PERCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE ENTRE IDOSOS NO BRASIL DURAN, Juliano Ramos 1 ; MAGALHÃES, Josiane². Palavras-chave: identidade, idosos, Brasil. Introdução Este trabalho vincula-se ao projeto Comunidade Feliz e teve como objetivo constituir um arcabouço teórico que permitisse aos extensionistas envolvidos com as atividades construir um referencial teórico que subsidiasse suas ações. O crescimento da população idosa vem acontecendo de forma progressiva no Brasil, associados nos últimos 50 anos ao êxodo rural, melhoria na qualidade de vida como condições sanitárias e acesso a bens e serviços como saúde e educação. Aliados a estes elementos temos o desemprego rural e a diferença de salário entre o campo e a cidade, tais transformações geográficas e demográficas têm importantes conseqüências sociais e econômicas para a população como um todo e para a população idosa em particular. Assim, nos deparamos com duas situações geradas por fenômenos distintos, mas que demandam aos governos locais, estaduais e federais ações de planejamento para o atendimento a um número cada vez maior de idosos, para os quais a sociedade não se estruturou em termos políticos, sociais e econômicos. Particularmente o envelhecimento enquanto processo social e a constituição identitária desse grupo não havia se colocado como uma problemática para a área das Ciências Sociais. Ainda temos a falta de um denominador comum, de uma compreensão do que é ser idoso e de que forma o mesmo esta inserido no modelo social, agregado de valores e sentidos sendo assim, a visão da identidade da pessoa idosa ainda é conturbada, pois em geral os estudos apontam o processo de envelhecimento como algo negativo, de forma que chegar a velhice fosse uma perda de papel social e conseqüentemente de sua identidade. Conceito este que Resumo revisado por Josiane Magalhães, Projeto Comunidade Feliz, código 132/2009. 1 Enfermeiro. Professor adjunto ao departamento de Enfermagem, Campus Jane Vanini/Cáceres. Colaborador do Núcleo de Estudos em Ciências Humanas NECH. UNEMAT. Juliano-enf@hotmail.com ² Socióloga, Dra. Em Educação, coordenadora do Núcleo de Estudos em Ciências Humanas - NECH, da Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT, campus de Cáceres-MT. josimag@ig.com.br
pode ser entendido enquanto uma processualidade histórica vinculada ao conjunto das relações que permeiam a vida cotidiana. Contudo, este conceito possui varias dimensões, entre as quais se destacam a identidade pessoal e a identidade social. Neste contexto a identidade pode ser considerada uma categoria de análise, ou seja, constitui-se em um elemento que é utilizado como referencial para submeter um objeto a uma análise; um recurso teórico que vai subsidiar a compreensão de um dado fenômeno; sendo mediação para a compreensão de um determinado objeto. Além disso, a identidade não se apresenta sob a forma de uma entidade que rege o comportamento das pessoas, mas é o próprio comportamento, é ação, é verbo. Assim, a identidade permite que o indivíduo se perceba como sujeito único, tomando posse de sua realidade e, portanto, a consciência de si mesmo. Ela é consolidada a partir de uma percepção que se faz do eu e do outro. A partir dessas considerações, e pensando mais especificamente a identidade do idoso como objeto de estudo, colocou-se a necessidade de em uma etapa inicial a definição de quais estudos foram realizados no país, bem como de quais conceitos balizam estes estudos. O presente estudo teve como objetivo levantar quais trabalhos foram produzidos no país que enfocavam por um lado os processos de envelhecimento e a constituição de uma nova visão sobre este processo e a construção identitária do idoso. Metodologia O presente trabalho realizou-se assim, a partir da consideração de todos estes aspectos que se entrelaçam e tem como referências e correlações a constituição do processo identitário entre idosos por um lado e a identificação desta nova identidade social. Sendo realizado levantamento bibliográfico, cuja revisão procurou mapear a constituição do conceito de identidade, e em particular a identidade do idoso no cenário social do Brasil. baseou-se eu duas premissas: a constituição de uma reflexão teórica acerca dos conceitos chave que nos permitissem eleger um arcabouço teórico inicial para a compreensão do conceito de identidade do idoso, do processo de envelhecimento e os processos sociais associados e de um levantamento de estudos científicos produzidos no Brasil que tivessem como descritores o processo de construção identitária entre idosos. Tais
estudos foram levantados em diferentes bases de dados eletrônicas científicas. As buscas foram conduzidas através de palavras-chave em português e em inglês contidos no título ou nos resumos dos estudos. A combinação de termos utilizados nas respectivas bases de dados (SciELO, PubMed, Medline, LILACS) foram: 1. Socialização, idosos, socialization elderly 2.conceito, identidade, identity, concept 3. Construção identidade, construction of identity 4. Identidade social, idosos, social identity 5.processo identitário, identity process 6. Identidade idoso elderly identity. Assim, após a leitura, foram incluídos aqueles que apresentassem uma interlocução com o propósito do trabalho. Todos os resumos das publicações encontradas nas bases de dados, que se referiam a trabalhos no cenário nacional foram lidos. Os resumos foram analisados de acordo com a classificação para se enquadrarem na pesquisa, sendo selecionadas oito publicações que atenderam aos critérios do universo do trabalho. Isto permitiu um mapeamento de diferenças e semelhanças entre os autores, na busca de um conceito de identidade, baseado nos resumos dos trabalhos e em uma análise do artigo, seguindo um padrão de ordem cronológica de publicação. Resultados e discussão Pode-se identificar que houve uma mudança de paradigma na construção da compreensão do que seria o idoso, ou dos aspectos relacionados ao envelhecimento. Discursos passaram a ser produzidos voltados para uma mudança de hábitos e práticas, visando uma melhora na qualidade de vida, dentro de uma perspectiva de saúde preventiva, tais como alimentação saudável (tais como o consumo de alimentos orgânicos, o preparo de alimentos com teores menores de sal e gordura), a prática de exercícios físicos regulares (como caminhadas e hidroginásticas). Ações governamentais passam a ser gestadas no sentido de atender a essa nova demanda. Um exemplo dessas ações está na caderneta de saúde da Pessoa Idosa que foi criada em 2007 pelo Ministério da saúde. Além disso, no campo da estética, diferentes processos passaram a gerar expectativas de uma juventude eterna, não somente em função das cirurgias plásticas possíveis para a manutenção de corpos belos e jovens, distanciando-se da idade biológica, como também a constituição de tratamentos estéticos que prolongam o aspecto juvenil dos corpos tratados. Terapias de recomposição hormonal modificam a perspectiva de
sexualidade na terceira idade, bem como as mudanças drásticas que os processos de envelhecimento geravam nas populações idosas (climatério, menopausa, andropausa), melhorando as conseqüências que eram geradas, a partir desses processos de perdas hormonais, normais no envelhecimento biológico. Outro aspecto relevante é a permanência da população idosa no mercado de trabalho. Em função de todas as possibilidades de tratamento que mantém os corpos saudáveis e propícios para continuarem mantendo-se economicamente ativos, é cada vez mais comum encontrarmos indivíduos com sessenta anos ou mais ainda no mercado de trabalho. Quanto maior a qualificação e a complexidade, bem como maior os níveis de remuneração, esse fenômeno torna-se mais visível. Outro elemento é que na atualidade os idosos tornam-se os principais esteios familiares, sendo sua renda a responsável não somente pelo seu sustento, mas de filhos e netos também. Por conta destas novas perspectivas que redesenham os papéis sociais e os espaços ocupados pela população idosa, há que se considerar a necessidade de estudos que permitam compreender como estes atores sociais estão constituindo-se em novas identidades sociais. Conclusão A fragmentação dos estudos encontrados nos faz perceber a necessidade do desenvolvimento de outros trabalhos que busquem conceituar e identificar esse público, bem como lançar luzes a este novo processo social que ora se constitui. Assim, uma das principais percepções coloca-se na constituição de um novo campo de estudo, o movimento que alterou historicamente um grupo social que partiu de uma primeira definição de grupo em final de vida, e hoje se constitui como um grupo social ativo, com demandas de consumo, de políticas sociais, produtos capitalistas e cada vez mais influentes enquanto grupo que se expande na sociedade atual. Referências Bibliográficas BRANDAO, R. C. Identidade e etnia: construção da pessoa e resistência cultural. São Paulo: Brasiliense,1990. CIAMPA, A.C. Identidade. In: W. Codo & S. T. M Lane (Orgs.). Psicologia social: o homem em movimento (pp. 58-75), São Paulo: Brasiliense,1984.
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