); (b) Macroscopia da chapa soldada. Tab. 1 - Composição química (% em massa) das ligas estudadas. Liga Al Mg Si Ti Cr Mn Fe Cu Zn 2024 92,30±0,50 1,60±0,20 0,19±0,02 0,05±0,01 0,04±0,02 0,64±0,06 0,22±0,01 4,80±0,50 0,08±0,01 7475 89,40±0,50 1,90±0,20 0,15±0,02 0,04±0,01 0,22±0,01 0,02±0,01 0,12±0,02 1,70±0,20 6,20±0,60 O ataque metalográfico para revelação dos contornos de grãos nas diferentes regiões afetadas pela soldagem foi realizado com solução de HNO3 (25%) e HF (2%) em 100 ml de H2O à 4 C. As superfícies atacadas foram observadas por microscopia óptica utilizando o microscópio Leica modelo DMLM. O teste de visualização em gel foi utilizado para identificar a susceptibilidade à corrosão através de alterações de coloração de acordo com a variação do ph local. A solução para este ensaio foi preparada com 3 g de ágar com 15 ml de indicador universal em 100 ml de solução de NaCl 10 mm aquecida à 100 C. RESULTADOS E DISCUSSÃO Microestrutura Com o ataque metalográfico na secção transversal da amostra observou-se uma mistura não homogênea na ZM servindo como referência de posição da AA2024 e AA7475 na junta soldada, como mostrado na Fig.2a. A Fig.2d indica que a ZM consiste em grãos menores e equiaxiais, resultado da recristalização dinâmica devido ao processo de soldagem. Esta corresponde à região onde o pino da ferramenta entra em contato com o material a ser soldado. Há uma transição entre os grãos alongados na ZTMA e os grãos equiaxiais da ZM, tanto do lado do avanço (AA2024) observado na Fig.2f, quanto do retrocesso (AA7475) na Fig.2g. Quando a 6718

superfície soldada é observada, Fig.2i e Fig.2j, tal transição é mais evidente. Os grãos das duas ligas na zona da ZTMA mostraram-se alongados, Fig.2e e Fig.2h, sendo característicos de materiais laminados. Além de alterar o tamanho do grão, o processo de soldagem também influencia na orientação dos mesmos. Fig.2 - Estrutura dos grãos em secção transversal após ataque metalográfico em HNO 3 (25%) e HF (2%) em 100 ml de H 2O à 4 C. Interface (a) das duas ligas, AA2024 (mais escuro) e AA7475 (mais claro); (b) ZM/ZTMA/ZTA no lado da AA2024; (c) ZM/ZTMA/ZTA no lado da AA7475); (d) ZM; (e) MB da AA2024; (f) ZTMA da AA2024; (g) ZTMA da AA7475 e (h) MB da AA7475. Interface ZM/ZTMA da (i) AA2024 e (j) AA7475. A Figura 3 mostra a vista de topo da ZM observada por microscopia eletrônica de varredura. A Fig. 3b mostra a junção dos dois materiais onde pode ser notado que os precipitados seguem um fluxo preferencial no sentido de rotação do pino de soldagem. Quanto mais perto da região soldada, mais evidente é esta característica. Na ZM observa-se a contribuição dos dois materiais e ao afastar-se desta zona, a microestrutura torna-se similar ao MB, como mostra a Fig. 3a referente à liga AA 2024, e a Fig. 3c, para a liga AA7475. 6719

Embora a literatura relate vários tipos de precipitados na liga AA2024 (12), neste trabalho os dois tipos mais comuns caracterizados foram: precipitados menores e arredondados, denominados de fase S (Al2CuMg) e precipitados maiores e com uma morfologia heterogênea, cujos elementos principais são o Al-Cu-Fe-Mn (Fig. 3d). Em relação ao MB da AA7475, a microestrutura mostrou-se mais limpa quando comparada com o MB da AA2024. Os precipitados na liga AA7475 consistiram principalmente de Al-Cu-Zn-Fe (Fig. 3e). d Al-Cu-Fe-Mn e Al-Cu-Zn-Fe Fase S Fig. 3 - Microestrutura obtida por MEV da (a)interface entre ZTMA e ZTA da liga AA2024; (b) ZM; (c) interface entre ZTMA e ZTA da liga AA7475 (d) MB 2024 e (e) MB 7475 Avaliação da resistência à corrosão O teste de visualização em gel permitiu identificar as regiões anódicas e catódicas da amostra soldada Fig. 4. Após duas horas de exposição, o lado da liga AA2024 apresentou coloração esverdeada, devido à alcalinização do meio. Esta coloração é resultado da reação de redução do oxigênio, gerando íons hidroxila. Já no lado da liga AA7475 a coloração ficou entre o amarelo e o alaranjado que, como mostra a escala de ph abaixo, é característica de um meio ácido. 6720

2h a 24h b AA2024 AA7475 AA2024 AA7475 Escala de ph Fig. 4 - Teste de visualização em gel da amostra soldada após (a) 2 h e (b) 24 h. Na região anódica, lado da liga AA7475, ocorre a dissolução do alumínio com formação de cátions metálicos, seguida por hidrólise e abaixamento do ph. O mesmo comportamento foi observado em trabalhos com a AA2024 soldada à AA7010 por Jariyaboon et al (6). Durante o ensaio de imersão houve a formação de bolhas a cerca de 2 mm do centro da ZM da AA7475 a partir de 2 horas de exposição ao meio. De acordo com a orientação dos contornos de grão revelados pelo ataque metalográfico, Fig.2, pode-se deduzir que a formação de bolhas ocorreu próximo à interface ZTMA/ZTA da AA7475. Bolhas também foram observadas na interface ZTMA/ZTA quando se avaliou a secção transversal da amostra Fig. 5a. Entretanto, a formação de bolhas não se apresentou alinhada verticalmente, mas seguiu o formato cônico da região da interface, como sugerido pelo ataque metalográfico (Fig.2). Esta figura sugere que as regiões afetadas pelo processo de soldagem na secção transversal da amostra seguem este formato, como observado na Fig. 5b. 2h 2h a 24h b Bolhas AA2024 AA7475 Fig. 5 (a) Formação de bolhas durante o ensaio de imersão em solução 10 mm de NaCl e (b) superfície da amostra após 24 h de ensaio de imersão A Fig. 6 mostra a interface das duas ligas na ZM. Em duas horas de imersão em solução 10 mm NaCl o lado da AA2024 apresentou corrosão similar à do MB, ou seja, ataque parcial nos precipitados de fase S, que se encontram espalhados por toda a matriz (Fig. 6a). Após de 5 h de imersão (Fig. 6b) ocorreu o ataque na interface entre as duas ligas, indicando a corrosão galvânica nesta região. Após 24 h 6721

(Fig. 6c) houve formação de grande quantidade de produtos de corrosão sobre a superfície da amostra. A observação da superfície após a retirada do produto de corrosão (Fig. 6d) mostrou vários pontos de ataque, principalmente na liga AA2024 devido à grande concentração de precipitados nesta liga, à atuação desta liga como cátodo no par galvânico com a liga AA7475 e, consequentemente, alcalinização localizada em torno das partículas com consequente ataque do óxido de alumínio na vizinhança das partículas. 2h 2 h a 5h Ataque na interface b entre as duas ligas Ataque preferencial 24 h c 24 h após remoção dos produtos de corrosão d Ataque localizado Fig. 6 MEV da ZM exposta à solução 10 mm de após (a) 2h; (b) 5h; (c) 24h e (d) remoção do produto de corrosão após 24h Ataque similar ao observado na ZM também foi notado na interface ZTMA/ZTA da liga AA2024 após 2 h de imersão (Fig. 7a). Entretanto, com 5 h de imersão (Fig. 7b) foi observado ataque também na matriz em torno dos precipitados, sugerindo ataque cristalográfico. Esse tipo de ataque pode ter sido ocasionado pela deformação mecânica gerada pelo processo de soldagem. Esta muda a orientação e tamanho dos grãos, deixando-os mais susceptíveis ao ataque corrosivo. Para tempos maiores de imersão não foi possível observar o desenvolvimento destas áreas devido a grande quantidade de produtos de corrosão formados na superfície. 6722

2 h 5 h ZM/ZTMA MB AA2024 ZM MB AA2024 ZM Fig. 7 - MEV da interface ZM/ZTMA da liga AA2024 após (a) 2 h e (b) 5 h de exposição à solução 10 mm de NaCl. Nas regiões afetadas pelo processo de soldagem, no lado da AA7475, também houve ataque corrosivo desde as duas primeiras horas de imersão. Como pode ser observado nas Fig. 8a e Fig. 8b, o ataque mais intenso ocorreu na interface da ZM/ZTMA da liga AA7475, região onde passa o ombro da ferramenta durante o processo de soldagem. O ombro da ferramenta juntamente com o pino de soldagem são responsáveis pela geração de calor e pela mistura do material na linha de solda (9). Esta distância coincide com a região em que foi observada a formação de bolhas (Fig. 5a). 2 h a b Ataque corrosivo Ataque corrosivo ZM ZM/ZTMA ZM/ZTMA MB AA7475 2 h c 5 h d 9 h e Produto de corrosão 6723

24 h f 24h g ZM ZM/ZTMA Sem produto de corrosão Fig. 8 - MEV de regiões das ligas soldadas por FSW após exposição à solução 10 mm de NaCl. (a) Interface ZM/ZTMA da AA7475 e (b) ZTMA/MB após 2 h; ataque corrosivo após (c) 2 h, (d) 5 h e (e) 9 h; (f) interface ZM/ZTMA da AA7475 após 24 h e (g) ataque corrosivo após 24 h com remoção do produto de corrosão Ao analisar a secção da amostra soldada na Fig. 9 foi observada corrosão do tipo intergranular. As regiões mais suscetíveis ao ataque intergranular observadas na secção da amostra durante o ensaio de imersão foi a ZM na parte inferior da solda, conhecida como a raiz da junta soldada, e a ZM/ZTMA, ambas no lado da liga AA7475. Segundo a literatura (6), o aquecimento durante a soldagem favorece a precipitação de partículas nanométricas ƞ /ƞ (MgZn2) nos contornos de grão nesta região, deixando a área mais susceptível ao ataque intergranular. Tais partículas nanométricas não puderam ser observadas pelas técnicas microscópicas utilizadas neste trabalho. 2 h a 2 h b Corrosão intergranular 24 h Raiz da junta c 24 h soldada d Interface das duas ligas ZM/ZTMA AA7475 6724

Fig. 9 - Evolução da corrosão na secção transversal da (a) ZM e (b) ZM/ZTMA da liga AA7475 após 2 h de imersão e (c) interface das duas ligas na raiz da solda e (d) ZM/ZTMA da AA7475 após 24 h de ensaio seguido por com remoção dos produtos de corrosão com solução 30% de HNO 3. CONCLUSÃO A observação da superfície das ligas AA2024 e AA7475 soldadas por FSW em função do tempo de exposição a meio corrosivo contendo cloreto permitiu observar o acoplamento galvânico entre elas causado por este tipo de soldagem. O processo de soldagem FSW causou alteração microestrutural e formação de regiões mais suscetíveis ao ataque corrosivo quando comparadas com o respectivo material não afetado pela solda. Com o teste de visualização em gel foi posível observar que a ZM da liga AA2024 comporta-se como cátodo enquanto a ZM do lado da AA7475 como ânodo, durante acoplamento galvânico das duas ligas. Com o ensaio de imersão nas regiões afetadas pela solda no lado da AA2024 foi observado ataque catódico ao redor dos precipitados, característico do MB. O ataque na ZM/ZTMA da liga A7475 foi mais intenso, sendo observada corrosão intergranular na interface entre a ZTMA e a ZTA desta liga. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq (Processo 133557/2015-4), à CAPES (Processo 1536157) e à FAPESP (Processo 2013/13235-6) pelo apoio financeiro, e à Embraer por fornecer o material para realização deste estudo. REFERÊNCIAS [1]THREADGILL, P. L.; LEONARD, A.J.; SHERCLIFF, H.R.; WITHERS, P. J. Friction stir welding of aluminium alloys, Int. Mater. Reviews. v.54, n.2, p 49-93, 2009. [2]MENDEZ, P. F.; EAGAR, T. W. Welding Processes for aeronautics. J. Adv Mater Process. p.39-43, 2001. [3]OLIVIECKI, N. J.; BESKOW, A. B. Análise dos parâmetros do processo de solda por fricção em uma liga de alumínio. Eng Perform., v.37, n. 138, p.15-29, 2013. [4]ALVES, Eder Paduan. Junções de materiais dissimilares utilizando o processo de soldagem por fricção rotativa. 2010. 126p. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, São José dos Campos. 6725

[5]POTOMATI, Fernanda. Avaliação da qualidade final e juntas dissimilares de ligas de alumínio 2024-6056 e 7075-6056 soldadas por FSW Friction Stir Welding. 2006. 93p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais) - Universidade Federal de São Carlos, Ufscar, São Carlos. [6]JARIYABOON, M.; DAVENPORT, A.J.; AMBAT, R.; CONNOLLY, B.J.; WILLIAMS, S.W.; PRICE, D. A. Corrosion of a dissimilar friction stir weld joining aluminium alloys AA2024 and AA7010. Corr. Eng. Sci. Technol. v.41, p135-142, 2006. [7]JARIYABOON, M., DAVENPORT, A.J., AMBAT, R., CONNOLLY, B.J., WILLIAMS, S.W., PRICE, D.A. The effect of welding parameters on the corrosion behaviour of friction stir welded AA2024-T351. Corr. Sci.vol. 49, n.2, p.877-909, 2007. [8]MUBIAYI, P. M.; AKINLABI, E. T. Friction Stir Welding of dissimilar materials between aluminium alloys and copper - An Overview. Proceedings of WCE, v. 3, n. 1, p.1-7, 2013. [9] CAPELARI, Tiago Valdemeri. Avaliação da geometria da ferramenta e parâmetros do processo FSW na soldagem da liga de alumínio AA5052. 2006. 79p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRG, Porto Alegre. [10] SIDANE, D. ; BOUSQUET E.; DEVOS, E.; PUIGGALI, M.; TOUZET, M.; VIVIER. V.; QUINTIN, A. P.Local electrochemical study of friction stir welded aluminum alloy assembly. J. Of Electroal. Chem., v. 737, p.206-211, 2014. [11] SHEN, C.; ZHANG, J.; GE, J. Microstructures and electrochemical behaviors of the friction stir welding dissimilar weld. J. Of Environ. Sci. p.32-35, 2011. [12] QUEIROZ, Fernanda Martins. Estudo do comportamento de corrosão dos intermetálicos presentes na liga AA2024-T3, por meio de técnicas de microscopia associadas a técnicas eletroquímicas. 2008. 270p. Tese (Doutorado em Tecnologia Nuclear Materiais) - Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares, IPEN-CNEN/SP, São Paulo. MONITORING OF CORROSION IN DISSIMILAR ALUMINUM ALLOYS JOINED BY FRICTION AND MIXING WELDING PROCESS (FSW) USED IN THE AERONAUTIC SEGMENT Abstract 6726

The corrosion behavior of the aluminum alloys ( AA2024 -T3 and AA7475 - T761 ) joined by the friction and mixing welding process (FSW) was monitored by immersion test in 10 mm NaCl solution as a function of exposure time to the test solution. The corrosion resistance was also evaluated by a gel test (agar- agar) by means of which the galvanic coupling between the two alloys was observed. The AA2024 alloy acted as the cathode and the AA7475 as the anode of the galvanically coupled pair. The immersion tests showed galvanic coupling in the mixed region (ZM) or nugget. The zone most affected by corrosion was the thermomechanically affected zone (ZTMA) at the interface with the thermally affected one (ZTA) on the side of the AA7475 alloy. At this interface, intergranular corrosion was seen from the first two hours of immersion. Keywords: FSW, Aluminium alloys, Dissimilar FSW welding, Microstructure, Corrosion. 6727